O papel da ingesta etílica na gênese de lesões hepáticas é conhecida há séculos. MATTHEW BAILLIE, em 1793, foi o primeiro investigador a reconhecer a associação entre álcool e cirrose hepática.
A prevalência da Doença Hepática Alcoólica (DHA) depende grandemente de fatores religiosos e outros costumes e da relação entre o custo das bebidas alcoólicas e a renda da população, quanto menores os custos do álcool, mais baixos são os grupos econômicos afetados. Foi estimado que, embora 90 a 100% dos alcoolistas mostrem evidências de esteatose (infiltração gordurosa) hepática, apenas 10 a 35% desenvolvem hepatite alcoólica e 8 a 20% evoluem com cirrose.
Dentre os pacientes que consomem até 230g de etanol por dia, por pelo menos 20 anos, cerca de 80% irão desenvolver esteatose hepática de moderada a grave e 50% vão evoluir com lesões cirróticas ou pré-cirróticas.
Há uma maior tendência de subdiagnóstico de abuso de etanol entre as mulheres. Além disso, mulheres tendem a apresentar abuso etílico em idade mais avançada, são mais suscetíveis à danos hepáticos (com maior velocidade de progressão) e possuem maior probabilidade de recaída após tratamento, quando comparadas aos homens. As mulheres apresentam maiores níveis sanguíneos de etanol após dose padrão de álcool, possivelmente por diferenças de metabolização e biodisponibilidade em relação aos homens, como por exemplo, a menor metabolização gástrica decorrente da reduzida atividade da álcool-desidrogenase gástrica entre as mulheres.
Critérios diagnósticos de doenças associadas ao uso de álcool têm sido propostos por várias organizações, o Colégio Americano de Gastroenterologia (CAGE) estabeleceu recomendações para o diagnóstico de DHA, as quais foram corroboradas pela Associação Gastroenterológica e pela Associação Americana para o estudo das doenças hepáticas.
O questionário CAGE é método útil de rastreamento para abuso ou dependência de álcool, cerca de um terço dos médicos não tentam obter história de consumo etílico de seus pacientes. Tal questionamento é fundamental e qualquer suspeita de excesso de consumo alcoólico deverá ser seguida pelo questionário CAGE (Veja abaixo).
Questionário CAGE
C: Alguma vez o Sr já sentiu que deveria diminuir a quantidade de bebida ou parar de beber?
A: As pessoas o aborrecem porque criticam seu modo de beber?
G: O Sr sente-se culpado/chateado com o Sr mesmo pela maneira como costuma beber?
E: O Sr costuma beber pela manhã para diminuir o nervosismo ou a ressaca?
Duas ou mais respostas positivas sugerem dependência de álcool com uma sensibilidade de 70 a 96% e uma especificidade de 91 a 99%.
TRATAMENTO A LONGO PRAZO DA DOENÇA HEPÁTICA ALCOOLICA (DHA):
Praticamente todas as autoridades concordam que a abstinência alcoólica é a medida terapêutica fundamental no tratamento a longo prazo de pacientes com DHA. Assim, a abstinência deve ser enfatizada a cada contato com o paciente para otimizar seus efeitos benéficos.
Apesar de haver um benefício potencial da terapia farmacológica em subgrupos de pacientes, apenas a TERAPIA NUTRICIONAL possui evidências científicas de benefício, sendo assim recomendada rotineiramente nos pacientes com hepatopatia alcoólica crônica.
Dr Rodney Nelson Gorayeb
Cirurgia Geral / Gastroenterologia
Membro Adjunto do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (ACBC)