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terça-feira, dezembro 3, 2024

O QUE É ESTEREÓTIPOS?

Definição de estereótipos

Os estereótipos são crenças socialmente compartilhadas a respeito dos membros de uma categoria social, que se referem a suposições sobre a homogeneidade grupal e aos padrões comuns de comportamento dos indivíduos que pertencem a um mesmo grupo social. Sustentam-se em teorias implícitas sobre os fatores que determinam os padrões de conduta dos indivíduos, cuja expressão mais evidente encontra-se na aplicação de julgamentos categóricos, que usualmente se fundamentam em suposições sobre a existência de essências ou traços psicológicos intercambiáveis entre os membros de uma mesma categoria social.

Conceitos fundamentais: preconceitos e discriminação

A noção de preconceito se refere a uma atitude injusta e negativa em relação a um grupo ou a uma pessoa que se supõe ser membro do grupo. O conceito de discriminação, apesar de literalmente significar ‘tratar alguém de uma forma diferente’, pode ser definido como um comportamento manifesto, geralmente apresentado por uma pessoa preconceituosa, que se exprime através da adoção de padrões de preferência em relação aos membros do próprio grupo e/ou de rejeição em relação aos membros dos grupos externos.

O preconceito é um atalho de pensamento que nos permite assimilar informações mais rapidamente. Porém, de forma menos eficaz.

Estereótipo ou estereótipos?

Dado que a vida social transcorre cotidianamente em ambientes sociais muito diversificados, é interessante notar que o conceito de estereótipo gramaticalmente é regido no plural. Pelo menos na nossa língua é mais usual a adoção do termo estereótipos, no plural, do que estereótipo, no singular. Um das principais contribuições do estudo de Katz e Braly (1933) foi a de circunscrever, de forma detalhada, os critérios requeridos para a delimitação e enumeração dos traços associados aos diversos grupos sociais. Mediante a aplicação estas estratégias foi possível caracterizar, à época, os americanos como trabalhadores, inteligentes, materialistas e ambiciosos, os alemães como cientificamente orientados, trabalhadores e estoicos, os irlandeses como brigões, explosivos e espirituosos, os italianos como artísticos, impulsivos e apaixonados, os judeus como astutos, mercenários e sovinas, os chineses como supersticiosos, sonsos e conservadores e os turcos como cruéis, muito religiosos e traiçoeiros. Esta enumeração deixa claro que os estereótipos se referem a uma constelação de atributos, usualmente traços de personalidade ou características psicológicas estáveis, diferencialmente aplicados pelos indivíduos que pertencem a um determinado meio social aos membros de uma ou várias categorias sociais.

Endo e exogrupo

A diferenciação entre endogrupo e exogrupo não apenas contribui para a promoção do preconceito, como também é um elemento decisivo na eclosão de comportamentos discriminatórios. As pessoas tendem a se identificar com os grupos aos quais pertencem, incorporando-os ao seu auto-conceito. Desta forma, elas geralmente avaliam o próprio grupo de uma forma mais positiva, aderindo a uma estratégia que favorece à preservação do auto-conceito. Esta avaliação positiva do próprio grupo é correlata à avaliação negativa dos grupos externos. Esse viés na avaliação do endogrupo e do exogrupo parece ser um componente fundamental na constituição da identidade social e tende a se manifestar quando ocorre qualquer diferenciação, por mínima que seja, entre o endogrupo e o exogrupo. A explicação para este fenômeno assenta-se na suposição de que as pessoas em geral mantém contatos bem mais intensos com os membros do próprio grupo, o que faz com que desenvolvam uma visão bem mais complexa a respeito dos que grupos em que transitam do que sobre os grupos externos. Assim, quando é requerido um julgamento de uma situação em que estejam envolvidos membros dos próprio grupo, ele tende a ser bem mais moderado, pois as informações novas porventura presentes são consideradas apenas após uma cuidadosa comparação com os aspectos positivos e negativos do comportamento inerentes aos membros do próprio grupo. No caso dos grupos externos, os contatos são bem mais reduzidos e, conseqüentemente, a representação disponível sobre o grupo ou sobre os membros do grupo tende a ser menos complexa, o que propicia a formulação de julgamentos mais extremados. Nesse caso, as informações novas exercem um efeito bem mais poderoso, uma vez que as informações anteriores a respeito do grupo externo são menos circunstanciadas e a avaliação tende a ser realizada de acordo com a representação estereotipada que se possui do exogrupo.

Crenças e estereótipos: critérios para a classificação

Os estereótipos são crenças. As crenças se organizam sob a forma de sistemas. Cada indivíduo adere a um número bastante substancial de crenças. Uma forma de impor uma organização a esta enorme diversidade é mediante a adoção de um esforço taxionômico, como o conduzido pelo professor Helmuth Krüger, que identifica as dimensões fundamentais a partir das quais é possível classificar e oferecer inteligibilidade a um conjunto heteróclito e disparado de crenças ordenadas sob a forma de sistemas:

      a) o nível de consciência, uma vez que algumas crenças são resultantes de um esforço apurado de reflexão e crítica, enquanto outras são adotadas sem que seja possível identificar qualquer esforço sistemático de reflexão; o grau de consciência da crença estereotipada é baixo, pois se trata de uma crença generalizada e não submetida a um esforço reflexivo sistemático;

b) o objeto da crença, pois as crenças podem ter por referente pessoas, o mundo objetivo, o si mesmo e entidades ideais ou abstratas; as crenças estereotipadas se referem a grupos e categorias sociais humanas. É inadmissível fazer alusões a estereótipos de animais, objetos, coisas e demais entes inanimados;

c) o modo, desde que algumas crenças podem ser afirmativas, enquanto outras tendem a ser negativas; usualmente as crenças estereotipadas são expressas sob forma afirmativa, embora seja possível a expressão dos estereótipos mediante o uso de asserções de caráter negativo;

d) a aceitação pessoal, pois algumas crenças são acompanhadas por um forte sentimento de certeza, enquanto outras são expressas sem qualquer convicção; os estereótipos são crenças a respeito de grupos sociais, cujo grau de certeza pode ser variável, a depender de quem crê e do conhecimento sobre o grupo alvo;

e) a importância atribuída, uma vez que os indivíduos não atribuem a mesma importância ou não aderem com o mesmo fervor a todas as classes de crenças;estereótipos são crenças a respeito de grupos sociais, cujo grau de importância é variável e depende daquele que crê;

f) a congruência entre crenças e ações, dado que algumas crenças são acompanhadas por ações congruentes, enquanto em outras circunstâncias não ocorre qualquer congruência entre a crença e a ação; O mais usual é que as crenças estereotipadas sejam acompanhadas por ações consistente com o que se acredita.

g) perspectiva temporal, pois umas crenças podem se referir ao passado, ao presente ou ao futuro;as crenças estereotipadas geralmente se referem ao presente, embora nada impeça que elas possam fazer alusão ao passado ou mesmo a uma certa perspectiva futura.

h) consenso ou concordância social, pois algumas crenças obtém um alto grau de concordância social, enquanto outras encontram apoio, quando o encontram, apenas em grupos minoritários; uma crença estereotipada depende de um forte grau de compartilhamento social, senão estaríamos a falar de crenças idiossincráticas e não de crenças estereotípicas;

i) a necessidade lógica, dado que é justificado estabelecer uma distinção entre as crenças que são capazes de se exprimir sob a forma de verdades necessárias e outras que exprimem apenas afirmações contingenciais.

As crenças estereotipadas devem ser entendidas como explicações ou teorias a respeito dos atributos ou das ações de outras pessoas.

Estereótipos e categorias sociais

Quase toda a tradição de trabalho na psicologia social sobre os estereótipos se limita a um tipo específico de referente, as categorias sociais, desconsiderando quase que completamente os outros tipos de entes sociais identificados na literatura (Lickel, Hamilton, Wieczorcowska, Lewis, Sherman e Uhles, 2000). A importância das categorias sociais no estudo dos estereótipos provavelmente é uma conseqüência da enorme influência exercida pela obra A natureza do preconceito, de Gordon Allport, na qual se analisa de forma minuciosa o processo de categorização e se discute as diferentes formas pelas quais a categorização pode influenciar a expressão dos estereótipos e dos preconceitos (Allport, 1962). É importante assinalar, no entanto, que a relação entre os estereótipos e as categorias sociais não é de simples simetria. Ainda que os estereótipos quase sempre se refiram às categorias sociais, é perfeitamente concebível que um indivíduo possa ser categorizado, sem que um estereótipo venha a ser ativado ou aplicado. Afinal, nem toda categoria social é alvo de estereótipos

O estudos dos estereótipos: algumas noções fundamentais

      – as crenças desempenham um importante papel na manifestação dos comportamentos sociais e coletivos;

– em toda cultura é possível identificar um conjunto de crenças compartilhadas por um número substancial de pessoas;

– uma crença é coletiva quando uma infinidade de exemplares da mesma encontra-se em circulação, embora cada um desses exemplares seja ligeiramente diferente dos demais;

– uma parte substancial dessas crenças coletivas se refere a outros grupos nacionais, regionais ou étnicos;

– a base cognitiva das crenças sobre os membros de outros grupos assenta-se sobre um conjunto de representações estereotipadas;

– os estereótipos étnicos e nacionais podem ser explicados a partir de uma série de fatores psicológicos, psicossociológicos ou sociais;

– fatores psicológicos como a atenção, a codificação e a busca da informação presente na memória, assim como os fatores vinculados à afetividade impelem a uma avaliação por demais genérica dos grupos externos;

– alguns mecanismos psicológicos trabalham no sentido de fixar a crença de que os membros do grupo externo são todos iguais;

– outros mecanismos psicológicos se encarregam de destituir a importância das informações capazes de levar à reavaliação dos grupos externos;

– se algo indesejado ou negativamente avaliado ocorre, as pessoas tendem a apontar os grupos externos como a causa destas dificuldades;

– as pessoas sempre encontram justificativas para os atos que perpetraram ou que tiveram a intenção de promover contra membros do grupo externo;

– as pessoas tendem a avaliar as pessoas de seu grupo de uma forma bem positiva do que àquelas que pertencem aos grupos externos;

– em decorrência desse viés na avaliação dos grupos, geralmente é difícil evitar a adoção de comportamentos ou ações estereotipadas.

Conceitos fundamentais: estereótipos e racionalização

Jost e Banaji consideram duas possibilidades dos estereótipos servirem como instrumentos para a racionalização. Em um nível mais individual, os estereótipos servem como justificativas para o próprio eu, permitindo que o indivíduo lide melhor e de uma forma mais confortável com as suas próprias atitudes preconceituosas e excludentes. Em um nível mais contextual, os estereótipos também cumprem a função de justificar e racionalizar as ações grupais

RESUMO:

Estereótipo é a imagem preconcebida de determinada pessoa, coisa ou situação.
Estereótipos são fonte de inspiração de muitas piadas, algumas de conteúdo racista, como as piadas de judeu, que é retratado como ávaro, português (no Brasil), como pouco inteligente, etc. O estereótipo está freqüentemente atrelado ao preconceito.

Cliché, Estereótipo e Preconceito

Cliché

“Os futebolistas têm pouca cultura.”

Esta frase constitui um estereótipo baseado no conhecimento popular de que os futebolistas não investem na sua cultura nem na sua formação académica.

Cliché

“Este futebolista (que não conheço nem nunca vi) tem pouca cultura.”

Esta frase é um preconceito, uma vez que ao encontrar um futebolista que nos é desconhecido, automaticamente o enquadramos no estereótipo.

Cliché

“Alberto João Jardim”

Estereotipo – O Alberto João Jardim é um ditador.

Preconceito – O Alberto João Jardim é um democrata.

Alusão depreciativa aos estrangeiros: uma anedota étnica como exemplo

Há alguns anos atrás um informante português nos relatou uma curiosa anedota. A estrutura da piada é comum ao estilo de um sem número de outras anedotas étnicas e o humor se fundamenta no contraste entre as concepções estereotipadas a respeito de algumas categorias sociais. Uma das formas mais usuais de construção das anedotas étnicas é introduzir um contexto no qual personagens de duas ou mais etnias, nacionalidades, raças ou gênero etc são colocadas em uma mesma situação e a maneira pela qual cada um se defronta com a mesma sugere os estereótipos subjacentes ao grupo.

Num encontro entre Brejnev e Nixon, nos Estados Unidos, o presidente dos EUA mostra a Brejnev a sua coleção de automóveis. Uma enorme coleção com automóveis de todas as marcas famosas desde os mais antigos ate aos modernos. Brejnev fica impressionado.
– E o Sr. presidente, colecciona alguma coisa ? – pergunta-lhe Nixon.
– Ah, nada de especial, colecciono anedotas
– Anedotas ?
– Sim, anedotas que as pessoas contam sobre mim.
– Oh, interessante ! E quantas é que já coleccionou ?
– Dois campos de concentração.

Referencias Bibliográficas:

– Marcos E. Pereira. Psicologia Social dos Estereótipos. São Paulo: EPU, 2002
– Stephen, Walter (1985). Intergroup relations. Em G. Lindzey & E. Aronson. Handbook of social psychology. New York: Randon House.
– Krüger, Helmuth. Psicologia das Crenças: perspectivas teóricas. Tese de concurso para professor titular do Departamento de Psicologia Social e Institucional da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 1995
– Pereira, Marcos E. Humor e estereótipos no ciberespaço. Tese de doutorado. Instituto de Psicologia. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1996

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