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sábado, novembro 23, 2024

MILITÂNCIA JOVEM: O FIM DA ANESTESIA

MILITÂNCIA JOVEM: O fim da anestesia

Universidade Anhembi Morumbi

RESUMO

A grande reportagem aqui apresentada tem como tema a militância dos jovens em partidos políticos brasileiros. Através dela, é possível identificar o perfil da juventude que se engaja na Política e compreender o universo da participação juvenil nas questões da sociedade, já que esse assunto é pouco discutido pela grande mídia. Dentre os objetivos, está também a tentativa de reportar aos jovens a importância da participação real na política e a relevância do relacionamento social travado com todos os membros do sistema. Para alcançar tais metas, utilizaram-se pesquisas na Internet, extensa bibliografia e filmografia. Também foram feitas entrevistas com especialistas das ciências políticas, da sociologia, da história e do jornalismo; e com jovens militantes de sete partidos políticos do Brasil – são eles: Democratas, (DEM), Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), Partido Progressista (PP), Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Democrático Trabalhista (PDT) e Partido Comunista do Brasil (PC do B). Inicialmente uma reportagem comportamental, o trabalho desdobrou-se para um âmbito mais político e muito propício para ser publicado na revista mensal Rolling Stone.

Palavras-chave: Comportamento. Militância. Juventude.

ABSTRACT

This article here presented has the young militancy in the Brazilian parties as its main topic. Throughout that, it’s possible to draw the profile of the youth that is committed to the politics issues as well to comprehend its real participation and its importance among the social relationships with all the members of the system. To achieve those goals, internet searches, bibliographies and filmographies were largely used. Besides that, interviews with science politics specialist, sociology, history and journalism, with militance youngsters from seven political Brazilian parties: Democratas, (DEM), Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), Partido Progressista (PP), Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido Democrático Trabalhista (PDT) e o Partido Comunista do Brasil (PC do B). Initially a behavior article , this Project turned to the politic field likely to be published by the monthly magazine Rolling Stone.

Key words: Behaviorism, Militancy. Youth

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

1 TÉCNICAS DE PESQUISA
1.1 Entrevistas
1.1.1 Possíveis entrevistados
1.1.2 Pauta básica das entrevistas
1.1.2.1 Especialistas
1.1.2.2 Jovens militantes
1.2 Pesquisa bibliográfica
1.3 Pesquisa videográfica
1.4 Cronograma

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 PARTICIPAÇÃO E PARTIDOS
2.2 O JOVEM ONTEM
2.3 O JOVEM HOJE

3 ESBOÇO DO PRODUTO
3.1 Definição conceitual
3.2 Estrutura
3.3 Público-alvo
3.4 Linguagem
3.5 Viabilidade
3.6 Custos

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA
FILMOGRAFIA

ANEXO 1

INTRODUÇÃO

Falar de política no Brasil é uma tarefa um pouco difícil, principalmente por ser um tema tão controverso. As opiniões se distanciam com facilidade e, quando são discutidas, geralmente há brigas e desacordos. A maioria das pessoas não está feliz com a situação atual de nosso País. A corrupção, a violência extrema, o desemprego são apenas alguns indícios de que alguma coisa não anda bem. Muitos reclamam, opinam, xingam, mas não buscam se interar sobre o que realmente está acontecendo de errado e sobre o que poderia ser feito de fato em prol de soluções ou melhorias. Poucos são aqueles que realmente militam e estão preocupados com ações políticas éticas e que sirvam de instrumento de transformação social. Para o Dicionário de Ciências Sociais da Fundação Getulio Vargas (1986, p.726), a militância política “se dá através da unidade de vontade, ação e disciplina dentro do partido”. Praticada de forma ideal, pode até ser considerada utópica, pois deve estar desvinculada de ganhos econômicos. Enquanto a maioria da população votante não se lembra em quem votou para deputado, tanto estadual quanto federal, nas eleições de outubro de 2006, o militante luta para que isso não seja mais um fato, e persegue a idéia de que a política é algo que deve ser acessível a todos, caminhando ao encontro da cidadania e trazendo benefícios concretos a ela.
Parte importante no eleitorado, os jovens de hoje muitas vezes são taxados de alienados e sem iniciativa para qualquer coisa que não esteja ligada ao consumismo. A grande mídia vê a atual juventude de forma diferente de como hoje é vista aquela que lutou contra a Ditadura Militar. As capas das principais revistas semanais de informação brasileiras, por exemplo, estão quase sempre ligadas à beleza estética, ao mundo do consumo ou à rebeldia sem causa dos adolescentes. Não se fala daqueles que são engajados por ideologia.
De acordo com essa visão, a juventude de hoje parece estar sempre ligada a modismos, ao contrário do que acontecia no passado. A consciência estava arraigada à idéia que (no mínimo) a classe média esclarecida fazia de “manifestação”. Isso mudou. Protestar contra George Bush é “legal”. Mas, quantos são os que sabem justificar o porquê do protesto?
Tendo como pano de fundo essa realidade e esses cenários, entender quem são os jovens que militam nos principais partidos políticos brasileiros e que procuram ter uma atuação mais organizada nos debates que envolvem a sociedade brasileira representa o foco específico desse trabalho. Trata-se de uma grande reportagem que mergulha nesse universo da militância partidária juvenil. Isso é de extrema importância ao se pensar no futuro das relações políticas, não só em nosso país, mas no mundo todo; afinal, são os jovens de hoje que estarão no poder em alguns anos e são eles que defenderão suas idéias em prol da sociedade.
De acordo com classificação adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os jovens, compreendidos como aqueles que ocupam a faixa etária que vai dos 15 aos 24 anos, representam 19,8% da população total do país, 169.872.856 de habitantes , e fazem diferença tanto do ponto de vista mercadológico quanto do político . Se houvesse uma eleição hoje, o eleitorado com idade entre 16 e 24 anos representaria 19,62% do total de 126.075.542 pessoas votantes . Seriam 24.747.610 votos.
As organizações jovens existentes dentro de cada partido servem, entre outras coisas, para buscar o atendimento das necessidades dessa parcela da população, lutar por seus direitos, checar o que está sendo feito e divulgar as idéias e propostas relacionadas a eles. Tudo isso fazendo uso da ideologia partidária defendida por cada frente. No trabalho, foram considerados os seis maiores partidos com representação na Câmara dos Deputados: Democratas, antigo PFL (DEM), Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), Partido Progressista (PP), Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Democrático Trabalhista (PDT). Segundo o cientista político Leôncio Martins Rodrigues, citado por Izique (2002), se usarmos o padrão freqüentemente utilizado pela mídia e grande parte dos pesquisadores, o DEM e PP estão à direita, PSDB e PMDB ao centro e PT e PDT à esquerda.
Levando-se em conta o critério geral, o Partido Comunista do Brasil (PC do B) ficaria de fora, mas, há muitos anos, esse é o partido que controla o movimento estudantil no Brasil, a direção da UNE (União Nacional dos Estudantes) e tem uma das juventudes partidárias mais organizadas e atuantes do país. Por isso, mereceu ser incorporada ao trabalho – é a exceção que se justifica para dar mais legitimidade e representatividade.
Movimentos jovens partidários podem ser a chave para que a juventude do Brasil se sinta mais à vontade, mais confiante e até mesmo mais motivada a acreditar na política de nosso país, pois é através desses movimentos que o jovem poderá se ver representado e mais beneficiado.
Por toda a aparente falta de empenho dos jovens brasileiros para com a política, o objetivo maior desse trabalho é compreender, através da grande reportagem, esse universo ainda não tão discutido pela imprensa e oferecer ao leitor a possibilidade de um contato mais profundo com a juventude militante contemporânea, identificando quem são essas pessoas, como vivem e, entre outras coisas, o que pensam e o que esperam construir em suas vidas.
Dentro dos objetivos secundários, mas não de menor valor, está a tentativa de reportar à população jovem a importância da participação real na política e, conseqüentemente, a relevância em ter um relacionamento social saudável com todos os outros membros do sistema onde se está inserido.
Com toda investigação e pesquisa de casos, tornou-se possível narrar a influência que o jovem exerce e a que ele poderia exercer sobre a política, a partir do momento em que cumpre seus deveres com mais vibração, compromisso e espontaneidade.
Unindo todos esses elementos, há o intuito de resgatar a imagem da juventude como uma parcela da sociedade que faz diferença e que não pensa só em futilidades. Em momentos históricos importantes, isso já foi provado e, com a ajuda dos personagens da reportagem, vemos que, hoje, isso também é possível. Provavelmente, o jovem seria mais bem interpretado se mostrado de uma maneira diferente da que faz a grande mídia. Ele tem de ser visto a partir do viés de ator político consciente que pode ser, como foi, por exemplo, nas recentes manifestações contra a chamada globalização, e em cenário que marcou outros capítulos de nossa história, como a era Vargas, a já mencionada Ditadura Militar e o impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello.
O tema se justifica pela interessante mistura do rótulo de alienação política recebido pelo jovem nos dias de hoje e o verdadeiro envolvimento de alguns deles nos partidos políticos. Esse não é somente um assunto atual. É também um assunto para o qual a grande mídia parece não dar importância, ou então só parece achar que vale a pena explorá-lo em épocas de corridas eleitorais. Dá-se crédito pelo poder de consumo da juventude, o que constrói uma imagem generalizada de futilidade.
Isso nos leva à prática do jornalismo cidadão, no qual os fatos apresentados são de interesse público e chegam para acrescentar informações relevantes à população e não só trazer aquilo que a Indústria Cultural faz com que todos queiram.
Para tal, o veículo de divulgação deveria ser bem selecionado. A princípio foi escolhida uma revista mensal nova no mercado brasileiro, que tem como público-alvo a juventude e chegou com fama de ser uma publicação lendária, que mistura cultura e política: a Rolling Stone. A revista veio com a proposta de fazer um jornalismo investigativo, diferenciado e moderno. A maioria de suas pautas envolve música e cinema. As matérias de política têm um tom direto, o que pode até parecer tendencioso, mas “opinião é o que importa”, segundo o fundador da publicação em Nova Iorque, Jann Wenner, citado por Ricardo F. Cruz, editor-chefe da edição brasileira, logo em seu primeiro editorial em outubro de 2006. Como essa é uma grande reportagem que pretende unir o jovem brasileiro à política de forma consciente e militante, combinando diferentes opiniões e partidos políticos, o casamento com a Rolling Stone parece ser perfeito.
Definir esse tema teve importância significativa já que a possibilidade de continuar a desenvolvê-lo em carreira acadêmica é muito grande. A facilidade e a familiaridade com o assunto têm também caráter de prioridade ao se levar um trabalho como esse adiante.
Presenciar a existência de jovens militantes, que, com seus ideais, contagiam os outros, promove gratificação e motiva qualquer jornalista militante a prosseguir em sua esperança de tentar mudar uma situação desfavorável, em benefício de uma sociedade mais democrática e mais justa.

1 TÉCNICAS DE PESQUISA

Para elaborar essa grande reportagem, as principais técnicas de pesquisa utilizadas serão entrevistas e pesquisas bibliográficas e videográficas.

1.1 Entrevistas

Esse aspecto da metodologia foi fundamental na grande reportagem final. São as entrevistas instrumentos e ferramentas que garantem ao leitor acesso e contato com a essência desse universo da juventude militante nos partidos políticos. Graças a elas é que foi possível organizar e produzir uma narrativa consistente e aprofundada sobre como se organiza essa militância.
Jovens militantes e atuantes, representando os seis maiores partidos da Câmara dos Deputados, mais o PC do B, foram escolhidos para responder a algumas questões que, reunidas e sistematizadas, constituem um perfil dessa juventude. São os presidentes ou pessoas que ocupam outros cargos de lideranças nas organizações jovens existentes nos partidos políticos e alguns militantes filiados a esses partidos. Seus depoimentos são importantes, pois dão legitimidade à construção desse universo.
Por fim, foi necessário ouvir alguns especialistas, intelectuais, pensadores ligados a história, comunicação social, ciências políticas e sociologia, já que os testemunhos deles contribuíram para oferecer a possibilidade de contextualização e de compreensão mais ampla da reportagem, além de estabelecer nexos, pontes e relações entre as entrevistas dos militantes.

1.1.1 Possíveis entrevistados

Especialistas

– Helena Wendel Abramo. Mestre e Bacharel em Sociologia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP). Especializada em assuntos relacionados à juventude. Atualmente, é socióloga da Prefeitura de São Paulo, Assessora da Comissão Especial Permanente da Juventude da Câmara Municipal de São Paulo e membro do Conselho Nacional de Juventude. Autora da obra “Cenas juvenis: punks e darks no espetáculo urbano” (1994), e organizadora de “Retratos da juventude brasileira. Análises de uma pesquisa nacional” (2005).
– José Paulo Martins Junior. Doutor e Mestre em Ciências Políticas pela USP. Bacharel em Ciências Sociais também pela USP. Atualmente, é Coordenador e Professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP). Organizador da obra “Introdução à política brasileira” (2007).
– Laura Capriglione. Jornalista do jornal diário Folha de S. Paulo. Responsável pela cobertura da invasão da reitoria da USP, ocorrida em junho de 2007.
– Marco Antônio Villa. Doutor em História Social e Mestre pela USP. Atualmente exerce o cargo de Professor de História na Universidade Federal de São Carlos (UFSC). Autor de diversas obras, entre elas: “Jango, um perfil (1945-1969)” (2004), “O nascimento da República no Brasil. A primeira década do novo regime” (1997), e “A queda do Império, os últimos momentos da Monarquia no Brasil” (1996).

Partido Progressista
– Carlos Renato Cardoso Pires de Camargo. 28 anos. Presidente Estadual da Juventude Progressista e Vice-Presidente Nacional. Cursa Direito na Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) e é formado em Gestão de Políticas Públicas de Juventude.

– Antônio Haddad Filho. 18 anos. Militante e filiado à Juventude Progressista. Estudante de Administração pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP).

Democratas
– Walter Abrahão Filho. 28 anos. Presidente Estadual e Vice-Presidente Nacional da Juventude Democrata. Formado em Direito pela Universidade Paulista (UNIP).

Partido da Social Democracia Brasileira
– Bruno Covas. 27 anos. Deputado Estadual e Presidente da Juventude Estadual do PSDB. Formado em Economia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e Direito pela USP.

Partido do Movimento Democrático Brasileiro
– Marcelo Mondim. 35 anos. Presidente Municipal de São Paulo da Juventude do PMDB. Formado em História pela Universidade do Grande ABC.

Partido dos Trabalhadores
– Leonardo Penafiel Pinho. 28 anos. Secretário Municipal de Juventude do PT. Formado em Sociologia pela PUC/SP.
– Paulo Edison. 31 anos. Militante e filiado da Juventude do PT. Formado em Ciências Sociais pela PUC/SP.

Partido Democrático Trabalhista
– Edney Castilho. 26 anos. Secretário Estadual de Movimentos Estudantis da Juventude Socialista do PDT e Presidente Municipal da Juventude Socialista do PDT em Carapicuíba.
– William Rodrigues Dantas. 17 anos. Militante e filiado da Juventude do PDT no Rio de Janeiro. Formado em um curso técnico de administração.

Partido Comunista do Brasil
– Ricardo Abreu. 39 anos. Secretário Nacional de Juventude do PC do B. Formado em Economia pela USP.
– Fernando Henrique Pestana Borgonovi. 26 anos. Militante e filiado do PC do B e da União da Juventude Socialista (UJS). Formado em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero.

1.1.2 Pauta básica das entrevistas

1.1.2.1 Especialistas

Helena Wendel Abramo
– No geral, quais são as maiores preocupações do jovem brasileiro?
– A juventude é vista como fútil, alienada e vítima do consumismo que estimula as experimentações constantes. A senhora concorda com essa imagem?
– O jovem se preocupa com o futuro das relações políticas do Brasil?
– Na sua percepção, se o jovem não está engajado em um partido político, onde ele está mostrando que ele se importa?
– A sociedade está mais individualista. De acordo com o filósofo Zygmunt Bauman, isso se faz presente na “sociedade líquido-moderna” através do consumismo e da transformação de tudo em produto. A senhora estabelece uma relação entre essa afirmação e a falta de interesse na política partidária?
– Quais são os fatores que mais desestimulam o jovem de se engajar na política tradicional?
– O que levaria os jovens às ruas, hoje?
– Essas novas formas de militância são políticas em prol da sociedade em geral, ou elas só visam o bem-estar de determinados grupos?
– O cientista político Kenneth Minogue diz para os jovens se afastarem da política. A senhora também acha que a rebeldia, característica à juventude, pode atrapalhar a atividade partidária?
– O que a senhora diria aos jovens que não dão importância à Política?

José Paulo Martins Junior
– A juventude é vista como fútil, alienada e vítima do consumismo que estimula as experimentações constantes. O senhor concorda com essa imagem?
– Hoje, vemos a juventude dos anos 60, por exemplo, como mais atuante e consciente. Como podemos diferenciá-la do jovem dos dias atuais?
– A Carta Capital divulgou a atual edição do Barômetro Iberoamericano de Governabilidade e, de acordo com essa pesquisa, cerca de 51% dos entrevistados acreditam que há motivos para que o Presidente feche o Congresso. Até que ponto a alienação dos jovens está relacionada com o “desprezo” do Brasil pela democracia?
– O movimento dos “Caras Pintadas” se insere como na questão da alienação?
– Qual é o significado da invasão da reitoria na USP em junho?
– É possível que o jovem não tenha se afastado da política em si, mas que tenha ficado desiludido devido àquilo que ele vê?
– E os conceitos de direita e esquerda, que se aplicam de forma tão “fluída”, pelo menos nos partidos brasileiros, estão relacionados a essa não-participação?
– O que mais pesa: a desinformação ou a falta de educação política / consciência cidadã?
– Os jovens militantes que estão dentro de partidos políticos podem realmente influenciar aqueles que não se sentem representados na política e que, por isso, não ligam para ela? Como?
– Há alguma outra forma de atuação política, que não seja a tradicional, em que a juventude esteja envolvida?
– As “juventudes” mantidas pelos partidos políticos são de fato representativas ou são apenas mais uma instância burocrática?
– Qual deve ser o papel das juventudes partidárias no cenário político brasileiro?

Laura Capriglione
– A juventude é vista como fútil, alienada e vítima do consumismo que estimula as experimentações constantes. Você concorda com essa imagem?
– Hoje, vemos a juventude dos anos 60, por exemplo, como mais atuante e consciente. Isso graças a livros, reportagens e até depoimentos como o seu do dia 23 de setembro. Nós vemos como esses jovens corriam riscos para lutar por suas ideologias. O fator risco é primordial na comparação desses jovens com a juventude atual? Como podemos diferenciá-los?
– O movimento dos “Caras Pintadas” se insere como na questão da alienação?
– Ao falar à Folha sobre a invasão da reitora na USP em junho, o filósofo Paulo Arantes afirmou que “o período das grandes marchas acabou”. Ao se deparar com um movimento daqueles, é essa também a sua impressão?
– A Carta Capital divulgou a atual edição do Barômetro Iberoamericano de Governabilidade e, de acordo com essa pesquisa, cerca de 51% dos entrevistados acreditam que há motivos para que o Presidente feche o Congresso. Até que ponto a alienação dos jovens está relacionada com o “desprezo” do Brasil pela democracia?
– É possível que o jovem não tenha se afastado da política em si, mas que tenha ficado desiludido devido àquilo que ele vê?
– Movimentos sociais apartidários atraem mais o jovem do que os partidários? Por quê?
– O que levaria a juventude às ruas nos dias de hoje?
– O historiador Marco Antônio Villa respondeu minhas perguntas e disse que hoje “a leitura da mídia impressa é muito pequena” e que isso influencia a não-participação. Você concorda?
– O que mais pesa: a desinformação ou a falta de educação política / consciência cidadã?

Marco Antônio Villa
– Historicamente, como é possível classificar a participação política dos jovens? Qual a importância deles?
– A juventude é vista como fútil, alienada e vítima do consumismo que estimula as experimentações constantes. O senhor concorda com essa imagem?
– Hoje, vemos a juventude dos anos 60, por exemplo, como mais atuante e consciente. Como podemos diferenciá-la do jovem dos dias atuais?
– A Carta Capital divulgou a atual edição do Barômetro Iberoamericano de Governabilidade e, de acordo com essa pesquisa, cerca de 51% dos entrevistados acreditam que há motivos para que o Presidente feche o Congresso. Até que ponto a alienação dos jovens está relacionada com o “desprezo” do Brasil pela democracia?
– O movimento dos “Caras Pintadas” se insere como na questão da alienação?
– Qual é o significado da invasão da reitoria na USP em junho?
– É possível que o jovem não tenha se afastado da política em si, mas que tenha ficado desiludido devido àquilo que ele vê?
– A corrupção está ligada à apatia dos jovens? O estado de inércia vem desde o princípio do governo democrático? Somos por natureza um país de corruptos e de “cidadãos inativos”?
– O fato de os partidos não terem tradição influencia a não-participação dos jovens?
– E os conceitos de direita e esquerda, que se aplicam de forma tão “fluída”, pelo menos nos partidos brasileiros, estão relacionados a essa não-participação?
– O que mais pesa: a desinformação ou a falta de educação política / consciência cidadã?
– Os jovens militantes que estão dentro de partidos políticos podem realmente influenciar aqueles que não se sentem representados na política e que, por isso, não ligam para ela? Como?
– Há alguma outra forma de atuação política, que não seja a tradicional, em que a juventude esteja envolvida?
– Essas novas formas de militância são políticas em prol da sociedade em geral ou elas só visam o bem-estar de determinados grupos?
– As “juventudes” mantidas pelos partidos políticos são de fato representativas ou são apenas mais uma instância burocrática?
– Qual deve ser o papel das juventudes partidárias no cenário político brasileiro?

1.1.2.2 Jovens militantes
– Quando e por que você decidiu buscar a militância em partidos, e não em ONGs, como fazem muitos jovens atualmente?
– Quais os motivos de você ter escolhido esse partido?
– Você tem pretensões de seguir carreira política?
– Quem é ou quem foi o maior exemplo (em se tratando de ideologias) do seu partido? Aquele em que a juventude se espelha?
– Como você define o momento político atual do Brasil?
– Hoje, vemos muito mais partidos que se consideram “de esquerda”. Por que quase não há mais legendas que se declaram “de direita”?
– A reforma política poderia mudar esse quadro?
– Muito mais do que em outros tempos a má conduta de alguns políticos está mais em evidência, os escândalos estão sendo revelados com mais facilidade. Por quê?
– Como acontece a participação política dos jovens dentro do seu partido? Há uma idade mínima e máxima para pertencer à Juventude?
– Quais as maiores diferenças entre a sua Juventude e a dos outros partidos?
– Existe uma conexão ideológica entre as propostas do partido e as da juventude?
– Até que ponto a juventude é reconhecida dentro do partido e suas idéias são levadas adiante como políticas partidárias?
– O jovem é conhecido por sua “liquidez”, suas experimentações constantes. Você vê muitos jovens que entram no partido e desistem logo? Como diferenciá-lo daquele que é engajado por ideologia?
– Como você vê o jovem que está fora dos movimentos partidários?
– Para você, o que é ser um cidadão responsável?
– É possível ser engajado e não estar dentro de um partido político?
– Existem outras formas válidas de participação? Quais são elas?
– Movimentos sociais que se dizem apartidários, como o “Cansei”, são legítimos?
– Quem é o jovem brasileiro hoje?
– O jovem do seu partido se diferencia da maioria? Como?
– A juventude está ciente do que a política representa?
– E sobre o caso “Renan Calheiros”, mesmo com toda repercussão, a falta de medidas tomadas prejudica a participação dos jovens na política? O que mais desestimula os jovens?
– O que você espera que os jovens que não gostam de política entendam?

1.2 Pesquisa bibliográfica

A pesquisa bibliográfica foi essencial para a fundamentação teórica do trabalho. Com ela, tornou-se possível agregar conhecimento às entrevistas e aos perfis traçados, deixando a grande reportagem ainda mais equilibrada e coesa. Além disso, as informações apuradas puderam ser confrontadas, articuladas, contestadas e reafirmadas, a partir de leituras e fichamentos. Portanto, as leituras ajudaram a nortear o diálogo que foi travado com os entrevistados.
A Internet foi muito usada para o levantamento de dados, tais como, os números relativos aos eleitores do Brasil, levantados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); e na busca de entrevistados nos sites de Universidades como a USP, por exemplo. Além disso, os sites dos partidos políticos (DEM, PP, PSDB, PMDB, PT, PDT e PC do B) e da União Nacional dos Estudantes (UNE) também foram analisados para a obtenção de conhecimento sobre esses organismos. Artigos como “A história dos partidos políticos no Brasil”, do site Política Voz; “Juventude e adolescência no Brasil: referências conceituais”, organizado por Maria Virgínia de Freitas; “Geração 21”, entrevista feita pela revista Shopping Centers; “Leia íntegra do bate-papo com Laura Capriglione sobre a ocupação da USP”, da Folha Online; e “Quero ser grande”, da revista Isto É Online, sobre a juventude do Brasil, todos disponíveis na Internet, também foram consultados.
A mesma importância têm as matérias de jornais utilizadas, como “Classe média se divorciou de Lula, diz analista”, “Ricos não são menos brasileiros que pobres, diz líder do ‘Cansei’”, “25 anos depois, estudante leva a mãe para a invasão”, todos da Folha de S. Paulo; e “Os jovens e a política”, entrevista do cientista político Kenneth Minogue ao repórter Geneton Moraes Neto para o canal Globo News e publicada no site do Jornal da Globo.
Os livros relacionados à militância política, jovens atuantes na política e afins têm importância crucial no desenvolvimento da reportagem. Alguns exemplos de obras que foram lidas e consultadas são: “Retratos da juventude brasileira”, organizado por Helena Wendel Abramo e Pedro Paulo Martoni Branco; “Jornalistas e revolucionários”, do autor Bernardo Kucinski; “Cartas a um jovem político”, do ex-presidente e sociólogo Fernando Henrique Cardoso; “Cale-se”, de Caio Túlio Costa; “O silêncio dos intelectuais”, organizado por Adauto Novaes; “Vida líquida”, de Zygmunt Bauman; “Como exercer sua cidadania”, da Coleção Entenda e Aprenda, da Bei Comunicação; “O que é participação política?”, de Dalmo de Abreu Dallari; “Os Bestializados. O Rio de Janeiro e a República que não foi”, de José Murilo de Carvalho; “História dos partidos brasileiros”, de Vamireh Chacon; “Estado e partidos políticos no Brasil: 1930 a 1964”, de Maria do Carmo Campello de Souza; “Partidos políticos: funcionam?”, de Sérgio Praça e Simone Diniz; “Direita e esquerda: razões e significados de uma distinção política”, de Norberto Bobbio; “Dicionário de Ciências Sociais”, da Fundação Getulio Vargas; “Perfis e como escrevê-los” e “O estilo magazine: o texto em revista”, de Sergio Vilas Boas; “A prática da reportagem”, de Ricardo Kotscho; e “Teoria e técnica do texto jornalístico”, de Nilson Lage. A biblioteca da Universidade Anhembi Morumbi foi o principal ambiente de pesquisas.

1.3 Pesquisa videográfica

O cinema tem grande apelo entre os jovens de hoje. Os filmes não retratam apenas uma juventude alienada, muitos dele mostram o engajamento e a militância. Obras como “Os sonhadores”, de Bernardo Bertolucci; “O que é isso companheiro?”, de Bruno Barreto; “Olga”, de Jayme Monjardim; “Estado de sítio”, de Costa-Gavras; “A história oficial”, de Luis Puenzo; “V de Vingança”, de James McTeigue; “Vocação do poder”, de Eduardo Escorel e José Joffily; e o documentário disponível na Internet “vaia.sp.br”, de Maurício Adachi, foram vistas e analisadas para dar margem e basear a narração da reportagem. Essa pesquisa tem grande relevância na construção de repertório, já que, através do cinema de ficção e de documentários, a realidade é escancarada por diferentes lentes e olhares.

1.4 Cronograma

Fevereiro: definição do tema e do produto jornalístico. Início da procura de materiais relevantes ao trabalho.
Março: escolha do professor orientador do relatório e elaboração das primeiras versões da Introdução. Busca de materiais para a Fundamentação Teórica.
Abril: entrega da Introdução. Pesquisa e análise de autores, obras, personagens e possíveis pautas de entrevistas. Elaboração e entrega da Metodologia e do Cronograma do projeto. Escolha do professor orientador do produto final. Começo da redação da Fundamentação Teórica. Início das leituras e fichamentos das obras escolhidas.
Maio: entrega da Fundamentação Teórica. Montagem e entrega do esboço do produto. Começo da estruturação final do relatório.
Junho: entrega final do relatório completo. Preparação e apresentação para a pré-banca.
Julho a agosto: leitura de mais obras de referência.
Agosto a outubro: entrevistas com os personagens escolhidos e compilação dos dados levantados para a grande reportagem.
Setembro: realização do primeiro esboço do projeto gráfico.
Outubro: redação da matéria e recapitulação de algumas entrevistas. Montagem do projeto gráfico do produto, diagramação, edição e revisão final.
Novembro: Envio à gráfica. Entrega final da grande reportagem. Preparação para a apresentação à banca e apresentação.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 PARTICIPAÇÃO E PARTIDOS

Uma das formas de se exercer a cidadania é a participação política. Dentro desse nicho, há diversas coisas que o cidadão pode fazer para acompanhar o que acontece em toda a estrutura econômica, social e política de seu país. O começo de tudo se dá na consciência de cada um sobre os problemas que a sociedade enfrenta e sobre como esse indivíduo pode colaborar para possíveis mudanças. Da mesma forma que um intelectual primeiro se distancia do objeto a ser estudado e o pensa para então dissertar sobre ele (NOVAES, 2006), as pessoas precisam iniciar seu engajamento no mundo das idéias, mas depois precisam se aproximar do real e agir. O fato de um intelectual escrever sobre suas conclusões pode ser comparado ao ato de um cidadão que se engaja dentro de sua sociedade, isso é o “fazer”. A consciência é o início de tudo para ambos os casos, o “pontapé” inicial. O distanciamento das situações só deve acontecer em função de uma análise que irá propiciar chegar mais perto dos dilemas propostos. Mesmo que haja uma situação que seja considerada utópica, pensar a seu respeito e em como tudo deveria ser para atingi-la, já nos abre um caminho que deve ser seguido à frente, sem medos.
Socialmente, participa-se atuando em grupos que tenham quaisquer finalidades para com o bem-estar social. Só o fato de defender algum tipo de ideal e transformá-lo em projetos ou em iniciativas concretas já é um bom princípio. Nos dias atuais, é possível abrir discussões sobre temas que ninguém pensava no passado, como combate ao racismo, feminismo, meio ambiente. Um exemplo: dentro de muitas empresas, há grupos de funcionários que discutem com seus líderes sobre diversas coisas e, com as soluções propostas, podem até evitar confrontos mais graves para os empregadores, como as greves. E pelo fato de antes serem excluídos desse tipo de manifestação, hoje muitos dos que participam são as mulheres e os jovens (CARDOSO, 2006). Além disso, há a militância partidária, que “se dá através da unidade de vontade, ação e disciplina dentro do partido”1 e transforma aspirações individuais em ações coletivas.
Individualmente, pode-se participar fazendo cobranças, pedidos, sugestões àqueles que têm realmente algum poder de decisão. É possível discutir idéias com outros e incentivá-los também a querer colocar suas opiniões em prática (DALLARI, 1999). É sozinho que se começa a ter idéias de como agir e ser um cidadão político, mas em grupo tudo faz mais sentido, porque aprende-se a lidar com outras pessoas e, dessa forma, a perceber os interesses daqueles que estão a nossas voltas.
O voto é um dos meios mais importantes da participação política. É através dele que se elegem os governantes de um país. No Brasil, o voto é obrigatório, e isso o deixa muito mais parecido com um dever do que com um direito. Para que ele seja bem feito, é necessário que haja total informação dos eleitores e, principalmente, consciência crítica. Mesmo que o processo eleitoral seja tão desenvolvido no país, ainda é difícil dizer que temos um povo, em sua maioria, que sabe votar, ou seja, que vota de forma consciente. Essa informação se faz mais real se concluirmos que um bom voto é aquele que respeita nossos ideais e nossas concepções. E para muitos teóricos isso significa não eleger um candidato específico, mas um partido político (PRAÇA e DINIZ, 2005).

“Partidos políticos são organizações criadas por líderes para disputar eleições. Partidos políticos são frutos dos anseios de parte específicas da sociedade, unidas em torno de interesses comuns. Partidos políticos têm um objetivo principal: vencer eleições. Partidos políticos são canais de participação política usados pela sociedade civil para tornar possível a realização de demandas populares” (Ibidem, p. 5).

Se pensarmos no funcionamento dos partidos políticos do Brasil como organismos que devem abranger ideologias e propostas e transmiti-las aos eleitores, para que dessa forma eles possam se identificar com esse órgão e então votar, as coisas não estão se desenvolvendo muito bem. O brasileiro tem votado em um determinado candidato e não em um partido. Mesmo levando em conta que no caso de deputados federais e estaduais há a possibilidade do voto em uma legenda, em 2002, as legendas partidárias foram votadas por apenas 9,9% dos eleitores, segundo Maria D’Alva KINZO (apud PRAÇA e DINIZ, 2005, p. 19).
Quando há uma identificação partidária, o eleitorado fica menos suscetível aos discursos elaborados por candidatos de má índole e pode definir o que é, na sua opinião, prioridade ao se eleger alguém. Ao mesmo tempo, quando não há esse relacionamento entre partido e eleitores, muitas vezes, vota-se simplesmente pelo fato de ser obrigatório e aí esse ato já não se caracteriza mais como participação política consciente.

“Os eleitores com identificação partidária chegam às campanhas com disposições preestabelecidas, e as campanhas mobilizam esses laços partidários. O desalinhamento partidário implica que um menor número de eleitores inicie o ciclo eleitoral com tal predisposição, o que os torna mais suscetíveis às polêmicas e temas de curto prazo da campanha” (PRAÇA e DINIZ, 2005, p. 08).

O ato de eleger um candidato sem que seu partido seja importante é chamado de voto pessoal e pode ocorrer por diversos motivos. Um deles é que os meios de comunicação estão ganhando cada vez mais espaço na propaganda eleitoral. Isso faz com que, cada vez menos, o eleitor procure as informações necessárias diretamente com os partidos políticos. O tempo de cada partido se torna efêmero nas televisões ou no rádio, se formos analisar tudo o que cabe a um governo fazer.
Outra coisa que influencia muito o voto pessoal são as campanhas que visam um grupo específico de pessoas, como a propaganda de um candidato que seja homossexual, que assuma isso e que peça diretamente o voto daqueles que são homossexuais. De acordo com Bruce CAIN, John FEREJOHN e Morris FIORINA, “o voto pessoal refere-se à porção do apoio eleitoral de um candidato que se origina em suas qualidades pessoais, qualificações, atividades e desempenho” (apud PRAÇA e DINIZ, 2005, p. 24). O eleitor que votar nesse candidato o fará por uma opção pessoal, por simpatia àquele indivíduo e não por seu programa ou por suas estratégias políticas.

“De acordo com essa definição, o cidadão que votou em Fernando Henrique Cardoso no primeiro turno das eleições presidenciais de 1994 porque o Plano Real debelou a inflação (…) não deu um voto pessoal ao candidato. (…) No entanto, inversamente, quem reelegeu José Eduardo Martins Cardozo (PT) vereador por São Paulo em 2000 devido a sua atuação na CPI que julgou a ‘máfia dos fiscais’ (…) deu, sim, um voto pessoal. Elegeu Cardozo por gostar tanto de suas qualidades pessoais (…) quanto de seu desempenho na comissão parlamentar de inquérito” (Ibidem, p. 25).

Muitos brasileiros são vítimas da educação básica precária e essa é uma das causas que está inclusa no fato de não sabermos votar. De acordo com KINZO (Ibidem, p.17), aqueles com mais escolaridade tendem a assimilar melhor o “jogo partidário”. Dados pesquisados por ela, em 2002, na região metropolitana de São Paulo, revelam que a preferência partidária, por escolaridade, é, entre os eleitores de baixa educação, 35,9%; entre os de média educação, 47%; e entre os de alta educação, 57,1%; sendo que a média total dos eleitores que têm preferências por algum partido é de 45,8%.
Outro aspecto relacionado a isso é a falta de informação política. Isso é preocupante, principalmente pelo fato de que “a pessoa que não tem domínio do presente não pode sonhar em controlar o futuro” (Pierre BOURDIEU apud BAUMAN, 2006, p. 166). Uma outra pesquisa, dessa vez de 2004, realizada por Humberto Dantas e José Paulo Martins Jr., sem relacionar escolaridade, indica que, de 0 a 5, sendo 5 o maior nível de informação política, apenas 22,7% dos entrevistados estão entre os níveis 4 e 5 do índice.

“Se extrapolarmos dados da amostra do Estudo Eleitoral Brasileiro para a população como um todo, notaremos que cerca de 80 milhões de brasileiros estão contidos no grau baixo de informação e participação, enquanto 2,5 milhões procuram se informar e participar” (DANTAS e MARTINS JR. apud PRAÇA e DINIZ, 2005, p. 14).

Mais uma agravante no caso brasileiro é que os partidos políticos não têm tradição. As mudanças de sistema afetaram muito as legendas. As do Império se eliminaram com a formação de novos partidos durante a República e esses acabaram com a Revolução de 30. A Ditadura Militar trouxe novamente à nossa nação o bipartidarismo, fazendo com que qualquer outra organização fosse ilegal e clandestina e, “no fim dos anos 1970, a reforma partidária (…) extinguiu essas duas legendas. Nunca houve continuidade nenhuma!” (LAMOUNIER, apud PRAÇA e DINIZ, 2005, p.14).
Portanto, quando se escolhe um partido, além da simpatia ideológica e sistemática que se tem por ele, é necessário conhecer suas histórias, suas origens.
A origem dos partidos políticos atuais se deu, quase em sua totalidade, após o ano de 1985, pois é a partir daí que se torna livre a criação de novas legendas e a regulamentação de organismos mais tradicionais que foram considerados ilegais durante a Ditadura Militar, como o Partido Comunista do Brasil. Em 1988, os partidos tornaram-se órgãos privados e, dessa forma, passaram a determinar suas próprias regulamentações sem a interferência do governo, o que deu um tom de legitimidade à nova democracia.
Consideram-se, hoje, como os seis maiores partidos políticos com representação na Câmara dos Deputados, segundo o cientista político Leôncio Martins RODRIGUES, citado por IZIQUE (2002), o Democratas (DEM) e o Partido Progressista (PP), à direta; o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), ao centro; o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Democrático Trabalhista (PDT), à esquerda, onde pode ser incluído também, o Partido Comunista do Brasil (PC do B).
As diferentes ideologias políticas são expressas, há mais de dois séculos, pelas palavras “direita” e “esquerda”. Hoje, mais do que nunca, esses conceitos são discutidos e se questiona muito sobre a continuação de seus usos. Pode-se alegar uma “crise das ideologias”, afirmando que mesmo nos diferentes partidos elas mais se complementam do que se diferenciam. Para BOBBIO (2001), a questão das ideologias é que elas não desaparecem, elas se renovam, além de existir toda uma contraposição de programas, de interesses e de valores a serem seguidos. Quando olhamos para a situação atual de nosso país, certamente identificamos legendas consideradas antagônicas, mas com as mesmas propostas e idéias, sem haver diferenças ideológicas ou programáticas, e com algumas pequenas discrepâncias, como o quadro de representantes de cada partido. À direita fica mais fácil de encontrarmos componentes vindos de camadas sociais mais altas, como empresários. Nos organismos de esquerda, a evidência vai àqueles que são assalariados e trabalhadores pertencentes à classe média em sua maioria. Ao centro, a situação já é mais balanceada, mas os quadros são compostos, geralmente por “profissionais liberais, executivos e diretores de empresas” (IZIQUE, 2002). Esses são elementos pequenos que diferenciam os lados da política.
Entretanto, “o critério mais freqüentemente adotado para distinguir a direita da esquerda é a diversa postura que os homens organizados em sociedade assumem diante do ideal de igualdade” (BOBBIO, 2001, p. 111). Do lado direito, vemos que há uma tendência maior ao tradicional, ao conservador, e isso faz com que a naturalidade seja mais aceita e que a direita possa ser chamada de inigualitária. Do lado esquerdo, temos uma “não-aceitação” da situação. A esquerda igualitária sabe que pode mudar as coisas, que aquilo que uma sociedade vive pode ser alterado.

“O igualitário parte da convicção de que a maior parte das desigualdades que o indignam, e que gostaria de fazer desaparecer, são sociais e, enquanto tal, elimináveis; o inigualitário, ao contrário, parte da convicção oposta, de que as desigualdades são naturais e, quanto tal, inelimináveis” (Ibidem, p. 121).

Cada um dos lados “rivais” vê as características do outro como se fossem “defeitos ideológicos”. Ainda falando da igualdade como principal meio para se diferenciar a esquerda da direita, podemos ver que os lados – quando bem definidos – mantêm suas posturas firmes quanto aos seus ideais:

“Para um partidário da direita, a igualdade como elemento tradicional da ideologia de esquerda torna-se nivelamento; para um partidário da esquerda, a desigualdade, entendida como fato não ideologicamente conotado na definição de direita, torna-se ordenação hierárquica” (Ibidem, p. 87).

A idéia de “centro” pode ser assumida como uma solução àquelas combinações partidárias que unem idéias tanto da direita quando da esquerda, além do que, atualmente, os problemas são tantos e tão diferenciados que nada mais justo do que encontrarmos um novo conceito para incorporá-los.
Hoje, a situação política do Brasil nos revela que muitos partidos têm englobado em suas filosofias a idéia do ‘ser igualitário’. Há crises ideológicas que se iniciam dentro dos órgãos partidários e são refletidas pela sociedade que está de fora. Grande parte dos cidadãos desconfia das legendas principalmente por achar que elas são todas iguais e só visam a corrupção e o mal geral. Tudo isso faz com que, cada vez mais, as pessoas – e principalmente os jovens – se afastem da política. Certamente a sociedade é composta por uma pequena parcela que ainda acredita em mudanças e que vai atrás delas. É possível ouvir rumores, em tons bem baixos, de manifestações em prol de reformas partidárias e políticas, e até mesmo em busca de uma renovação da esquerda.
O sistema partidário brasileiro, como já foi dito, é extremamente frágil desde seus primórdios. No início da República, as propostas de cidadania eram questionadas por representantes de outros países que não acreditavam no potencial político dos cidadãos brasileiros. Um deles foi Frederick ADAM, representante da Inglaterra, que, em 1891, afirmou que no Brasil “o grosso da população não se interessa por política” (apud CARVALHO, 1987, p. 67).

“No Rio não há nem povo, nem operários, nem artífices, [apenas] alguns grupos de pessoas de cor, fáceis pretorianos cujas aclamações se compram a baixo preço” (AMELOT apud CARVALHO, 1987, p. 67).

Até intelectuais brasileiros questionavam a participação brasileira na política. Raul POMPÉIA não confiava nem naqueles que eram mais inclinados às manifestações e os considerava os movimentos criados fugazes: “nascem da surpresa, do disparate, ninguém sabe como nem por quê; mas também, com o mesmo estouvamento e inopinado, desaparecem e à francesa vão-se embora” (apud CARVALHO, 1987, p. 73).
Quase sete anos depois do fim da República Velha, o Brasil se encontrava sob um regime autoritário controlado por Getúlio Vargas e, junto à força que se somava contra o Estado Novo, estava a necessidade da atuação de partidos políticos, mas eles nasceram em condições que asseguraram sua fragilidade por todo esse tempo. Podemos dizer que três fatores foram fundamentais para que isso se sustentasse:

“a concepção de vida parlamentar e partidária mantida pela grande maioria da elite política brasileira, o peso inibidor da estrutura institucional do Estado Novo marcada pela centralização e hipertrofia do Poder Executivo e, finalmente, a conjuntura na qual se deu a queda de Vargas, cujas circunstâncias peculiares não amenizaram o efeito atrofiador dos primeiros fatores sobre o nascimento e evolução do sistema partidário” (SOUZA, 1983, p. 64).

Os políticos e legisladores que se encarregaram da formulação partidária eram os mesmos que na década de 30 se adaptaram às “doutrinas antiliberais” e os partidos implantados em 1945 se estruturam sobre a noção de que “o país não se encontrava ainda “maduro” para um regime democrático” (Ibidem, p. 81). Desde então, a instabilidade dos partidos é visível e, como agravante, tivemos a Ditadura Militar em 1964 que forçou o bipartidarismo, que, por sua vez, levou as legendas à clandestinidade até que pudessem se restabelecer a partir dos anos 1980.
O PP, DEM, PMDB, PSDB, PDT, PT e o PC do B se assemelham em alguns aspectos e talvez por terem sido todos regulamentados com o final da Ditadura Militar; todos eles enxergam na democracia um objetivo fundamental e inquestionável. Ao traçarmos suas trajetórias, vemos que seus caminhos estão ficando cada vez mais semelhantes, o que pode ser a causa para a perda de legitimidade que as legendas têm sofrido.
O atual Democratas (DEM) nasceu em 1985 e foi fundado como Partido da Frente Liberal (PFL) por Aureliano Chaves, Marco Maciel e Jorge Bornhausen. A mudança de nome ocorreu apenas recentemente, em maio de 2007, e seu novo presidente é Rodrigo Maia. Sua principal atuação política se deu durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, já que o vice-presidente da República era Marco Maciel. O DEM representa, atualmente, uma das maiores oposições ao atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Além de propor uma mudança significativa na Constituição, tem como objetivos em seu programa a defesa da democracia, do liberalismo social e econômico. Os próprios membros do partido não mais o consideram de direita e sim um partido que se encontra ao centro2.
O Partido Progressista (PP) é resultado de diversas fusões, acontecidas desde 1985. Em 1993, a fusão do Partido Democrático Social (PDS) com o Partido Democrata Cristão (PDC) resultou no Partido Progressista Reformador (PPR). Em 1995, o PPR se funde com um já existente PP; nasce, então, o Partido Progressista do Brasil (PPB), que, com o final do governo de Fernando Henrique, passou a chamar-se, novamente, apenas Partido Progressista, o PP. Como um dos principais componentes da legenda está Paulo Maluf, personagem polêmico, que, mesmo após protagonizar diversos escândalos, foi o deputado federal mais votado no Brasil nas eleições de 2006, com 739.827 votos contabilizados3. Hoje, o partido pode ser considerado parte da base aliada ao governo do PT dentro do Congresso Nacional. O PP defende em seu programa a democracia, a economia livre e a liberdade. Prega, também, o fortalecimento da Federação, fomentando a privatização das atividades econômicas.
O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) surgiu em 1988, e, desde então, tem entre seus principais componentes o sociólogo e ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso. No seu quadro de representantes políticos, já esteve Mário Covas e tem hoje José Serra, atual governador de São Paulo; Geraldo Alckmin, que concorreu ao cargo de Presidente da República junto a Luiz Inácio Lula da Silva; e Aécio Neves, o atual governador de Minas Gerais. O PSDB tem como característica a representação da social-democracia e a defesa da livre participação das empresas privadas na economia de mercado, regulamentada pelo Estado. De acordo com seu programa de 2001, a economia brasileira precisa tanto do livre mercado quanto do Estado, um não pode ser superior ao outro. Para eles, é necessário pensar naquilo que o momento pede, levando em conta as necessidades da economia e do cidadão-consumidor. Apesar de ser considerada uma legenda importante de oposição ao governo atual, seus componentes identificam o partido como sendo de ordem central, mas com uma inclinação à esquerda. Há discordâncias, especialmente vindas da parte de simpatizantes da esquerda, que afirmam que as características do PSDB são de direita, pois nele enxergam tendências neoliberais.
Em 1979, foi regulamentado o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que tornou-se PMDB em 81. Foi expressivo na campanha das “Diretas Já” em 1983. A principal liderança dos peemedebistas se deu na figura de Ulysses Guimarães, falecido em 1992. Tem como característica fundamental de seu programa a defesa da democracia, e essa luta começou durante a Ditadura Militar, já que o MDB era o único partido que confrontava o ARENA (partido dos militares) e que podia lançar contracandidatos naquela época de bipartidarismo. O PMDB visa o desenvolvimento pleno do país como solução. Prega a “liberdade, o bem-estar social, a igualdade de oportunidades e de participação nos bens materiais que a riqueza e o desenvolvimento do país já permitem”4. É uma legenda considerada de centro e uma das mais heterogêneas do cenário político brasileiro. Seus componentes têm posições diferenciadas a respeito do atual governo.
O esquerdista Partido Democrático Trabalhista (PDT) teve sua regulamentação em 1981 e foi inspirado na Declaração de Direitos Humanos das Nações Unidas, na carta testamento de Getúlio Vargas e na Carta de Lisboa, elaborada durante o “Encontro dos trabalhistas do Brasil com os trabalhistas no exílio”, em Lisboa, em 19795. Defende em seu programa a democracia, o nacionalismo e o socialismo. “Somente a participação popular nas decisões da vida nacional pode levar a um nacionalismo e socialismo fraternos e em liberdade” (CHACON, 1985, p. 673). Nas eleições de 2006, o partido lançou a candidatura à presidência de Cristovam Buarque e, no segundo turno, apoiou Lula. Hoje, o PDT também se encontra na base de aliados do governo, apesar de discordância durante o primeiro mandato do presidente – a aliança dos dois partidos foi rompida em 2002 sob o comando de Leonel Brizola, ex-líder do PDT.
O Partido dos Trabalhadores (PT) surgiu em 1980 da necessidade de intervir na vida social e política do país. “(…) nasce da decisão dos explorados de lutar contra um sistema econômico e político que não pode resolver os seus problemas, pois só existe para beneficiar uma minoria de privilégios” (Ibidem, p. 694). Pregava, em seu programa original, a independência nacional; contra a dominação imperialista; política externa independente; e combate a exploração pelo capital internacional. Criticava a postura da social-democracia, baseada em princípios marxistas, mas, com o passar do tempo, o PT tornou-se mais maleável às ideologias capitalistas e, durante os governos de Lula, a legenda se posicionou de forma mais conservadora. Em 2003, membros do partido, como a Senadora Heloísa Helena e os Deputados João Batista (Babá), João Fontes e Luciana Genro, foram expulsos por não concordarem com o inclinamento econômico ortodoxo e conservador do governo. Diante do segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, o PT continua com uma política econômica conservadora e com interesses mais corporativos.
Saído da ilegalidade em 1985, o Partido Comunista do Brasil (PC do B) tem suas bases instaladas no marxismo e no leninismo. Defende a democracia e o socialismo científico – é contra as propriedades privadas de produção e a favor das sociais. Apoia-se no trabalho livre e no desenvolvimento de técnicas que assegurem o crescimento do país. Continua, até hoje (desde 1989), aliado ao PT, mesmo discordando da postura econômica tomada pelo governo. O PC do B tem forte influência nos ambientes estudantis e tem como braço a União da Juventude Socialista, a UJS.
O bipartidarismo da Ditadura Militar tornava as coisas mais fáceis àqueles que desejavam adentrar na carreira política, mas em nada se relacionava com a democracia. Hoje, vivendo em um sistema democrático, as opções de partidos são diversas e fica cada vez mais difícil optar, já que todos têm apenas detalhes que os diferenciam. O contexto histórico atual deve ser observado para que soluções pertinentes sejam tomadas. Não o fazer é um erro que não pode ser cometido por aqueles que pretendem se colocar de forma prática na militância política, seja ela dentro de um partido ou não.
Com tantos abusos rondando a política em nosso país, as pessoas preferem se omitir dessa atividade quando poderiam fazer justamente o contrário. O jovem, que representa o futuro, tem que se preocupar mais com isso. Participar de forma honesta e consciente pode qualificar uma melhora da situação. De acordo com Fernando Henrique Cardoso (2005), o jovem é menos conformista e tem “mais energia para mudar as coisas”. Afirmações como “nosso país não tem solução” não devem ser encaradas como verdades absolutas. A utopia e as idealizações são necessárias e constroem questionamentos úteis na caminhada em direção às mudanças.

“Os jovens” das décadas de 60 e 70 “iluminaram um caminho novo, como uma espécie de batedores dos movimentos de massa pró-democracia. Ajudaram a erigir os pilares de futuras formações partidárias, cujo desenlace culmina no PT, de esquerda, e no PSDB, de centro-esquerda. Alguns foram para o MDB, que se tornou PMDB, também de centro-esquerda – é bom pontuar, mesmo que no começo do século XXI essas denominações soem fora de moda” (COSTA, 2003, p. 294).

E quanto à provável perda dos ideais dos jovens de hoje, grande parte da culpa por isso ter acontecido vem da própria política e da falta de saber político.

“A ignorância política tem a capacidade de se autoperpetuar, e uma corda feita de ignorância e inação vem a calhar quando a voz da democracia corre o perigo de ser sufocada ou ter suas mãos atadas.
Precisamos da educação ao longo da vida para termos escolha. Mas precisamos dela ainda mais para preservar as condições que tornam essa escolha possível e a colocam ao nosso alcance” (BAUMAN, 2007, p. 166).

Para que essa situação seja revertida, é necessário que a juventude veja que é possível mudar e que ela pode estar representada dentro ou fora dos partidos políticos, por aqueles mais velhos ou, ainda e de forma mais importante, por si mesma (CARDOSO, 2005).

2.2 O JOVEM ONTEM

Para falar de um jovem que “tinha seus ideais intactos”, nos remeter a uma época já tão comentada, mas nunca esgotada, é inevitável. A repressão no Brasil mostrou a expressividade do jovem na política e em prol do bem-estar social.
Ao contrário de muitos que viam na Ditadura Militar apenas o desenvolvimento, a segurança e o ‘milagre econômico’, sem se dar conta dos assassinatos cometidos, da tortura e das injustiças, muitos jovens que tinham como ídolos cantores e compositores como Chico Buarque, Caetano Veloso, entre outros, se organizavam para tentar combater aquele regime da única maneira que imaginavam: através da luta armada.
Realmente, havia aqueles que pegavam em armas e que usavam de táticas de guerrilha, como o MR8 – Movimento Revolucionário 8 de outubro; e a ALN – Ação Libertadora Nacional, que “surgiu como uma facção discordante do Partido Comunista Brasileiro” (COSTA, 2003, p. 27). Essas organizações eram chamadas de terroristas pelos militares no poder e, a partir daí, a violência só aumentava em ambas as partes. Por outro lado, havia aqueles que se reuniam, clandestinamente, apenas para discutir a situação, mas o regime não perdoava e os prendia e torturava sob o pretexto da segurança nacional.
A Universidade de São Paulo (USP) reunia diversos movimentos estudantis e se mantinha constantemente na mira dos agentes ditatoriais. Alexandre Vannucchi Leme foi uma das vítimas. O estudante de Geologia militava na ALN e foi preso e torturado no ano de 1973.

“Aquele Alexandre era o Minhoca, porque pequeno e franzino, 22 anos, tinha 1 metro e 62 centímetros de altura, 60 quilos, míope, dispensado de servir ao exército (…), estudante de Geologia na USP, muito popular e querido entre os colegas. Sim: militante da ALN junto à universidade, (…). Só dissera o seu nome, não abrira nada” (Ibidem, p. 24).

Naquela época, os anos 60 e 70, ser militante político representava um alto risco. Até a execução de Alexandre, já haviam sido contabilizados mais de 38 assassinatos pelo regime. A ALN não era popular entre as pessoas, e nem mesmo a imprensa estava disposta a colaborar. O maior número de recrutas vinha das universidades. Mesmo assim, era muito difícil manter o controle da situação. Com o endurecimento da Ditadura Militar, os movimentos estudantis passaram a ser cada vez mais controlados e as manifestações nas ruas já não aconteciam mais.
A União Nacional dos Estudantes (UNE) teve um papel importante na batalha contra a Ditadura Militar. Fundada em 1937, visava a criação de uma entidade legítima que abrigasse os estudantes do Brasil. A partir de 1964, o órgão se tornou ilegal, mas não deixou de atuar contra as freqüentes atrocidades que aconteciam na sociedade. Muitos de seus membros foram presos, torturados e exilados, entre eles José Dirceu, um dos fundadores do PT, ex-presidente do partido e ex-ministro-chefe da Casa Civil do governo Lula. Honestino Monteiro Guimarães, da mesma turma que Dirceu, “ficou no Brasil, entrou para a clandestinidade e assumiu a presidência da proscrita União Nacional dos Estudantes” (COSTA, 2003, p. 130).
Junto aos jovens e, geralmente feita por eles, a imprensa também comparecia.

“A imprensa alternativa surgiu da articulação de duas forças igualmente compulsivas: o desejo das esquerdas de protagonizar as transformações que propunham e a busca, por jornalistas e intelectuais, de espaços alternativos à grande imprensa e à universidade” (KUCINSKI, 2003, p. 16).

Com sua importância explicitada após o golpe de 64, a mídia alternativa apresentava não só características inovadoras quanto ao seu formato, mas também, esses veículos alternativos, presentes em todos e quaisquer momentos de contravenção, tentavam burlar a censura e publicavam matérias com conteúdo revolucionário, cheias de mensagens subliminares para que a população pudesse ter noção do que estava acontecendo.

“Em contraste com a complacência da grande imprensa para com a ditadura militar, os jornais alternativos cobravam com veemência a restauração da democracia e do respeito aos direitos humanos e faziam crítica do modelo econômico. Inclusive nos anos de seu aparente sucesso, durante o chamado ‘milagre econômico’, de 1968 a 1973” (Ibidem, p. 13).

Ao contrário da mídia que obedecia às ordens dadas pelo governo militar, a imprensa alternativa era perseguida e submetida à censura prévia. Mesmo assim, muitas edições das publicações foram apreendidas e editores foram presos em prol da segurança nacional contra o avanço comunista.
Dentro dos ‘alternativos’ havia aqueles que se mostravam essencialmente políticos, que usavam de uma linguagem mais pedagógica e dogmática para valorizar o nacional e o popular; e havia os jornais que eram inspirados nos movimentos de contracultura norte-americanos (KUCINSKI, 2003).
Nessas publicações que visavam a “ruptura cultural”, o principal caminho para a transmissão das informações era o humor e uma linguagem mais coloquial, que mudaram os textos jornalísticos e publicitários. Como uma das principais publicações da época, podemos citar o jornal O Pasquim, que tinha uma diagramação leve e uma linguagem que visava atingir os jovens em geral. Contavam com intelectuais, músicos, políticos, jovens e mulheres, além dos próprios jornalistas. E, ao final, eram poucos os que não sofriam as conseqüências.

“O Pasquim mudou hábitos e valores, empolgando jovens e adolescentes nos anos de 1970, em especial nas cidades interioranas que haviam florescido durante o milagre econômico, encapsuladas numa moral provinciana” (Ibidem, p. 15).

A vida dos jornais alternativos era curta. “Do universo levantado de cerca de 150 jornais, um em cada dois não chegava a completar um ano de existência” (Ibidem, p. 24). Talvez essas publicações só tinham sentido quando atreladas à Ditadura Militar. “Sua única razão de existir era a Resistência” (Ibidem, p. 25).
A influência da política no jornalismo e o engajamento jornalístico que eram refletidos pelas publicações vinculadas a partidos políticos foram se esmorecendo ao longo dos anos 80 e passaram a ser vistos apenas nas próprias legendas e em sindicatos.
“O desaparecimento quase total e repentino da imprensa alternativa parece ter sido premonitório, corroborando a tese de que essa imprensa, por estabelecer pontes entre organizações e a sociedade, antecipa as grandes transformações. Nesse caso, por raciocínio inverso, podemos entender o próprio surgimento da imprensa alternativa dos anos de 1970 como uma das últimas grandes manifestações da utopia no Brasil. Estimulado pelo surgimento da ditadura, mas com direito próprio de existência na história” (Marco Aurélio GARCIA apud KUCINSKI, 2003, p. 28).

Mesmo correndo riscos extremos, muitos jovens mostravam seus rostos na luta para um país melhor e mais justo. Talvez, justamente pelos perigos enfrentados por essa juventude engajada e corajosa, seja mais fácil identificá-los como militantes da causa política. Os atos revolucionários ‘apagaram’ da história aqueles que não se interessavam, que estavam alienados e que poderiam ser chamados de fúteis.

“Aquilo ali era o espectro da morte. Lá, qualquer um de nós estava a um passo da morte. E sem referência nenhuma. Emagreci quase 30 quilos. Não tinha esse negócio de sair e fazer análise em seguida. A nossa cultura era de classe média. Análise era uma coisa muito da elite. A gente achava que a revolução ia curar tudo isso” (Adriano DIOGO apud COSTA, 2003, p. 275).

O que podemos enxergar nos dias atuais é o contrário. Uma maioria vista como ‘anestesiada’ impede a percepção de que os jovens de hoje, mesmo que poucos, também podem ser caracterizados como engajados.

2.3 O JOVEM HOJE

São muitos os nomes dados pela mídia aos jovens de hoje. Geração Coca-Cola, Zapping e Yeppies são alguns exemplos. Esse último representa a Young Experimental Perfection Seekers, uma geração criada pelos Yuppies dos anos 80 que buscavam dinheiro acima de tudo. Criados sobre bases que não oferecem referências nos dias atuais, esses jovens buscam novas identidades e se entregam ao não comprometimento6. O mercado espera que esse seja realmente o retrato da juventude, afinal, eles consomem de modo desenfreado, a “economia de consumo também deve ser uma economia de envelhecimento rápido, obsolescência quase instantânea e veloz rotatividade” (BAUMAN, 2007, p. 36).

“A geração atual vive em um ambiente claramente pós-moderno, ou seja, fluido e fragmentado, em que, da moda à sexualidade, do trabalho à música, não há referência sólida para absolutamente nada. Mesmo assim, ela foi educada segundo valores do século passado, em que todas as coisas eram caracterizáveis, rotuláveis e classificáveis. Em evidente conflito, ela sabe quase instintivamente que o valor atual está na combinação de elementos – roupas, conhecimentos, referências culturais, relações afetivas e experiência profissional – os mais variados possíveis” (LIMA, 2006, p. 8).

Mesmo consumindo dessa maneira, essa juventude não consegue se satisfazer com nada. Tudo é muito rápido e ela sente a necessidade de experimentar cada vez mais. Essa sociedade de consumo que o filósofo Zygmunt Bauman chama de “líquido-moderna”, “despreza os ideais de ‘longo prazo’ e da ‘totalidade’” (BAUMAN, 2007, p. 63). Há uma busca desenfreada por algo que “lhes aumente o significado e a perspectiva de vida” (LIMA, 2006, p. 10). Um exemplo de que, nesse caso, nem o dinheiro passa a ter tanta importância é que muitos jovens ricos estão procurando trabalho em áreas não-convencionais, como os voluntários e em ONGs.
Essa vida de imediatismos, de inconstâncias pode também ser caracterizada por sua liquidez. “A vida líquida é uma sucessão de reinícios, e precisamente por isso é que os finais rápidos e indolores, sem os quais reiniciar seria inimaginável, tendem a ser os momentos mais desafiadores e as dores de cabeça mais inquietantes” (BAUMAN, 2007, p. 08). Em todos os tipos de relacionamento aqueles que vivem essa vida começam e recomeçam infinitas vezes e as experiências vividas passam a ser lixo. Lixo produzido e descartado, que não terá finalidade alguma. Exatamente como ocorre com as mercadorias. Os produtos daquilo que se viveu tornam-se mercadorias e perdem sua utilidade.

“A cultura líquido-moderna não se percebe mais como uma cultura do aprendizado e do acúmulo, como as outras registradas nos relatos de historiadores e etnógrafos. Parece, em vez disso, uma cultura do desengajamento, da descontinuidade e do esquecimento” (Ibidem, p. 84).

O que podemos esperar é que com o tempo venha a experiência que satisfaça e que ela tome o lugar da experimentação constante, mas, mesmo assim: “o espírito questionador e inquisidor tenderá a formar um adulto mais tolerante e aberto às mudanças sociais” (LIMA, 2006, p. 11).
O jovem vive em realidades diferentes no Brasil; uma grande maioria tem que trabalhar para conseguir seu próprio sustento e, algumas vezes, o sustento de toda família. A visão que a mídia tem do jovem como exclusivamente agente consumidor é errônea e só ilustra seus próprios interesses, mas só pode ser confrontada por aqueles que têm acesso às pesquisas, como a produzida pelo Projeto Juventude em 2003. “Hoje o alerta inicial é o de que precisamos falar de juventudes, no plural, e não juventude, no singular, para não esquecer as diferenças e desigualdades que atravessam esta condição” (ABRAMO, 2005, p. 43).
O projeto coordenado pelo Instituto Cidadania foi revelado na obra “Retratos da juventude brasileira: análises de uma pesquisa nacional” (2005), que, por sua vez, foi coordenado por Helena Wendel Abramo e Pedro Paulo Martoni Branco.

“A noção de condição juvenil remete, em primeiro lugar, a uma etapa do ciclo de vida, de ligação (transição, diz a noção clássica) entre a infância, tempo da primeira fase de desenvolvimento corporal (físico, emocional, intelectual) e da primeira socialização, de quase total dependência e necessidade de proteção, para a idade adulta, em tese a do ápice do desenvolvimento e de plena cidadania, que diz respeito, principalmente, a se tornar capaz de exercer as dimensões de produção (sustentar a si próprio e a outros), reprodução (gerar e cuidar dos filhos) e participação (nas decisões, deveres e direitos que regulam a sociedade)” (Ibidem, p. 40).

Desse modo, o recorte utilizado quanto à idade será de 15 a 24 anos, o mesmo utilizado na pesquisa do Instituto Cidadania e por instituições de pesquisa, como o IBGE, mas é importante frisar que esses são números relativos, já que as experiências pessoais subordinadas às desigualdades sociais levam a caminhos também diferenciados.
Quem é o jovem brasileiro? Agora que sabemos a idade em que se encontram, podemos agrupar vários dados obtidos na pesquisa para traçarmos um perfil da juventude.

“A moderna condição juvenil na sociedade ocidental sempre foi caracterizada pela manutenção de relações importantes, embora diversas, entre duas agências primordiais da reprodução social: a família e a escola” (SPOSITO : in ABRAMO e BRANCO, 2005, p. 89).

Quando entra em pauta a escolaridade, 42% dos entrevistados foram até o ensino fundamental, enquanto 52% têm até o ensino médio (completo ou não) e apenas 6% se encontram no nível do ensino superior, ou acima dele. 81% dos jovens moram em meio urbano, 48% vivem com os pais e 78% dos que participaram da pesquisa são solteiros. Os jovens – em sua maioria – se dizem muito satisfeitos com suas famílias, com sua sexualidade, com sua saúde e aparência física, com seus amigos, com a casa em que moram e com a capacidade de tomar decisões. O número vai baixando quando se fala em amor e, principalmente, nas possibilidades de trabalho nos dias de hoje.
A adolescência espelha uma situação confusa, cheia de sentimentos confusos. É paradoxal vermos que em uma sociedade onde 36% dos jovens está trabalhando e 32% já trabalhou e está desempregado (ABRAMO e BRANCO, 2005, p. 372, gráfico 3), 45% deles acham que a melhor coisa de ser jovem é não ter preocupações ou responsabilidades (Ibidem, p.379, gráfico 18). O trabalho, considerado por 39% dos jovens uma necessidade, não parece receber também o significado de responsabilidade.
Logo abaixo da violência (55%), o desemprego é o que a juventude mais teme (52%).

“Quase universal é a preocupação com o desemprego: altíssima para todos os grupos pesquisados. Três em quatro jovens se dizem muito preocupados com o desemprego, e mais de um quinto se diz um pouco preocupado. (…) se a necessidade e o tipo de trabalho variam de acordo com a situação social, o medo da sua falta atinge todos os setores. Pode-se dizer mesmo que aparece como uma forte marca geracional” (ABRAMO, 2005, p. 54).

Outras preocupações dos jovens são drogas, educação, saúde, fome/miséria, família, crise financeira, assuntos pessoais, questões sociais e só então a administração política no Brasil, ainda acima de meio ambiente, moradia e sexualidade. Os jovens gostam de suas vidas. Gostam de ser jovens. 74% deles acham que têm mais coisas boas no fato de serem jovens. Quando questionados sobre as piores coisas de ser jovem (ABRAMO e BRANCO, 2005, p. 380, gráfico 19), 26% responderam que não têm nada de ruim, 23% acham que é conviver com os riscos e 22% consideram a falta de liberdade como algo perturbador.
A liberdade é algo que a juventude aprecia. Eles gostam de ir ao cinema, jogar bola, ir a shows de música, à igreja, culto ou missas, ir à praia, ao shopping, participam de festas na casa de amigos, vão a bares, namoram, viajam nos finais de semana e todas as outras coisas que podem ser consideradas “naturais” para um jovem ou um adolescente fazer (Ibidem, p. 418, gráfico 83).

“É principalmente nos tempos livres e nos lazeres que os jovens constroem suas próprias normas e expressões culturais, ritos, simbologias e modos de ser que os diferenciam do denominado mundo adulto. No contexto de menor controle das gerações adultas, os jovens elaboram subjetividades coletivas em torno de culturas juvenis” (BRENNER, DAYRELL e CARRANO : in ABRAMO e BRANCO, 2005, p. 176).

O uso de drogas lícitas e ilícitas está, também, constantemente atrelado ao fato de ser jovem. É nessa fase que acontece, na maioria das vezes, a experimentação dessas substâncias. Dos 26% que afirmaram fumar ou já ter fumado tabaco, 7% começaram entre 14 e 15 anos e 6% entre 16 e 17 anos. No caso das bebidas alcoólicas, dos 68% que bebem ou já beberam, 13% começaram com 15 anos, 12% com 16 anos e outros 12% com 18 anos ou mais. Dos 12% que assumiram já ter experimentado o uso da maconha, 21% o fizeram quando tinham entre 15 e 16 anos e 29% com 17 ou 18 anos. Apenas 3% dos entrevistados confirmaram já ter usado crack ou cocaína e a média da idade em que começaram é de 16 anos e 8 meses. O jovem faz parte da “população que mais tem potencial de aumentar o consumo e é sensível a mensagens que associem o uso desses produtos a uma identidade geracional” (CARLINI-MARLATT : in ABRAMO e BRANCO, 2005, p. 305). Faz-se necessário que a informação sobre os danos que todas as drogas causam seja cada vez mais acessível à população. Por serem considerados tão volúveis e tão manipuláveis, os jovens precisam de mais segurança, pois, de acordo com a pesquisa, 72% dos entrevistados conhecem algum usuário de maconha e 32% conhecem usuários de crack ou cocaína.
Mesmo que o “o quadro do consumo de drogas ilícitas no Brasil, quando comparado com o cenário internacional”, seja “discreto”, isso vem aumentando ao longo dos anos (Ibidem, p. 309). Os efeitos disso podem ser vistos não só nas ruas como também na alta sociedade, que se aliena cada vez mais em busca desse prazer instantâneo e fugaz que as drogas oferecem.
Mas, nas discussões de Paul Singer e de Paulo Krischke a respeito da mesma pesquisa, fica claro que os jovens, independentemente da classe social, são otimistas e afirmam que podem mudar o mundo. Singer percebe ainda que para eles isso se dá pela ação direta e, de certa forma, individual e não através da militância política. “A juventude deseja ajudar o mundo a mudar e pensa em fazê-lo menos mediante a militância política do que pela ação direta” (SINGER : in ABRAMO E BRANCO, 2005, p. 35). Dentro dos 54% dos jovens que acreditam que política é muito importante e dos 33% que acham que esse é um assunto mais ou menos importante (Ibidem, p. 406, gráfico 65), apenas 53% têm sua preferência na democracia. Uma agravante para isso é que esse nível tem se mantido estável, de acordo com pesquisas anteriores feitas por José MOISÉS nos anos 1989 e 1993 para sua obra “Os brasileiros e a democracia. Bases sociais da legitimidade democrática” (apud KRISCHKE : in ABRAMO e BRANCO, 2005, p. 327). Para Bauman “a democracia não pode sobreviver por muito tempo diante da passividade dos cidadãos em função da ignorância e indiferença políticas”. (BAUMAN, 2007, p. 164). E ainda sobre essa indiferença, 50% dos entrevistados não acreditam poder influir na vida política do país, número que poderia ser mudado se esses jovens tivessem plena consciência de que é possível participar dessas atividades políticas.

“Vimos então que o índice de opção formal da juventude pela democracia tem se mantido estável na última década e divide meio a meio o espaço de opções com aqueles que não manifestam compromisso explícito com o regime democrático” (KRISCHKE : in ABRAMO e BRANCO, 2005, p. 348).

Participação política, para a juventude, ainda é algo que precisa ser divulgado e explicado. A pesquisa do Instituto Cidadania entrevistou 3.501 jovens e apenas 15% afirmaram participar de algum tipo de associação e, dentre elas, nomearam as de jovens de igreja, de música, dança, teatro e futebol (ABRAMO e BRANCO, 2005, p. 400, gráfico 56). Como resultado mais expressivo, temos os 84% dos jovens que nunca fizeram e nem gostariam de fazer parte de partidos políticos, em oposição aos 12% que não fazem, mas gostariam, e 1% que o faz (Ibidem, p. 401, gráfico 58). A chama da rebeldia que vemos nos jovens dos anos 60 parece realmente ter se apagado.

“A partir dos anos 70, ocorre uma grande modificação no cenário. Os movimentos estudantis retomam a possibilidade de organização e manifestação pública e participam ativamente da luta pelo fim do regime militar instaurado em 1964; mas em seguida, no processo de redemocratização, vão perdendo paulatinamente sua força e capacidade de representação e legitimidade social” (ABRAMO, 2005, p. 23).

Para SINGER, as mudanças no cenário da militância jovem passaram a ocorrer entre 1971 e 1979 quando o comunismo soviético foi “desmascarado”.

“Grande parte do povo, sobretudo os jovens, estava insatisfeita e desesperada, disposta mesmo a morrer em protesto contra regimes pelos quais outros jovens se deixaram matar uma geração antes” (SINGER : in ABRAMO e BRANCO, 2005, p. 31).

Ver a política ir para um lado diferente de tudo aquilo pelo que lutaram desanimou e desiludiu toda uma juventude. “A desilusão com a via política para a revolução foi acompanhada por profundas mudanças econômicas e sociais: as fronteiras nacionais deixaram cada vez mais de ser barreiras às trocas comerciais e aos fluxos de capitais” (Ibidem). Hoje, são poucos os jovens que ainda lutam por seus ideais, mas eles existem dentro e fora dos partidos políticos. Torna-se cada vez mais fácil encontrarmos aqueles que buscam outras plataformas de participação. As ONGs, os blogs, as comunidades em sites de relacionamentos, os movimentos sociais que surgem ao nosso redor têm grande freqüência daqueles que se cansaram de uma “forma clássica” de se fazer política.
A recente invasão da USP, que durou cinqüenta dias e exigia uma posição da reitoria sobre as medidas restritivas tomadas pelo governo de José Serra, exemplifica a nova forma de se fazer política. “O período das grandes marchas acabou”, afirmou o filósofo Paulo Arantes7.

“No conteúdo, não há nenhuma alternativa política substantiva. Na forma, é uma ação política inédita, que tende a se multiplicar, como fórmula, independentemente do conteúdo. O contágio então vem da tecnologia política, do modo de fazer. O conteúdo está na forma” (ARANTES apud MACHADO, 2007).

Essa camada da população, a juventude, precisa saber que o engajamento é importante, mas com consciência de que não são apenas eles os responsáveis por possíveis mudanças sociais (ABRAMO, 2005). Aqueles jovens que já participam e, principalmente, militam de forma organizada dentro de alguma legenda podem e ajudam a divulgar a importância de seus trabalhos.
A UNE, tão atuante na vida política do País, continua a exercer suas funções. Hoje, ela organiza a rede do movimento estudantil que visa a reivindicação dos pontos de vista de seus participantes, “cobra do poder público e busca mobilizar os jovens para participar e influenciar os rumos da educação do país”8. Qualquer um pode fazer parte dessa organização. Sua proximidade com a esquerda se dá “porque é comprometida com o povo e com suas necessidades”9. Houve mudanças na UNE, mas o próprio ensino também mudou. Com o aumento das universidades particulares, a UNE teve que ampliar sua área de atuação e se adaptar ao novo estilo de vida dos estudantes. Na década de 60

“mais de 80% dos alunos estudavam nas universidades públicas, em período integral (…). Atualmente, na sociedade de massas, além do novo perfil do estudante trabalhador (…), mais de 70% das vagas concentram-se na rede privada (…). Nestas instituições privadas e recentes, muitas vezes sequer é permitida a organização do movimento estudantil”10.

É de extrema importância que a juventude se reconheça nas atividades políticas, para que dessa forma haja menos desconfiança e mais ação, afinal:

“por mais desmoralizada que seja atualmente a atividade política, alguém tem que se ocupar da tarefa de governar o Brasil. Porque o Brasil, como qualquer outra nação, precisa ser governado. E se os melhores não cuidarem disso, a atividade política fica nas mãos dos piores, ou dos medíocres” (CARDOSO, 2006, p.12).
A vida se faz de momentos e de situações políticas e todos têm que, no mínimo, entendê-los para poder questioná-los e, assim, dar andamento à consolidação da democracia que nos custou tantas vidas e sofrimentos.

3 ESBOÇO DO PRODUTO

3.1 Definição conceitual

Desde o princípio da execução do Projeto Experimental em Jornalismo, definiu-se, junto com o tema, que a forma de apresentação do conteúdo seria uma grande reportagem para ser publicada em uma revista mensal, a Rolling Stone. Através de perfis construídos, os leitores saberão mais sobre a vida e a rotina de jovens militantes.

“A grande reportagem rompe todos os organogramas, todas as regras sagradas da burocracia – e, por isso mesmo, é o mais fascinante reduto do Jornalismo, aquele em que sobrevive o espírito de aventura, de romantismo, de entrega, de amor pelo ofício” (KOTSCHO, 1995, p. 71).

Esse gênero de apresentação se caracteriza pelas altas produções necessárias; pelas longas pesquisas; por investimentos e sacrifícios feitos tanto pelo repórter, quanto pelos donos do meio em que a reportagem será publicada; além disso, uma característica essencial da grande reportagem é o seu tamanho, que, normalmente, estende-se por muito mais linhas do que uma notícia.
Para Nilson Lage, outra coisa que difere, fundamentalmente, a notícia da grande reportagem é que uma “expõe um fato ou seqüência de fatos” e a outra é “o relato detalhado” de um acontecimento. “A intensidade, profundidade e autonomia do jornalista no processo de construção da matéria são, por definição, maiores na reportagem do que na notícia” (LAGE, 2005, p. 139).
Na grande reportagem, o tempo já não é tão importante. A notícia requer algo muito mais imediato do que uma matéria mais extensa, já que a segunda precisa de mais dados, de mais informações, precisa do ‘desenrolar’ dos fatos. Nela deve-se “explorar um assunto em profundidade, cercando todos os seus ângulos” (KOTSCHO, 1995, p. 71).
Sobre revistas semanais, ou até mesmo as mensais, Sérgio Vilas Boas diz que:
“As revistas fazem jornalismo daquilo que ainda está em evidência nos noticiários, somando a estes pesquisa, documentação e riqueza textual. Isso possibilita a elaboração / produção de um texto prazeroso de ler, rompendo as amarras da padronização cotidiana” (BOAS, 1996, p. 9).

Para essa grande reportagem aplica-se, principalmente, a essência do gênero do jornalismo interpretativo. Com a ajuda de perfis construídos, de entrevistas executadas e de informações teóricas levantadas, foram elaborados textos que oferecerão ao leitor uma interpretação dos fatos. Ele próprio poderá analisar aquilo que está lendo. No nicho interpretativo, o jornalista deve observar “os limites do raciocínio” e tomar cuidado com a criatividade. “Você raciocina para elaborar bem, escrever honesta e claramente, dar o toque de refinamento necessário e ainda agradar (…) o público da revista” (BOAS, 1996, p. 103). Mesmo que o espaço de uma revista seja privilegiado para a criatividade, deve-se prestar atenção para não deixar que seu texto ofereça apenas a interpretação do autor e sim todas as que os leitores possam estabelecer.
Em uma “reportagem individual” – inserida no jornalismo interpretativo – deve-se “dar a informação sem opinar, expondo ao leitor o quadro completo de uma situação atual” (Ibidem, p. 77).

Quem irá narrar um fato deve ter cuidado para “não repetir uma história já contada. Depois é montar com muita calma um roteiro. Saber direito quem você deve procurar em cada ponto desse roteiro, quais são os personagens, situações e lugares mais ricos – o que vier a mais, de imprevisto, é lucro” (KOTSCHO, 1995, p. 72).

Os perfis que foram traçados representam “um papel importante que é exatamente gerar empatias” (BOAS, 2003, p. 14). Com tamanho de texto menor que o de uma biografia, o perfil tem de ser traçado com a combinação de elementos como a “memória, conhecimento, imaginação, sínteses e sentimentos” para que as idéias reflitam as sensações de quem as formula. (Ibidem, p. 13). Uma das maneiras de se traçar um perfil é acompanhar o dia-a-dia do personagem escolhido. Esse foi o recurso utilizado na reportagem “Militância jovem: o fim da anestesia”. Através desse procedimento, tornou-se possível conhecer profundamente a rotina de uma juventude que milita organizadamente em partidos políticos do Brasil, afinal “os perfis jornalísticos expressam uma trajetória, por mais sintética. O perfil é explicitado pela história narrada, com um passado e um presente” (BOAS, 2003, p. 19).

3.2 Estrutura

A grande reportagem com o título de “Militância jovem: o fim da anestesia” é composta de quatro partes principais, mais as ilustrações.
Como capa, seguindo a linha de diagramação da publicação escolhida, a revista mensal Rolling Stone, uma ilustração ocupa a página da esquerda. Essa ilustração apresenta um intertexto com o filme de produção estadunidense e alemã “V de vingança” – V for Vendetta no original – com direção de James McTeigue. A obra dos irmãos Wachowski, também conhecidos pela trilogia Matrix, tornou-se referência para jovens do mundo todo por sua linguagem caótica e postura política revolucionária. Jovens usando máscaras de seus ídolos partidários serão retratados durante uma manifestação que tem como fundo elementos que identificam a Capital do Brasil, Brasília. Márcio Ikematsu, identificado na reportagem como Xixa, é publicitário formado pela Universidade Anhembi Morumbi e é o artista responsável por todas as ilustrações e pelo projeto gráfico total da grande reportagem.
A matéria principal é sobre os jovens que militam de forma organizada em partidos políticos. Dentro dela, o leitor encontrará dados sobre o que é a militância partidária, como ser mais participante na sociedade, e poderá ler os perfis traçados com base no acompanhamento da rotina de jovens que se envolveram com o Democratas (DEM), o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), o Partido Progressista (PP), o Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido Democrático Trabalhista (PDT) e o Partido Comunista do Brasil (PC do B).
O tema relativo à situação do jovem de hoje e a diferença entre ele e os jovens de gerações passadas são apresentados através de um box contendo uma entrevista com a socióloga Helena Wendel Abramo.
A União Nacional dos Estudantes (UNE) também tem seu espaço em um box inserido na reportagem. Nele, sua história é narrada brevemente.
Haverá, ainda, um terceiro box ao longo da matéria principal que narra, de forma sucinta, a história dos partidos indicados.

3.3 Público-alvo

A Rolling Stone americana atinge hoje 12,1 milhões de leitores. Por se tratar de uma publicação nova no Brasil, ainda é difícil obtermos com precisão o mesmo dado com as proporções nacionais. A revista, lançada em nosso país em outubro de 2006, tem hoje uma tiragem de 100.000 exemplares.
Quem são aqueles que lêem a Rolling Stone mensalmente? Estima-se que os assinantes e compradores de bancas e revistarias sejam homens e mulheres de uma faixa-etária que vai dos 18 aos 30 anos, possibilidade essa que se afasta um pouco dos que são considerados jovens pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Para esse órgão, os jovens são compreendidos como aqueles que ocupam a faixa etária que vai dos 15 aos 24 anos1.
Em relação ao poder aquisitivo dos leitores dessa publicação, pelo custo da revista – R$8,90 – pode-se concluir que pertencem à classe média-alta da sociedade. Vale lembrar que entre as outras publicações que têm como tema principal a música, a Rolling Stone é a mais barata. A revista Bizz, da Editora Abril, sua principal concorrente, custa R$14,90.
A Rolling Stone é uma revista que, desde sua fundação nos Estados Unidos, em 1965, tem como prioridade falar de música e comportamento, mas faz isso entendendo que seu público é inteligente, perspicaz e capaz de discutir sobre assuntos que permeiam a sociedade em que vivem. Isso faz com que as matérias de política e de atualidades presentes no magazine sejam pertinentes. Essa publicação é fruto e símbolo da contracultura, o movimento de protesto que uniu jovens contra a guerra do Vietnã, influenciou e, até hoje, emociona gerações. A Rolling Stone vê a música como instrumento de transformação e transmite isso através de suas pautas atuais, como por exemplo, as matérias “Vida Loka Vida”2, um perfil sobre o rapper “Cascão”, que passou de ex-assaltante de bancos a advogado; “Manual do pé-de-meia”3, uma reportagem sobre os salários milionários dos Deputados Federais; a entrevista exclusiva com José Dirceu ,“Um homem apressado demais” ; e um especial sobre política, com a reportagem “O mito e o Ministro”, sobre os quatro anos de poder de Gilberto Gil, e os artigos “Eleições 2010”, que trazem as especulações já feitas para as próximas eleições, “Por que Lula ganhou” e “A cristianização de Alckmin” .
Mesmo tendo pouco tempo de vida no Brasil, é possível dizer que ser uma revista considerada específica leva a grandes dificuldades para manter leitores fiéis. Quando o assunto é música, por exemplo:

“Devem compor, para justificar o investimento e os anúncios, paixões aparentemente incompatíveis. De um lado rock-eruditos; de outro, adolescentes apaixonados por conjuntos pop. (…) Em todos os casos, trata-se de indivíduos de um núcleo que se supõe ‘consciente’ e ‘formador de opinião’, e de um grupo numericamente maior de pessoas que os primeiros consideram ‘alienados’ e ‘pouco esclarecidos’” (LAGE, 2005, p. 151).

LAGE alerta ainda que, ao se propor um assunto a pessoas que sabem muito sobre ele, a revista “é forçada a ter sério compromisso com os temas que propõe”, caso contrário, os leitores não tardarão em “punir” esses “desvios de conduta”.

3.4 Linguagem

“A periodicidade é fator determinante do estilo de texto de uma revista. As revistas de informação geral (…) precisam de atrativos que as diferenciem do jornalismo dinâmico e veloz de todos os dias. O texto (…) é um desses atrativos. Utiliza recursos que, nos limites do posicionamento político-empresarial, são a conciliação da prática de noticiar com a de narrar” (BOAS, 1996, p. 101).

Em uma revista que tem como focos um elemento da cultura (a música), o comportamento e a política, a linguagem é de extrema importância. Boas noções de gramática e sintaxe ou vastos vocabulários não são tudo na hora de escrever um texto. Para Humberto Werneck, jornalista, ex-redator-chefe da revista Playboy, e escritor, o importante hoje – e o que espero fazer na execução de meu produto – é a “busca da elegância, do ritmo harmonioso, da graça, da leveza, do bom humor. (…) já há sinais de retorno a um texto que, sendo mais pessoal, mais autoral, abre espaço para que se trabalhe também no sentido da beleza” (WERNECK apud BOAS, 1996, p13).
Para alcançar tal objetivo, aplica-se na reportagem o uso dos recursos já utilizados pela redação da revista Rolling Stone: uma linguagem leve e precisa, sem elementos rebuscados. O uso de gírias não será evitado e um tom mais irônico também será aceito. Mesmo com o apoio de técnicas literárias, o ‘estilo jornalístico’ será respeitado. Ele “consiste exatamente em transformar a informação bruta em notícia legível e compreensível” (BOAS, 1996, p. 39). Procura critérios para o processo de informação, dá legibilidade, unidade e identidade ao texto.
Como exemplo, seguem dois trechos de matérias já publicadas na Rolling Stone, para que sejam identificados apenas alguns elementos de linguagem pertinentes à publicação e ao texto que será elaborado:

“Faz tempo que deixei de ser da turma que se emociona até com bumbo de banda. Portanto, foi duro agüentar o day after pseudocívico do primeiro turno das Eleições 2006 com toda aquela malta de jornalistas engravatados, cientistas políticos redundantes, historiadoras equivocadas e analistas entediantes usando chavões como ‘festa da democracia’, ‘festa patriótica’ e outros bolodórios para definir o primeiro turno das eleições 2006”. (SOARES, out. 2006, p. 56).

Nesse primeiro destaque, abertura do artigo “Brasília: um circo sem festa”, do editor da publicação, Ricardo Soares, deve-se focar o uso de uma linguagem informal que conta até com uma expressão em língua inglesa. Ao ler esse trecho, pode-se identificar que o texto que segue é leve e flui quase como uma conversa.

“Zé Dirceu tem pressa. Pressa para cumprir a agendam pressa para provar sua inocência, pressa para almoçar, pressa em se manter e parecer ocupado. Ele apressa também seus assessores e, apesar da agenda apressada, nos recebeu para esta entrevista com a benevolência possível em Zé Dirceu” (NETTO, CRUZ e SOARES, jan. 2007, p. 47).

No segundo trecho – extraído da entrevista exclusiva de José Dirceu à redação da Rolling Stone –, destaca-se a semelhança do texto com o discurso literário. O uso da repetição da palavra “pressa” traz ênfase a ela sem que isso deixe pesada a leitura. Nota-se aqui como é possível fazer, de um texto informativo, algo poético.
Depois da apuração de dados, depois de traçados perfis e estabelecidos contatos, o texto da reportagem “Militância jovem: o fim da anestesia” torna-se essencial para que o leitor possa compreender esse universo retratado. A linguagem e o estilo caminham juntos, de uma forma jovial e descontraída, mas sem perder a legitimidade de um texto jornalístico que carrega tantos possíveis significados para cada um que o lê.

3.5 Viabilidade

Para que a grande reportagem seja considerada viável, tem-se que contabilizar os gastos que o veículo teria com a publicação da matéria e os ganhos obtidos com a venda de espaço para publicidade. Na grande reportagem “Militância jovem: o fim da anestesia”, será considerada a quantidade aproximada de 50.240 caracteres e 26 laudas, obtidas com a participação de 15 fontes. Depois de diagramado, o texto caberá em seis páginas de um veículo de formato standard. Os valores a seguir foram baseados nos números disponibilizados pelo Sindicato dos Jornalistas de São Paulo6 e pela própria revista Rolling Stone7.
A redação de uma reportagem de uma lauda com 1.400 caracteres, incluindo espaços, que tenha mais de quatro fontes tem o custo de R$364,50, portanto, o valor atribuído à grande reportagem “Militância jovem: o fim da anestesia” é de R$9.477,00.
A edição por página do texto publicado em um veículo com formato standard custa R$165,00. O valor total final, então, é de R$990,00.
A revisão de cada lauda custa R$10,50, o que implica o valor final de R$273,00. Já a tradução dessa mesma lauda tem o custo de R$32,00 – no caso dessa reportagem, R$832,00.
A diagramação por página apresenta o valor de R$138,00 em um veículo standard, o que totaliza em R$828,00. O projeto gráfico, também por página, tem custo de R$534,00 e para a reportagem de seis páginas o valor fica em R$3.204,00.
As ilustrações coloridas têm valores que variam de acordo com seus tamanhos. No caso da capa, podem custar até R$857,00. Meia página ilustrada custa R$429,00 e um desenho com tamanho equivalente a um quarto de página custa R$257,00. Levando em conta que foram usadas uma ilustração de capa, mais meia página e mais duas imagens que totalizam dois quartos de página, o valor final a ser pago ao ilustrador deve ser de R$1.800,00.
Somando todos os valores finais, de acordo com a tabela do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, o total a ser gasto com a elaboração dessa grande reportagem é de R$17.404,00.
A Rolling Stone cobra R$88.000,00 pelo anúncio de página dupla na segunda capa e na terceira página. Uma página simples custa ao anunciante R$39.000,00. Divulgar seu produto na terceira capa tem o valor de R$49.000,00 e, na quarta capa, o preço sobe para R$58.000,00. Portanto, o total de ganhos da revista com a publicidade é de R$234.000,00.

3.6 Custos

Durante a elaboração da grande reportagem “Militância jovem: o fim da anestesia” foram usados recursos financeiros pessoais para que o projeto fosse concluído. Segue a listagem de materiais utilizados, seus respectivos preços e valor total de gastos.

CONCLUSÃO

Terminar um trabalho tão complexo quanto esse traz uma sensação de grande alívio. Foram muitos contratempos, mas com calma tornou-se possível resolvê-los. A parte mais difícil foi a execução das entrevistas, já que nem sempre os escolhidos estiveram disponíveis. A procura por personagens jovens militantes nos partidos políticos começou em agosto e, no caso do PMDB, apesar da insistência e da persistência, o entrevistado só se manifestou poucos dias antes do fechamento da reportagem. Apenas no caso do PP, do PT, do PDT e do PC do B conseguiu-se o contato com jovens sem nenhum vínculo com o partido além da filiação. Quanto aos especialistas, a maior dificuldade se apresentou com a socióloga Helena Abramo, que demorou muito a retornar os contatos.
A reportagem foi redigida com afinco e não houve grandes problemas nessa etapa. O tempo correu rápido, mas esse era um fator com o qual já se esperava. A parte mais controversa da execução da reportagem foi o box relacionado à UNE. A falta de fontes fez com que o texto parecesse um artigo opinativo e essa não era a proposta do quadro; portanto, precisou-se reescrevê-lo, apurando melhor os dados, mesmo sem personagens ligados à instituição.
Diagramar e ilustrar o projeto foi um capítulo à parte, e os maiores problemas aqui nasceram do fato de a reportagem não contar com fotografias. Por sorte, o veículo escolhido permite o uso das ilustrações, e isso deu margem para o ilustrador, Xixa, usar toda a sua criatividade nas páginas do trabalho.
Depois de superadas as dificuldades, redigida a reportagem, diagramada e impressa, o produto final proporciona orgulho e satisfação. Com todos os objetivos alcançados, há a certeza de que esse trabalho é relevante e pode fazer a diferença ao ser comparado com matérias de comportamento, mesmo porque, nessa reportagem – a princípio comportamental, mostrou-se intrínseco seu caráter político, superando diversas expectativas. Durante a redação do texto, temeu-se que o produto final ficasse superficial, apreensão que se deu principalmente pela grande dificuldade da autora em acompanhar diariamente notícias da política atual. Entretanto, constantes indicações fizeram com que o interesse pela Política de fato aumentasse e, a partir disso, tornou-se possível contornar esse fato e trazer mais conteúdo à reportagem.
Um último dado que tornou o projeto tão prazeroso foi perceber a atualidade do assunto tratado. Antes de dar início a essa empreitada, pouco se via sobre a juventude que se engaja nos dias de hoje. Ao longo do semestre, dados foram surgindo, como a queda do número de eleitores de 16 e 17 anos, e tornaram a discussão estabelecida na reportagem essencial para entender um pouco melhor o mundo em que esses jovens vivem.
A última etapa ainda causa aflição. A apresentação à banca será um momento intenso, mas, com todo o repertório e conhecimento que se obteve durante todo o processo, não será difícil defender um trabalho que, apesar de preocupações, trouxe tantas alegrias e tanto orgulho.
A partir de agora, o período mais árduo será a espera pelo momento de se ver a continuidade pretendida alcançada: a reportagem “Militância jovem: o fim da anestesia” nas bancas.

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Anexo 1:

A GRANDE REPORTAGEM

MESMO COM GRANDES DIFERENÇAS CULTURAIS, VIVÊNCIAS DISTINTAS E OPINIÕES DIVERSAS SOBRE INFINITOS ASSUNTOS, ALGUNS JOVENS AINDA PREFEREM SE REUNIR PARA DEBATER A POLÍTICA NACIONAL E PARA PROPOR SOLUÇÕES QUE BENEFICIEM A SOCIEDADE COMO UM TODO E NÃO APENAS DETERMINADOS GRUPOS

Ser jovem é ser espontâneo e influenciável. É estar feliz e melancólico. É ter disposição e preguiça. A juventude é um paradoxo. Época da vida quando o que mais se deseja é ser livre para fazer o que quiser. Essa é uma etapa de transição entre a infância e a vida adulta, quando o indivíduo se prepara para se tornar independente. É aí que se passa por infinitos questionamentos, rebeldias inexplicáveis e impaciência constante. Há sede em se começar e terminar projetos com rapidez para fazer cada vez mais coisas.
Falar de uma juventude no Brasil é impossível, porque não se pode esquecer que o jovem daqui passa por níveis elevados de desigualdade. A pluralidade do país reflete exatamente isso, a pluralidade da sociedade.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) assume que jovem é aquele com idade compreendida entre 15 e 24 anos, mas é importante frisar a relatividade desses números, já que todos passam por experiências pessoais diferentes, o que leva a caminhos também distintos.
Uma das etapas do Projeto Juventude, coordenado pelo Instituto Cidadania, deu origem ao livro “Retratos da juventude brasileira: análises de uma pesquisa nacional” (2005), organizado pela socióloga Helena Wendel Abramo e o economista Pedro Paulo Martoni Branco. Na pesquisa, foram feitas 3.501 entrevistas que ajudaram a traçar o perfil dos jovens brasileiros. A maioria (48%) vive com os pais. Quanto à educação, 42% dos entrevistados estudaram até o ensino fundamental; 52% têm o ensino médio; e apenas 6% se encontram no nível do ensino superior ou acima dele.
Há mais coisas boas do que ruins em ser jovem. Para 45% deles, a melhor coisa é não ter preocupações ou responsabilidades enquanto para 40% é aproveitar a vida e viver com alegria. Contrapondo esses números, há a juventude que trabalha – 39% consideram isso uma responsabilidade e 36% estão trabalhando.
Seus medos são muitos. Os jovens temem a violência, o desemprego, as drogas, a fome, entre outras coisas. A administração política do Brasil é uma das últimas preocupações, acima apenas do meio ambiente, da moradia e da sexualidade.
Paulo mora com sua companheira em São Paulo. Estudou em escola pública e se formou em ciências sociais pela Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP). Ele ouve samba, pagode, MPB, RAP e música instrumental.
Ricardo fez o ensino fundamental em escola pública e o médio em um colégio particular. Formou-se em economia pela Universidade de São Paulo (USP). Também gosta de samba, MPB e bossa nova. É casado e pai coruja de duas meninas.
Cacá estudou em colégios tradicionais de São Paulo, cursa direito na Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), é solteiro e ouve desde música clássica à eletrônica.
Leonardo também é solteiro e de São Paulo, começou seus estudos em colégios particulares e terminou o ensino médio em escola pública. Formou-se em sociologia pela PUC/SP. Ouve punk music, mas também é muito interessado em hip hop e em samba de raiz.
Walter gosta tanto de rock quanto de música sertaneja. Nascido no bairro de Higienópolis, teve o ensino fundamental em instituições particulares e o médio em uma escola estadual. É formado em direito pela Universidade Paulista (UNIP). Hoje mora na Casa Verde.
Edney é solteiro, mas tem um filho de 2 meses. Cursa administração na UNIP e escuta samba, pagode e MPB.
Fernando Henrique mora em São Paulo, é solteiro e é freqüentador assíduo de rodas de samba desde pequeno. É formado em jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero.
Bruno é da cidade de Santos. É casado e estudou em escolas particulares e é formado em duas faculdades: direito pela USP e economia pela PUC/SP.
Antônio, solteiro, faz faculdade na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). Ele cursa economia. Mora em Higienópolis e estudou em colégio particular. Gosta de música eletrônica.
William é do Rio de Janeiro. Formou-se em curso técnico de administração. Está solteiro e prefere ouvir samba e MPB.
Marcelo também escuta MPB. É casado e mora em São Paulo. Estudou em escolas públicas e é licenciado em história pela Universidade do Grande ABC.
Paulos, Ricardos, Cacás, Leonardos, Walteres, Edneys, Fernandos, Brunos, Antônios, Williams e Marcelos, que vivem em realidades tão diferentes, que passam por experiências diferentes, que até ouvem músicas diferentes, têm em comum um interesse que deveria ser de todos os jovens.
Esses jovens, que são muitas vezes taxados como alienados e sem iniciativa para qualquer coisa que não esteja ligada ao consumismo, são os Presidentes Nacionais, Estaduais, Municipais; Vices; e Secretários de Juventude de seis partidos políticos do Brasil, mas nenhum deles é jovem se for adotada a classificação do IBGE. Mas, para a atividade Política, eles são jovens. Para alguns, como o cientista político Kenneth Minogue, o inimigo dos jovens na Política, eles são jovens até demais. Em recente entrevista ao canal Globo News, ele afirmou que os movimentos jovens são perigosos – “comunistas, nazistas, fascistas – todos eram movimentos jovens”.
Edney Castilho, 26 anos e estudante de administração da UNIP, é fã de Elis Regina e Djavan. Entre outras coisas, como Tesoureiro Estadual do Movimento Negro, Presidente Municipal da Juventude Socialista do Partido Democrático Trabalhista (PDT) em Carapicuíba, e Secretário-Geral do PDT na mesma cidade, é Secretário Estadual de Movimentos Estudantis do PDT de São Paulo. Na entrevista concedida por e-mail devido às incompatibilidades na agenda, Edney revelou que seu sonho é seguir a carreira Política. “Comecei na Política porque acredito que posso mudar o país e que há pessoas e políticos honestos e sérios”. Edney já tem seus planos feitos. Pretende tornar-se vereador aos 28 anos, deputado estadual aos 40, “o primeiro prefeito negro de Carapicuíba” aos 50 e, depois, com 60 anos, deputado federal.
Bruno Covas, 27 anos, é formado em economia pela PUC/SP, e em direito pela USP. Ele leva a Política no nome, já que é neto do ex-deputado, senador, prefeito e governador do estado de São Paulo, Mário Covas. Bruno, além de ser o Presidente Estadual da Juventude do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), é Deputado Estadual; inclusive sua entrevista foi realizada rapidamente em seu gabinete na Assembléia Legislativa de São Paulo. O entra e sai de pessoas que procuram por Bruno na sala é constante. O telefone também não dá trégua. As secretárias confirmam compromissos, ouvem reclamações e respondem às mais diversas perguntas a toda hora. Como seu avô, Bruno quer levar a carreira adiante: “eu gosto de fazer Política, gosto de atuar nela. Enquanto as pessoas estiverem me dando um voto de confiança, a gente vai estar aqui fazendo Política”.
As culturas jovens despertaram Leonardo Pinho, 28 anos, para a politização. Leo tem o passado como anarquista e o presente como punk da vertente Straight Edge e Secretário Municipal de Juventude do Partido dos Trabalhadores (PT). O sociólogo formado pela PUC/SP afirma que vai continuar fazendo Política “porque é através dela que nós podemos alterar as instituições. Eu já não faço aquilo que chamo de Política tradicional, aquela lógica de que o líder é quem manda. Eu gosto de fazer Política com arte, com produção cultural independente, na área de economia popular solidária e organizando cooperativas populares”. O gosto pela cultura fica claro a qualquer um que entra no pequeno e pacato escritório, localizado em um prédio na avenida símbolo de São Paulo, a Paulista. Pôsteres de filmes brasileiros estendem-se nas paredes: “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964), de Glauber Rocha; e “Batiman e Robim” (1992), de Ivo Branco. A decoração simples e cinemática transmite um ar “militante cult”, mas sem deixar que se perceba que a real intenção do lugar é reunir aqueles que se engajam em formas variadas de fazer política.
Também tem 28 anos o Presidente Estadual e Vice-Presidente Nacional da Juventude do Partido Progressista (PP), Carlos Camargo, o Cacá. Formado em Gestão de Políticas Públicas de Juventude e cursando direito na FMU, Cacá é eclético quando o assunto é música. Ele especifica só não gostar de sertanejo e de forró. Mesmo querendo seguir carreira, achou melhor recusar o convite para ser candidato nas próximas eleições: “estou esperando o tempo certo. Estou esperando crescer primeiro dentro do partido”, atesta Cacá na sala da Liderança Jovem Progressista na Assembléia Legislativa, onde acontecem as empolgadas reuniões da Juventude, que contam com a presença de mais membros do diretório. Quando alguém entra na sala e vê aqueles homens (sim, não havia mulheres) reunidos e falando alto, não dá nem para desconfiar que eles estão ali para brincar.
Frente à Vice-Presidência Nacional e à Presidência Estadual da Juventude Democrata do Partido Democratas (DEM) de São Paulo, está Walter Abrahão Filho, 28 anos, formado em direito pela UNIP. É como Diretor Comercial e Social da COHAB-SP (Cia. Metropolitana de Habitação de São Paulo) que Walter vive seu dia-a-dia. A entrevista aconteceu em uma sala grande de seu escritório na Rua São Bento, bem no centro da cidade; um ambiente sério com jeito de “escritório de gente grande”. A responsabilidade do trabalho que envolve a habitação popular é grande e isso pode ser visto estampado nos rostos das pessoas que andam pra lá e pra cá pelos corredores do andar. Como Cacá, ele preferiu adiar o projeto pessoal político para trabalhar mais o projeto partidário. “Como eu sou Presidente da Juventude, se eu me postulo candidato, os demais diretórios vão ficar constrangidos. Eles vão me ajudar ou vão ser candidatos?”. Walter, ao contrário do representante do PP, gosta de “todo tipo de sertanejo” e alterna essa preferência com os Beatles e com os Rolling Stones. “Nasci na época errada”, diz ele.
Marcelo Mondim, 35 anos, é o Presidente Municipal de São Paulo da Juventude do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Começou a se interessar por política em 1984, com o Movimento das “Diretas Já” e, antes de entrar no partido, participava de uma ONG. “Diferente do trabalho de uma ONG, onde a atuação é limitada, dentro de um partido político o poder de decisão e influência na política é muito mais amplo”, explica ele – “Muitas pessoas extremamente engajadas nos movimentos sociais não são filiadas a uma sigla partidária, porém, em algum momento, lá está o partido representado por alguém dentro desse movimento”. Marcelo, que cursou história na Universidade do Grande ABC, em São Paulo, pretende continuar na política dentro de sua área, voltada para formação política; não quer seguir carreira e candidatar-se.
Já Ricardo Abreu, o mais velho dos seis, com 39 anos, prefere a música popular brasileira, o samba e a bossa nova. Ele ouve Toquinho e Vinicius, Caetano Veloso, Gilberto Gil e “todos aqueles que tentam resgatar nossa cultura”, como Antônio Nóbrega. Alemão, como é conhecido internamente no Partido Comunista do Brasil (PC do B), é formado em economia pela USP e exerce suas atividades como Secretário Nacional da Juventude no comitê central do partido, localizado no Jardim Paulista (um dos bairros mais nobres de São Paulo), ironicamente, pois vale frisar e ressaltar a ideologia Marxista de igualdade existente na legenda. Em relação a sua idade, Alemão explica: “a executiva do partido é composta por aqueles que já passaram pela juventude e têm mais experiência”. O PC do B prefere que esse grupo seja mais velho – “enquanto os jovens dirigem a UJS [União da Juventude Socialista] com autonomia plena até os 29 anos”. Quando o assunto é a carreira no partido, ele conta que o PC do B tem uma visão diferente sobre isso: “não somos um partido eleitoral, valorizamos a militância e a militância escolhe quem tem as melhores condições de se eleger para ser candidato. Eu pessoalmente não tenho muita vontade”.
Além dos membros executivos, os partidos contam com outros jovens que se filiam às legendas e participam das atividades propostas pelos organismos de juventude. Paulo Edison, o Índio, tem 31 anos, é cientista social formado pela PUC/SP e é filiado ao PT. Ele diz que, nessa carreira, o mais importante é ter o reconhecimento vindo das outras bases e que, ao longo de sua militância, vai saber se deverá ou não ser candidato. “A gente busca sempre a vida política. Talvez não como um candidato, mas trabalhando na assessoria ou em diferentes projetos”, diz ele. Como Leo Pinho, Índio se dedica ao Centro Cultural Popular Consolação (C.C.P.C.), uma organização recém-inaugurada que visa à produção de cultura e à exibição de manifestações culturais de grupos independentes, unindo os movimentos sociais à Política. É assim que, na opinião de Índio, a Política deve ser.
Fernando Henrique Pestana Borgonovi, 26 anos, é militante desde 1999. Ele é filiado ao PC do B e à UJS. “Eu não tenho motivos para achar que sou ‘mais engajado’ ou ‘menos’ do que uma pessoa que atua em uma ONG, em um grupo de jovens de uma igreja, ou em um projeto social. Por outro lado, acredito que mudança de fato vem pela política, gostem ou não dela. Por isso, atuo num partido”, declara ele. Na entrevista concedida por e-mail, Fernando relembra que, na escola, uma de suas matérias preferidas era História – “já nessa época tinha uma preocupação com as causas populares”. Ele escolheu a militância no PC do B pela luta do partido a favor do socialismo e sempre acreditou que as transformações sociais só podiam acontecer através da política e do engajamento das pessoas. Afirma não ter interesse na carreira parlamentar, mas que continuará exercendo sua militância pelo partido. O jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero diz que, para o PC do B, o movimento estudantil é a “‘menina dos olhos’ por sua tradição e por estar sempre presente nas grandes lutas políticas do país”. Na opinião de Fernando, os núcleos jovens dos partidos devem fornecer as informações necessárias sobre o partido e sua ideologia àqueles que decidem se filiar, afinal, “a grande maioria dos jovens que procuram um partido, o faz por um sentimento ainda difuso, mas muito positivo, de buscar contribuir para mudar a sociedade”.
Antônio Haddad Filho, 18 anos, é militante da Juventude Progressista e estuda economia na FAAP. Nós nos encontramos no Shopping Higienópolis, pois ele estava fazendo suas aulas práticas de direção. Para ele, o maior exemplo da ideologia do Partido Progressista é o ex-prefeito da cidade de São Paulo, Paulo Maluf. O atual Deputado Federal foi o mais votado nas últimas eleições, com 739.827 votos, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). As características de Maluf que Antônio mais preza são a persistência e seu amor pela cidade de São Paulo. Para ele, o Deputado provou sua devoção à cidade “fazendo obras maravilhosas que deram uma cara nova à São Paulo, com projetos sociais que ajudaram a população mais carente e mostraram que ele é um político que assume responsabilidades, não faz igual aos outros que usam São Paulo como trampolim político e só pensam na reeleição. Ele é um político que trabalha com amor pelo que faz”. Quanto à carreira, Antônio afirma: a Política “é um caminho que eu tenho muita vontade de seguir. Minha ideologia é totalmente focada nele [Paulo Maluf], e se um dia eu chegar aos pés dele, para mim vai ser sensacional”, admira Antônio.
O mais novo personagem militante dessa reportagem é William Rodrigues Dantas, 17 anos. É formado em um curso técnico em administração e é filiado ao PDT no Rio de Janeiro – devido a isso, a entrevista de William também foi dada por e-mail. Para ele, é muito importante acreditar nas idéias do partido ao se filiar. “Quando você lê no manifesto, no programa e no estatuto de um partido político tudo aquilo em que você acredita, é impossível não querer abraçá-lo”. Ele acredita em “um modelo próprio de nação, sem importações de ideologias”, na soberania do país, na preservação dos direitos humanos e na educação sobre todas outras coisas. Para dormir e “até mesmo para estudar”, William ouve Legião Urbana, Ana Carolina e, entre outros, Cazuza, músicas que acredita serem políticas e nada alienantes. Suas preferências na carreira partidária são relacionadas aos bastidores – “assessor parlamentar, subprefeito, quem sabe secretário do governo? Acredito que o político deve servir ao povo e não se servir da Política”.
Esses são alguns militantes partidários jovens do Brasil. Em quase todos os partidos citados, eles participam através de “Juventudes”, criadas pelas próprias legendas. Em alguns casos, como o do PC do B, a militância acontece através de um órgão independente, a UJS, e para fazer parte desse grupo não é necessário ser filiado ao partido. Fernando Henrique explica que o jovem que está inserido na UJS pode contribuir na área que tiver mais afinidade, pois a instituição está inserida em diversos movimentos que envolvem os jovens – “Procuramos formar núcleos de militantes por área de atuação e, no caso dos estudantes, núcleos por universidades e por escolas”.
O historiador e cientista político Marco Antonio Villa afirma que as “Juventudes”, mantidas por partidos, são instâncias burocráticas, não são relevantes e que “algumas podem até servir como trampolim político para o presidente da seção”. Ao contrário do que diz Villa, os que participam delas dizem que têm inúmeras funções dentro das legendas. “O principal papel é promover a inclusão dos jovens no processo”, indica Walter Abrahão do DEM. Além disso, há sempre a busca por novas lideranças e há o interesse em se renovar os quadros partidários. Cacá, do PP, afirma que antes havia muito essa visão: “’precisa encher alguma coisa, chama os jovens’. Não queremos atuar assim. Queremos fazer parte e temos espaço de liderança partidária”, diz ele.
Em todos os partidos analisados, existe uma conexão ideológica entre as propostas dos jovens e as das legendas, elas são alinhadas. Edney conta que a Juventude tem espaço inclusive no Diretório Nacional do PDT – “até na hora de escolher nosso candidato à Presidência da República, a Juventude fez diferença”. Marcelo do PMDB afirma: “a juventude, como os outros núcleos partidários, existe para ser uma instância de diálogo constante do partido com os seus respectivos setores”.
Mas, isso nem sempre é fácil. Na opinião de Bruno Covas do PSDB, a participação dos jovens é sempre muito difícil. “Espaço político nunca é dado, é sempre conquistado. Quem está no comando partidário não quer ceder espaço, então, a juventude tem dificuldade em se impor”. Índio concorda e cita como motivo das dificuldades o choque de gerações; afinal, os jovens querem sempre romper com as gerações passadas e o partido é dirigido por essas pessoas mais experientes. “Os jovens são impacientes em relação ao que os mais velhos pensam, são impacientes diante de coisas que estão estabelecidas há séculos”, afirma Kenneth Minogue. E muitas posições da juventude são incompreendidas pelo partido, como por exemplo, no caso do PP. Segundo Cacá, os membros mais experientes da legenda não gostam de dizer que fazem parte de um partido de direita, pois temem a associação da imprensa com a Ditadura Militar; enquanto a Juventude não vê problemas em alegar que suas ideologias são compatíveis com o pensamento da direita. Isso mostra a força dos jovens no partido e a sede que têm para defender o que pensam.
Esses órgãos oferecem cursos de formação Política e/ou cultural para os jovens que se filiam. Tanto os que têm interesse em levar a carreira Política eleitoral adiante quanto aqueles membros que pensam apenas em seguir novas propostas, sugerindo novos meios de se fazer políticas, sejam elas partidárias ou públicas, são beneficiados. No caso do PMDB, Marcelo diz que, nos últimos 4 anos, o quadro da juventude está sendo renovado através de encontros de formação política e discussões com as lideranças partidárias sobre a importância da Juventude. “Não adianta ter política pública pensada por técnico porque elas não terão identidade. Nós precisamos de políticas públicas que são para a juventude, construídas com a juventude e dirigidas por elas”, analisa Leo Pinho do PT.
Esse tipo de engajamento partidário ainda é pouco visto por aqui. A pesquisa do Projeto Juventude revelou que apenas 1% dos entrevistados faz parte de partidos políticos; 3% já fizeram parte; 12% não fazem parte, mas gostariam de fazer; e 84% nunca fizeram parte e não gostariam de participar de partidos políticos.
A “cara” da participação mudou. Os movimentos sociais que se dizem apartidários atraem muito mais o jovem do que as “Juventudes” partidárias. Em tese, não são mais as ideologias que reúnem os jovens. Eles se organizam “principalmente em movimentos culturais, em tribos ou em organizações que forneçam identificação”, explica Índio do PT. Fernando Henrique, do PC do B, considera: “é uma tendência exaltar o aspecto individual em detrimento do coletivo – que atinge a todos -, que é muito mais forte e mais importante”. A repórter do jornal Folha de S. Paulo, Laura Capriglione – uma das responsáveis pela cobertura da invasão da reitoria na USP em junho de 2007 –, concorda e para ela essas atividades “têm mais proximidade com as reivindicações práticas ‘do cara’. Se ele é um jovem pobre de periferia que passa por blitz todo fim-de-semana só porque é preto, ele tende a ter uma identidade política com o que está dizendo o Mano Brown dos Racionais, por exemplo”. Ela também afirma que o Estado precisa ter sensibilidade para perceber aquilo que está sendo colocado nesses movimentos. “Atuação política não é atuação no Congresso ou nos partidos tradicionais. Se a gente for pensar em participação política no sentido ‘caretão’ partidário, acho que as pessoas não estão interessadas nisso, ou só nisso”, comenta Laura. Marcelo vê o engajamento de qualquer pessoa como uma decisão política – “é muito difícil desvincular uma coisa da outra. Qualquer posicionamento do indivíduo é político”.
A renovação da Política depende da participação dos jovens nos partidos e quem diz isso é José Paulo Martins Junior, cientista político. “Essa militância é importante, mas é insuficiente. As pessoas têm várias coisas para pensar; por último, e quando pensam, está a Política partidária”, afirma José Paulo. Para Villa, “falta uma visão coletiva”. Essas associações que existem “não são organizadas em cadeias ou em redes, elas são individualistas”, concorda Índio.
Durante a Ditadura Militar, havia uma luta de ideologias. Aqueles que eram contra o regime dominante tinham que se unir. “A Ditadura servia para unificar aquilo que sob uma democracia seriam vários movimentos de várias naturezas. Paradoxalmente era o que unificava. A gente era todo mundo (sic) contra a Ditadura”, relembra Laura, “numa democracia essas pessoas não são mais contra uma força, elas têm um embate umas contra as outras”.
Sobre o mesmo período, José Paulo afirma que havia utopias que hoje, mesmo que não superadas, foram esquecidas, deixaram de existir. “Que tipo de manifestação Política os jovens poderiam fazer hoje em termos de um outro modelo de governo?”, pergunta o cientista político. Para ele, o que fala mais alto hoje é o Liberalismo, a ideologia do consumo: “não há uma perspectiva de transformar o mundo”. Na concepção de William do PDT, o espírito militante acabou depois da derrubada do ex-presidente Fernando Collor de Mello em 1992 – “infelizmente, depois da redemocratização e do Fora Collor a juventude brasileira caiu em um ostracismo perigoso”, alerta ele.
O jovem de hoje cuida mais do individualismo. Na obra “Vida líquida” (2007), do filósofo Zygmunt Bauman, é proposto que a sociedade em geral busca o bem-estar individual de forma frenética e sempre ligado ao consumo. O engajamento através de ONGs, por exemplo, estaria condicionado apenas à vontade de viver em um mundo melhor para si mesmo, não para o coletivo. Nesse sentido, é muito comum, em momentos de crise, ver cidadãos exaltados, com opiniões marcantes, fazendo passeatas raivosas e até movimentos desaforados, mas tudo isso se torna fugaz. O documentário “vaia.sp.br”, disponibilizado na Internet (http://video.google.com/videoplay?docid=-5707333790060184335), com direção de Maurício Adachi, ilustra isso. O vídeo registrou a passeata contra o Governo Lula que aconteceu na Avenida Paulista em São Paulo, no último dia 04 de agosto, logo após o ápice da “crise aérea” deflagrado pela queda do avião da TAM – “a elite paulista se aproveitou do sofrimento de famílias atingidas pela fatalidade de um acidente aéreo para cumprir o seu papel de sempre na história do Brasil: de uma elite conservadora, reacionária, preconceituosa e apartada dos sentimentos nacionais”, argumenta Fernando Henrique. No vídeo em questão, a elite revoltada protesta e alega que realmente é a elite que está na manifestação. Um dos entrevistados, não identificado, afirma que “o povo é analfabeto e não lê jornal, por isso o país é o que é. O Lula é o pai dos pobres, por isso é que isso aqui é um movimento de elite. É o pessoal que lê jornal e sabe o que está acontecendo”. O protesto chamou a atenção da mídia, mas os que estavam ali presentes não apresentaram propostas, não se alinharam a algum órgão que pudesse resolver as insatisfações gritadas. Não é possível dizer quantos dos jovens manifestantes eram membros de um organismo que luta ativamente na política, mas, talvez, algumas pessoas assumam que todo aquele barulho soou apenas como baderna.
De acordo com a matéria publicada pelo jornal Folha de S. Paulo no dia 07 de outubro de 2007 – “Jovens se afastam das urnas, e TSE lança campanha na TV” – o número de eleitores de 16 e 17 anos caiu, e o professor de psicologia adolescente da PUC/SP, Miguel Perosa, considerou o dado interessante “porque na hora que a cultura propõe debate coletivo, esse jovem embarca imediatamente”. Parece mesmo que o jovem gosta de entrar em discussões sem ter conhecimentos aprofundados…
Até mesmo a música sofre as conseqüências do egoísmo e da ânsia de experimentações constantes. Não há mais espaço para grandes ícones da atualidade. O que se pode ver são artistas que ficam no alto das paradas por no máximo alguns meses. Manter a sua banda no topo, sendo que em pouco tempo surgirá outra com um “quê” a mais, é uma tarefa árdua. A busca desenfreada pela identidade produz muito mais lixo do que reconhecimento legítimo.
As tentativas e os erros dão origem às desistências e não mais às persistências; afinal, tudo pode ser substituído, inclusive o conhecimento. Disponibilizar novos assuntos e informações a cada segundo é uma das características mais marcantes da Internet. A notícia postada há cinco minutos pode ser deletada e mandada para o lixo, pois já foram postadas coisas mais relevantes. Ora, tem-se em mãos um veículo que seria de espetacular ajuda na luta contra o esmorecimento da memória, mas que é usado para divulgar cada vez mais, mais e mais. No final, o que resta é menos. Menos lembranças.
De acordo com Bauman, para que a memória e o repertório sejam mantidos, as informações têm que estar sempre entrando de formas “repaginadas” para que não se tornem obsoletas e irrelevantes – “no ambiente líquido-moderno, a educação e a aprendizagem, para terem alguma utilidade, devem ser permanentes e realmente ocorrer ao longo da vida”, escreve o pensador.
A educação faz-se essencial para a manutenção da democracia. “A democracia não pode sobreviver por muito tempo diante da passividade dos cidadãos em função da ignorância e indiferenças políticas”, teoriza Bauman.
Essa teoria que soa tão pessimista se faz visível nos dados obtidos na pesquisa do Projeto Juventude: apenas 53% dos entrevistados concordam que a democracia é sempre melhor do que qualquer outra forma de governo e 54% deles acham que a Política é muito importante em suas vidas. Um pouco menos que a metade dos jovens questionados não sabe que a vida por si só é um ato político. “O jovem precisa ser um pouco mais antenado e mais participativo. Ele sabe o que está acontecendo no geral, mas não procura se aprofundar, não tem total noção de que eles precisam participar disso para mudar”, indica Cacá. Walter desabafa: “dou palestra em colégios públicos desde os meus 16 anos. Sempre falava de cidadania e perguntava o que é um vereador. Ninguém sabia. O fato de um político honesto não ter votos e aquele que rouba e não apresenta nenhuma solução ser muito votado desmotiva. Eu mesmo não quero ser candidato nesse cenário”.
Bruno vê a situação de uma forma um pouco diferente. Em sua opinião, há poucos jovens que não sentem algo em relação às necessidades de mudanças, mas eles são “anti-políticos” e não vêem essa atividade como uma forma de mudança. Algo que colabora para isso, na opinião de Marcelo, é a mídia que fomenta a construção de uma política suja, corrupta e sem valores éticos e morais. Para Fernando Henrique, o jovem está sujeito a uma sociedade que impõe o individualismo, o consumismo, a violência, o difícil acesso à universidade, entre outros. Por outro lado, ele opina: o jovem é “aquele que tem energia para lutar contra tudo isso, que tem vontade de construir um outro país”.
Algo que precisa ser levado em conta é que as Políticas partidárias e a forma de administração do Brasil são consideradas complexas por algumas pessoas como Índio – “eu diria que nem alguns adultos sabem o que a Política representa, ainda mais o jovem”.
Quem mais pode ter culpa na questão da alienação dos jovens quanto à militância na Política com “P” maiúsculo são as próprias instituições. A descrença instaurada nelas tem o seu papel. De acordo com a mesma pesquisa do Projeto Juventude, nem a família não é mais 100% confiável. O que dirá a Política! Os partidos políticos são dignos de credibilidade para 3% dos entrevistados e o mesmo número é atribuído àqueles que dão crédito aos deputados e senadores do Congresso Nacional. Essa é a visão de William: “vivemos em um caos político que afunda a credibilidade do Congresso e gera uma onda de indignação e, às vezes, repudio a essa atividade”. Villa também argumenta que “a despolitização da juventude ocorre, em partes, devido à desmoralização da Política como um todo e também porque suas entidades foram aparelhadas”. Ao mesmo tempo, ele afirma que essa possível desilusão pode ser apenas uma resposta conveniente para justificar esse “abstencionismo cívico” – “tivemos outros momentos com acusações de corrupção que apresentaram muita mobilização”. Para José Paulo, viver é fazer Política, “tudo que não funciona desilude, sim”.
Os movimentos ditos individualistas são, por exemplo, o hip hop, o contra o preconceito a Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros (GLBT), os contra violência policial, os contra ou a favor do aborto, os a favor da liberação da maconha, entre outros. Você pode até dizer que eles são coletivos e que visam o bem-estar de todos, mas, para pensadores como Bauman, é aí que mora o problema. Eles visam o “bem-estar” de cada um. Eles defendem ideologias pessoais e não Políticas. Os manifestantes estão defendendo aquilo que eles acham ser melhor para eles mesmos. Isso é muito bom. Os cidadãos têm realmente que lutar pelos seus direitos, mas sem esquecer que vive-se no coletivo e que a Política deve ser o meio de comunicação entre um e todos os outros.
Nessa “sociedade líquido-moderna” em que os indivíduos só vão às ruas por movimentos individualistas, a Política partidária tem que se adaptar. “O mundo moderno exige um novo meio de fazer Política e esse jeito leva em consideração os estilos de vida das pessoas, o que ela gosta de consumir e isso é um desafio para quem quer fazer Política nesse cenário”, afirma Leo Pinho. Para ele, os partidos políticos ainda não conseguiram alcançar todos e dialogar com essas novas formas de participação da juventude. O colega de partido, Índio, considera que o PT precisa achar uma forma de tornar as passeatas mais atuais – “temos que colocar mais elementos artísticos, mais atividades para que o jovem se sinta chamado, para que a discussão seja agradável” – tomar essa atitude se torna essencial para todos os partidos, pois muitos estudantes estão preocupados apenas com movimentos individuais, que são importantes, mas que devem ser complementados com as reais propostas que só um partido pode trazer ao Governo. José Paulo explica que há organizações que tentam minimizar os sintomas dos problemas vividos, “mas ainda não há organizações de poder, de lobby para atuar junto ao Congresso Nacional”. Leo concorda com Índio quando ele diz que “aquele que milita só no partido é chamado de burocrata”. Os movimentos organizados conseguem fazer pressão, chamar atenção da mídia. Sem eles na Política partidária, o maior problema se torna o diálogo.
Villa considera esses departamentos de minorias “conversa fiada”. Nesse caso, o importante é a prática Política unitária, cotidiana, ativa, propositiva e que se insere nas lutas das comunidades. As “Juventudes” partidárias podem e tentam mostrar aos jovens que isso é possível, que a Política não tem que ser “careta”. Fernando Henrique vê a situação pelo mesmo viés de Villa: “não acredito na fragmentação das lutas. Os problemas da sociedade – desde as taxas de desemprego até o aquecimento global – compõem um mosaico, são peças de um mesmo quebra-cabeça: o sistema capitalista, que precisa ser superado pela humanidade. Essa superação virá através da união dos esforços, das lutas em prol da transformação social”.
Se ser jovem é viver em uma antítese, é querer algo agora, mas achar que isso pode ser feito depois, para a Política, esse tempo não existe, não pode existir. A impaciência da juventude mostra-se explícita aqui também. A militância, as formas de participação e o engajamento estão sendo diversificados para se adaptarem às inconstâncias típicas juvenis. Até que ponto isso é benéfico à sociedade pode ser uma questão, já que a Política deveria ser feita sem distinções e segregações. Entretanto, ver uma parte da população jovem se empenhando por alguma coisa já será de algum proveito.

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Partidos Políticos

DEMOCRATAS – DEM:

– Nasceu em 1985 como Partido da Frente Liberal (PFL).
– A mudança de nome ocorreu apenas recentemente, em maio de 2007, e seu novo presidente é Rodrigo Maia.
– O governo de Fernando Henrique Cardoso foi um ponto alto para partido, já que o vice-presidente da República era Marco Maciel.
– O atual Prefeito de São Paulo é Gilberto Kassab, membro nato do partido.
– Para fazer parte da Juventude Democratas é preciso ter entre 16 e 35 anos.
– Página na internet: http://www.democratas.org.br/
– Página da Juventude Democratas: http://www.juventudedemocratas.org.br/

PARTIDO PROGRESSISTA – PP:

– O Partido Progressista é resultado de diversas fusões, acontecidas desde 1985.
– Um dos principais componentes da legenda é Paulo Maluf, personagem polêmico, que foi o deputado federal mais votado no Brasil nas eleições de 2006, com 739.827 votos contabilizados, de acordo com Tribunal Superior Eleitoral.
– “A juventude do PP é a única que se considera de direita. A juventude não tem medo disso e se assume de direita mesmo”, diz o militante da Juventude Progressista, Antônio Haddad Filho, 19.
– A idade mínima para ser militante da Juventude Progressista é 16 anos e a máxima 35.
– Página na internet: http://www.pp.org.br/
– Página da Juventude Progressista: http://www.jp.org.br/

PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA – PSDB:

– O PSDB surgiu em 1988.
– Tem entre seus principais componentes o sociólogo e ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso.
– No seu quadro de representantes políticos, já esteve Mário Covas e tem hoje José Serra, atual governador de São Paulo; Geraldo Alckmin; e Aécio Neves, atual governador de Minas Gerais.
– De acordo com o Estatuto da Juventude Tucana, pode fazer parte dela qualquer pessoa com idade entre 14 e 32 anos.
– Página na internet: http://www.psdb.org.br/
– Página da Juventude PSDB: http://www.psdb.org.br/juventude/juventude.asp

PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO – PMDB:

– Em 1979, foi regulamentado o MDB, que tornou-se PMDB em 81.
– A principal liderança dos peemedebistas se deu na figura de Ulysses Guimarães, falecido em 1992.
– Tem como característica fundamental de seu programa a defesa da democracia.
– Sua luta começou durante a Ditadura Militar. O MDB era o único partido que confrontava o ARENA (partido dos militares) e que podia lançar contra-candidatos naquela época de bipartidarismo.
– É uma legenda considerada de centro e uma das mais heterogêneas do cenário político brasileiro.
– A idade mínima para fazer parte da JPMD é 16 anos e, de acordo com o Estatuto do partido, a idade máxima é 35 anos.
– Página na internet: http://www.pmdb.org.br/
– Página da Juventude do PMDB: http://www.jpmdb.com.br/site/

PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA – PDT:

– Teve sua regulamentação em 1981.
– Foi inspirado na Declaração de Direitos Humanos das Nações Unidas.
– Nas eleições de 2006, o partido lançou a candidatura à presidência de Cristovam Buarque.
– O PDT se encontra na base de aliados do governo.
– Um de seus maiores líderes foi Leonel Brizola, falecido em 2004.
– Para participar da Juventude Socialista do PDT, é preciso ter entre 14 e 32 anos.
– Página na internet: http://pdt12.locaweb.com.br/inicial.asp
– Página da Juventude Socialista do PDT: http://www.jspdt.org/

PARTIDO DOS TRABALHADORES – PT:

– Surgiu em 1980. Perseu Abramo, Henfil e Sérgio Buarque de Holanda são alguns nomes de fundadores do PT.
– A figura mais expressiva do PT é Luiz Inácio Lula da Silva, que, de líder sindical dos metalúrgicos, chegou à Presidência da República em 2002.
– Lula disputou todas as eleições presidenciais desde a primeira eleição direta em 1989 até as eleições de 2002.
– Em seu programa original, criticava a postura da social-democracia, baseado em princípios marxistas.
– Em 2003, membros do partido foram expulsos por não concordarem com o inclinamento econômico ortodoxo e conservador do governo.
– Durante o ano de 2007, foram criados movimentos sociais como o “Cansei” e “A grande vaia” para criticar a crescente onda de corrupção e de grandes crises que o país vem enfrentando.
– Para fazer parte da Juventude do PT não há limite de idade, basta ser filiado ao partido.
– Página na internet: http://www.pt.org.br/sitept/index_files/index.php
– Página da Juventude do PT: http://www.jpt.org.br/sp/
– Blog da JPT de São Paulo: http://www.jptsp.blogspot.com/

PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL – PC do B:

– Saiu da ilegalidade em 1985.
– Tem suas bases instaladas no marxismo e no leninismo.
– Defende a democracia e o socialismo científico – é contra as propriedades privadas de produção e a favor das sociais.
– Até hoje (desde 1989) é aliado ao PT, mesmo discordando da postura econômica tomada pelo governo.
– Tem forte influência nos ambientes estudantis e tem como braço a União da Juventude Socialista, a UJS.
– Para ser filiado à UJS, não é necessário ser filiado ao PC do B.
– Os jovens podem militar na UJS até os 29 anos.
– Página na internet: http://www.vermelho.org.br/pcdob/
– Página da UJS: http://www.ujs.org.br/index.asp

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UNE – A MORADA DO MOVIMENTO ESTUDANTIL

Pela presidência da União Nacional dos Estudantes (UNE) já passaram grandes nomes como José Serra, Honestino Guimarães, Aldo Rebelo e Lindberg Farias. A gestão de Gustavo Petta chegou ao fim no dia 08 de setembro de 2007, dando espaço à nova presidente, a gaúcha e filiada do PC do B, Lúcia Stumpf de 26 anos.
A UNE foi fundada em 1937 com a intenção de ser uma entidade legítima que abrigasse os estudantes do Brasil. O objetivo maior da entidade estava presente na procura por um diálogo com outros movimentos de lideranças da sociedade. Em tempos de repressão e de totalitarismo, tiveram sucesso com a filiação e a participação de muitos jovens nos movimentos fomentados pela UNE.
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os estudantes apoiaram o combate da propagação das ideologias do nazi-fascismo; na campanha “O Petróleo é Nosso”, incentivaram a criação da Petrobrás (1947); e defenderam propostas de reformas universitárias no governo de João Goulart (1961-1964).
O papel mais importante da entidade foi na batalha contra a Ditadura Militar. A partir de 1964, o órgão tornou-se ilegal, mas não deixou de atuar contra as freqüentes atrocidades que aconteciam na sociedade, como no protesto expressivo da Passeata dos Cem Mil no Rio de Janeiro (1968). Muitos de seus membros foram presos, torturados e exilados, entre eles José Dirceu, um dos fundadores do PT, ex-presidente do partido e ex-ministro-chefe da Casa Civil do governo Lula.
Reorganizada em 1979, a UNE apoiou a candidatura à Presidência da República de Tancredo Neves durante a campanha das “Diretas Já” (1984). Em 1992, sob a liderança de Lindberg Farias, participou com força total do “Fora Collor”, movimento que influenciou a opinião pública e tornou real o primeiro Impeachment de um Presidente no Brasil.
No governo Fernando Henrique, a UNE criticou o avanço do neoliberalismo e a falta de atenção com a qualidade da educação. A entidade apoiou a eleição de Lula em 2002 e, de acordo com a própria UNE, se mantém independente.
Hoje, essa instituição alega que sua maior luta é pelo investimento no ensino público e na mudança no sistema universitário do país.

Página da UNE na internet: http://www.une.org.br/

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Entrevista: Helena Wendel Abramo

Ela é Socióloga da Prefeitura de São Paulo, Assessora da Comissão Especial Permanente da Juventude da Câmara Municipal de São Paulo e membro do Conselho Nacional de Juventude. Helena Wendel Abramo é também uma das coordenadoras do livro “Retratos da juventude brasileira. Análises de uma pesquisa nacional” (2005 – Editora Fundação Perseu Abramo); e autora de “Cenas juvenis: punks e darks no espetáculo urbano” (1994 – Editora Scritta).
Em uma entrevista por telefone, ela conta um pouco sobre os jovens brasileiros e fala de formas novas de militância política.

No geral, quais as maiores preocupações do jovem brasileiro?

Entre os quesitos que preocupam os jovens, têm muito destaque as questões da violência e das dificuldades no mundo do trabalho. Na verdade, o desemprego aparece como grande fonte de preocupação depois da violência. Tem outras coisas também, como a miséria no mundo. Mas esses são os mais recorrentes, que têm a ver com a conjuntura histórica, claro.

A juventude é vista como fútil, alienada e vítima do consumismo que estimula as experimentações constantes. A senhora concorda com essa imagem?

Eu nunca concordei. Acho que essa é uma visão superficial. Assim como há jovens alienados em todos os outros segmentos, há jovens interessados e engajados em uma série de questões. Isso não quer dizer que essa geração é alienada. E depois quando se faz essa comparação “os jovens de hoje são alienados”, ela é feita com outras gerações, como a dos anos 60/70. Só que a gente está comparando dados não comparáveis. A conjuntura histórica, as questões que mobilizam os jovens e as maneiras deles se mobilizarem são outras. Há outros temas, outros desafios e outros lugares de mobilização.

O jovem se preocupa com o futuro das relações políticas do Brasil?

Eu acho que os jovens em geral se preocupam e as pesquisas feitas no levantamento do “Perfil da Juventude Brasileira” mostram que os jovens sabem que a política é importante e estão ligados nas informações. Isso não significa que todos eles estejam engajados em processos políticos. Mas é muito difícil fazermos perguntas genéricas nesse sentido: “ou os jovens estão, ou os jovens não estão”. Há jovens que estão envolvidos e há jovens que não. Como em todos os outros segmentos, como entre os adultos também.

Na sua percepção, se o jovem não está engajado em um partido político, onde ele está mostrando que ele se importa?

Se você for medir a porcentagem de jovens que está inscrito em alguma instituição, os números são baixos. Mas também são baixos para o resto da população, minha ressalva é essa. Não há tantos jovens engajados em partidos, mas há uma parcela envolvida em entidades estudantis, jovens envolvidos em torno de movimentos rurais, em grupos vinculados a uma religião, os que estão em ONGs, os que defendem direitos de orientação sexual… Historicamente, há momentos que uma parcela da população se dispõe a produzir uma atuação coletiva na busca de uma reivindicação. Acho que, nesse sentido, as informações que temos sobre os jovens brasileiros não mostram nem um intenso engajamento dessa geração e nem uma intensa desmobilização e apatia, diferente de outros períodos.

O individualismo atual se faz presente através do consumismo e da transformação de tudo em produto. A senhora estabelece uma relação entre essa afirmação e a falta de interesse na política partidária?

É evidente o aumento do consumo como organização dos desejos das pessoas nessa fase do capitalismo. Sem a menor dúvida, os jovens estão bastante atravessados por esse traço. Acho que não fazem parte do único segmento; os adultos também fazem, basta ver as prioridades que as famílias elegem para ter o carro novo, sacrificando uma série de outras coisas. Isso assume uma importância singular entre os jovens, principalmente no sentido de que as atividades de lazer, de diversão, de cultura são muito relevantes nessa fase. Através delas se constroem o fundamental de sua sociabilidade e parte de suas identidades, por isso o investimento em roupas e em símbolos de construção dessa imagem. Mas nem sempre esse investimento no consumo está do lado oposto da mobilização e da atuação coletiva. Algumas mobilizações até usam esses consumos simbólicos como meios de constituir pressão. Pode haver uma orientação ideológica muito distante. Os partidos de esquerda, por exemplo, que se opõem a esse modo de organização da vida social, que querem uma sociedade com outros princípios, menos baseados no consumismo, vão elaborar referências diferentes daquelas que apostam que o seu bem-estar e sua felicidade vêm através do consumo. Talvez, alguns jovens presos nesses referenciais de consumo não consigam construir identidades com essas proposições. Os jovens tomados por essas referências da esquerda se engajarão em qualquer processo de transformação. Mas a maior parte dos jovens que transita, que lida com esses mundos, dá importância ao consumo ao mesmo tempo em que é capaz de se mobilizar em alguma manifestação coletiva e de transformação.

Quais são os fatores que mais desestimulam o jovem de se engajar na política tradicional?

O que tem desestimulado os jovens é menos o fato de eles estarem presos a esse mundo de consumo do que uma certa desaprovação das formas de atuação política. Isso é o que mais desestimula aquele jovem já organizado, já mobilizado em torno de alguma coisa. Parte da dificuldade da organização em partidos tem a ver com uma crítica ao modo como eles atuam hoje.

O que levaria os jovens às ruas, hoje?

Acabei de ler um relatório sobre os movimentos pelo passe-livre ou contra o aumento das passagens de ônibus em Salvador em 2003. Os estudantes ficaram 20 dias nas ruas, paralisaram a cidade e em outras capitais esses movimentos se repetiram. Depende do que se fala que é “levar às ruas”. Centenas de jovens no país inteiro tem ido às ruas fazer formas de protesto, de denúncia, através de suas manifestações. Temos os jovens do MST [Movimento dos Sem-Terra] e temos outras coisas que acontecem. A presença dos jovens nos Fóruns Sociais Mundiais, na discussão de uma transformação é importante. Não está muito claro para ninguém que parcela do jovem tem se mobilizado e se há uma bandeira que mobiliza todos os jovens ao mesmo tempo. Talvez não.

As novas formas de militância são políticas em prol da sociedade em geral ou só visam o bem-estar de determinados grupos?

Eu não faria essa divisão entre bandeiras e não acho que essas idéias reforçam a existência de individualismo. É necessário que haja uma reivindicação para a transformação da sua situação, que não será só do seu indivíduo, mas do seu coletivo.
Jovens engajados em manifestações gerais, como os que estão no Acampamento Intercontinental da Juventude, querem um outro mundo, organizado sobre outros princípios. Esse grande processo também é composto de grupos menores que têm bandeiras mais peculiares. O movimento operário começa se mobilizando por alterações em suas condições de base. Isso é uma questão individual, ou uma questão coletiva? Isso tem implicações na sociedade como um todo? O MST tem uma bandeira específica que tem a ver com a posse e o uso da terra, mas a conquista dessa bandeira significa toda uma transformação social mais ampla. É nesse sentido que poderíamos entender as demandas dos jovens. Os jovens que estão discutindo as verbas para educação, por exemplo, estão fazendo uma demanda que tem a ver com eles, mas que também implicam algo mais geral, como a distribuição de recursos, quais políticas devem ser prioritárias, que papel a educação deve ter na sociedade.

O cientista político Kenneth Minogue diz para os jovens se afastarem da política. A senhora também acha que a rebeldia característica à juventude pode atrapalhar a atividade partidária?

De forma nenhuma! Primeiro, eu acho que a rebeldia não é atributo só do jovem. Segundo, nem todos os jovens são rebeldes. Essa é a desmistificação que a gente tem que fazer. A participação dos jovens nos partidos é fundamental para a renovação da própria vida partidária, e para permitir novas idéias, novas práticas. Dessa maneira, os partidos poderão incorporar as suas pautas às questões que os jovens têm trazido.

O que a senhora diria aos jovens que não dão importância à Política?

Eu não diria nada. Acho que a importância da política tem que ser percebida através da própria experiência. Claro que processos de formação e de informação são fundamentais para a percepção de que não atuar na política é uma forma de postura política, que é a forma da omissão. A insatisfação com as coisas que incomodam só pode ser modificada pela ação das pessoas. Se afastar porque acha que esse jeito de fazer política é ruim, é apenas uma maneira de dar o aval. Quem critica uma hora deve ter consciência de que essas coisas só mudam se alguém interferir. O engajamento orgânico é essencial, mas há outras formas de se interferir.

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