O corte parcial ou total das orelhas e do rabo de várias raças tem sido feito por séculos, mas hoje, talvez mais do que nunca, esta é uma prática que gera uma discussão apaixonada entre os que a aprovam e os que desaprovam esta intervenção.
Quem não estranha um Cocker Spaniel com rabo? Ou um Rottweiler? Você refere um Doberman com orelhas cortadas ou inteiras?
Discussões éticas a parte, podemos dizer que a origem do hábito de cortar a cauda dos cachorros eram basicamente 3:
Para evitar lesões e machucados: muitos dos defensores da caudectomia (nome científico do corte da cauda) alegam que determinadas raças que desenvolvem um trabalho no campo, se beneficiam do corte de suas caudas para não se machucarem com tanta freqüência. Ferimentos estes que durante uma caçada, além de muito doloroso, poderia custar a vida do cão, por causa das possíveis infecções nestes ferimentos. Este é o caso de algumas raças de caça como o Pointer Alemão, o Cocker Spaniel e da maioria dos Terriers. No caso dos Terriers, inclusive, os defensores do corte de cauda alegam que um cachorrinho que entra na toca de sua presa terá uma dificuldade maior para se virar dentro do buraco se a sua calda estiver integra, e que o corte facilita para que o rabo do cachorro fique no tamanho adequado para o caçador tirar o cachorro do buraco, puxando-o pelo rabo, sem machucá-lo.
Os críticos usam os exemplos dos Setters, Pointers Alemães entre outros, que também caçam, mas tem a sua cauda poupada. Além disso, eles ponderam que hoje em dias (diferentemente da época em que o corte de caudas começou a ser praticado), existem vários medicamentos que minimizam estes riscos.
Por razões de higiene: Raça que possuem uma pelagem longa e densa, como por exemplo o Old English Sheeepdog e o Yorkshire, são beneficiadas pelo corte de suas caudas, pois a região anal fica mais exposta e limpa, evitando que fezes fiquem grudadas na longa pelagem e que moscas e outros insetos depositem suas larvas.
Os críticos se perguntam, mas e os Malteses e os Collies, por exemplo, que também possuem pelagem densa e longa e não possuem suas caudas cortadas? E o Buldogue, que tem a cauda curtinha (muitos já nascem praticamente sem cauda) e que ainda assim são facilmente atacados pelos insetos, inclusive na região anal?
Para manter os padrões da raça: O fato destas raças terem seus rabos cortados por séculos fez com que eles fossem selecionados até hoje por suas qualidades de conformação e beleza, além de temperamento, mas não levando-se em conta a aparência de seus rabos. O receio é que cães tidos como “perfeitos” hoje em dia, deixariam de ser usados para criação por não possuírem seus rabos dentro dos novos padrões. Isso teria uma grande impacto no plantel dos criadores.
Os críticos afirmam que a “crueldade” de se cortar os rabos dos filhotes não justifica a busca da beleza “perfeita”.
Uma outra possível causa da origem do hábito de se cortar o rabo dos cães não tem mais nenhuma aplicação nos dias de hoje. No início do século 19, na Inglaterra, os donos de cães passaram a ser cobrados uma pesada taxa sobre seus animais. A partir daí existem duas explicações para o corte de cauda. Alguns historiadores dizem que na lei de taxação a definição de “animal a ser taxado” dizia “todos os animais nascidos com uma cauda mais longa do que o comprimento do polegar de um homem”, e portanto os fazendeiros e “não nobres” passaram a cortar o rabo de seus cães o mais cedo possível, para que o coletor de impostos não pudesse aplicar a lei. Outra versão desta lei é que ela foi feita para taxar apenas cães nobres, que não eram usados para o trabalho, e então, como forma de diferenciar os cães que não deveriam ser taxados, as raças usadas para trabalho passaram a ter seus rabos amputados.
Normalmente a caudectomia é praticada entre 2 e 7 dias de vida do filhote, e deve ser feita sempre por um veterinário experiente e com todos os cuidados necessários para que o filhote não sofra uma infecção proveniente do corte da cauda.
E o corte das orelhas?
A conchectomia, ou ototomia (nomes científicos do corte das orelhas), é basicamente apenas uma questão de estética e praticada principalmente em raças de cães de guarda, pois é de consenso geral que as orelhas eretas e pontudas causam uma impressão de “ferocidade” muito maior de que doces orelhas caídas e arredondadas. . É bom deixar claro, no entanto, que o corte de orelhas muda apenas a expressão do cachorro e nunca o seu temperamento. Raças usadas originalmente em rinhas também possuem, tradicionalmente, suas orelhas amputadas, não só pro estética, mas também para tentar diminuir o risco de machucados e sangramentos profusos que fatalmente aconteceriam nas orelhas intactas de um cão em combate. Um ponto importante que a pessoa que pretende cortar a orelha do seu cão, deve levar em consideração é que esta não é uma cirurgia que apresenta resultados imediatos. Após o corte e a cicatrização das orelhas, é preciso manter por várias semanas uma espécie de “atadura”ou “molde” para que a orelha se “eduque” no seu novo formato. É preciso paciência, muito cuidado, e disciplina para evitar que o resultado seja desastroso. Normalmente esta cirurgia é feita entre os 4 e 6 meses de idade do cachorro.
A despeito das controvérsias, vários países Europeus, inclusive a Alemanha e alguns estados da Austrália já aboliram totalmente, por lei, a pratica do corte de orelhas e rabos dos cães de raça, permitindo esta cirurgia apenas em casos clínicos necessários. No Brasil a tendência é que nós venhamos a ver mais e mais cachorrinhos com suas orelhas intactas, bem como suas felizes caudas, já que a Confederação Brasileira de Cinofilia CBKC tem apoiado esta tendência.