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terça-feira, novembro 19, 2024

A NORMA CULTA

Marcos Bagno é professor de Lingüística da Universidade de Brasília (UnB) e autor de obras importantes, como A língua de Eulália (novela sociolingüística) (1997), Pesquisa na escola: o que é, como se faz (1998), Preconceito lingüístico: o que é, como se faz (1999), Dramática da língua portuguesa: tradição gramatical, mídia & exclusão social (2000), Português ou brasileiro? Um convite à pesquisa (2001) e O espelho dos nomes (2002), entre outros. Organizou os volumes Norma lingüística (2001), Língua materna: letramento, variação & ensino (2002). Traduziu Historia concisa da lingüística, de Bárbara Weedwood (2002), e Para entender a lingüística, de Robert Martin (2003). Exerce ampla atividade de divulgação científica por meio de palestras, oficinas e minicursos.
Esta obra fala sobre a origem do preconceito lingüístico no Brasil, uma vez que seu prólogo – Mídia, preconceito e evolução – é iniciado com uma reflexão partindo de comentários, principalmente os veiculados na mídia impressa de 2002, sobre a ameaça que representaria para a língua a ascensão ao poder de Luiz Inácio Lula da Silva, um falante de variedades lingüísticas estigmatizadas.
Ao longo da obra, Bagno, através de análises sobre as relações entre língua e poder, tenta mostrar o quanto essas idéias são preconceituosas, deixando claro que as mesmas não devem ser consideradas, pelo menos por quem tiver um pouco de conhecimento sobre a história do Brasil e de sua realidade sociolingüística. Está dividida em três partes (cada uma com subdivisões), além de um prólogo e um epílogo.
Os textos são, em sua maioria, apresentados em forma de pergunta e, com isso, acabam mantendo um diálogo mais direto com o leitor, respondendo às muitas prováveis dúvidas sobre o tema. Além disso, nos leva a ver que a noção de erro na sociedade varia de acordo com quem o comete, pois as próprias pessoas de classes sociais mais privilegiadas que acusam Lula de não saber utilizar a linguagem, muitas vezes, também cometem equívocos e, nem por isso, sofrem qualquer tipo de discriminação, pois, na fala de um membro da elite letrada, alguns erros são vistos como “lapsos” e recebem a seguinte justificativa: “a essas pessoas até se permite errar, pois sabem a forma certa”.
A primeira parte desta obra – Por que “norma”? Por que “culta”? – contém uma crítica às gramáticas, e mostra que elas estão descontextualizadas, pois optam pela literatura como modelo de “língua culta” a ser imitado, quando, na realidade, somos muito mais influenciados pelas modas lingüísticas da televisão, por exemplo.
O autor mostra que essa atitude vem sendo utilizada de maneira equivocada, pois dizer que uma determinada maneira de falar e escrever é “culta”, dar a entender que as demais maneiras de falar e escrever não são “cultas”, e sugere, então, que a “norma culta” passe a ser chamada de norma-padrão, ou seja, modelo de língua idealizado, e, dessa forma, o autor, de modo bastante prático, consegue resolver esses problemas de terminologia.
A segunda parte desta obra – Um pouco de história: o fantasma colonial & a mudança lingüística – mostra, através da história, a origem das divergências entre a norma-padrão e o português brasileiro efetivamente usado no cotidiano, bem como aborda outras questões, como a baixa-estima lingüística dos brasileiros, os ritmos da mudança lingüística e o papel político dos lingüistas diante do quadro atual, e enfatiza: reformar o padrão, admitir como válida a língua que já faz parte do cotidiano dos brasileiros, é uma obrigação política de todas as pessoas comprometidas com a democratização do Brasil, uma vez que a norma-padrão não é apenas um instrumento de regulação lingüística, e sim um instrumento de opressão ideológica, de discriminação e preconceito.
A terceira parte desta obra – Por uma gramática do português brasileiro – mostra o objetivo principal do autor que é reforçar a idéia de que as gramáticas existentes não são ideais, sendo assim, seria necessário que se produzisse uma gramática realmente do português brasileiro, preparada por pesquisadores comprometidos com a realidade lingüística do Brasil e mostra, como exemplo do que seria uma gramática ideal, a Modern Portuguese: a Reference Grammar (2002), de Mário Perini, a qual saiu publicada nos Estados Unidos, sendo dirigida a falantes da língua inglesa interessados em estudar o português brasileiro, e nos leva a ver como Perini faz questão de expor do modo mais realista possível o português brasileiro contemporâneo, dando ênfase às regras comumente utilizadas pelos falantes urbanos escolarizados e conclui com enfaticamente: é necessário um ensino crítico da norma-padrão, deixando claro sua origem “elitista e coercitiva”.
Mostra que a necessidade de dominá-la se deve à necessidade de que alunos oriundos das classes menos favorecidas possam, quem sabe, um dia, dispor dos mesmos instrumentos de luta dos alunos oriundos das camadas privilegiadas, conseguindo, assim, superar ao menos parte da discriminação que sofrem.
O epílogo desta obra – Norma (o)culta, a gramática não-escrita – faz um retorno ao título do livro, o qual se refere ao jogo ideológico que está por trás da defesa do conjunto de regras lingüísticas, defesa esta apoiada no mito de que o conhecimento da norma “culta” é garantia suficiente para a inserção do indivíduo na categoria dos que sabem falar e, por isso, têm direito à palavra. Mas a restrição imposta ao acesso dos falantes das variedades estigmatizadas ao sistema educacional, praticamente denota que essa ascensão social dificilmente ocorrerá, e conclui, chamando atenção para o fato de que é essa discriminação que configura a norma oculta, o disfarce lingüístico de uma discriminação que é, na realidade, social.
Esta obra é bem pensada e traz muitas reflexões sobre o tema principal. Contudo, sabe-se que o livro vai muito além disso, e que deveria ser lido e discutido por todos os profissionais e estudantes da linguagem: alunos, professores da língua portuguesa, jornalistas, escritores, gramáticos entre outros. Apesar de ser mais voltada para professores de Língua Portuguesa entre outros profissionais interessados em “nossa” língua, pode ser lida por pessoas de outras áreas de conhecimento, desde que tenham interesse em conhecer mais sobre preconceito lingüístico no Brasil.

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