1.1 A antropologia
Tomás de Aquino favorece a teoria de Aristóteles, em que o homem é formado através de matéria e forma (alma, essência), e a relação dele é significativa, quer dizer: ambos são necessários para constituir a substância humana. Porém, os dois componentes essenciais do ser vivo não são absolutamente destacáveis, como disse Descartes.
A alma precisa do corpo para ser deste modo capaz de levar a cabo todas as funções da atividade sensitiva, vegetativa e intelectual. A alma humana criada por Deus é imortal e é dedicada para permanecer junto ao corpo. Agora então, esta união da alma com a matéria não constitui nenhuma cárcere como Platão tinha mostrado. Não é uma relação acidental, mais sim substancial.
A matéria por si só, não pode existir. A forma constitui o elemento indispensável para que está obtenha toda sua potencialidade. É através da forma como a matéria que é individualizado, e apresenta suas diferenças. Constitui a parte fundamental da matéria, quer dizer a essência, mas também o princípio de individualização. A forma é isto, faz de um ser vivo aquele ser vivo, e não outro.
1.2 A epistemologia
Diversamente da agostiniana e em harmonia com a aristotélica – é empírica e racional, sem inatismos e iluminações divinas. O conhecimento humano tem dois momentos, sensível e intelectual, e o segundo pressupõe o primeiro. O conhecimento sensível do objeto, que está fora de nós, realiza-se mediante a assim chamada espécie sensível . Esta é a impressão, a imagem, a forma do objeto material na alma, isto é, o objeto sem a matéria: como a impressão do sinete na cera, sem a materialidade do sinete; a cor do ouro percebido pelo olho, sem a materialidade do ouro.O conhecimento intelectual depende do conhecimento sensível, mas transcende-o. O intelecto vê em a natureza das coisas – intus legit – mais profundamente do que os sentidos, sobre os quais exerce a sua atividade. Na espécie sensível – que representa o objeto material na sua individualidade, temporalidade, espacialidade, etc., mas sem a matéria – o inteligível, o universal, a essência das coisas é contida apenas implicitamente, potencialmente.
Para que tal inteligível se torne explícito, atual, é preciso extraí-lo, abstraí-lo, isto é, desindividualizá-lo das condições materiais. Tem-se, deste modo, a espécie inteligível , representando precisamente o elemento essencial, a forma universal das coisas.
1.3 A ética
Segundo São Tomás de Aquino, a ética consiste em agir de acordo com a natureza racional. Todo o homem é dotado de livre-arbítrio, orientado pela consciência e tem uma capacidade inata de captar, intuitivamente, os ditames da ordem moral. O primeiro postulado da ordem moral é: faz o bem e evita o mal.
Há uma Lei Divina, revelada por Deus aos homens, que consiste nos Dez Mandamentos.
Há uma Lei Eterna, que é o plano racional de Deus que ordena todo o universo e uma Lei Natural, que é conceituada como a participação da Lei Eterna na criatura racional, ou seja, aquilo que o homem é levado a fazer pela sua natureza racional. A Lei Positiva é a lei feita pelo homem, de modo a possibilitar uma vida em sociedade. Esta subordina-se à Lei Natural, não podendo contrariá-la sob pena de se tornar uma lei injusta; não há a obrigação de obedecer à lei injusta – (Este é o fundamento objectivo e racional da verdadeira objecção de consciência).
A Justiça consiste na disposição constante da vontade em dar a cada um o que é seu – suum cuique tribuere – e classifica-se como Comutativa, Distributiva e Legal, conforme se faça entre iguais, do soberano para os súbditos e destes para com aquele, respectivamente.
1.4 O ser e a existência de Deus
A existência de Deus pode ser provada por argumentos elaborados por meio da observação do mundo em geral (indução). Tomás de Aquino elaborou cinco argumentos para demonstrar existência de Deus. O primeiro é baseado na observação do movimento. Se há movimento é porque há uma causa que o produz. Retrocedendo, há de se encontrar um motor que é a causa de todos os movimentos (Deus). O segundo nasce da observação do princípio da causalidade. Se todas as coisas são feitos de causas que, por sua vez, são feitos de outras causas, há uma causa que não é efeito de nenhuma outra: Deus. O terceiro é fundamentado na distinção entre o necessário e o possível. Todos os entes mundanos são possíveis, não necessários. Para que estes existam, pressupõe-se a existência de um ser necessário, que é Deus. O quarto parte da observação de todos os entes do mundo que possuem graus diferentes de perfeição. Uns são mais perfeitos que outros. Necessariamente há de existir um ser perfeitíssimo (Deus). E o quinto aponta a necessidade de um
ser que seja responsável pela harmonia e governo do universo (Deus).