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quinta-feira, novembro 21, 2024

Classificação Decimal de Dewey

RESUMO

A finalidade da classificação em bibliotecas é organizar o conhecimento apresentado em livros e outros meios para que sejam consultados. Tendo em vista o volume de informações existentes na área de Religião, o bibliotecário, responsável por informar de maneira eficiente, deve procurar a forma mais prática de controlar essa literatura. O profissional deve conhecer o assunto a ser classificado e classificá-lo de maneira correta. É causa de frustrações para o usuário a demora e a falta de especificidade na recuperação de informações de assuntos específicos, como é o caso da Teologia da Libertação. Partindo do princípio que os sistemas de classificação são ferramentas essenciais para a organização documental, aponta-se como problema dessa pesquisa a falta de desdobramentos para a extensão do assunto Teologia da Libertação na Classificação Decimal de Dewey (CDD), o que pode levar a não recuperação da informação devido à ausência de especificidade dessa classe. Sendo assim, propõe-se o desdobramento da extensão desse assunto na 22ª ed. da CDD, 2003, através da inserção de cabeçalhos adequados e desdobramento hierárquico, garantindo maior especificidade na organização dos documentos da área. Objetiva-se mostrar a necessidade de desdobrar a extensão da CDD para o tema, tendo como procedimentos a caracterização temática da área e a identificação e hierarquização dos termos, além de criar números específicos que melhor representarão o conteúdo dos documentos, possibilitando que os materiais bibliográficos que se referem ao assunto sejam classificados especificamente, facilitando sua recuperação pelo usuário. Para a inserção de novos assuntos no sistema, fez-se necessário um levantamento bibliográfico rigoroso sobre o tema, visando levantar conceitos e termos. Para o levantamento dos termos específicos, foi utilizado como critério de escolha, termos que realmente fossem importantes, apoiando-se na literatura. Identificados os conceitos, passamos a estruturá-los de forma hierárquica e analisamos onde exatamente esses termos se encaixariam na CDD, verificando inclusive qual a notação adequada para cada termo. Finalmente, identificados os termos relevantes ligados ao assunto e designado números específicos para esses termos, desdobra-se o tema da Teologia da Libertação, e chega-se a uma extensão hierárquica, baseada nos moldes da CDD. Conclui-se que, o desdobramento realizado possibilitará que os materiais que tratam da Teologia da Libertação sejam classificados adequadamente, beneficiando o usuário especializado. Com essa experiência, sugerimos que o profissional deve adequar os sistemas de classificação já existentes para a realidade da Unidade de Informação a qual está inserido, conhecer sua estrutura básica e fazer as devidas aplicabilidades de uso como a que propomos aqui, pois os desdobramentos específicos de fazem necessários.

Palavras-chave: classificação bibliográfica, Classificação Decimal de Dewey (CDD), classificação-desdobramento, Teologia da Libertação-extensão decimal.

ABSTRACT

The purpose of the classification in libraries is to organize the knowledge presented in books and other ways so that they are consulted. Considering the volume of existing information in the area of Religion, the librarian, responsible for informing in efficient way, must seek the form most practical to control this literature. The professional must know the subject to be classified and to classify it correctly. This is the cause of frustrations for the user the delay and the lack of specificity in the recovery of information of specific subjects, as it is the case of the Theology of the Release. Understanding the classification systems are essential tools for the documentary organization, we point as problem of this research the lack of unfoldings with respect to the extension of the subject Theology of the Release in the Classification Decimal of Dewey (DDC), what it can cause not the recovery of the information due to absence of specificity of this class. That way, the unfolding of the extension of this subject in 22ª is considered ed. of DDC, 2003, through the insertion of adequate heading and hierarchic unfolding, guaranteeing better specificity in the organization of documents of the area. We have as objective to show the necessity to unfold the extension of the DDC for the subject, having as procedures the thematic characterization of the area and the identification and hierarchic of the terms, besides creating specific numbers that better will represent the content of documents, making possible that the bibliographical materials that if they relate to the subject they are classified specifically, facilitating its recovery for the user. For the insertion of new subjects in the system, a bibliographical survey became necessary rigorous on the subject, aiming at to raise concepts and terms. For the survey of the specific terms, it was used as criterion of choice, terms that really were important, supporting itself in literature. Identified the concepts, we start to structuralize them of hierarchic form and analyze where accurately these terms if would incase in the DDC, also verifying which the notation adjusted for each term. Finally, identified the on excellent terms to the subject and assigned specific numbers for these terms, the subject of the Theology of the Release is unfolded, and is arrived it a hierarchic extension, based in the molds of the DDC. One concludes that, the carried through unfolding will make possible that the materials that deal with the Theology of the Release are classified adequately, benefiting the specialized user. With this experience, we suggest that the professional must adjust the existing systems of classification already for the reality of the Unit of Information which is inserted, to know its structure basic and to make the due applicabilities of use as the one that we consider here, therefore the specific unfoldings of make necessary.

Key-words: bibliographical classification, Classification Decimal of Dewey (CDD), classification-unfolding, Theology of the Release-extension decimal.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AD Análise Documentária

CDD Classificação Decimal de Dewey

CEBs Comunidades Eclesiais de Base

CELAM Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano

DSI Doutrina Social da Igreja

FAJOPA Faculdade João Paulo II

LDs Linguagens Documentárias

PI Profissional da Informação

TdL Teologia da Libertação

UI Unidade de Informação

“Qualquer trabalho científico, qualquer descoberta, qualquer invenção é um trabalho universal. Ele está condicionado, em parte pela cooperação de contemporâneos, em parte pela utilização do trabalho de seus predecessores”

K. MARX

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho está inserido na linha de pesquisa Organização da Informação, tem como tema as Linguagens Documentárias Hierárquicas, cuja delimitação é o “desdobramento da classe 261 da Classificação Decimal de Dewey (CDD) no assunto Teologia da Libertação (TdL)”.

As Linguagens Documentárias (LDs) são conjuntos de termos utilizados para representar conteúdos de documentos técnico-científicos, visando a classificação ou busca retrospectiva de informações. As linguagens de estrutura hierárquica (representadas pelas classificações) fazem parte das linguagens documentárias, e são assim denominadas por apresentarem relações hierárquicas, no qual cada termo é superior ao termo seguinte dentro de um conjunto.

Na classificação, dois aspectos devem ser considerados: a classificação como sistema já organizado, isto é, como esquema dos conhecimentos, e a classificação como técnica, como arte de assegurar aos livros, ou a qualquer outro material, seu lugar exato de acordo com seu conteúdo. A finalidade da classificação em bibliotecas é organizar o conhecimento como apresentado em livros e outros meios para que seja eventualmente consultado.

Ao bibliotecário, cabe enfrentar os desafios que lhe são apresentados. Tendo em vista o volume de informações existentes na área de Religião, torna-se impossível ao usuário manter-se atualizado em todos os aspectos no âmbito de seu interesse. O bibliotecário deve procurar as formas mais práticas e eficientes de controlar essa literatura, de modo a colocá-la ao alcance dos usuários. Podemos citar como causas de frustrações do usuário a demora e a falta de especificidade na recuperação de informações de assuntos específicos, como é o caso da TdL. A área da Religião, especificamente, exige do bibliotecário algum conhecimento do assunto. Com a prática, o bibliotecário poderá familiarizar-se com o tema, de modo a dar conta de sua responsabilidade em informar de maneira eficiente.

Partindo do princípio que os sistemas de classificação são ferramentas essenciais para a organização documental, apontamos como problema desta pesquisa a falta de desdobramentos para a extensão do assunto TdL, que ainda não está na CDD, pois o sistema não previu uma notação para este tema, o que pode levar à não recuperação da informação. As obras que tratam deste assunto geralmente são classificadas na notação 261.8 (Cristianismo e problemas socioeconômicos) ou simplesmente 261 (Teologia Social). O material bibliográfico é classificado, então, de forma genérica.

A notação 261 é um número que diz respeito a trabalhos sobre a Moral, a Civilização: há relação entre a Igreja e o serviço civil. Colocamos aqui, portanto, a Sociologia cristã.

Sendo assim, a proposta desta pesquisa foi desdobrar a extensão do assunto TdL na 22. ed. da CDD, através da inserção de cabeçalhos adequados e desdobramento hierárquico do mesmo, garantindo maior especificidade na organização dos documentos especializados da área, trazendo ao usuário benefícios no que diz respeito à localização documental de termos como opressão, pobreza, repressão, classes sociais, entre outros. Desse modo, geramos um produto específico: uma extensão hierárquica para o assunto TdL.

Para concluir o propósito desta pesquisa, tivemos por objetivo o desenvolvimento de um estudo visando discutir a necessidade de desdobrar a extensão da CDD para este tema, tendo como procedimentos a caracterização temática da área (conceitos e objetivos) e a identificação e hierarquização dos termos. Após o desenvolvimento desse estudo foi possível criar os números específicos que melhor representarão o conteúdo dos documentos que abordam o assunto. O desdobramento realizado na CDD possibilitará que os materiais bibliográficos que tratam da TdL sejam classificados adequadamente (específicos, único entre os demais), facilitando sua recuperação e uso pelo usuário. Através de questionário, realizamos junto a seis alunos do curso de Teologia da Faculdade João Paulo II (FAJOPA) uma avaliação prévia, para entendimento do desdobramento proposto. A mensuração do questionário encontra-se descrito na Metodologia (Capítulo 4).

Buscamos com esta pesquisa contribuir especialmente com aqueles a quem se destina a classe 200 (Religião) da CDD: aos eclesiásticos e religiosos, que devem manter em ordem uma vasta documentação de caráter teológico e científico, referente às suas funções religiosas, morais, educativas e sociais.

O interesse por desenvolver este estudo surgiu de um estágio realizado na biblioteca da FAJOPA, Unidade II. Por se tratar de uma instituição voltada para o curso de Teologia, sua biblioteca é especializada em Religião. De acordo com o plano de atividades elaborado pela bibliotecária, pôde-se desenvolver todos os serviços que um bibliotecário deve desempenhar, inclusive a classificação. Desse modo, foi possível conhecer um pouco mais a respeito dos temas que a área abrange, e a partir dessa relação (classificação – religião), foi percebida algumas falhas no sistema de classificação utilizado pela instituição – a CDD (por exemplo, a falta de especificidade para alguns assuntos), fato que levou este pesquisador a elaborar este estudo, visando ressaltar os problemas do sistema. O projeto tornou-se viável, tendo em vista que um dos procedimentos foi a busca de materiais que se referiam a TdL, o que pode ser feito na biblioteca da FAJOPA, por reunir uma coleção que ofereceu dados à realização desta pesquisa.

Este trabalho foi elaborado em 6 capítulos, como segue:

O capítulo 1 apresenta, de forma geral, o que será tratado neste trabalho. No capítulo 2, elaboramos uma explanação a cerca das linguagens documentárias hierárquicas, tendo em vista a classificação, o ato de classificar e a classificação de Dewey. No capítulo 3, buscamos apresentar os fundamentos da Teologia. Ainda nesse capítulo falamos sobre a TdL, sua origem, estrutura e métodos. O capítulo 4 apresenta os procedimentos metodológicos adotados para a realização desta pesquisa. No capítulo 5 apresentamos o desdobramento da extensão para o assunto TdL. No capítulo 6 realizamos as considerações finais a cerca deste trabalho.

A seguir, vamos falar da importância da Análise Documentária (AD), sobre as LDs, as linguagens documentárias hierárquicas e a classificação.

“Os classificadores de coisas, que são aqueles homens de ciência cuja ciência é só classificar, ignoram, em geral, que o classificável é infinito e portanto se não pode classificar. Mas o em que vai meu pasmo é que ignorem a existência de classificáveis incógnitos, coisas da alma e da consciência que estão nos interstícios do conhecimento”

Fernando Pessoa

2 LINGUAGENS DOCUMENTÁRIAS: AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA HIERÁRQUICA CDD

Abordamos neste capítulo o papel da informação dentro da AD, no que diz respeito ao seu tratamento e organização. Falamos também sobre as LDs, as linguagens documentárias hierárquicas, o processo de classificação, o ato de classificar e os sistemas, destacando a CDD, instrumento de estudo da nossa pesquisa.

A informação cumpre papel de extrema importância na direção da humanidade, pois ela está diretamente ligada ao conhecimento e ao desenvolvimento de todas as áreas do saber, uma vez que todo conhecimento se inicia por algum tipo de informação e se constitui em informação.

De acordo com Figueiredo (1990, p. 123), “parece não haver mais dúvidas de que a informação é um dos recursos básicos para o desenvolvimento em qualquer campo do conhecimento e da atividade humana”.

O conceito de informação é falado em distintas áreas do conhecimento, podendo a relação informação/conhecimento ser observada a partir de três aspectos que se complementam:

Enquanto o conhecimento é estruturado, coerente e freqüentemente universal, a informação é atomizada, fragmentada, particular;
Enquanto o conhecimento é de duração significativa, a informação é temporária, transitória, talvez mesmo efêmera;
Enquanto o conhecimento é um estoque, a informação é um fluxo de mensagens (CINTRA, 2002, p. 20).
Cintra (2002, p. 20), afirma que “com efeito, o estoque de conhecimento é alterado com o input de novas informações, através de adições, reestruturações ou mudanças”.

Para que o conhecimento da sociedade não se perca e possa ser partilhado, ele é registrado em algum suporte, passando a se compor num documento.

Cintra (2002, p. 21), nos diz que:

O desenvolvimento científico e tecnológico tem proporcionado à sociedade uma massa enorme de conhecimentos, portanto de documentos, que precisam ser tratados adequadamente, para que haja não só a divulgação, como também a criação de novos conhecimentos, cumprindo assim a rotina natural da própria ciência.

Assim, podemos constatar o papel fundamental da área da Documentação, que é responsável pela seleção, organização e conservação da informação, além de possibilitar o seu acesso.

A descrição do conteúdo, denominada AD, será apresentada a seguir.

2.1 Análise Documentária

Quando falamos em AD, precisamos mencionar o ciclo informacional enquanto base para o fazer documental. Temos como fases fundamentais e interdependentes a produção, o tratamento, a recuperação, a disseminação e o uso da informação que, por sua vez, poderá gerar nova produção, fechando o ciclo.

O tratamento (ou organização) da informação constitui-se, assim, etapa intermediária do ciclo e, portanto, deve garantir uma perfeita sintonia entre o produtor e o consumidor da informação, de modo que atue como ponte informacional. A essa etapa denominamos AD.

Para Cunha (1989, p. 40), “comumente a AD é definida como um conjunto de procedimentos efetuados com o fim de expressar o conteúdo de documentos, sob formas destinadas a facilitar a recuperação da informação”.

Qualquer tipo de documento não pode ser registrado, em um sistema documentário, na sua forma original, devido a sua extensão, sua complexidade e sua apresentação, por isso existe a necessidade de representar o seu conteúdo que, de acordo com o método de análise utilizado (resumo, indexação ou classificação), dará origem a um produto secundário.

De acordo com Chaumier (1971, p. 15), a AD é uma “operação, ou um conjunto de operações, que se destina a representar o conteúdo de um documento numa forma diferente da sua forma original, a fim de facilitar a consulta ou a referenciação num estado posterior”.

A partir dessas definições, podemos entender a AD como sendo um conjunto de procedimentos realizados com o intuito de representar conteúdos de documentos a fim de recuperar a informação.

No Brasil, a denominação AD passou a ser utilizada enquanto tratamento temático da informação, no qual se identificam, por sua vez, operações de duas ordens: a análise e a síntese documentária (GUIMARÃES, 2000).

Tem-se, pois, um conjunto de procedimentos de natureza analítico-sintética de modo a que podemos propor como conteúdo da área, os processos de análise do conteúdo temático dos documentos e sua síntese por meio da condensação ou da representação em LDs, com o objetivo de garantir uma recuperação rápida e precisa pelo usuário.

Visto o exposto, pode-se dizer que a AD, como atividade que trata da análise, síntese e representação da informação, tem por objetivos estabelecer uma ponte entre o usuário e o documento, fornecer subsídios ao processo de disseminação da informação e gerar produtos documentários (resumos e índices).

2.2 Linguagens documentárias

Entre as décadas de 50 e 60 ocorreu o crescimento do conhecimento científico e tecnológico, gerando um aumento no volume de documentos produzidos e publicados. Houve dificuldades para armazenar e recuperar as informações, e a solução encontrada foi a mudança do enfoque e da conceituação da recuperação da informação. Dessa necessidade de recuperação buscou-se a construção de linguagens próprias – utilização das LDs, substituindo a linguagem natural, que é a linguagem falada.

Vem desta época a utilização de LDs para a recuperação da informação. Essas linguagens são, pois, construídas para indexação, armazenamento e recuperação da informação e correspondem a sistemas de símbolos destinados a “traduzir” os conteúdos dos documentos (CINTRA, 2000, p. 33).

Quando se processa o tratamento da informação, as etapas utilizadas estão baseadas na utilização de uma determinada linguagem. Para Viscaya Alonso (1997 apud GUARIDO, 2001, p. 20):

O processamento da informação utiliza-se de linguagens e para tal, deve se certificar do papel da linguagem, como expressão não só do pensamento, como também da informação e, fundamentalmente, do papel das LDs, como uma das etapas do ciclo de vida da informação.

Através das LDs podemos representar, de maneira sintética, as informações materializadas nos textos. Podemos entendê-las como uma ponte entre a linguagem dos documentos e a linguagem das consultas dos usuários, promovendo a comunicação documentária.

As LDs – ou controladas – são conhecidas por diversas denominações, tais como: linguagens de indexação, linguagens descritoras, codificações documentárias (NOCETTI; FIGUEIREDO, 1978).

Para Gardin (1968 apud CINTRA, 2002, p. 35) “LDs são um conjunto de termos, providos ou não de regras sintáticas, utilizadas para representar conteúdos de documentos técnico-científicos com fins de classificação ou busca retrospectiva de informações”.

Para o autor, as LDs devem integrar três elementos básicos:

Um léxico, identificado com uma lista de elementos descritores, devidamente filtrados e depurados;
Uma rede paradigmática para traduzir certas relações essenciais e, geralmente estáveis, entre os descritores. Essa rede, organizada de maneira lógico-semântica, corresponde a uma organização dos descritores numa forma que, lato sensu, se poderia chamar classificação; e
Uma rede sintagmática destinada a expressar as relações contingentes entre os descritores, relações essas que só são válidas no contexto particular onde aparecem. A construção de “sintagmas” é feita através de regras sintáticas destinadas a coordenar os termos que dão conta do tema
Gardin (1968 apud CINTRA, 2002, p. 35).

As LDs mais conhecidas são os tesauros e os sistemas de classificação bibliográficos. Os primeiros sistemas de classificação bibliográficos conhecidos são de natureza enciclopédica, e visam cobrir todo o espectro do conhecimento. Depois vieram as classificações facetadas, que visam domínios particulares. Os tesauros, originados das classificações facetadas, surgiram com uma preocupação a mais: o controle do vocabulário.

Segundo a sua organização interna, divide-se em duas as LDs: as de estrutura hierárquica e as de estrutura alfabética. A seguir, teremos uma apresentação das linguagens documentárias hierárquicas.

2.2.1 Linguagens documentárias hierárquicas

As linguagens hierárquicas são instrumentos de trabalho vinculados as necessidades de funcionamento de uma Unidade de Informação (UI), que permitem representar de maneira substancial o conteúdo de um documento e reunir livros nas estantes por afinidades de assunto.

Segundo Chaumier (1971, p. 52) “baseia-se num esquema arborescente por ajustamento das classes que o compõem, isto é, uma subclasse que designa uma noção é inteiramente englobada na classe que a precede e engloba a noção representada pelo grupo imediatamente abaixo”.

As linguagens hierárquicas são representadas pelas classificações, a mais antiga linguagem documental utilizada (as primeiras manifestações das linguagens documentárias datam do final do século XIX, quando apareceram os sistemas de classificação bibliográficos).

As classificações hierárquicas procuram estabelecer relações entre os documentos, a fim de facilitar sua localização, pois tem por base os assuntos tratados nos documentos hierarquicamente.

Para Corrêa (1998 apud GUARIDO, 2001, p. 33), as características das linguagens documentárias hierárquicas:

Apresentam uma estrutura hierárquica determinada por critérios de divisão estabelecidos pelo sistema;
Fazem evidentes as relações léxico-semânticas ou paradigmáticas que se estabelecem entre os termos que as integram, pois exige um menor controle lexicográfico;
Cada termo que a integra representa uma classe sob o ponto de vista sistêmico de relações de subordinação e superordenação (genéricas e especificas);
Apresentam uma sintaxe completa baseada na coordenação e justaposição;

Expressa-se em códigos numéricos ou alfa-numéricos.

2.3 Classificação

De todas as funções que o bibliotecário tem com a incorporação do livro ao acervo da biblioteca, nenhuma é mais importante nem mais difícil do que a classificação por assunto, a qual indica o lugar da obra nas estantes, assim como as fichas que devem representá-la nos catálogos. A classificação é base para a análise, representação e busca da informação.

Para Campos (1973, p. 17), “a classificação, entendida como processo mental de agrupamento de elementos portadores de características comuns e capazes de serem reconhecidos como uma entidade ou conceito, constitui uma das fases fundamentais do pensar humano”.

Após a definição de Campos, podemos concluir que a classificação é um processo intelectual habitual ao homem, pois a todo o momento, sem que percebamos, estamos classificando coisas e idéias para as compreender e conhecer.

Para Souza (1943, p. 21):

Classificação, num sentido geral, é reunir em classes ou grupos, coisas que apresentam entre si certos traços de semelhança, ou mesmo de diferença […]. No sentido biblioteconômico, é o arranjo dos livros em classes de assuntos, ao mesmo tempo que se lhes destinam lugares nas estantes, de acordo com esses assuntos.

A função que a classificação desempenha na organização do conhecimento é de suma importância, pois contribui para que sistemas de recuperação da informação alcancem seu principal objetivo: satisfazer a necessidade de informação e documentação de seus usuários. “Sem classificação não poderia haver nenhum pensamento humano, ação e organização que conhecemos” (LANGRIDGE, 1977, p. 11).

Para Lentino (1971, p. 5):

O bibliotecário, no seu trabalho diário, usa a classificação em três campos diferentes:
Como método conveniente de reunir livros nas estantes;
Como base para organização sistemática do conhecimento em catálogos bibliográficos;
Como uma verdadeira disciplina no Serviço de Referência, tornando o bibliotecário apto a encontrar o assunto solicitado.
Após as idéias de vários autores, podemos concluir que classificar consiste em traduzir a representação dos assuntos dos documentos da linguagem natural para a linguagem artificial utilizada pelos sistemas de classificação bibliográficos, a fim de facilitar a localização e a recuperação das informações que sejam do interesse dos usuários da biblioteca ou UI.

2.3.1 O ato de classificar

A finalidade da classificação nas bibliotecas é organizar o conhecimento como apresentado em livros para que seja eventualmente consultado. Sua função não está simplesmente condicionada a uma técnica de arranjo de documentos em estantes através de sistemas fixos, para Guarido e Fujita (em fase de elaboração), “a classificação deixou de ser considerada meramente um processo técnico para ter uma necessária adequação entre as metodologias de tratamento e organização temática, com três dimensões fundamentais: a do documento, a do usuário e da organização”.

Os documentos nada mais são do que os registros do conhecimento. Cabe ao bibliotecário organizar esses documentos de uma maneira que possam transmitir de forma efetiva seu conteúdo. Portanto, a tarefa deste profissional, além de reunir e conservar os documentos, estende-se ao prover instrumentos que facilitam a recuperação e o acesso à informação.

Todo o material bibliográfico de uma biblioteca deve estar organizado de modo que atenda, de maneira rápida e eficiente, a necessidade do usuário de obter informação. De acordo com Figueiredo (1990, p. 123), “a informação, para ser realmente importante e de valor para os usuários, tem que ser pertinente às necessidades dos usuários quando delas necessitam”.

Tendo em vista as bibliotecas especializadas, que atendem a pesquisadores que realizam muitas pesquisas bibliográficas, estes não solicitam as obras pelo nome do autor ou pelo título, mas querem saber o que existe na biblioteca a respeito do assunto de seu interesse. “A biblioteca deve dispor de um serviço de informação eficiente, o melhor que for possível organizar numa biblioteca especializada” (BRADFORD, 1961, p. 177).

A quantidade de novas informações que são geradas atualmente constitui-se de tal maneira que nenhum indivíduo pode estar a par de todas elas. E o problema que temos de enfrentar, nós, profissionais da informação (PI), é levar a informação às pessoas que dela necessitam, com o mínimo de gastos, tanto de tempo como de dinheiro. (FOSKETT, 1973).

Para classificar o material bibliográfico de uma biblioteca especializada, o PI poderá encontrar dificuldades ao representar o assunto de forma precisa, de acordo com o sistema de classificação utilizado. Mesmo tendo uma vasta cultura, o que lhe é indispensável, o profissional deve ter perfeito domínio na técnica de classificar e familiaridade com o assunto, de modo a dar conta de sua responsabilidade em informar de maneira eficiente. O bibliotecário tem que ser minucioso a tudo que se refere a sua especialidade.

Este é um grande desafio para o bibliotecário: conhecer o assunto a ser classificado e classificá-lo de maneira correta, pois uma obra por melhor que esteja catalogada ou referenciada, fica perdida se não estiver bem classificada.

Um dos pontos fundamentais para o profissional é dominar a linguagem técnico-científica do campo em que atua. Sem isso, é impossível classificar corretamente e se comunicar com os usuários, base para o bom funcionamento de um sistema de recuperação da informação.

Além de dominar a linguagem técnico-científica, o bibliotecário deve saber também o que é notação e como construí-la, aplicando-na em um sistema de classificação.

Podemos entender por notação, o conjunto de símbolos destinados a representar os termos da classificação, traduzindo em linguagem codificada o assunto dos documentos. Utiliza códigos artificiais, capazes de representar as matérias de um sistema de classificação.

Quando classificamos, analisamos o material e depois construímos sua notação mediante a síntese. O classificador analisa primeiramente o campo temático da obra e depois, frente à síntese, atribui o número correspondente de classificação, ou seja, sua notação.

Para que haja uma boa representação notacional dos assuntos mais complexos, é necessário que as bibliotecas e UI especializadas desenvolvam desdobramentos específicos às suas necessidades, dentro de seu contexto de trabalho. Para Datta (1977, p. 17), “os velhos esquemas não são satisfatórios, sendo necessário um novo tipo de sistema ou classificação que possa mostrar claramente, de uma forma analítica, a complexidade do conhecimento”.

Portanto, como já descrevemos na introdução deste trabalho, a proposta desta pesquisa é o desdobramento da extensão do assunto TdL na CDD, o que facilitará a recuperação das informações específicas desse assunto.

2.3.2 Sistemas de classificação

Para Langridge (1973 apud PIEDADE, 1977, p. 9), “sistema de classificação seria um mapa completo de qualquer área do conhecimento, mostrando todos os seus conceitos e suas relações”.

Pode ser definido também como “um conjunto de classes apresentadas em ordem sistemática. É uma distribuição de um conjunto de idéias por um certo número de conjuntos parciais, coordenados e subordinados” (PIEDADE, 1983, p. 9).

Para Guarido e Fujita, “os sistemas de classificação existentes apresentam as disciplinas ou formas do conhecimento com um fim prático: organizar e facilitar sua localização dentro de um sistema de recuperação da informação”. Dando continuidade ao pensamento de Guarido e Fujita:

Os sistemas devem possibilitar a criação de procedimentos de controle administrativos que possibilitem que o conhecimento sobre as coleções documentárias possam chegar ao público por meio de um serviço adequado e implementado, de tal maneira que seja efetivo cotidianamente.

Os sistemas de classificação podem ser classificados de várias maneiras. Segundo o tipo de característica, temos as classificações naturais e artificiais. De acordo com a finalidade a que se destinam, podem ser sistemas de classificação filosóficos ou sistemas de classificação bibliográficos. Segundo o campo do conhecimento que compreendem, têm-se as classificações gerais, que apresentam a ordenação de todo o conhecimento humano (CDD), e as classificações especializadas, que abrangem um determinado ramo do conhecimento, como a Medicina. (BARBOSA, 1969).

2.3.3 Classificações bibliográficas

Para Piedade (1969, p. 52), classificações bibliográficas “são sistemas destinados a servir de base à organização de documentos nas estantes, em catálogos, em bibliografias, etc”. São instrumentos de trabalho vinculados às necessidades de funcionamento de uma UI, e visam cobrir todo o espectro do conhecimento.

Os documentos podem ser ordenados de várias maneiras, de acordo com o tamanho ou a cor da encadernação, por exemplo, mas a característica mais útil à classificação de documentos é o conceito apresentado, pois a sua finalidade é facilitar sua localização.

Para Piedade (1969, p. 59):

As classificações bibliográficas, em virtude das características próprias aos documentos, além das divisões do conhecimento, exigem:

1. Uma classe que reúna as obras sobre todos os assuntos, subdividida pela forma do documento;

2. Subdivisões de forma, aplicáveis aos vários assuntos;

3. Uma notação, isto é, um conjunto de símbolos para representarem os assuntos e permitir a ordenação lógica dos documentos;

4. Um índice, para facilitar a consulta.

Por volta de 1870 os bibliotecários sentiram a necessidade de ter novos métodos de classificação, tanto na concepção intelectual do sistema como na notação. Surgiu nessa época a Classificação de Harris (1870), que inverteu de maneira significativa a ordem do sistema de Francis Bacon: a seqüência História – Poesia – Filosofia foi invertida por Ciências – Artes – História.

Chegamos enfim a época das grandes classificações. Foi nos Estados Unidos que surgiu a primeira classificação bibliográfica de grande importância universal – a Decimal Classification, de Melvil Dewey (1851-1931). Este sistema influenciou outras classificações e é usado até hoje. Foi publicado pela primeira vez anonimamente, sob o título A classification and subject index for cataloguing and arranging of books and pamphlets of a library. Dewey foi inspirado pela divisão do conhecimento humano preconizado por Harris, baseada na inversão da classificação de Bacon.

2.3.4 História dos sistemas de classificação

Da necessidade de arrumar os livros nas estantes e colocá-los numa ordem de modo que alcançasse o objetivo da biblioteca (de encaminhar os documentos aos usuários da maneira mais prática e rápida possível) é que surgiram as primeiras classificações, que evoluíram até chegarem a relativa perfeição em que se encontram hoje, no caso da CDD, por exemplo.

As técnicas de organização do conhecimento em bibliotecas evoluíram ao longo do tempo, visando satisfazer as diferentes necessidades de informação.

Primeiramente foram os filósofos que se preocuparam com uma ordenação sistemática do conhecimento. A prática de dividir os documentos pelo tipo dos autores (poetas, historiadores, oradores, etc.) foi freqüentemente encontrada em bibliotecas antigas.

Quando poucos documentos eram produzidos e o universo do conhecimento era restrito, uma classificação simples e prática desses documentos atendia as necessidades dos usuários, que até então, se limitavam a alguns privilegiados.

Um evento em especial contribuiu para que houvesse a evolução dos sistemas de classificação de documentos em bibliotecas. No século XV, Gutenberg inventou a Imprensa, democratizando o acesso ao conhecimento (as pessoas foram promovidas tendo o direito à cultura) e propiciando a produção em massa de documentos. A partir desse processo, surgiram necessidades diferentes e mais complexas de informação, acarretando o progresso nos métodos de organização do conhecimento registrado em biblioteca. Podemos perceber esse desenvolvimento durante o movimento renascentista, como vemos em Guarido (2001, p. 21):

No Renascimento, movimento de renovação literária, artística e científica, ocorrido na Europa durante os séculos XV e XVI, veio à luz novamente o grande fluxo do conhecimento dos clássicos da Antiguidade através da difusão da informação facilitada pela Imprensa.

Nessa época foram elaborados esquemas práticos com base filosófica para o arranjo de documentos em bibliotecas, atendendo as necessidades informacionais.

No início do século XVII, Bacon apresentou seu sistema, baseado no repertório do conhecimento como era visto na época. Sua sistemática, dois séculos depois, influenciou de modo considerável o primeiro esquema de classificação bibliográfica propriamente dito, baseado em uma ordenação sistemática do conteúdo intelectual dos documentos, a Classificação Decimal de Melvil Dewey.

De acordo com Guarido (2001, p. 15):

A sobrevivência das classificações, para alguns autores, se deve ao conservadorismo dos bibliotecários. Mas não podemos esquecer que esses sistemas têm resistido ao tempo por suas qualidades intrínsecas. A estabilidade hierárquica dos esquemas de classificação os faz formar parte das bases tradicionais que protegem o homem moderno da resistência permanente as teorias, aos conceitos e as técnicas; prova disso é a sobrevivência do impresso, da ortografia e da escrita.

As linguagens de classificação, longe de se acabarem, continuam suscitando interesse e consideração no âmbito da informação. Na prática, as bibliotecas se multiplicam e o livre acesso aos livros favorece o uso das classificações tradicionais.

2.3.5 Classificação Decimal de Dewey

Melvil Dewey, bibliotecário norte-americano, preocupado com a organização dos livros na biblioteca, publicou em 1876, sob a influência da classificação de Harris (1870), um sistema com o objetivo de ordenar sistematicamente os livros nas estantes. Foi a primeira classificação do tipo decimal. O sistema foi aumentado, sendo constantemente atualizado (a cada sete anos, aproximadamente, é publicada uma nova edição). Atualmente o sistema se encontra na 22ª edição (2003), disposto em quatro volumes.

É possível encontrar na literatura diversas opiniões a respeito da CDD, umas favoráveis, outras apontando as dificuldades do sistema. Um destes problemas seria o não-relacionamento de assuntos. Para Guarido (2001, p. 68), “pode parecer lamentável que a CDD não tenha previsto o caso de obras que enfoquem uma realidade sobre o aspecto geral ou pluridisciplinar. As últimas edições esquecem um pouco deste pormenor”.

Mesmo com algumas opiniões divergentes, a classificação de Dewey foi aceita imediatamente e até hoje o sistema é traduzido em várias línguas. Sem dúvida, é o sistema de classificação mais utilizado no mundo.

2.3.5.1 Estrutura do sistema

Apresenta um esquema hierárquico enumerativo; suas tabelas apresentam uma disposição hierárquica do conhecimento, partindo do geral para o específico.

2.3.5.1.1 Tabelas Auxiliares (V. 1: prefácio, introdução, glossário, relocations e tabelas)

A CDD trata de forma particular algumas noções aplicáveis a todos os elementos de uma classe ou a todas as classes. Esse é o objetivo das tabelas auxiliares, que na 22ª edição, são seis:

– Tabela 1: Subdivisão Padrão.

– Tabela 2: Áreas geográficas, períodos históricos, pessoas.

– Tabela 3: Artes, literaturas individuais, formas literárias específicas.

– Tabela 4: Idiomas individuais e famílias de idiomas.

– Tabela 5: Grupos étnicos e nacionais.

– Tabela 6: Idiomas.

– Tabela 7: Pessoas

2.3.5.1.2 Classes Principais (Vols. 2 e 3: classes 000-599, 600-999)

Abrangem o campo do conhecimento, dividindo-se em grandes grupos. Dewey dividiu o conjunto do conhecimento em nove campos do saber; a classe 000 (zero) ficou reservada para as Obras Gerais.

O primeiro sumário sempre é representado pelo primeiro dígito da notação.

000 – Ciência da Computação, Informação e Obras Gerais

100 – Filosofia e Psicologia

200 – Religião

300 – Sociologia

400 – Línguas

500 – Ciências Puras

600 – Ciências Aplicadas

700 – Artes e Recreação

800 – Literatura, Retórica e Crítica

900 – História e Geografia

2.3.5.1.3 Subdivisão das classes em assuntos

O segundo sumário corresponde às divisões das classes principais; é o segundo dígito da notação. Como exemplo, citamos as divisões da classe 100:

100 Filosofia

110 Metafísica

120 Epistemologia

130 Parapsicologia e ocultismo

140 Escolas filosóficas do pensamento

150 Psicologia

160 Lógica

170 Ética

180 Filosofia antiga, medieval e oriental

190 Filosofia ocidental moderna

O terceiro sumário cria um milhar de seções que poderão subdividir-se em subseções, e que constituem de fato os assuntos básicos da CDD. É indicado pelo terceiro dígito da notação. Exemplo:

180 Filosofia antiga, medieval e oriental

181 Orientais

182 Grupos antigos (pré-socráticos)

183 Sofistas e socráticos

184 Platônicos

185 Aristotélicos

186 Neoplatônicos

187 Epicuristas

188 Estóicos

189 Medievais ocidentais. Filosofia cristã

Como exemplo de subseções (que vem após o ponto decimal), temos:

869.9 Literatura brasileira

869.91 Poesia brasileira

869.915 Poesia brasileira contemporânea

2.3.5.1.4 Índice (V. 4: Manual – uso e índice)

O índice constitui um dos pontos fortes da CDD. É considerado o melhor dentre os sistemas de classificação bibliográficos existentes. É do tipo relativo, isto é, foi feito de tal modo que através dele os usuários de uma biblioteca soubessem os diversos aspectos de um assunto e onde encontrá-los na coleção.

2.3.5.1.5 Notação

O sistema possui uma notação pura, constituída só de números, no mínimo três dígitos, e é altamente memorizável.

2.4 Desdobramento, extensão e expansão

Alguns termos, como desdobramento, extensão e expansão podem nos causar algumas dúvidas com relação aos seus significados. Para que fique clara a proposta de nossa pesquisa, valendo-se do uso do Dicionário Aurélio (1994), vamos discorrer o sentido de cada um desses termos.

O processo de desdobramento implica no ato ou efeito de desdobrar-se, abrir-se ou estender-se. A extensão é concebida como o ato ou efeito de estender-se; um aumento, uma ampliação ou mesmo um alongamento (desenvolvimento). Já a expansão, é entendida como o ato de expandir-se.

Como foi falado na introdução, nossa proposta é realizar o desdobramento da extensão do assunto TdL, e para tanto, será utilizada a 22ª edição da CDD.

“Onde tu dizes lei, eu digo Deus

Onde tu dizes paz, justiça, amor, eu digo Deus

Onde tu dizes Deus, eu digo liberdade, justiça, amor”

D. Pedro Casaldáliga

3 TEOLOGIA E TEOLOGIA SOCIAL CRISTÃ: CONCEITUALIZAÇÃO E HISTÓRIA LIBERTADORA NA AMÉRICA LATINA

Neste capítulo buscamos apresentar os fundamentos da Teologia, além de conceituar o próprio termo, seu contexto atual e as disciplinas teológicas. Ainda nesse capítulo falamos sobre a TdL, sua origem, estrutura, métodos e principais expoentes.

Teologia é um termo suscetível de interpretações diversas. Para situar devidamente e com certa clareza a questão que nos ocupa, é necessário examinar criticamente a noção de teologia que vamos usar ao longo destas páginas.

Todo saber tem seu mistério. Para Libanio e Murad (2003, p. 5), o saber teológico:

Vê-se envolvido, mais que qualquer outro, por véu misterioso, por tratar-se, em última análise, de conhecimento a respeito do mistério dos mistérios: Deus. “Tira as sandálias de teus pés, porque este lugar em que estás é uma Terra Santa” (Ex, 3,5) soa aos ouvidos de quem pensa aproximar-se do estudo da Teologia. Só nessa atitude de reverência religiosa consegue-se penetrar o mundo da Teologia. Nisso ela difere grandemente das outras ciências. O halo sagrado envolve-a, e, se ele se desfaz, termina-se por praticar teologia secularizada. E esta, por sua vez, acaba passando atestado de óbito para si mesma.

3.1 Contexto atual da Teologia

A Teologia situa-se entre duas experiências opostas; se por um lado ela se manifesta repleta de esperança, e é procurada por leigos e ensinada e praticada desde as formas mais simples nas comunidades eclesiais até as mais sofisticadas nos institutos teológicos, por outro lado é coberta de suspeitas, vista com reserva e até desprezo.

A nova onda teológica manifesta-se significativamente de duas maneiras: estatisticamente e qualitativamente. Houve um aumento de leigos que estudam Teologia, tanto em instituições acadêmicas como em cursos de extensão teológica dos mais diversos níveis. Os cursos de Teologia para leigos se multiplicam nas dioceses e até mesmo nas paróquias, e há boa freqüência e assiduidade por parte dos participantes.

Nesse momento, transfere-se o interesse pelo estudo da Teologia; é mais forte e consistente entre leigos do que para aqueles que visam o sacerdócio. A Teologia desloca-se assim das mãos do clero para estudiosos leigos. O cristão leigo, até então dependente das explicações dos teólogos, começa a buscar inteligibilidade mais profunda para sua fé.

A exigência de uma cultura teológica por parte dos leigos é um dos “sinais dos tempos” do período pós-conciliar. As raízes desse fenômeno estão na reviravolta eclesiológica realizada pelo Concílio Vaticano II, no qual ocorreu a tomada de consciência da Igreja como Povo de Deus, comunidade toda responsável e ao serviço do mundo, devendo os leigos nela assumir uma ativa participação, em comunhão com os presbíteros e bispos. Para Libanio (informação verbal), “não há na história Concílio que se compare a este. Representado universalmente, houve a contribuição de raças, continentes e culturas, além de livre e ampla discussão dos temas”. Isso gerou a necessidade de uma adequação à formação cultural, espiritual e pastoral por parte dos leigos.

Diante dos vários desafios que o mundo apresenta, como o fenômeno do ateísmo, a indiferença religiosa e o surto de variadas seitas, é exigido do cristão atitude mais crítica e reflexiva a respeito de sua fé. Passa a existir então o desejo por estudos teológicos mais profundos que o catecismo aprendido na infância e adolescência. Cabe à Teologia alguma palavra de esclarecimento, o papel de atualizar e aprofundar a mensagem cristã para que o cristão possa viver de modo adequado à sua fé e de acordo com o novo contexto cultural.

Nessa linha, convém agora explicar o que seja essa teologia, com seu objeto, seus métodos, sua tarefa, enfim, tudo o que lhe diz respeito, o que será tratado a seguir.

3.2 Conceito de teologia

Etimologicamente, o termo teologia compõe-se de dois termos: Théos + logía = Deus + ciência. No centro está Deus, seu objeto principal. Qualquer reflexão teológica refere-se de alguma maneira a Deus.

Para Libanio e Murad (2003, p. 63), “teologia tem a ver com logia, com palavra, com saber, com ciência. Coloca-se Deus em discurso humano. Etimologicamente, significa um discurso, um saber, uma palavra, uma ciência de ou sobre Deus”.

No seu sentido amplo, a teologia tem por definição a ciência de Deus, expressão que pode ser entendida sob dois aspectos: objetivo e subjetivo. No sentido objetivo, Deus é o objeto da Teologia. Trata-se da ciência acerca de Deus, da soma de todo conhecimento humano sobre Deus. Em sentido subjetivo, trata-se da ciência que Deus tem de si mesmo e da criação. Ele se conhece diretamente nele e os outros objetos nele e por ele, como participações dele. Sua reflexão crítica e metódica se faz a respeito de Deus na mediação da fé acolhida na Tradição viva da Igreja.

Como o sentido das palavras sofre transformações ao longo da história, com a teologia não foi diferente. O termo tem longa vida e diferentes acepções. Não encontrou na Bíblia seu nascimento semântico. A Sagrada Escritura não conhece o termo. No seu lugar, aparece a expressão “Palavra de Deus”. Platão (428-347aC.) retém o termo para exprimir o discurso sobre Deus ou os deuses, além de ser aplicado as narrações mitológicas. Aristóteles (384-322aC.), por sua vez, delimitou para a teologia determinado campo de saber. Durante muitos anos, o termo manteve o significado pagão de estudo dos deuses. Orígenes (185-254), mesmo tendo usado o termo no sentido pagão, assume também a acepção cristã de discurso sobre Deus e Cristo. Eusébio (265-340) contribuiu para que se adotasse cristãmente este termo pagão, ao referir-se à teologia sobre Cristo. A partir do século IV, a Patrística assume o termo para a homilia sobre o Deus verdadeiro. Abelardo (1079-1142) usou-o em sentido teológico cristão para referir-se ao tratado sobre Deus. Para revelar outros aspectos da Teologia, apareceu, no romper da Idade Moderna uma plêiade de teologias e distinções: Teologia Moral, Positiva, Escolástica. Da ramificação da antiga Teologia, restou o que se chama atualmente de Teologia Dogmática. A Teologia Cristã experimentou, ao longo do tempo, diversos caminhos e variadas expressões. Sua história está intimamente ligada à História da Igreja e da sociedade.

3.2.1 Intelecção do termo

De acordo com Libanio e Murad (2003, p. 67), “o conceito teologia situa-se numa seqüência de movimentos que terminam em Deus. Trata-se, antes de tudo, de operação intelectual humana. Configura-se determinado tipo de saber, de conhecimento. Esforço de compreensão que a inteligência humana empreende”. Além disso, Libanio e Murad (2003, p. 67) complementam:

O ser humano quer compreender sua fé. Pela fé, ele lança ponte intermédia que o liga a Deus. Não quer fazer qualquer estudo de Deus. Mas intenta aprofundar, justificar, esclarecer seu ato de fé nele. Portanto, a teologia define-se como reflexão crítica, sistemática sobre a intelecção de fé. E a fé termina em Deus e não nos enunciados a respeito de Deus, como muito bem explicita Santo Tomás: “Actus credentis non terminatur ad enuntiabile, sed ad rem”. O ato do que crê não termina no enunciado, mas na coisa.

Poderíamos dizer que pela Teologia se busca a inteligência da fé. Segundo a frase de Santo Anselmo (1033-1109), “fides quae sens intellectum” (fé que busca inteligência), todos os tons do sentido de “inteligência” interferem na compreensão de teologia.

De acordo com Libanio e Murad (2003, p. 69), “a Teologia eleva o nível de conhecimento que se tem da fé, conforme as exigências e demandas da inteligência, da experiência, da vida”.

Assim sendo, a Teologia trata de Deus, mas mediado pela fé, pela acolhida de sua Palavra, que, por sua vez, nos vem comunicada pela revelação transmitida na Tradição da Igreja.

3.3 Natureza da Teologia

Apresentamos agora a Teologia, vista como sabedoria, saber racional e crítica, e o esforço que esta faz pra ser reconhecida como ciência.

3.3.1 Teologia como sabedoria

A Teologia é um saber que procura ser no mundo a intérprete de Deus a partir da Revelação. É uma sabedoria que reflete sobre a vida, o mundo, a causa das coisas, Deus, a história humana, etc.

Para Libanio e Murad (2003, p. 77):

Teologia, como sabedoria, diz respeito à totalidade da pessoa. Expressa-se preferentemente em símbolos e alegorias. Opõe-se a um saber teológico mais analítico e lógico das realidades individuais em benefício de um conhecimento que insere cada coisa e tudo no todo da realidade criada por Deus, originada de Deus e ordenada para Deus. Valoriza a dimensão de espírito aberta ao Mistério, envolvendo a totalidade da pessoa.

De acordo com Latourelle (1971, p. 54), “a Teologia, contudo, não pode esquecer que o plano de sabedoria que nos foi revelado é o plano da salvação, o qual nos comunica o desígnio salvífico de Deus, e não o segredo da matéria, que pertence ao esforço criador do homem.

3.3.2 Teologia como saber racional

A entrada do pensamento aristotélico contribuiu significativamente para o avanço do pensar teológico. A gramática, a dialética, e a metafísica dão à Teologia maior rigor intelectual. A partir desse momento, ela se estrutura como verdadeiro saber racional e brilha no Olimpo das ciências.

3.3.3 Teologia como crítica

O saber racional adquire nova especificidade com a entrada da Filosofia Moderna no meio teológico. Assume bravamente o papel da crítica. Esta, por sua vez, instala-se no coração da Teologia a partir de suas fontes distintas.

3.3.4 Teologia como ciência

As ciências, independentemente da Teologia, vão fixando sua episteme própria, e a Teologia esforça-se por ser ainda reconhecida com certa dignidade na união das ciências.

A visão positivista da ciência, para Libanio e Murad (2003, p. 83), “marcou muito a compreensão vulgar de ciência, como se ela fosse baseada na evidência mais sólida e irrefutável, e como se suas descobertas fossem inquestionáveis com a pretensão de desvendar todas as áreas da experiência humana”.

Claro que, diante dessa situação, a Teologia fazia pobre papel. Tendo como objeto Deus, realidade transcendente e inexperimentável no sentido positivista, ela era alijada do mundo científico. O filósofo positivista A. Comte (1798-1857) desprezava a Religião – o mesmo vale para a Teologia – ao mundo das pessoas. Tal postura pode ser vista nas seguintes afirmações:

“A vida é uma enfermidade da matéria” (G. Feinberg).

“O cosmos – tal como o conhece a ciência – é tudo o que existe, o que existiu e o que existirá” (Carl Sagan: Serie TV Cosmos).

Mas, enquanto a Teologia tem condições de mostrar um conjunto de conhecimentos ordenados, com objeto, método, unidade e sistematização próprios, merece sim o título de ciência.

3.3.5 Natureza da linguagem teológica

A linguagem da Teologia não se identifica nem com a linguagem comum, nem com a linguagem científica. Prefere a linguagem simbólica, que toca mais profundamente a natureza figurativa de nossa inteligência. Através dos paradoxos, tenta exprimir o inexprimível.

Segundo Libanio e Murad (2003, p. 91), “interessa-nos aprofundar a natureza da linguagem teológica a partir de seu objeto: o Mistério. No fundo, está em jogo uma linguagem que se faz necessária, mas impossível”.

3.4 Ensino acadêmico da Teologia

Pessoas distantes do mundo acadêmico da Teologia devem se perguntar se existem assuntos suficientes que preencham quatro anos de estudo. Nem de longe podem imaginar a quantidade e diversidade de disciplinas e áreas de estudo desenvolvidas pela e na Teologia. Cada instituto de Teologia configura, a seu modo, o quadro das disciplinas teológicas.

Levando em consideração essa diversidade de disciplinas, a seguir serão apresentadas as grandes áreas de estudo da Teologia acadêmica, com as correspondentes disciplinas.

3.4.1 Teologia Fundamental

Deus entrou na história do homem e manifestou-se para dar-lhe a conhecer seu desígnio de salvação. A realidade primeira do Cristianismo é a Palavra de Deus em Jesus Cristo e por Jesus Cristo. Teologia Fundamental é uma disciplina básica que tem por objeto o fato e o mistério dessa palavra ao mundo. Seu papel é investigar os fundamentos da fé (e da Teologia) e mostrar a fundamentação da fé (e da Teologia). Explicita o ato de crer em suas diversas dimensões: de liberdade e necessidade, de conhecimento e compromisso, etc. Empenha-se em compreender os elementos que forjam a mentalidade contemporânea, as grandes questões que se põe à fé, para estabelecer uma ponte de diálogo com as ciências.

A Teologia Fundamental compreende dois grandes grupos, agrupados em uma ou várias disciplinas: Introdução à Teologia e Revelação, Fé e Tradição.

3.4.2 Teologia Dogmática

A Teologia Dogmática dedica-se a compreender o desígnio de Deus em sua totalidade. O seu objeto é o Mistério e os mistérios. Em Teologia, ela é o ponto de partida e o ponto de chegada. Envolve-se com a compreensão e interpretação dos conteúdos da fé.

A matéria-prima da dogmática é o dado revelado, aprofundado, reinterpretado e enriquecido pela Tradição viva e regulada pelo Magistério, no correr da história.

As disciplinas incluídas na Teologia Dogmática são: Cristologia, Eclesiologia, Sacramentos, Antropologia Teológica, Escatologia e Mariologia.

3.4.3 Teologia Bíblica

A Teologia Bíblica tem como tarefa se ocupar de textos bíblicos, procurando nas suas diversas páginas uma compreensão unitária, crítica e orgânica da Revelação, presente no Antigo e Novo Testamento.

No curso acadêmico, a Teologia Bíblica apresenta três grandes grupos: Introdução Geral, Estudo dos Livros do Antigo e do Novo Testamento. Fazem parte também dos estudos bíblicos o conhecimento das línguas bíblicas, especialmente o grego e o hebraico.

3.4.4 Teologia Patrística

Trata-se do estudo dos antigos escritores cristãos. Visa apresentar com fidelidade, o pensamento dos Padres da Igreja, para condividir a inteligência que eles tiveram da fé cristã. Procura compreender o Mistério revelado e o desígnio de Deus, tendo como fonte e guia os padres da Igreja.

3.4.5 Teologia Litúrgica

A Teologia Litúrgica é uma disciplina teológica que tem por objeto o Mistério de Cristo vivendo na Igreja e o Mistério da Igreja vivendo no Cristo, considerando esse Mistério, enquanto presente na ação cultural da Igreja no tempo e esforçando-se por ter uma inteligência mais viva do mesmo. De modo geral, é o estudo da história dos textos e dos ritos, em que, ao longo dos séculos e nos diversos ambientes, se expressou o culto da Igreja, não só para encontrar nos mesmos, testemunhas autorizadas da Tradição, mas para pesquisar em profundidade e com método a inteligência do Mistério da salvação em “ato” no hoje da Igreja.

3.4.6 Teologia Moral

Como definição, deve-se dizer que a Teologia Moral é o estudo da “resposta” cristã, indicando ao cristão as exigências que derivam de ser nova criatura em Cristo e sugerindo-lhe o caminho e os meios para realizar a sublimidade de sua vocação. Tem, portanto, como objeto, a vocação do homem em Cristo e as obrigações daí decorrentes, tendo como luz a Palavra de Deus e a fé pela qual aderimos ao Mistério de Cristo e de nossa salvação. Necessita de consistente sustentação teórica por ser área complexa do pensar teológico.

A Teologia Moral divide-se em dois grandes blocos, compreendendo várias disciplinas: Teologia Moral Fundamental (reflexão sobre os critérios do agir do cristão) e Teologia Moral Específica (moral da pessoa, moral social, bioética).

3.4.7 Teologia Espiritual

A Teologia Espiritual estuda o agir cristão sob o aspecto pessoal e experiencial. Trata a vida cristã na sua plenitude, como existência vivida na fé, na esperança e na caridade. É a disciplina teológica baseada nos princípios da Revelação e na experiência dos santos, que estuda o organismo da vida espiritual e a consciência que temos da mesma, explica as leis de seu processo e desenvolvimento, descrevendo enfim o processo de crescimento da pessoa, do início da vida cristã até o ponto mais alto da perfeição.

3.4.8 Direito Canônico

A Igreja, enquanto estrutura organizada, elabora uma série de leis e regulamentações. O conjunto dessas normas e prescrições jurídicas mais importantes se aplica ao Código de Direito Canônico. O Direito Canônico rege a vida institucional da Igreja, sociedade humano-divina, fundada por Cristo e penetra numa grande parte da atividade litúrgica, pastoral e missionária da Igreja.

O estudo do Direito Canônico compreende dois grupos de disciplinas: Direito Canônico Fundamental (informações sobre a história do documento) e Direito Canônico Específico (diretrizes sacramentais).

3.4.9 História da Igreja

Além de descrição, é inteligência da vida e do crescimento da Igreja no decurso dos séculos, é uma disciplina e, ao mesmo tempo, uma dimensão que afeta todos os setores da Teologia. Trabalha sobre as idéias do passado que repercutem na Igreja de hoje.

A História da Igreja engloba vasto período de tempo e apresenta muitas informações, e com a ajuda da historiografia, esta área divide-se nas seguintes disciplinas: História da Igreja Antiga, História da Igreja Medieval, Igreja e o advento da modernidade européia, História da Igreja Contemporânea. Acrescenta-se ainda em nosso contexto, a História da Igreja na América Latina e no Brasil.

3.4.10 Outras disciplinas

Nem sempre os cursos de Teologia contemplam certas disciplinas seguramente importantes para a intelecção da fé e para a vida atual da Igreja. Dentre elas, destacam-se: Patrologia, Teologia Pastoral, Teologia das Religiões, Ecumenismo, Homilética, Religiosidade Popular, Prática Paroquial, Aconselhamento Pessoal, TdL e Missiologia. Embora importantes, essas disciplinas muitas vezes são consideradas dispensáveis.

Para Libanio e Murad (2003, p. 44), “os anos do Concílio e os imediatamente seguintes reforçaram a primavera eclesial. O ensino da Teologia participou desse momento de enorme criatividade. Praticamente todos os ramos da Teologia renovaram-se profundamente em produtividade esfuziante”. Segundo Beozzo (informação verbal), “o Concílio reconcilia com a modernidade, abre a cabeça do Episcopado, vê Deus atuando nesse mundo moderno. Apresenta perspectiva positiva sobre a realidade por parte do lado tradicional. É repensada a linguagem e a forma de apresentação nos dias de hoje”. Em meio a esse momento de renovação, surgiu a TdL, foco desse trabalho, que será abordada a seguir.

3.5 Teologia da Libertação

“Toda Teologia nasce em determinado contexto social e histórico, marcado, sobretudo pelas condições econômicas e políticas. Surge também de dentro de um movimento de idéias, de elementos culturais” (LIBANIO; MURAD, 2003, p. 161).

Refletir a partir da prática, no interior do imenso esforço dos pobres com seus aliados, buscando inspirações na fé e no Evangelho para o compromisso contra a sua pobreza em favor da libertação integral de todo o homem e do homem todo – isso que significa a TdL, objeto de estudo da nossa pesquisa.

3.5.1 Contexto sócio-político-econômico e social do nascimento da Teologia da Libertação: emergência da consciência libertadora

Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o capitalismo progrediu rapidamente. A Europa e a América do Norte desenvolveram-se de tal forma que provocaram um distanciamento entre países desenvolvidos e países subdesenvolvidos. Esse distanciamento pode ser explicado por uma contradição que o capitalismo carrega consigo; todos os trabalhadores produzem bens, porém, somente alguns se apropriam deles e outros ficam excluídos, gerando pobreza e miséria. Embora inseridos no sistema global, os países periféricos “viviam verdadeira forma selvagem de capitalismo, tardio e dependente” (LIBANIO; MURAD, 2003, p. 162).

O capitalismo da América Latina apresenta situação de crescente dependência. Segundo Libanio e Murad (2003, p. 163):

Observando a crescente massa de marginalizados que havia em torno da pequena camada de ricos […], dois sociólogos latino-americanos, Fernando H. Cardoso e E. Faletto elaboraram a Teoria da Dependência e da Libertação, em oposição a então vigente Teoria do Desenvolvimento (aos países ricos caberia a tarefa de ajudar os países pobres a saírem do subdesenvolvimento). Surgiu, portanto, no cenário o termo “libertação” no sentido restrito político-econômico.

Para Gutiérrez (1986, p. 44), “libertação exprime, em primeiro lugar, as aspirações das classes sociais e dos povos oprimidos, e sublinha o aspecto conflituoso do processo econômico, social e político que os opõe as classes opressoras e aos povos opulentos”.

Profunda aspiração à libertação assina a história humana. Libertação de tudo que limita ou impede o homem da realização de si mesmo, o acesso a sua liberdade ou exercício dela. A possibilidade de levar uma existência humana autêntica, liberdade esta que é processo e conquista histórica.

3.5.1.1 Movimentos de libertação

Se houvesse somente opressão, miséria e dependência, estes fenômenos não seriam suficientes para fazer com que nascesse a TdL. “Poderia nascer, sim, uma Teologia da Resignação, da Cruz, do Sofrimento. O termo sociológico libertação nasceu, vingou, porque perpassava o continente latino-americano uma onda de libertação” (LIBANIO; MURAD, 2003, p. 164).

O movimento de libertação era alimentado por duas correntes: uma de caráter popular (as classes populares pressionavam tanto no campo como nas cidades, através da formação de sindicatos), outra vanguardista (surgiram movimentos de caráter vanguardista em muitos países da América Latina. Apesar de numericamente não serem significativos faziam falar muito de si).

“A práxis de libertação só teve início durante os últimos decênios, à medida que se realizou a conscientização da iniqüidade do estado de dependência e de opressão” (MONDIN, 1980, p. 27).

3.5.1.2 Contexto eclesial do nascimento da Teologia da Libertação

“A opressão econômica e social, e a dependência cultural e religiosa nos países da América Latina existem há séculos, mas sem serem discutidas” (MONDIN, 1980, p. 26). Mesmo nos momentos de opressão e revolução, não surgiu nenhuma TdL. Faltava para tais movimentos a presença de elementos que levantassem a problemática da fé. E isso aconteceu na América Latina, pois a Igreja estava presente no coração dos movimentos de libertação. Desses movimentos nasceram as questões a que a TdL quis responder.

Uma das razões que possibilitaram a presença da Igreja no movimento foi a abertura social criada pelas encíclicas de João XXIII – Mater et Magistra e Pacem in terris. A própria dinâmica do Concílio Vaticano II instaurava no interior da Igreja um clima de abertura, possibilitando novas experiências que tinham como preocupações as realidades terrenas, humanas e históricas, sobretudo através da Constituição Pastoral Gaudium et Spes. “Fração do Episcopado brasileiro, pe

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