É sabido que o teatro da Hélade partiu dos teatros egípcio, hindu, chinês e cretense, que desembocaram na Grécia, dando origem ao eterno teatro grego. Baseado na religião desde seus primórdios, jamais conseguiu sair destes limites. Colocando-a em sua base, desenvolveu-se voltado aos problemas do homem, porém não só do homem grego, mas do homem universal. Estas constatações mostram que o teatro grego é apenas uma forma evoluída destes já citados. Uma questão relevante, totalmente de acordo com a cultura helênica, é que as mulheres não participavam das peças.
As representações dramáticas gregas são divididas em três estilos diferentes: Tragédia, Drama Satírico e Comédia, que da mesma forma que diferem entre si, também têm sua matéria-prima na Mitologia. Os filósofos gregos divergem suas opiniões sobre as artes. Platão nega a dignidade a estas, pois as consideram cópias representativas do ser original e por isso, passível de falha e imperfeita. Já Aristóteles diz que todas as artes são dignas, já que atingem a essência do ser.
Tragédia
Um dos estilos teatrais gregos é a Tragédia, conferida aos dórios por Aristóteles e introduzida na Grécia por volta do século VII a.C. A Tragédia teria partido do ditirambo, coro em honra a Baco. Evoluiu assim aos “coros trágicos”, que seriam conjuntos corais, que falavam em versos, com narrativa ritual, contando passagens de um de seus heróis. A partir de vários indícios, provavelmente deve-se a Dionísio, deus do vinho e da vegetação, o início da Tragédia grega.
Para Aristóteles, a Tragédia tem a finalidade de suscitar o terror e a piedade, purgando os homens destes sentimentos. Aristófoles fala que o poeta tem a utilidade de educar, ao contrário de Goethe, que acredita que “o teatro não é uma casa de correção para malandros”.
A princípio, a Tragédia surgiu de modo somente cantado pelo coro, porém Téspis inventou o primeiro ator, introduzindo, então, as partes cantadas. Desta forma, o coro, que tinha o papel de conselheiro, ouvinte, juiz, espectador e intérprete, entre outros, cantava em dialeto jônico, apresentando-se como a união do ator e o público e representando os sentimentos durante a representação. Os atores recitavam em dialeto ático, examinando os temas propostos.
O acompanhamento musical era feito por flautas. As danças não eram apenas passos ritmados, eram também mímicas, que procuravam traduzir os objetos e as afeições da alma. Os atores eram divididos em três papéis: o protagonista, que fazia o papel principal, o denteragonista, que interpretava os papel de segundo plano, e o tritagonista, que era o papel mais ingrato da representação dramática.
As indumentárias provavelmente eram de origem dionisíaca, formadas basicamente por duas peças: uma túnica e um manto, que se estendia até os pés. Havia uma riqueza nos bordados, que eram suntuosos e coloridos, com tons de dourado. A veste apertava na altura do peito, para dar a impressão de maior estatura e majestade. Os calçados eram coturnos à moda daqueles usados na época helenística e romana, de cano e solado altos, estes com altura entre seis e onze centímetros, a fim de salientar a estatura, principalmente dos protagonistas.
As máscaras certamente tinham interesse para a religião e eram principalmente de dois tipos: A máscara protetora, que redimia o homem aos poderes maléficos, e a máscara mágica, que dava ao seu portador as propriedades dos demônios representados. Atribui-se a Ésquilo a invenção da máscara pintada com feições humanas. Estas procuravam traduzir o patético e a dor, com as rugas bem marcadas, os olhos arregalados e a boca aberta. Eram incrementadas com cabeleiras postiças e, quando necessário, também com barbas.
Drama Satírico
Anterior à Tragédia, a palavra satírico nada tem a ver com a sátira, o ato de criticar os defeitos de uma pessoa ou época. O nome vem dos sátiros, os eternos companheiros de Dionísio, seres rústicos, originalmente demônios-bodes.
Este estilo teatral tem origem em danças mímicas e rituais em honra a Baco. Com o tempo, transformou-se em representações rústicas reproduzidas por coros que reproduziam alguma aventura deste deus grego. Mais tarde, uniram-se ao Drama Satírico cerimônias fúnebres regionais, onde outras divindades ocuparam o lugar de Dionísio. No princípio coexistiram pacificamente Tragédia e Drama Satírico, porém, à medida que a primeira se destacava pelo seu tom sério e majestoso, quase levou à morte o estilo mais antigo.
Prátinas, natural do Peloponeso, foi quem introduziu o Drama Satírico em Atenas, porém, das 32 peças que este autor escreveu, nada chegou aos dias de hoje. Prátinas foi tão importante que, depois da “reforma” que propôs por volta de 490 a.C., tornou-se obrigatório nas representações dramáticas a tetralogia, isto é, a união em uma só peça de três Tragédias e um Drama Satírico.
O Drama Satírico tinha uma forma fixa e definida e, sobre o prisma artístico, era realmente primitivo. Seria um drama sem variáveis, onde os sátiros, prisioneiros ou escravos de um ser monstruoso, eram libertados por um herói. A vitória era sempre do protagonista, tendo invariavelmente um final feliz.
Ao contrário da Tragédia, o Drama Satírico conseguiu manter, ao menos em parte, o seu antigo caráter dionisíaco, pois a presença dos sátiros está sempre no coro. O Ciclope, de Eurípedes, é o único drama completo que se possui, e o assunto é uma adaptação de um dos versos da Odisséia, onde Ulisses cega o ciclope Polifemo e liberta os sátiros, prisioneiros do monstro.
Como a Tragédia, o Drama Satírico divide-se em partes cantadas pelo coro e recitadas pelos atores, além da divisão dos papéis em três atores. A dança era acompanhada por saltos e cambalhotas, que traduzia a exuberância destes seres rústicos e semi-animais.
Aparecem em cena heróis, reis, divindades e seres míticos, os sátiros, dos quais o adorno tradicional era um calção de pele de cabra, ornado com uma cauda de cavalo na parte de trás. À primeira vista pareciam nus, mas vestiam uma malha da cor da pele e andavam descalços. Os outros personagens mais nobres vestiam túnicas e calçavam coturnos. As máscaras do Drama Satírico tinham as mesmas características daquelas da Tragédia.
Comédia
A antiga Comédia ática tem sua origem e estrutura num verdadeiro enigma. A princípio executada por voluntários em atos improvisados, não teve a preocupação de registrar seu desenvolvimento desde o surgimento. Ignora-se quem introduziu as máscaras, os prólogos o número de atores e outras coisas. Porém a idéia de compor fábulas remonta a Epicarpo, uma idéia que veio da Sicília.
Aristóteles define a Comédia como oriunda dos antigos “cantos fálicos”, canções entoadas em procissões celebradas no campo, onde se escoltava um falo, símbolo da fertilidade. Segundo ele, antes de chegar a Atenas, passou por terras dóricas. Seu nome se traduz por “canto da procissão jocosa”.
A Comédia é dividida em duas partes: um agón e uma revista. O agón era uma luta ou debate entre o coro e o ator, que comportava uma ação. Pouco a pouco esta discussão transformou-se em debate, surgindo, então, a revista, que era os esclarecimentos sobre esta ação.
No agón, o coro faz o papel principal, portando-se como um verdadeiro ator. Já na revista, o coro age como porta-voz do poeta. Em ambas as partes encontra-se a farsa, sob aspectos diversos, onde se mistura piedade e obscenidades.
A Comédia inicia com um prólogo, seguido da entrada do coro. Há um debate, uma declaração ao público, a revista e a saída do coro. O debate é duplo, onde os dois adversários falam alternadamente sobre o tema. Ao final da segunda parte, a representação acaba com uma espécie de procissão alegre. Era um espetáculo à parte, com artistas de renome, cantores e dançarinos.
Com a finalidade de fazer rir, a indumentária era grotesca. Sobre uma malha da cor da pele, colocavam falsos ventres e falsas nádegas. Muito comum também era a utilização de túnicas curtas, para, propositalmente, deixar aparecer o falo e as nádegas. As máscaras eram de caras monstruosas e ridículas. Usavam as mesmas sandálias que calçavam na vida real.
Edifício Teatral Grego
O teatro grego é um edifício ao ar livre. As representações, portanto só eram possíveis durante o dia e quando o tempo permitia. Tanto quanto a tragédia, o edifício teatral surgiu do dirirambo, onde a multidão formava um círculo ao redor do coro, produzindo assim a forma circular que se vê até os dias de hoje. A palavra teatro significa “contemplo, vejo”, o que serve para denominar tanto a representação teatral como o local onde se assiste a peça.
A orquestra, que se traduz do grego para o português como “eu danço”, ficava no centro, em forma circular, onde no meio erguia-se um altar em honra a Dionísio. O prédio era destinado somente aos espectadores, onde eram construídas arquibancadas de pedra, em número proporcional ao tamanho do edifício. Além dos assentos comuns, havia os de honra, reservados aos sacerdotes, sacerdotisas, magistrados, embaixadores estrangeiros e hóspedes importantes. A capacidade de espectadores no teatro de Atenas, por exemplo, era de 14 mil.
Em frente ao teatro havia uma tenda, feita de tábuas e coberta de pano, onde os atores e o coro trocavam de máscaras e indumentárias. Era também o local onde aconteciam as cenas mais violentas, tão comuns na Tragédia, como assassinatos, suicídios, sacrifícios humanos, cenas estas que não poderiam ser praticadas diante dos espectadores no teatro grego.
Também havia muros no fundo desta tenda, onde provavelmente eram pintados os cenários das representações. Nos primeiros tempos do teatro, o cenário consistia em um único objeto de proporções grandes, como uma torre, um altar, um túmulo, ou ainda uma paisagem marinha ou rústica. Um progresso na cenografia surgiu a partir de 465 a.C., atribuído por Aristóteles a Sófocles. No fim do século V a.C. o cenário teatral tornou-se uma arte nas mãos de especialistas, os cenógrafos. Nos cenários do teatro grego empregavam-se vários maquinismos, como esteiras rolantes, guindastes, tribunas aéreas, entre outras.
Bibliografia
BRANDÃO, Junito. Teatro Grego: Origem e Evolução. São Paulo: Ars Poética. 1992.