É doença infecciosa de evolução aguda, causada por um vírus, quase sempre mortal, que se manifesta entre os animais por transtornos do conhecimento, aumento da excitabilidade nervosa e sintomas paralíticos. Transmite-se entre os animais, quase sempre através da mordedura ou contaminação de ferimentos por saliva de animais doentes do mal. O vírus está contido em alta concentração na saliva, e demais excreções e secreções dos animais acometidos da doença, além de também no sangue.
É enfermidade das mais antigas que se tem notícia, cuja causa permaneceu desconhecida até que por volta do ano de 1882, portanto há mais de 110 anos, o químico francês Luiz Pasteur, já com 60 anos, começou a estuda-la, pois conforme deixou escrito em seus apontamentos científicos: “não conseguia esquecer-se dos gritos daquelas vítimas do lobo danado que passou pelas ruas de Arbois, sua terra natal, quando ainda menino, mordendo várias pessoas, que vieram a adoecer e morrer da doença”
São suscetíveis de contrai-la os animais mamíferos em geral, porém, mais de 80% dos casos assinalados pela literatura médica são carnívoros, e em especial, o cão doméstico. Interessante assinalar-se que o sintoma da fobia à água somente ocorre no homem quando acometido da moléstia, portanto o termo hidrofobia deve ser reservado exclusivamente ao homo sapiens.
Na Grécia antiga, ARISTÓTELES, já a descrevia como contagiosa, realçando o perigo das mordeduras de cães raivosos; Porém acreditava-se na possibilidade de seu aparecimento expontâneo, admitindo-se mesmo poder ser provocada por alimentos demasiadamente quentes, abstinência de água (sede), falta de satisfação sexual ou excitações nervosas intensas.
Foram os pesquisadores franceses, Luiz Pasteur, Roux e Chamberlain, o primeiro químico, os dois seguintes médicos, auxiliados ainda pelo veterinário também francês Thuilier, que após exaustivas experiências, conseguiram método eficiente para seu combate, através da vacinação pelos mesmos idealizada e evidenciaram seu caráter infecto-contagioso, além de sua etiologia virótica, ou como dizia-se na época: causada por vírus filtrável, pelo fato dos organismos com essa denominação passarem através de velas (filtros) especiais de porcelana utilizadas em trabalhos de Microbiologia , e denominadas Berkefeld, diferentemente das bactérias e fungos que são retidos por tais velas filtrantes.
A doença pode também acometer os animais herbívoros, como o boi, o cavalo, a ovelha, a cabra, sendo que nos ruminantes como os bovinos, os sintomas são predominantemente paralíticos e o transmissor para esses animais quase sempre é o morcego hematófago, da espécie Desmodus rotundus. O morcego (hematófago) sugador de sangue funciona também como reservatório do vírus, ou seja, contamina-se com o vírus porém sobrevive ao mal, passando então a funcionar como transmissor para outros animais que venha a sugar, devido ao fato de contaminar o ferimento que produz para aspirar sangue com sua saliva, que como já relatado tem alta concentração do vírus. Tal fato foi descrito na literatura édica pelo veterinário brasileiro Silvio Torres, que além de narrar o fato observado em sua terra, o Rio Grande do Sul, isolou também o vírus a partir da saliva coletada dos referidos morcegos. Tal fato, posteriormente, foi comprovado por outros pesquisadores, em outras partes do mundo.
Têm os morcegos, o hábito de viverem em cavernas, sempre em bandos, pois são gregários; Para comunicarem-se entre si e para orientarem-se, pois são sabidamente cegos, emitem verdadeiros guinchos, por assim dizer cospem no ar, no momento da emissão desses guinchos e no caso de estarem contaminados pelo vírus rábico, impregnam o ar das cavernas onde vivem, com verdadeiro aerossol do vírus. Através de experimentos, comprovou-se a contaminação da raiva através do ar dessas referidas cavernas.
A raiva quando declarada em um animal, assim como no homem, não tem cura, culminando sempre com a morte, após período breve de evolução e sintomatologia impressionante àqueles que dela tenham ocasião de presenciar. Para evitar-se a doença, ou seja, como medida profilática, a vacinação dos animais susceptíveis, principalmente de cães e gatos, é a medida básica; Porém, deve paralelamente ser efetuada a captura e isolamento de cães vadios, os quais por não terem donos, não têm quem providencie sua vacinação, sendo os cães sem dono comprovadamente os maiores responsáveis pela propagação do mal.
Para rebanhos bovinos, eqüinos, caprinos ou ovinos, criados onde existam morcegos hematófagos, sua vacinação com vacina apropriada para essas espécies animais, é a medida também principal para a profilaxia do mal, além do combate e extermínio das colônias de morcegos em suas cavernas.
No caso do homem, somente é indicada a vacinação como medida terapêutica, em caso do mesmo haver sido exposto à mordedura de animais suspeitos de raiva, ou tenha se contaminado acidentalmente, e nestes casos, a urgência da vacinação é de suma importância, assim como número de doses da vacina, proporcional à gravidade do caso, o que o médico assistente deve julgar e prescrever, segundo o caso em si.
Países como a Austrália, Bélgica, Suíça, Inglaterra, Dinamarca, Suécia e a Noruega, praticamente conseguiram erradicar de seus territórios o mal, através de campanhas de vacinação em massa dos animais susceptíveis de se contaminarem.
Fato interessante, é a raridade da doença em Constantinopla, na Turquia. Não se deve tal fato, como se acreditava antigamente, serem os cães turcos refratários à doença, mas sim, ao modo de vida e de se distribuírem por bairros desses cães; Não vagam pelas ruas como é comum em todo mundo, mas sim, vivem agrupados em certas ruas ou certas partes da cidade, onde vigiam com severidade sua zona de residência e expulsam imediatamente todo cão estranho invasor.
Existem vacinas anti-rábicas apropriadas para cada espécie animal e das mais variadas técnicas de fabricação, desde a antiga vacina Pasteuriana, preparada pela dissecaçao de medulas de animais inoculados com o vírus, até as mais modernas obtidas por técnicas especiais, quando o vírus é cultivado em meios vivos, como ovos embrionados e até em cultivos de células de rim de porco ou de hamster.
O vírus encontrado e isolado de um animal doente, é denominado de vírus de rua e é altamente virulento; Já aquele cultivado em laboratório, é inativado em sua patogenicidade e virulência, por sucessivas passagens em meios de cultura próprios e por repiques diretos no meio em que é cultivado, é denominado vírus fixo. É este último o utilizado para o preparo de vacinas, pelo fato de perder sua virulência e patogenicidade, conservando, não obstante, sua capacidade antigênica, qualidade esta que é a visada na vacina, por ser a responsável pelo estímulo formador de anticorpos pelo organismo no qual for inoculada. Assim sendo, recomenda-se que sejam os animais mamíferos em geral e principalmente os cães, anualmente vacinados, com o intuito de prevenir-se esse terrível mal.
Essa doença parecia haver sido erradicada de nosso território, porém, de alguns anos para cá houve seu recrudescimento, provavelmente por haverem as autoridades sanitários relaxado nas medidas de profilaxia necessárias, entre elas, a Vacinação.
Carmello Liberato Thadei ( Médico Veterinário -CRMV-SP-0442 )