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sexta-feira, novembro 22, 2024

DICAS DE PORTUGUÊS – VÍRGULA

A palavra vírgula vem de longe. Nasceu no latim. Lá, queria dizer varinha. Também significava pequeno traço ou linha. Depois, virou sinal de pontuação. Indica pausa rápida, menor que o ponto.

A mocinha atravessou os séculos. No caminho, suscitou discussões. Alguns afirmam que seu emprego é questão de gosto. A gente põe o sinalzinho onde tem vontade. Outros dizem que basta ler a frase. Parou pra respirar? Pronto. Taca-lhe a vírgula. Aí surge um problema. Como os gagos e os asmáticos se viram?

Outros, ainda, acham que devem usar todas as vírgulas a que têm direito – as obrigatórias e as facultativas. É o caso do amanuense Borjalino Ferraz. O homem estudou o assunto anos a fio. Aprendeu tudo. Esnobava o saber em ofícios e memorandos. Não deixava passar uma.

O chefe reclamou do exagero. “Desse jeito”, disse ele, “o amigo acaba com o estoque. O município não tem dinheiro pra comprar vírgulas novas”. O puxão de orelhas entrou por um ouvido e saiu por outro. O prefeito não pôde fazer nada. Borjalino tinha estabilidade.

Há situações e situações. Nalgumas, a vírgula é facultativa. Aí, não há erro. Você acerta sempre. Noutras, obrigatória. É o caso da separação dos termos coordenados, explicativos e deslocados. Os coordenados foram assunto da lição anterior. Agora é vez dos explicativos.

O termo explicativo tem várias caras. Uma é velha conhecida. Chama-se aposto. Lembra-se?

D. Pedro II, imperador do Brasil, morreu em Paris.

Os professores vivem dizendo que o aposto não faz falta. Pode cair fora. Verdade? É. Ele facilita a vida do leitor. Mas a ausência dele não causa prejuízo ao entendimento da frase. Se eu não sei quem é D. Pedro II, tenho saída. Dou uma espiadinha num livro de história. Está tudo ali.

Compare as frases:

O presidente da República, Lula, prepara nova viagem.

O ex-presidente da República Itamar Franco morou no exterior.

Por que um nome vem entre vírgulas e outro não? As situações são tão parecidas. É chute? Não. O segredo está no que vem antes do nome. No primeiro caso, é presidente da República. Quantos existem? Só um. Lula é termo explicativo. Funciona como aposto. Daí as vírgulas.

Mas há mais de um ex-presidente. Se eu não disser a quem me refiro, deixo o leitor numa enrascada. Posso estar falando de José Sarney, Itamar Franco, FHC. Aí, só há um jeito: dar nome ao boi. Itamar Franco é termo restritivo. Não aceita vírgula.

Mais exemplos? Ei-los: A capital do Brasil, Brasília, tem dois milhões de habitantes (o Brasil tem uma só capital). O ministro da Fazenda, Guido Mantega, deve depor na CPI (só há um ministro da Fazenda). O ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero ficou famoso pela indiscrição parabólica (há um montão de ex-ministros da Fazenda).

Às vezes, a gente se vê numa enrascada:

Meu filho Marcelo estuda na universidade.

Restritivo ou explicativo? Depende. Do quê? Do antecedente do termo Marcelo. Eu tenho um filho ou mais de um filho? Se um, o termo é explicativo. Se mais de um, restritivo.

Minha mãe, Rosa, mora em São Paulo.

Minha tia Maria chega amanhã; minha tia Carla vem na próxima semana.

Viu? Eu só tenho uma mãe. Rosa é termo explicativo. Tenho mais de uma tia. Maria e Carla são termos restritivos.

A língua é um conjunto de possibilidades. Flexível, a danada detesta monotonia. Oferece vários jeitos de dizer a mesma coisa. Veja:

O aluno estudioso tira boas notas.

O aluno que estuda tira boas notas.

As frases dizem que há alunos e alunos. Não é qualquer um que tira boas notas. Só chega lá quem se debruça sobre os livros. Numa, o termo restritivo é adjetivo (estudioso). Noutra, oração adjetiva (que estuda). O tratamento mantém-se. Nada de vírgula.

Com as explicativas ocorre o mesmo: O homem, mortal, tem alma imortal. O homem, que é mortal, tem alma imortal.

Esta cilada caiu no vestibular:

Os cinco filhos de José que chegaram do Rio estão no Recife.

A questão: quantos filhos tem José?

( ) Tem cinco. ( ) Tem mais de cinco.

E agora? Quem responde é a oração. Restritiva ou explicativa? Sem vírgulas, é restritiva. Então José tem mais de cinco filhos. Se fossem só cinco, “que chegaram do Rio” estaria cercadinha de vírgulas.

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