Quando se estuda o espaço geográfico, percebe-se a importância das representações deste espaço, embora seja difícil de analisá-lo dentro de seu porte real. Esta função é destinada à cartografia, a qual tem por objetivo retratar a realidade em que o homem vive utilizando-se dos mapas enquanto instrumento de representação. Assim, a cartografia, enquanto meio de análise, pode contribuir de modo aprofundado para pesquisas ambientais, buscando refletir sobre esta temática e auxiliar na formação de visões e ações cada vez mais críticas entre a relação sociedade-espaço. Sendo assim, este artigo apresenta experiências e considerações sobre a importância da cartografia e sua aplicação em análises ambientais, abordando aspectos relacionados às contribuições que esta ciência proporciona. Diante deste enfoque e das observações gerais, verificam-se perspectivas de análises específicas para fins determinados, pois considera-se que a arte cartográfica proporciona possibilidades múltiplas.
INTRODUÇÃO
A compreensão das questões ambientais pressupõe um trabalho interdisciplinar. A análise de problemas ambientais envolve questões políticas, históricas, econômicas, ecológicas, geográficas, enfim, envolve processos variados, portanto não seria possível compreendê-los e explicá-los pelo olhar de uma única ciência (P.C.N. 1998. p.46)(1) .
O estudo mais detalhado das grandes questões do Meio Ambiente (poluição, desmatamento, limites para uso dos recursos naturais, sustentabilidade, desperdício), permite o trabalho com a especialização dos fenômenos geográficos por meio da cartografia (P.C.N. 1998).
A questão está inserida na busca de novos meios de análises, mais complexo, os quais terão auxílio da ciência cartográfica. Permeando a mesma faz-se considerações onde existem os vários modos de ser utilizada, por isso será realizado um enfoque geral do que é a cartografia e de como é utilizada, relatando quais os seus pontos relevantes, suas regras, convenções, expressando a gramática cartográfica de forma convencional.
A Cartografia tem por objetivo retratar a realidade em que o homem vive, o mais fielmente possível, utilizando-se dos mapas enquanto instrumento de representação. Para isso, busca-se apresentar uma proposta voltada à temática ambiental, área que a Geografia, enquanto ciência, tem muito a contribuir. Assim, buscar-se-á verificar, nesta pesquisa, como a cartografia, juntamente com outras áreas do conhecimento, está contribuindo para o processo de análise e educação ambiental. Esta proposta está pautada na necessidade de repensarmos os impactos ambientais, tais como a destruição da flora e fauna, a perda da qualidade de vida dos seres humanos, o desequilíbrio climático e dos demais ciclos bióticos e abióticos, utilizando-se da cartografia.
A CARTOGRAFIA COMO CIÊNCIA
Para SOUZA e KATUTA (2001. p.55), a cartografia pode ser definida como “a arte de conceber, de levantar, de redigir e de divulgar mapas”, e, através deles, há diferentes possibilidades de representar graficamente determinada área da superfície terrestre, utilizando-se para isso de simbologias, cores, traçados, a fim de que o leitor consiga, com maior precisão, captar as informações presentes nos mesmos.
Dessa maneira, DUARTE (1994. p. 21) define a cartografia como
“ciência porque se constitui num campo de atividade humana que requer o desenvolvimento de conhecimentos específicos, aplicação sistemática de operações, metodologia de trabalho, aplicação de técnicas e conhecimentos de outras ciências. Tudo com vistas à obtenção de um documento de caráter altamente técnico, o mapa, objetivando representar os aspectos naturais e artificiais da superfície terrestre, de outros astros ou mesmo do céu. Enfim, a organização do espaço, seja ele terrestre ou não, é mostrado através de mapas, os quais resultam de uma série de operações que fazem parte de um campo definido da atividade humana: a cartografia”.
A cartografia tem como função maior a representação da superfície terrestre de forma clara e precisa, possibilitando a identificação das características geométricas, da natureza e de outras particularidades dos objetos e fenômenos observados. Assim, essa Ciência, desde seus primórdios, apropriou-se das técnicas de comunicação visual, no sentido de disponibilizar a informação cartográfica através de um modelo de representação da mesma. Dessa forma, a Cartografia é uma ciência de cunho geográfico que se apóia em princípios matemáticos e nas artes gráficas para descrever e comunicar, através de um código de sinais, o conhecimento dos mais diversos aspectos físicos e culturais da paisagem. Assim, o principal objetivo da Cartografia é a comunicação de idéias, fatos e conhecimentos através de um “veículo” de interpretação imediata, o mapa (BRANDÃO, 2001).
Contudo, sabe-se que não é tão simples trabalhar com a arte cartográfica, pois a mesma requer conhecimentos amplos, fato que dificulta e estreita o campo referenciado, conforme relata FRANCISCHETT (1997), “A dificuldade de conhecer e lidar com a Cartografia não é fato apenas do passado; a nossa, hoje, está relacionada também com as atitudes de nossos governantes, que divulgam somente os fatos que lhes interessam. A dominação eletizada da cultura e do conhecimento é algo que herdamos desde a origem de nossa história, pois muitos registros apontam significados camuflados da realidade, com o intuito de garantir o interesse distorcido dos fatos, dar fama aos heróis”.
MARTINELLI (2003. p.08) vem reforçar esta questão, quando afirma que: “(…) a finalidade mais marcante em toda a história dos mapas, desde o seu início, parece ter sido aquele de estarem sempre voltados à prática, principalmente a serviço da dominação, do poder. Sempre registraram o que mais interessava a uma minoria, fato este que acabou estimulando o incessante aperfeiçoamento deles.”
E, neste contexto, ao se analisar toda a trajetória do desenvolvimento da Cartografia e sua utilização, pode-se observar que esta área passou por grandes avanços, recebendo auxílio de diversas áreas afins, principalmente com o advento da fotogrametria, do Sistema de Informação Geográfica (SIG) e do sensoriamento remoto, assistido por um vasto processo de informatização, o que sem dúvida possibilitou o acesso mais rápido às informações sobre os lugares e análises mais aprimoradas, obtendo-se mapas com maior precisão em suas especificidades (BERNASKI 2004).
Ainda ressaltando a questão do desenvolvimento da cartografia, pode-se enfatizar conforme MARTINELLI (2003. p.23), : o desenvolvimento de tecnologias computacionais trouxe para a cartografia, junto aos interesses da visualização, a exploração de novas operações de multimídia com grande aplicação educacional, interligando os lares às livrarias, escolas, empresas, instituições, através de redes de informação cartográfica.
Com o auxílio de satélites e computadores, a cartografia vem se tornando cada vez mais um verdadeiro Sistema de Informações Geográficas, visando à coleta, o armazenamento, a recuperação, a análise e a apresentação de informações sobre lugares, sendo estas monitoradas no tempo, além de proporcionar simulações de eventos e situações complexas da realidade, tendo em vista a tomada de decisões deliberadas (MARTINELLI, 2003).
Para JOLY (1990), todo esse processo de automação contribui grandemente para a efetivação dos trabalhos na área de cartografia, uma vez que oferece vantagens de rapidez na elaboração dos dados e na atualização dos mapas. Porém, vale destacar que nem todo este avanço dispensa a capacidade do ser humano, pois este, através de seu intelecto, consegue modificar e criar novos instrumentos que venham facilitar e agilizar o desenvolvimento de suas ações.
Conforme SIMIELLI (1999), os mapas nos permitem ter domínio espacial e fazer a síntese dos fenômenos que ocorrem num determinado espaço. No cotidiano de todos é possível ter-se a leitura do espaço por meio de diferentes informações e, na cartografia, por diferentes formas de representar estas informações. Pode-se ainda ter diferentes produtos representando diferentes informações para diferentes finalidades: mapas de turismo, mapas de planejamento, mapas rodoviários, mapas de minerais, mapas geológicos, entre outros.
Portanto para poder-se ter este domínio espacial e estar interados do que ocorre em nosso espaço é essencial utilizar diferentes fontes de informações e recursos tecnológicos, pois conforme autores já citados a cartografia em sua amplitude tem uma contribuição grandiosa em diversas áreas e com variadas finalidades. E é a partir do conhecimento do vasto campo da cartografia que seremos capazes de questionar e verificar o grau de veracidade de cada informação, ampliando assim as possibilidades de síntese do nosso espaço, sendo capaz de analisar, detectar problemas e tentar resolve-los, com pensamento lógico, criatividade e capacidade de análise crítica.
REPRESENTAÇÃO CARTOGRÁFICA
Conforme MARTINELLI (2003), referenciado por BERNASKI (2004) a representação gráfica constitui-se em um meio de comunicação visual e social, uma vez que, utilizando sinais específicos criados pelo homem, permite, através de uma linguagem gráfica, estabelecer uma comunicação entre a imagem e o seu leitor, sendo que a informação a ser transmitida assume um único significado, integrando-se a um sistema semiológico monossêmico. Quando se elabora um mapa, registra-se uma determinada informação que deve ser analisada igualitariamente por todos que tiverem contato com o mesmo, e isso certamente vem justificar a existência de simbologias específicas universais, a fim de que não haja problemas com ambigüidade de informações.
Somando-se a estas características, a representação gráfica tem por meta transcrever três relações fundamentais existentes entre os objetos representados no mapa – diversidade (≠), ordem(O) e proporcionalidade(Q), pois são diversos os métodos a serem utilizados para construir um mapa temático, conforme as características de cada fenômeno a ser estudado. Estes métodos fundamentam-se em quatro categorias específicas: métodos para representação qualitativa, quantitativa, ordenada e dinâmica, sendo que o qualitativo responde à pergunta “o quê?”, tendo relações de diversidade entre os lugares. O ordenado responde à pergunta “em que ordem?”, relação de ordens e o quantitativo responde à pergunta “quantos?”, relação de proporção, (MARTINELLI, 2003), o qual exemplifica da seguinte maneira:
– Métodos para representações qualitativas: cujas representações qualitativas em mapas são empregadas para expressar a existência, a localização e a extensão das ocorrências dos fenômenos que se diferenciam pela natureza, tipo, podendo ser classificadas por critérios estabelecidos pelas ciências que estudam tais fenômenos.
– Métodos para representações ordenadas: as representações ordenadas em mapas são indicadas quando os fenômenos admitem uma classificação segundo uma ordem, com categorias deduzidas de interpretações quantitativas ou de datações. São exemplos as hierarquias das cidades
– Métodos para representações quantitativas: as representações quantitativas em mapas são empregadas para comunicar quantidades ou ordens de grandezas de fenômenos, às quais podem ser atribuídos valores numéricos, evidenciando a proporcionalidade entre eles: a cidade A tem quatro vezes mais moradores que a cidade B.
– Métodos para representações dinâmicas: o dinamismo dos fenômenos pode ser apreciado no tempo e no espaço. No tempo, ele se traduz pelas transformações de estados que se sucedem, ou pelas variações quantitativas (acréscimos ou decréscimos) dos fenômenos para um mesmo lugar. No espaço, o dinamismo dos fenômenos se manifesta através de movimentos, deslocamento de quantidades ao longo de percursos, as quais poderão receber três tipos básicos de implantação, quais sejam, a implantação pontual (a área utilizada é mínima, mas tem a vantagem de ser precisa), a implantação linear (considera o comprimento e não a largura) e a implantação zonal (utilizada para representar uma área com maior extensão) (BERTIN, 1973), que devem fornecer especial atenção às variáveis visuais a serem utilizadas as quais possuam propriedades perceptivas compatíveis.
Assim, respeitando-se a especificidade de cada fenômeno a ser representado, determina-se o método e a variável mais adequada à sua representação, são vários os métodos possíveis de serem utilizados que devem respeitar os objetivos de cada representação.
Cada uma delas possui propriedades perceptivas específicas que vão possibilitar ao leitor dos mapas uma compreensão mais adequada e instantânea dos elementos representados. As variáveis visuais são: tamanho, valor, textura, granulação, cor, orientação e forma e as propriedades perceptivas que podem possuir são de ordem, diversidade e quantidade.pode-se observar de forma mais clara as propriedades perceptivas e as variáveis visuais que representam as relações entre os dados que serão representados (MARTINELLI, 2003).
• Conforme (BERTIN, 1973. p.16) (…) são seis as variáveis retinianas ou variáveis visuais, através das quais pode-se exprimir a diferenciação local dos componentes de qualificação, sendo:
• A forma da mancha, geométrica ou figurativa, permite ao mesmo tempo uma qualificação precisa dos objetos e uma boa percepção de sua similitude ou de suas diferenças;
• O tamanho, ou dimensão da superfície da mancha, pode ser proporcional ao do objeto a representar; é prati¬camente a melhor expressão de uma comparação entre quantidades distintas;
• A orientação, na ausência da cor, é uma boa va¬riável seletiva, sobretudo em implantação zonal;
• A cor, ou tonalidade, é a variável mais forte, facil¬mente perceptível e intensamente seletiva; é também a mais delicada para manipular e a mais difícil de utilizar;
• O valor ou matiz da cor é resultado de uma adição à cor pura ou cor “chapada” de uma certa quantidade de branco que enfraquece a tonalidade; o valor é uma boa variável seletiva que permite diferenciar os subgrupos de um conjunto do mesmo tamanho ou da mesma forma e também um bom meio de classificação para ordenar uma série progressiva;
• A granulação, ou estrutura da mancha, é uma modulação da impressão visual, fornecida por variações de tamanho dos elementos figurados, sem modificação da proporção de cor e de branco por unidade de superfície; tal como o valor, a granulação é uma boa variável seletiva e, secundariamente, de classificação de uma série ordenada.
Estas variáveis, segundo (MARTINELLI, 1998), apresentam propriedades perceptivas características, como:
a) Percepção dissociativa: a visibilidade é variável, afastando-se da vista tamanhos e valores visuais diferentes, somem sucessivamente (tamanho, valor).
b) Percepção associativa: a visibilidade é constante, pois as categorias se confundem; afastando-se da vista, entretanto, não somem (forma, granulação, cores de mesmo valor visual, orientação ).
c) Percepção seletiva: o olho consegue isolar os elementos distintos (cor, tamanho,valor,granulação,forma).
d) Percepção ordenada: as categorias se ordenam espontaneamente (valor, tamanho).
e) Percepção quantitativa: a relação de proporção é imediata (unicamente o tamanho).
Além das diversas formas de representação, deve-se utilizar as escalas corretas para o fim desejado, pois cada objetivo requer uma escala específica, as quais estão representadas no quadro 4.
Somando-se ao exposto, tem-se ainda a classificação sugerida por (ALMEIDA e RIGOLIN, 2003. p. 32):
a) Quanto à finalidade das cartas e dos mapas:
– Gerais: contêm informações sobre temas variados e geralmente são elaboradas em escala reduzida (1:1 000 000).
– Especiais: contêm informações técnicas e específicas a profissionais especializados, como geólogos e meteorologistas.
– Temáticos: fazem referência a um determinado aspecto da geografia, em geral os topográficos.
b) Quanto aos tipos de mapas e cartas:
– Cartas cadastrais ou plantas, são geralmente plantas urbanas com detalhes que auxiliam na administração pública (1:500 a 1:10 000).
– Mapas ou cartas topográficas: possuem um certo grau de precisão (1:25 000 a 1: 250 000).
– Mapas ou cartas geográficas: representam grandes regiões, como países, continentes e o mundo (1:500 000 a 1:1000 000).
Dentro deste contexto, têm-se os mapas, enquanto instrumentos, que auxiliam o indivíduo a olhar mais criticamente para sua realidade, uma vez que possibilitam obter uma visão de passado/presente e até mesmo fazer projeções futuras, o que facilita conhecê-lo sócio/histórico/culturalmente e agir sobre ele.
Para que o ser humano se engaje na reconstrução desse espaço-sociedade, é preciso que ele seja antes de mais nada um “geógrafo crítico”, um leitor competente do espaço e de sua representação. Um leitor crítico do espaço é aquele capaz de ler o espaço real e sua representação, o mapa. E através dessas leituras apreender os problemas do espaço e ao mesmo tempo conseguir pensar as transformações possíveis para aquele espaço (PASSINI, 1994).
Depreende-se disso que um mapa não pode ser construído do “dia para a noite”, ele exige a utilização de técnicas e métodos específicos, bem como a definição clara dos objetivos que se pretende alcançar, pois deve ser possibilitado ao leitor o entendimento de suas informações e, através do conteúdo nele presente, que possibilite ampliar seus conhecimentos, entendendo melhor o seu espaço e sabendo como nele agir (BERNASKI, 2004).
CARTOGRAFIA ANALÓGICA/DIGITAL
A cartografia cresceu significativamente, tanto na forma analógica quanto digital e tridimensional. Pode-se assim dizer que a cartografia digital deixou de ser inédita, pois alguns usuários e profissionais da área questionam as propriedades funcionais e a qualidade dos produtos cartográficos digitais disponíveis.
O “mapa digital” (MD) é um modelo numérico do mapa, criado através da digitalização das fontes cartográficas, via transformação fotogramétrica dos materiais de sensoriamento remoto, através do registro digital dos dados de trabalhos de campo, ex. Sistema de Posicionamento Global (GPS) ou com outros métodos. Pela sua essência, o MD significa exatamente o modelo numérico (inglês – digital) ou dados cartográficos numéricos. O MD cria-se com cumprimento total das normas e regras de mapeamento, da precisão de mapas, da generalização e dos sistemas dos sinais convencionais, serve de base para edição dos mapas em papel, mapas computacionais e mapas eletrônicos; faz parte dos bancos de dados cartográficos; representa um dos elementos mais importantes de fornecimento informativo dos SIG e ao mesmo tempo pode ser o resultado de funcionamento destas (BERLIANT, 1998, referenciado In: KARNAUKHOVA e LOCH, 2001).
Além disso, tem-se o mapa computacional e o mapa eletrônico, conceitos muitas vezes confundidos entre si. Entende-se como: “mapa eletrônico”, a representação cartográfica visualizada com auxílio dos softwares e meios técnicos numa dada projeção, formato e do sistema de sinais convencionais no vídeo (tela) do computador com base nos dados de mapas digitais ou dos bancos de dados do SIG. Quando há necessidade pode ser transformado ou completado com novos dados (ex. com informação operativa) (BERLIANT, 1998, referenciado In: KARNAUKHOVA e LOCH, 2001).
O “mapa computacional” é um mapa sobre papel, poliéster, filme fotográfico ou outros materiais, adquirido com auxílio dos meios de mapeamento automatizados (digitalizadores, plotters, etc.). Sendo assim, a “cartografia digital” representa a parte da Cartografia que abrange a teoria e os métodos de criação e uso prático dos mapas digitais e outros modelos cartográficos digitais espacial – temporários (BERLIANT, 1998, referenciado In: KARNAUKHOVA e LOCH, 2001).
Os mapeamentos por computador e os sistemas de SIG continuam explorando novos caminhos de aplicação com grande rapidez no processamento na capacidade de armazenamento de dados, na flexibilidade de compilação e na visualização da informação (…). A ênfase à visualização tem o potencial de revitalizar a cartografia para além do SIG e da cartografia digital, em direção aos Atlas eletrônicos interativos e sistemas de multimídia que incorporam o SIG apenas como uma das inúmeras tecnologias. Os conceitos deste tipo de Atlas envolvem a visualização da informação, esquematização, análise comparativa, ordenação, animação, modelagem dinâmica, projeção, navegação casual, hipertexto, base de dados e uma capacidade para processamento de interatividade, (ARCHELA e ARCHELA, 2002).
Tem-se também como definição de GIS (Geographical Information System) ou SIG, segundo ALMEIDA e RIGOLIN (2003), o conjunto de tecnologias que permite a coleta de informações sobre determinado tema. Além de ser um sistema de processamento de dados, o GIS permite a superposição e o cruzamento de informações, tendo como características integrar, em uma única base, informações diversas de forma que seja possível consultar, comparar e analisar essas informações, além de produzir mapas, podendo ser aplicado a qualquer tema que envolva informações de um lugar com elementos que possam ser representados.
Diante das informações expostas: a cartografia como ciência; a representação da cartografia; a cartografia analógica/digital referenciamos a partir daqui os sistemas de informações geográficas e a cartografia ambiental.
SIG X CARTOGRAFIA AMBIENTAL
As definições encontradas, referentes ao SIG, podem ser entendidas desta maneira: segundo os Cursos em Geoprocessamento – Edição 2003 (encontrado no site www.cav.udesc.br) os Sistemas de Informação Geográfica SIG/GIS são tecnologias de Geoprocessamento que lidam com informação geográfica na forma de dados geográficos. Por sua vez, dados geográficos podem ser classificados como dados espaciais e dados de atributos. A Geomática reúne métodos, técnicas, metodologias e tecnologias das Ciências Geodésicas com o formalismo matemático, com o objetivo de coletar, tratar e processar dados espaciais, tornando-os aptos a serem utilizados por tecnologias SIG. Estes dados permitem que se conheça a estrutura geométrica de entes espaciais e sua posição no espaço geográfico. SIG trata-se de um conjunto integrado de componentes com a função de fornecer informação, na forma de dado, aos processos decisórios. Em certa medida, um SIG é um SADE, ou seja, um Sistema de Apoio à Decisão Espacial.
Um SIG pode ser utilizado para a produção de mapas gerando um banco de dados geográficos, que dará suporte para análises espaciais de diversas ordens. Sendo assim, pode-se perceber que tal arte traz possibilidades grandiosas de conhecimentos e análises. Enfim, é uma “arma” poderosa de trabalho e, desse modo, acredita-se ser indispensável nas questões ambientais, como análises, monitoramento, recuperações de áreas degradadas, prevenção de maiores prejuízos e técnicas a serem desenvolvidas a favor de um meio ambiente mais saudável (BERNASKI, 2004).
Para representar a dinâmica do Meio Ambiente é importante que se busque uma cartografia que incorpore todas as relações existentes entre os elementos naturais e sociais, como um instrumento capaz de revelar o conteúdo da informação mobilizada de forma abrangente, esclarecedora e crítica (ARCHELA et al, 2002).
Nas questões ambientais são os mapas de síntese que melhor representam a cartografia ambiental, pois (…) o mapa de síntese é a fusão de mapas analíticos em conjuntos espaciais característicos, que dão a dinâmica necessária à cartografia ambiental, permitindo a compreensão e a visualização da dinâmica do meio ambiente (ARCHELA et al, 2002).
Os primeiros trabalhos desenvolvidos na cartografia ambiental foram no Laboratório de Geomorfologia do Centro National de Rechercher Scientifiquer em Caen, na França, sob a coordenação do Professor (André Journaux 1985 In: ARCHELA et al 2002). Dentro desta pesquisa foram utilizadas escalas de diversos tamanhos, que possibilitaram conduzir decisões de planejamento territorial, da estrutura e da dinâmica do meio natural e antrôpico, incluindo inter-relações entre ar, água, solo, degradação e recuperação. Pesquisa esta que permitiu a adoção da legenda criada pela equipe de Caen, como modelo padrão para todas as regiões da França, adotado pela Comissão Nacional de Cartografia do Meio Ambiente e de sua Dinâmica, do Comitê Nacional Francês de Geografia.
As cartas elaboradas a partir da metodologia citada passaram a ser utilizadas intensamente pelos órgãos do governo Francês, nos trabalhos de planejamento de uso e ocupação do espaço. Journaux (1985) apresenta uma classificação metodológica para as cartas que tratam da temática ambiental desde a análise simples dos fenômenos até a síntese complexa e classifica os mapas em três níveis: cartas de análise, cartas de sistemas e cartas de síntese (ARCHELA, et al, 2002).
Dentro destes três tipos de cartas, Journaux explica a função de cada uma, sua utilização e para quais fins cada uma é mais apropriada.
As cartas de análise têm por objetivo cartografar elementos ou processos simples. Por elementos podem ser consideradas as coberturas superficiais, as formações geológicas, as distribuições fitológicas, os espaços agrícolas, tipos de construções urbanas, densidades populacionais, refeitos e poluições do ar, da água, etc. (…). Por processos podem ser consideradas as cartas geomorfológicas, as de utilização do solo, de degradação do ambiente, etc. (…). As cartas de sistema têm por objetivo cartografar as associações de elementos ou de processos, para definir sistemas ou obter cartas de aptidão (…). Por sistemas são consideradas as cartas de sistemas agrários, cartas ecológicas, que permitem visualizar a degradação do meio ambiente etc. (ARCHELA et al 2002. p.58).
As cartas de síntese são as cartas de sensibilização aos problemas ambientais, destinadas não somente à conscientização do estado e da dinâmica ambiental, mas para subsidiar as ações e decisões no planejamento territorial. A carta do meio ambiente e sua dinâmica podem ser elaboradas na forma digital ou analógica, porém deve levar em conta os elementos naturais, água, ar e solo e a ação antrópica passada e presente (ARCHELA et al 2002).
Pode-se citar exemplos de cartas, que têm objetivos específicos, tais como: as cartas mostram que a utilização dessa metodologia para a elaboração de cartas ambientais pode representar uma contribuição importante para a avaliação das condições de vida da população, e também para avaliação da qualidade ambiental, como um instrumento de conscientização. A cartografia está sendo utilizada no estudo do meio ambiente, mas a sua importância ainda não é a mesma das análises ambientais. É certo que o uso dos sistemas de informações geográficas viabilizam o gerenciamento do espaço, possibilitando ao usuário estabelecer, por exemplo, previsões de impactos ambientais e planejar medidas eficazes (ARCHELA et al, 2002).
CONSIDERAÇÕES GERAIS
A partir de observações que instigaram a realizar esta pesquisa, percebe-se a necessidade de buscar os caminhos possíveis para trabalhar melhor a questão cartográfica em torno da temática ambiental. Esta questão envolve vários fatores estruturais, a fim de elucidar a presente proposta ao contexto no qual ela se insere e apresentar alguns pontos que acreditamos estar ligados às dificuldades e limitações de um trabalho cartográfico ambiental, que visa à educação ambiental.
Além da experiência que adquirimos na prática pedagógica, a realização do trabalho de conclusão do curso de licenciatura em Geografia nos aproximou ainda mais da temática, mediante a pesquisa realizada na área da educação, mas especificamente, o uso da cartografia no ensino de geografia. Esses problemas que nos atingem há muito tempo têm se ampliado de forma generalizada, principalmente pela ética antropocêntrica e sua relação com o meio. Neste contexto, considera-se fundamental pensar a educação ambiental através da contribuição cartográfica como um dos caminhos possíveis para se pensar soluções em torno da problemática ambiental e, ao mesmo tempo, verificar como este processo pode contribuir para a modificação dos atuais valores, atitudes e comportamentos da sociedade com relação ao meio ambiente. Assim, pretende-se continuar a desenvolver pesquisas nesta área, com o objetivo de contribuir para o aprofundamento teórico sobre a temática e também para a formação profissional.
Assim, dentro de todo esse crescimento, o que ainda está faltando é o reconhecimento e a divulgação da cartografia e, principalmente, a democratização dos seus produtos, em especial, os mapas. Neste processo de conquistas técnicas, a ciência cartográfica foi recebendo diferentes concepções, que variam entre o entendimento da cartografia como ciência, técnica, arte etc, tendo em comum o fato de considerá-la como o mecanismo de conhecer a Terra e representá-la em escalas diferenciadas.
A partir do surgimento da computação gráfica, as possibilidades da cartografia multiplicaram-se para além do reconhecimento da distribuição espacial dos objetos e fenômenos. Isso devido aos produtos cartográficos digitais, que permitem um amplo aproveitamento do potencial dos recursos oferecidos pela computação eletrônica, como: a capacidade de armazenamento e processamento de grandes volumes de dados, a recuperação de dados armazenados, a possibilidade de geração de modelos derivados e a realização de simulações.
Atualmente a cartografia deve estar direcionada a trazer informações mais complexas sobre a estruturação do espaço, tais como sua forma de organização, como está constituído, sua transformação ao longo dos anos e demais informações que permitirão ao indivíduo sair de visões superficiais, para atingir dados mais aprimorados do objeto em estudo. Então, dentro de uma perspectiva cartográfica, os mapas vêm assumir um papel extremamente relevante, pois por meio destes possibilita-se ao homem a obtenção de diversas visões e redimensionamentos do tema neles especificados, sendo possível analisá-los sob diversos aspectos, o que certamente colaborará para a efetivação de estudos com maior fundamentação, abrindo-se um leque de possibilidades para o entendimento dos mesmos, o que caracteriza a pluralidade do trabalho com os mapas. Desta forma, partindo do objetivo que se quer atingir, assim deverá ser utilizada a carta adequada.
Por exemplo, é importante saber as causas da degradação e sua amplitude para poder corrigir e prevenir novas degradações. Portanto, tendo como base a linha de pesquisa, far-se-á a coleta de dados onde se faz importante uma ordem, a qual pode ser geográfica ou cronológica.
Quando se sobrepõem muitos dados no mesmo mapa, deve-se seguir um parâmetro para não confundir as informações. Por exemplo, utilizar a cor azul para hidrografia e hidrologia; o branco para o ar; o laranja para espaços construídos, o marrom para espaços cultivados e o verde para formações vegetais. Para representar a dinâmica do meio ambiente utilizam-se vermelho, lilás e roxo. Essas cores são utilizadas para as modificações do meio ambiente (solo, ar e água) e o preto para as áreas de proteção. Desta forma, tem-se: lilás = poluição das águas; roxo = poluição do ar; preto = proteção e melhorias, por exemplo. A partir do exposto, pode-se ter uma noção de que seja o que for que irá ser representado é necessário uma ordem e que deve seguir as normas da simbologia cartográfica.
Visando essa linha de pesquisa, expôs-se as aspirações, onde buscou-se mostrar considerações referentes à arte cartográfica, pois a curiosidade estimula-nos a pesquisar, o que nos leva a um saber mais profundo. “Aprender para nós é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à aventura do espírito” (FREIRE, 1996. p.77). Observando o que Freire cita, refletimos sobre nossa capacidade em contribuir para um pensar mais sensibilizado às questões ambientais, mesmo para quem pensa incorretamente. Pois já dizia (FREIRE, 1996.p. 30) “só na verdade, quem pensa certo, mesmo que, às vezes pense errado, é quem pode ensinar a pensar certo”.
Deste modo, salienta-se a grandiosidade de poder que se têm em mãos, sendo possível através da cartografia ampliar os horizontes ambientais, contribuindo para a sua preservação. Assim espera-se, pois o futuro depende de uma participação ativa, presente, consciente e responsável por parte dos educadores.
CONCLUSÃO
Diante da pesquisa realizada, pode-se afirmar que a cartografia pode e deve ser utilizada em muitas pesquisas, bem como nas análises ambientais, fato este que enriquece e amplia o conhecimento de áreas específicas, sejam elas para fins diversos, com objetivos múltiplos, como exemplo a contenção de uma área em deterioração ou prevenção de um desequilíbrio ecológico.
Portanto, pesquisar, analisar, vivenciar as situações e tentar resolvê-las requer ferramentas que facilitem o trabalho e uma delas é a cartografia.
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