O campo para quem faz farmácia no Brasil é amplo. Depois de formado, é possível trabalhar em farmácias convencionais – onde o farmacêutico orienta a administração do remédio certo, receitado pelo médico após o diagnóstico, garantindo a cura – de homeopatia ou de manipulação. Mas isso é só uma fatia do mercado de trabalho. Ele também pode atuar em análises clínicas e toxicológicas desenvolvendo exames clínicos em laboratórios, auxiliando na cura de doenças, e fazendo a prevenção e o controle de substâncias tóxicas que afetam a saúde das pessoas. O farmacêutico também acompanha a produção na indústria de alimentos e de bebidas, fazendo o controle de qualidade das matérias-primas e do produto final. Ainda em laboratórios, poderá ser o responsável por controlar a qualidade da produção dos medicamentos e ainda realizar pesquisas no departamento científico, criando novos princípios ativos ou novas formas de aplicação de medicamentos.
Muitos profissionais também desenvolvem fórmulas e produtos para o setor de cosméticos, higiene e limpeza, área que vem crescendo nos últimos anos. Ele também pode atuar no estudo e no desenvolvimento de terapias como a homeopatia e a fitoterapia, e em programas que visem promover a saúde da comunidade – como o saneamento básico, imunizações, educação em saúde e controle de natalidade. Enfim, há todo um futuro repleto de avanços e oportunidades dentro da farmácia, com diversas oportunidades de trabalho a partir do surgimento de novos nichos de mercados, como a política de genéricos e o crescimento do setor de cosméticos entre outras áreas promissoras da profissão.
Histórico
Quando a coroa portuguesa instituiu no Brasil o governo geral, o primeiro governador, Tomé de Souza, veio, em 1549, para a colônia trazendo várias autoridades, funcionários civis e militares, aproximadamente mil pessoas que se instalaram na Bahia.
O corpo sanitário da armada compunha-se de apenas um boticário (antiga denominação do farmacêutico), Diogo de Castro, com função oficial e com salário. Não havia nesta armada nenhum físico, denominação de médico na época. O físico-mor só viria a ser instituído no segundo governo, o de Duarte da Costa. O comércio das drogas e medicamentos era privativo dos boticários, segundo o que estava nas “ordenações”, conjunto de leis portuguesas que regeram o Brasil durante todo o período colonial. No tempo da Real Botica os remédios eram, na sua grande maioria, plantas medicinais, porém desde 1730 o brasileiro usava o mercúrio e o arsênico importados da Europa. Em 3 de outubro de 1832, criou-se, no Rio de Janeiro, o primeiro curso de farmácia do Brasil, ligado à faculdade de medicina. Em 4 de abril de 1839, criou-se por meio da lei provincial No. 140, publicada na secretaria do governo da provincia de Minas Gerais em 13/05/1839, a Escola de Farmácia de Ouro Preto, a primeira faculdade independente do curso de medicina n
o Brasil. A Escola de Farmácia de Porto Alegre surgiu em 1896 e a de São Paulo em 1898.
Áreas de atuação
1. Farmacêutico analista clínico
2. Farmacêutico dos alimentos
3. Farmacêutico industrial
4. Farmacêutico comercial ou comunitário
5. Farmacêutico magistral
6. Farmacêutico hospitalar
7. Farmacêutico professor
8. Pesquisa
No setor público
9. Militar
10. Fiscal sanitário
11. Perito criminal
1. Farmacêutico analista clínico
Também chamado no Brasil de bioquímico, é o profissional que atua em laboratórios de análises clínicas realizando exames laboratoriais (sangue, fezes, urina entre outros) solicitados pelo médico para um melhor diagnóstico. Também realiza exames toxicológicos para atletas e animais (antidoping) e controle da poluição ambiental contam com a participação do profissional de farmácia. Atua também em laboratórios de análises e pesquisas a respeito da poluição atmosférica e no tratamento de dejetos industriais e no processamento e controle de águas para consumo humano ou uso industrial. Na carreira universitária, pode optar por uma sub-área de especialização e dedicar-se à produção de conhecimento científico e/ou ao magistério.
As análises clínicas, como exercício profissional farmacêutico, tiveram início dentro da antiga farmácia comunitária. Na primeira década do século passado, o farmacêutico, utilizando seus conhecimentos e reagentes químicos, informava ao médico da presença ou não de glicose na urina dos pacientes pela reação de redução do sulfato de cobre. E assim, com o desenvolvimento da ciência e de novas tecnologias, o farmacêutico manteve-se presente nas análises clínicas.
Novas profissões da área da saúde surgiram, vindo disputar este interessante mercado de trabalho com o farmacêutico. Porém, pela sua formação acadêmica e por um currículo multidisciplinar abrangente em todas as áreas de conhecimento do laboratório de análises clínicas, o farmacêutico é reconhecido como o profissional com mais ampla capacitação para o exercício desta atividade.
Assim, a exemplo do que já foi tratado neste espaço em relação ao papel do farmacêutico nas farmácias e drogarias e posteriormente na indústria, vale registrar aqui o importante papel do farmacêutico nas análises clínicas.
1. O farmacêutico é o único profissional que estuda o fármaco/medicamento e suas interações no processo saúde-doença . A monitorização de fármacos por procedimentos laboratoriais é cada vez mais necessária para a correta terapêutica, evitando os quadros de intoxicações medicamentosas e estudando as reações adversas dos medicamentos.
2. As análises clínicas têm profundas raízes na saúde pública, onde o farmacêutico é um profissional indispensável pela sua formação.
3. A assistência farmacêutica exercida com qualidade, necessita do conhecimento de parâmetros bioquímicos, hematológicos, imunológicos e outros pertencentes às análises clínicas, para a correta dispensação e monitoramento dos fármacos.
4. O farmacêutico, por seu conhecimento de química e bioquímica, é o profissional capaz de preparar, analisar e utilizar corretamente os reagentes utilizados nas rotinas do laboratório de análises clínicas.
5. O controle de qualidade dos exames de análises clínicas é fundamental para a obtenção de resultados confiáveis e reprodutíveis, sendo esta importante tarefa executada pelo farmacêutico [único profissional das AC com formação em química analítica, p.ex.].
6. Em ambientes de alta tecnologia, o farmacêutico é indispensável para a análise dos resultados fornecidos por modernos aparelhos e verificação de distorções ocorridas, com vistas aos procedimentos de correção.
7. A obtenção e manuseio de amostras biológicas para os exames laboratoriais têm que ter a supervisão do farmacêutico para a obtenção de resultados confiáveis.
8. O planejamento, a administração, a gestão e a direção do laboratório de análises clínicas são atividades que devem ser exercidas pelo farmacêutico.
9. O desenvolvimento científico e a pesquisa exercidas pelo farmacêutico contribuem para o diagnóstico e prevenção de doenças.
10. Pelo seu conhecimento científico, formação acadêmica abrangente e aptidão profissional, não há como contestar que para o exercício das análises clínicas o profissional de mais ampla capacitação é o farmacêutico.
2. Farmacêutico dos alimentos
O farmacêutico que atua na área de alimentos normalmente exerce suas atividades nas indústrias de alimentos. Várias são as funções que competem aos farmacêuticos, entre elas: desenvolver métodos de obtenção de produtos alimentares para uso humano e veterinário, análise bromatológica e toxicológica, realização de controle microbiológico, químico e físico-químico das matérias-primas e produtos acabados, atuação no desenvolvimento, produção e controle de qualidade de alimentos, nutracêuticos e alimentos de uso enteral e parenteral, atuação na normatização e fiscalização junto à vigilância sanitária de alimentos.
3. Farmacêutico industrial
O farmacêutico industrial é um profissional que atua na indústria farmacêutica, sendo atribuídas a ele as funções de controle de qualidade de medicamentos, supervisão do transporte dos medicamentos produzidos, supervisão da chegada de matérias-primas à indústria, além de desenvolver, no departamento científico da indústria, pesquisas de aperfeiçoamento e desenvolvimento de fármacos.
As terapêuticas disponíveis pela indústria farmacêutica estão listadas, no Brasil, pelo Dicionário de Especialidades Faramacêuticas (DEF), onde, no qual, ainda estão os endereços e números de telefone dos Serviços de Atendimento ao Consumidor (SAC) e endereços dos respectivos laboratórios.
4. Farmacêutico comercial
O farmacêutico comunitário é aquele que atende o paciente ou utente diretamente no balcão de uma farmácia comunitária, drogaria, ambulatório ou serviço de atenção primária.
Ele analisa a conformidade das prescrições e dispensando os medicamentos, seguido de orientações quanto ao uso racional dos fármacos e adesão à terapêutica. Realiza ainda ações de atenção farmacêutica ou acompanhamento farmacoterapêutico.
O farmacêutico comercial é o co-responsável pela qualidade dos medicamentos dispensados, obedecendo desta maneira, as boas práticas de armazenamento e dispensação.
Tem a função, ainda, de escriturar o livro de registro de medicamentos controlados, prestando contas às autoridades sanitárias, embora em Portugal, este procedimento esteja praticamente ultrapassado, em virtude das farmácias comunitárias possuirem sistemas informáticos creditados pelo Infarmed (Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento), o que permite dispensar o livro de registos.
5. Farmacêutico magistral.
O farmacêutico magistral, por meio de conhecimentos de farmacotécnica, é o responsável pela manipulação de medicamentos nas farmácias magistrais, de manipulação ou também conhecidas como galênicas. Respeitando as normas de boas práticas de manipulação (publicada por autoridades sanitárias), produz medicamentos que têm como grande atrativo a possibilidade de serem obtidos de forma personalizada (tanto na dose, quanto na forma farmacêutica), e poder alterar componentes, de fórmulas industrializadas, que causem alergias em aguns pacientes.
6. Farmacêutico hospitalar
O farmacêutico hospitalar é o responsável pelas atividades da farmácia de um hospital. Tem as funções básicas de selecionar (padronizar), requisitar, receber, armazenar, dispensar (conforme a evolução do sistema, em dose coletiva, individual ou unitária) e controlar os medicamentos (tanto os controlados por lei, quanto os antimicrobianos), observando os ensinamentos da farmacoeconômia, farmacovigilância e das boas práticas de armazenamento e dispensação. Em hospitais onde há serviços de manipulação de medicamentos, o farmacêutico é o responsável, aplicando o ensinamento da farmacotécnica e das boas práticas de manipulação. Ele ainda integra algumas comissões hospitalares, como CCIH (comissão de infecção hospitalar) e CFT (comissão de farmácia e terapia).
7. Farmacêutico professor
O farmacêutico professor atua em instituições de ensino superior, ministrando as disciplinas de farmacologia, farmacocinética, farmacognosia, farmacotécnica, química orgânica, química farmacêutica dentre outras. Atua também com pesquisador dentro das universidades. A maioria dos farmacêuticos professores possuem mestrado e/ou doutorado em suas áreas de atuação. Como o farmacêutico possui sólida formação em biologia e química, algumas instituições de ensino médio, também os aceitam como professores destas matérias. e também em ensino fundamental na materia de Ciências Biologicas.
8. Pesquisa
O farmacêutico atua em todas as áreas, estudos para que surjam novas drogas e conhecimentos avançados sobre a vida do ser humano, tais como reações adversas de medicamentos.
9. Militar
Trabalha na farmácia hospitalar dispensando e fornecendo medicamentos industriais prescritos pelos médicos para uso na terapêutica dos militares e dependentes.
10. Fiscal sanitário
Fiscaliza habitações e estabelecimentos comerciais, produtores, distribuidores e de prestação de serviços;
11. Perito criminal
O farmacêutico como perito criminal é o policial a serviço da justiça, com habilidades específicas para encontrar ou proporcionar a chamada prova técnica ou prova pericial, mediante a análise científica de vestígios produzidos e deixados na prática de delitos. Este profissional estuda, entre outros, o objeto envolvido no delito (corpo de delito), refaz o mecanismo do crime (para saber o que ocorreu), examina o local onde ocorreu o delito e efetua exames laboratoriais.
Conclusão
Temos como áreas de atuações dos farmacêuticos diversas modalidades com as mais diferentes características.
Entre a área industrial, análises clínicas, pesquisa ou até mesmo fazer parte do programa saúde da família é importante o farmacêutico apresentar-se sempre atualizado e em condições de atuar nas mais diferentes e variadas áreas próprias de um profissional conhecedor de seu campo de atuação.
Citação literária
“O papel do Farmacêutico no mundo é tão nobre quão vital. O Farmacêutico representa o órgão de ligação entre a medicina e a humanidade sofredora. É o atento guardião do arsenal de armas com que o Médico dá combate às doenças. É quem atende às requisições a qualquer hora do dia ou da noite. O lema do Farmacêutico é o mesmo do soldado: servir.
Um serve à pátria; outro serve à humanidade, sem nenhuma discriminação de cor ou raça. O Farmacêutico é um verdadeiro cidadão do mundo. Porque por maiores que sejam a vaidade e o orgulho dos homens, a doença os abate – e é então que o Farmacêutico os vê. O orgulho humano pode enganar todas as criaturas: não engana ao Farmacêutico.
O Farmacêutico sorri filosoficamente no fundo do seu laboratório, ao aviar uma receita, porque diante das drogas que manipula não há distinção nenhuma entre o fígado de um Rothschild e o do pobre negro da roça que vem comprar 50 centavos de maná e sene.” Monteiro Lobato.