Autoria: Enemecio Antonio
ASPECTOS DA ENGENHARIA CLÍNICA APLICADA À HOSPITALIDADE: ESTUDO DE CASO DO HOSPITAL SANTA CRUZ
RESUMO
Considerando que os estabelecimentos hospitalares estão aplicando conceitos de hotelaria no atendimento aos seus usuários, estudou-se a contribuição da Engenharia Clínica (EC) do Hospital Santa Cruz (HSC) na melhoria dos serviços prestados aos seus pacientes. A conclusão desta pesquisa é que está amplamente caracterizada a contribuição da EC na prestação de serviços de qualidade aos pacientes, através do trinômio Qualidade na Infra-Estrutura Física (“Total Productive Maintenance”), Qualidade no Produto e no Processo (“Total Quality Control”) e Qualidade Total (“Total Quality Maintenance”) evidenciando os aspectos da hotelaria hospitalar e da hospitalidade no atendimento aos usuários do HSC.
The contribution of Clinic Engineering (EC) of Hospital Santa Cruz (HSC) to the improvement of services provided to its patients was studied, since hospital establishments are applying hotel administration concepts in their users services. The conclusion of this research is that EC widely contributed to quality services provided to patients through the trinomial: Total Productive Maintenance, Total Quality Control and Total Quality Maintenance, highlighting the aspects of hospital hotel administration and hospitality upon assisting HSC users.
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho objetiva avaliar o Hospital Santa Cruz (HSC), antes e depois da implementação da Engenharia Clínica (EC), e a contribuição desta à Política da Qualidade adotada no atendimento aos pacientes.
Nos hospitais, além da manutenção da infra-estrutura predial, que trata de reparos e reformas de obra civil, da rede elétrica, da rede hidráulica, da rede de esgotos, da rede de gases, de caldeiras, de geradores a diesel, de ar condicionado, de elevadores, há a manutenção de equipamentos médico-hospitalares. Face à intensa aplicação tecnológica no desenvolvimento dos equipamentos médico-hospitalares é observada uma crescente atuação de engenheiros e técnicos especializados na manutenção desses aparelhos. Os hospitais mantêm, atualmente, uma divisão de trabalho de manutenção destacando da infra-estrutura predial o parque de equipamentos médico-hospitalares. Assim, a Engenharia Hospitalar (EH) abrange a manutenção da infra-estrutura predial sob a denominação de Manutenção Geral (MG) e a manutenção de equipamentos médico-hospitalares sob a designação de Engenharia Clínica (EC).
Os hospitais apresentam características bastante similares aos hotéis no tocante ao atendimento de seus clientes: o paciente, após o atendimento na Recepção Central, quando procede ao registro de sua internação , é acomodado em apartamentos ou enfermarias onde recebe e toma suas refeições, preparadas pela cozinha do Serviço de Nutrição e Dietética (SND). Há, desta maneira, uma prestação de serviços de hotelaria aos pacientes internados nos hospitais.
Nos casos de cirurgias eletivas, estas são agendadas, previamente, pelo médico cirurgião, ocasião em que solicita ao hospital os materiais cirúrgicos, medicamentos e próteses (tipo, tamanho, fabricante), quando for o caso, procedimento análogo às reservas em hotéis.
A prestação de serviços de hotelaria pressupõe a existência de Sistema da Qualidade onde a cortesia e a hospitalidade são aspectos inerentes à atividade. Neste sentido, a Engenharia Clínica cujo estudo pode contribuir para o aprimoramento da hospitalidade, tem um papel fundamental na prestação de serviços de qualidade aos pacientes.
Foi pesquisada a bibliografia existente e foram consultados especialistas para a elaboração do arcabouço teórico-conceitual da Engenharia Clínica. Foram levantados a filosofia, o processo e as etapas da implantação da Engenharia Clínica no HSC. Questionários foram submetidos a médicos cirurgiões e enfermeiras que trabalham no HSC desde datas anteriores à implantação da Engenharia Clínica, para a avaliação dos benefícios proporcionados por esta área aos médicos, as enfermeiras e aos pacientes.
2. HISTÓRICO
2.1. Antecedentes
A Sociedade Brasileira e Japonesa de Beneficência Santa Cruz, mantenedora do Hospital Santa Cruz, é sucessora da Sociedade Japonesa de Beneficência no Brasil Dojin-Kai (Zai Brasil Nipponjin Dojin-Kai) constituída em 09.10.1926, sob a forma de sociedade civil, sem fins lucrativos, com o objetivo de promoção dos meios de tratamento médico e higiênico dos japoneses residentes no Brasil. Na década de vinte os agricultores paulistas eram acometidos de moléstias como a malária, tracoma, verminoses e outras transmissíveis. Os imigrantes japoneses que foram instalados no interior do Estado de São Paulo sofriam desses males.
Segundo KOTAKA (1997,p.21):
“O Jornal Nippak, de 26 de agosto de 1927, publicou artigo sob o título As condições de vida dos patrícios nas colônias são iguais às do camponês do Japão há mil anos…, nas palavras do professor Seizo Toda, da Faculdade de Medicina da Universidade de Kyoto, que visitando o Brasil, fez relatos da vida dos imigrantes neste país.”
Prossegue KOTAKA (1997,p.23):
“Os médicos dos imigrantes, trabalhando em atenção primária, em nível ambulatorial, necessitavam de apoio diagnóstico e tratamento médico para os casos mais complexos que demandassem internação hospitalar. Dessa forma, paralelamente às chegadas dos médicos do Rio de Janeiro, na cidade de São Paulo, o consulado geral do Japão no Brasil organizava uma sociedade, objetivando a construção de um hospital e no dia 9 de outubro de 1926 foi constituída, em São Paulo, com a participação de 41 sócios, a Sociedade Japonesa de Beneficência no Brasil – Zai Brasil Nipponjin Dojin-kai. Seu estatuto social foi publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo de 7 de novembro de 1926 e registrado sob o número 1286 no Registro Geral do Cartório da 1ª Circunscrição da Comarca da Capital, em 18 de novembro de 1926.”
A partir da constituição da Sociedade Japonesa de Beneficência no Brasil foram adotadas diversas providências, cronologicamente relatadas a seguir:
29 abril 1939 Data do aniversário do Imperador do Japão, inaugurado o Hospital Santa Cruz tendo como Superintendente o Prof. Benedito Montenegro, médico e docente da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e como vice o médico cirurgião Takejiro Kamada, vindo do Japão. Segundo a Comissão de Elaboração da História dos 80 anos de Imigração Japonesa no Brasil (1992), o Hospital Santa Cruz (HSC) foi inaugurado em 29 de abril de 1939 com 9.691,00 m2 de construção, com 6 pavimentos e com 2.316,00 m2 de área de ocupação do terreno. A capacidade do hospital era de 200 leitos (apud: KOTAKA, 1997, p.26 e 27)
16 fevereiro 1973 Declarada a Sociedade de Beneficência Santa Cruz (SBSC) entidade de Utilidade Pública Federal pelo Decreto nº 71846.
06 setembro 1973 Concedido o Certificado de Entidade de Fins Filantrópicos através do Processo nº 222.807/73 à SBSC.
Antes, a SBSC dispensava assistência ao japonês carente. Hoje, ela dispensa essa mesma assistência, mas a toda e qualquer pessoa necessitada, sem indagar-lhe a nacionalidade.
28 abril 1999 HSC recebeu o Selo de Conformidade instituído pelo Programa de Controle da Qualidade Hospitalar (CQH) da Associação Paulista de Medicina (APM) e do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CRM-SP).
Iniciada a implantação da Engenharia Clínica.
2.2. Estrutura de Serviços do HSC em 2002
Localização: O Hospital Santa Cruz (HSC) localiza-se à Rua Santa Cruz, 398, Vila Mariana, São Paulo a 3 (três) quadras da Estação Metro Santa Cruz.
Capacidade Instalada
Capacidade de Atendimento (mensal)
Leitos para internação 124
Pronto Atendimento 6.000
Leitos de UTI Geral 12
Ambulatório 9.000
Leitos de UTI Coronariana 13
Internações 1.000
Leitos de TMO 02
Cirurgias 1.100
TOTAL DE LEITOS 151
Equipe de Profissionais
funcionários 824
Médicos credenciados 1.883
Fonte: Sociedade Brasileira de Beneficência Santa Cruz, 2002, ps.1, 2 e 4.
2.3. O Sistema da Qualidade no Hospital Santa Cruz
A melhoria da qualidade da prestação de serviços no Hospital Santa Cruz (HSC) foi o resultado da implementação de um enfoque moderno para a Gestão da Qualidade, iniciada em outubro de 1994, com a contratação de um consultor da qualidade, com larga experiência no assunto. Toda a estrutura do Hospital Santa Cruz, envolvendo os funcionários administrativos e operacionais, o corpo clínico, a administração e o pessoal dos serviços terceirizados, SADT (Serviços Auxiliares de Diagnóstico e Terapêutica) foi submetida a um processo de mudança cultural, embasado nas diretrizes das normas ISO 9000 e 14000 ao longo de quatro anos, durante os quais aderiu ao Programa CQH (Programa de Controle de Qualidade Hospitalar) do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo e da Associação Paulista de Medicina com o objetivo de Acreditação por esta entidade.
Segundo PAIVA (1999, p.3):
“Conceitua-se Acreditação Hospitalar como sendo um sistema de avaliação periódica voluntária da instituição, para o reconhecimento da existência de padrões de Qualidade nos âmbitos Estrutura, Processo e Resultados, visando o estímulo ao desenvolvimento de uma cultura para a melhoria contínua da qualidade da assistência médico-hospitalar. Após o Hospital Santa Cruz ter passado pela auditoria inicial do Programa CQH para fins de sua acreditação com resultados satisfatórios, a instituição recebeu o Selo CQH de conformidade com as normas do Programa em 28 de abril de 1999. Para a continuidade de reconhecimento a esta conformidade, o HSC deverá ser submetido a auditorias adicionais, em datas desconhecidas, as quais ocorrerão após decorrer lapso de tempo compatível com a complexidade do atendimento aos requisitos da qualidade que se mostraram não conformes na auditoria inicial.”
Decorridos dois anos da auditoria inicial do Programa CQH e após cumprir todos os requisitos de qualidade que foram considerados não conformes naquela auditoria, entre os quais a implantação da Engenharia Clínica foi de vital importância, o HSC recebeu, em 2001, nova auditoria que considerou os resultados satisfatórios, sendo revalidado o Selo CQH de conformidade com as normas do Programa, em 11 de setembro de 2001.
Em convênio com a JICA-Japan International Cooperation Agency, órgão de cooperação e desenvolvimento do Ministério de Relações Exteriores do Japão, a Sociedade Brasileira e Japonesa de Beneficência Santa Cruz, mantenedora do Hospital Santa Cruz, envia ao Japão anualmente, 2 a 4 profissionais (médicos, enfermeiros, técnicos e funcionários administrativos) para estágios, cursos de graduação, cursos de pós-graduação e cursos de aperfeiçoamento, cumprindo desta forma o treinamento para acesso a novas tecnologias e como um dos programas de educação continuada.
Visando à formação e aperfeiçoamento dos recursos humanos o Hospital Santa Cruz patrocina bolsas de estudos custeando até 40% (quarenta por centro) das mensalidades dos funcionários que freqüentam curso superior afim com a atividade profissional exercida, ou cursos de pós-graduação e de aperfeiçoamento.
No período de 1999/2001 foram treinados, no Japão, 9 médicos, 6 enfermeiras, 1 engenheiro, 1 analista de Informática. Em 2002, foram enviados ao Japão 2 enfermeiras, 1 tecnóloga em Saúde e 1 economista. A tecnóloga em Saúde foi enviada à “Tókio Medical and Dentist University” para um curso de duração anual para absorção de tecnologia na área de saúde.
2.4. Histórico da Engenharia Clínica no HSC
A Gerência de Serviços, responsável pela manutenção geral do hospital, compreendia os setores de Mecânica, Hidráulica, Elétrica, Marcenaria e Eletrônica. Este último setor respondia pela manutenção dos equipamentos médico-hospitalares, mas, realizava apenas pequenos consertos encaminhando a maioria dos equipamentos que necessitava de manutenção às empresas prestadoras de serviço.
Em abril de 1999, o Programa da Qualidade destacou o setor de eletrônica da Gerência de Serviços agregando-a à Gerência de Engenharia Clínica, que começou com apenas dois funcionários. A Gerência de Engenharia Clínica passou a consolidar-se, a partir de então, com a abertura de Estágio Curricular Obrigatório para Tecnólogos em Saúde.
Atualmente a Gerência de Engenharia Clínica é composta de um engenheiro, um técnico em eletrônica, dois tecnólogos em saúde e mais dois estagiários. Com esta estrutura foi iniciado o desenvolvimento de gerenciamento dos equipamentos médicos, elaboração de normas e procedimentos, manutenção, rotinas de aferição, desenvolvimento de diversos projetos, auxílio na especificação e aquisição dos equipamentos médicos e treinamento de seus usuários.
3. ARCABOUÇO TEÓRICO-CONCEITUAL DA ENGENHARIA CLÍNICA
3.1. Conceito e Funções da Engenharia Clínica
A conceituação teórica e as funções da Engenharia Clínica foram pesquisadas junto aos engenheiros atuantes na atividade: um deles na Universidade Federal de Santa Catarina e outro na UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas) e também junto ao Programa de Engenharia Biomédica da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
A engenharia clínica derivou da Engenharia Biomédica que deu origem, também, à engenharia médica. Conceituação objetiva dessas atividades é encontrada no Programa de Engenharia Biomédica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, s/d):
“Classicamente, a Engenharia Biomédica é vista como a aplicação dos métodos de distintas áreas das Ciências Exatas e de Engenharia no campo das Ciências Médicas e Biológicas. Esse ramo de atividade teve seu início logo após a Segunda Guerra Mundial, voltando-se primeiramente, para o estudo de sistemas biológicos complexos (Bioengenharia). A evolução crescente da tecnologia nas últimas décadas levou a Engenharia Biomédica a atuar também no desenvolvimento de instrumentos para uso médico (Engenharia Médica) e na sua utilização adequada em ambiente médico-hospitalar (Engenharia Clínica).”
Ainda, conforme BOSTRON (1993) e BRONZINO (1992) APUD: BESKOW (2001, p.8):
“A engenharia clínica é normalmente referida como uma especialização da engenharia biomédica, cujas atividades de pesquisa se iniciaram a partir de trabalhos clínicos orientados e conduzidos em hospitais, com forte componente tecnológica.”
Prosseguindo, BESKOW (2001, p. 20) afirma:
“Nos Estados Unidos, onde existe um grande número de leis, de regras e de normas técnicas referentes à segurança, os administradores hospitalares foram forçados a iniciar programas de desenvolvimento de serviços de engenharia clínica vinculado aos hospitais. Segundo Dalziel (apud FRIZE, 1989), os engenheiros clínicos dedicaram-se fundamentalmente à segurança do paciente na década de 1960 e no início da década de 1970, período em que surgiram os primeiros departamentos de Engenharia Clínica.”
A Engenharia Clínica é o ramo da engenharia que se dedica ao gerenciamento de equipamentos médicos, instrumentos e sistemas garantindo a segurança e a qualidade dos serviços médico-hospitalares prestados ao paciente.
As principais atividades da Engenharia Clínica são: Gerenciamento de Riscos: planeja e executa Programa de Segurança Geral; Avaliação Tecnológica: realiza avaliação da qualidade do serviço oferecido; Gerenciamento de Tecnologias: avalia rendimentos dos serviços; avalia e testa equipamentos; estuda a viabilidade de instalação de equipamentos; Educação e Treinamento: treina o pessoal da área de saúde quanto à segurança geral, à operação de equipamentos, à manutenção preventiva de rotina; Aquisição de Equipamentos: efetua levantamento das exigências técnicas e clínicas; especificação dos equipamentos; ligação entre o pessoal de vendas e o grupo de saúde; Manutenção e Gerenciamento: manutenção corretiva, preventiva, periódica e de rotina; procedimentos; levantamento de custos.
3.2. Controles periódicos em relação à equipe de Engenharia Clínica e à qualidade dos serviços por ela oferecida
O que se busca com os controles periódicos é a monitoração da produtividade do pessoal técnico e dos custos envolvidos na manutenção da equipe e dos materiais utilizados e consumidos por ela bem como a qualidade dos serviços prestados pela equipe.
Para tanto, os técnicos são avaliados a partir de dados constantes na Ordem de Serviço e do formulário Ficha Mensal de Controle do EAS (Estabelecimento de Assistência à Saúde), para o controle mensal de: a) tempo gasto para atividades de MC (Manutenção Corretiva) e MP (Manutenção Preventiva) e outras; b) produtividade de cada técnico; c) gasto total do departamento de manutenção; d) total de horas que o departamento trabalhou; e) valor da hora técnica (geral ou por grupo de equipamentos); f) produtividade média (geral ou por grupo); g) custo total do material gasto para os serviços executados; h) valor do estoque que o departamento manteve no mês; i) tempo médio de resposta para o atendimento das solicitações; j) tempo médio para o reparo dos equipamentos; k) número de rechamadas.
Os itens acima são conceituados por CALIL e TEIXEIRA (1998, p. 47 e 48), como segue:
“A produtividade de cada técnico é medida através da divisão entre o tempo total registrado nas O.S. e tempo pago ao funcionário.
O tempo total é resultante da soma dos tempos registrados em todas as ordens de serviço em que houve a participação do funcionário durante o período de um mês, independentemente do serviço executado.
O cálculo do gasto total do departamento inclui todos os gastos envolvidos para a manutenção da equipe (fixos e variáveis) durante o mês em questão.
O total das horas trabalhadas é obtido através da soma de cada tempo total registrado na tabela para cada técnico. Essa informação é útil para o estabelecimento de metas para os próximos períodos, verificação da produtividade média do departamento e comparação com os tempos registrados em períodos anteriores.
O Valor da Hora Técnica (VHT) é obtido pela divisão entre o gasto total do departamento e o total de horas trabalhadas. Essa informação serve para verificar como o departamento está se comportando em relação ao VHT cobrado pelas empresas prestadoras de serviço, assim como comparação com o VHT de outros grupos de manutenção que fazem um controle semelhante ao proposto aqui.”
4. A IMPLANTAÇÃO DA ENGENHARIA CLÍNICA NO HSC
4.1. Objetivos
A manutenção dos equipamentos médico-hospitalares no HSC estava confiada a um técnico em eletrônica que efetuava os reparos à medida que os equipamentos apresentavam falhas, quebras ou defeitos. Quando o problema apresentado pelo equipamento estava fora de seu alcance, o técnico o enviava para o fornecedor providenciar o reparo. Nesta hipótese não havia previsão de retorno do equipamento, em condições adequadas para o seu uso, causando muito estresse aos médicos e enfermeiras.
O Comitê do Programa da Qualidade, implementado no HSC em 1994, detectando os problemas gerados pela precariedade da manutenção dos equipamentos hospitalares na prestação de serviços aos pacientes, propôs, e a administração aprovou, a implantação da Engenharia Clínica com a contratação de um engenheiro.
Segundo o Profº TACHIBANA (2002):
“A Engenharia Clínica iniciou suas atividades em 1999, contando com um engenheiro e um técnico em eletrônica, objetivando: a) estruturar, organizar e implementar um serviço de manutenção dos equipamentos hospitalares; b) cadastrar os equipamentos identificando a que setores pertencem; c) elaborar normas, padrões técnicos e rotinas de manutenção; d)organizar arquivo técnico (manuais técnicos, instruções, normas); e) formação e qualificação de recursos humanos; f) gerenciamento da manutenção dos equipamentos; g) desenvolvimento de fornecedores e de prestadores de serviços de assistência técnica; h) estudo para reposição e substituição de equipamentos; i) assessoramento na aquisição de novos equipamentos/tecnologia.”
4.2. Centro Cirúrgico
O setor mais crítico do HSC no tocante à manutenção de equipamentos médico-hospitalares era o Centro Cirúrgico (CC). Assim, com a finalidade específica de atender às necessidades do CC, foi contratado um técnico em eletrônica, que foi lotado em um espaço interno do próprio Centro Cirúrgico com as atribuições de:
Proceder a verificações diárias, antes de cada cirurgia, preventivas e corretivas, quando necessárias, dos seguintes itens: iluminação geral; focos cirúrgicos (iluminação, articulações e seu funcionamento dentro dos Planos de Inspeção Periódica – PIP), fixos e móveis; negatoscópios; tomadas, plugs e suas extensões; ar condicionado; sistema de anestesia (ciclagem, sendo O2, relação N2O e O2, alarmes, pressões de entrada); monitores Verídia HP (módulos, cabos transdutores/sensores, programas); aspiradores, linhas de gases; vídeos; mesas cirúrgicas (com PIP); outros equipamentos específicos para cirurgia.
Proceder às verificações dos funcionamentos dos microscópios cirúrgicos, suas calibrações, com preventivas e corretivas (lâmpadas e ajustes mecânicos), sistema de imagem (Câmera, vídeo e TV), com rotinas elaboradas para tal fim.
Proceder às manutenções corretivas de diversos equipamentos que não necessitam de intervenções maiores com posteriores ajustes.
Desenvolver programa de gerenciamento do inventário e manutenção dos equipamentos (histórico, registro das intervenções, controle de saída/entrada dos equipamentos para manutenção externa).
Contatar fornecedores e empresas de manutenção de equipamentos para preparo de especificações técnicas e pedidos.
Proceder à manutenção de almoxarifado de peças de reposição de emergência dos equipamentos do Centro Cirúrgico (lâmpadas, fusíveis e outros componentes considerados de consumo).
Prestar suporte/auxílio/assistência para manipulação dos equipamentos do CC, quando houver dúvida por parte dos médicos, enfermeiras, auxiliares e outros profissionais atuantes no CC, o que aumenta a qualidade dos serviços médicos, reduzindo custos.
Proceder ao treinamento para manuseio dos equipamentos do CC, quando necessário, com auxílio externo dos fornecedores.
Proceder à avaliação técnica e testes de equipamentos para a sua seleção, que deverão ser embasados na experiência acumulada.
Acompanhar os trabalhos da CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes.
Analisar e gerenciar os contratos de manutenção (custos/benefícios, calibração/aferições).
– Absorver as novas tecnologias de utilização dos equipamentos, avançadas e modernas, que propiciem diagnósticos e tratamentos mais rápidos e seguros.
4.3. Cadastramento e Controle de Equipamentos
Inicialmente, procedeu-se ao levantamento das bombas de infusão, utilizadas no HSC, para aprender o método de inventário. Posteriormente, foi realizado o inventário de todos os equipamentos do Centro Cirúrgico. Para tanto, foram identificados o número de série, o número do patrimônio (quando encontrado), o nome do fabricante, o nome da firma de assistência técnica e o tipo do aparelho.
4.4. Desenvolvimento do Sistema de Gerenciamento
Foram definidos os formulários que o sistema disponibilizará e os respectivos dados. Assim, o formulário Equipamento fornecerá os dados técnicos dos equipamentos médicos do HSC e permitirá uma manutenção e rápido acesso a informações como setor, número de série e patrimônio, modelo e código do equipamento.
4.5. Pesquisa e Desenvolvimento de Equipamentos
A Engenharia Clínica do HSC centralizou as atividades envolvidas na manutenção de equipamentos por empresas externas, anteriormente executadas por diversos setores, tais como: controle de pedidos de orçamentos; comunicação entre prestadores de serviço e a instituição; análise e aprovação das propostas / orçamentos; controle das saídas e entradas de equipamentos, organizando e racionalizando os serviços de manutenção de equipamentos médico-hospitalares.
A constatação de situações cotidianas, vivenciadas pelo corpo de enfermagem na assistência aos pacientes, tem propiciado à equipe de Engenharia Clínica a análise, a pesquisa e o desenvolvimento de mecanismos facilitadores das tarefas da enfermagem. Assim, o controle do metabolismo dos pacientes de UTI , impossibilitados de fazerem grandes movimentos, que requer constantes pesagens, exigia muito esforço e cuidado da enfermagem. A Engenharia Clínica desenvolveu um sistema de célula de carga em uma maca transfer que possibilita a pesagem do paciente na posição sentada, proporcionando-lhe mínimo desconforto possível e uma grande facilidade à enfermagem.
Esse equipamento de pesagem é aplicado, também, em pacientes com edema ou inchaço nos quais, de acordo com a medicação administrada, é necessário o acompanhamento do aumento ou diminuição de peso devido à retenção de líquido (paciente com problemas renais, hipertensos).
Outra constatação que levou a Engenharia Clínica a desenvolver um dispositivo de apoio à enfermagem é a ocorrência de acidentes decorrente de quedas de pacientes ao tentarem descer da cama sozinhos. A solução encontrada foi o desenvolvimento de um sistema com sensores de barreira adaptados ao leito, que avisa a enfermagem, através de alarmes e de sinalização dos apartamentos, quando o paciente tenta descer.
A mais importante contribuição da Engenharia Clínica do HSC é, sem dúvida, o Equipamento de Lavagem do Circuito Fechado do Cateter Balão de Rápida Troca (bRT), resultado de uma pesquisa levada a efeito pela farmacêutica do HSC, Crystina Etsuko Takeuti, sob estímulo e apoio do saudoso Prof. Dr. Siguemituso Arie, titular do Serviço de Hemodinâmica do HSC, em conjunto e sob orientação do Prof. Dr. Toshi-ichi Tachibana, engenheiro clínico do HSC e da Profª Dra. Thereza Christina Vessoni Penna da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, orientadora da pesquisa, cujo registro da patente foi requerido ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI.
5. A ENGENHARIA CLÍNICA E A HOSPITALIDADE
5.1. Qualidade dos Serviços Prestados
Hospitalidade, segundo o Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, significa:
Ato de hospedar. 2. Qualidade de hospitaleiro. 3. por extensão, Acolhimento afetuoso.
Hospitalidade, em hotelaria, significa atender bem ao hóspede, prestando-lhe serviços com qualidade, ampliando, portanto, o significado de acolhimento afetuoso.
A boa prestação de serviços é o produto final de um Sistema da Qualidade centrado no cliente/paciente. Cabe destacar aqui a conceituação de MEZOMO (1995, p. 66) sobre a medida da qualidade:
“Por qualidade entende-se, aqui, o grau de adequação dos serviços prestados (testes diagnósticos e tratamentos baseados no conhecimento atualizado com relação à eficácia e ao custo – efetividade) às reais necessidades do paciente (serviços efetivos, acessíveis e a custo compatível). A medida da qualidade supõe, por outro lado, um sistema composto ou integrado por processos (definição da amostra, coleta de dados, análise e distribuição de relatório aos usuários, acompanhada de informações) que possibilitem um entendimento comum da medida da qualidade. Conseqüentemente, um sistema de medida da qualidade centrado no paciente é um método planejado para a coleta de informações relativa (ao grau de qualidade dos cuidados de saúde do ponto de vista do paciente e para sua disseminação junto a grupos educados (informados de usuários).”
5.2. A humanização do hospital
A humanização do hospital é conceituado por MEZOMO (1995, p. 276), como segue:
“A humanização no hospital significa tudo quanto seja necessário para tornar a instituição adequada à pessoa humana e à salvaguarda de seus direitos fundamentais. Hospital humanizado, portanto, é aquele em que sua estrutura física, tecnológica, humana e administrativa valoriza e respeita a pessoa, colocando-se a serviço da mesma, garantindo-lhe um atendimento de elevada qualidade.”
“A humanização, de fato, não é apenas um conceito. É uma filosofia de ação solidária. É uma presença!É a mão estendida! É o silêncio que comunica! É a lágrima enxugada! É a confiança restabelecida! É a informação que esclarece! É o conforto na despedida!”.
A atenção, o interesse e o carinho manifestados pelos médicos, enfermeiras e funcionários (nutricionistas, auxiliares de higienização, telefonistas, vigilantes, recepcionistas, caixas, faturistas, etc) constituem o lado humano, nem sempre perceptível no hospital, mas de muita significação para o paciente e seus familiares. O atendimento que valoriza os fatores acima faz a diferença que sensibiliza e torna menos penosa a estada do paciente no hospital. Neste aspecto, o Hospital Santa Cruz mantém sua equipe permanentemente treinada para atender seus usuários com o máximo de calor humano. Dispõe de Serviço Social, composto de duas assistentes sociais, uma psicóloga, quatro estagiárias de assistência social, quatro orientadoras hospitalares e um corpo de voluntariado com 60 voluntárias, todas dedicadas a atender e assistir os pacientes, internados no hospital, seus familiares e acompanhantes.
Cabe esclarecer a função das orientadoras hospitalares, que são bilíngües (português e japonês), cujas atividades consistem em: recepcionar o paciente quando de sua internação, acompanhando-o até o apartamento, orientando-o e aos acompanhantes quanto às regras, aos horários das refeições, à utilização do telefone e da televisão a cabo, à chamada da enfermagem, à solicitação de alimentação ao Serviço de Nutrição e Dietética.
Além disso, a orientadora hospitalar anota as dúvidas e os questionamentos que necessitam de providências, encaminhando-os às chefias dos setores responsáveis (nutrição, manutenção, lavanderia, enfermagem, etc.). Por ocasião da alta, a orientadora hospitalar dirige-se ao apartamento, esclarece os procedimentos a serem adotados e acompanha o paciente até a saída do hospital. Se necessário, requisita táxi. Em caso de óbito, a orientadora hospitalar fornece aos familiares a orientação necessária quanto aos trâmites burocrático legais para providenciar o sepultamento.
5.3. Avaliação da Engenharia Clínica
Foi realizada, durante o mês de abril de 2002, uma pesquisa com o objetivo de avaliar a importância e a contribuição da Engenharia Clínica no atendimento aos pacientes do HSC, através de questionários submetidos a 5 enfermeiras e 4 médicos cirurgiões, que trabalham neste hospital desde a época em que este setor inexistia.
5.3.1. Avaliação pela Enfermagem
As enfermeiras que responderam aos questionários foram a Enfermeira 1 – Supervisora do Centro Cirúrgico, a Enfermeira 2 – Gerente de Enfermagem, a Enfermeira 3 – Supervisora da UTI, a Enfermeira 4 – Supervisora do Pronto Atendimento e a Enfermeira 5 – Enfermeira da Hemodinâmica, que trabalham no HSC entre 6 (seis) e 9 (nove) anos.
À questão existência de equipe de manutenção de equipamentos hospitalares quando a enfermeira começou a trabalhar no HSC, duas responderam SIM e três NÃO. Na realidade, um funcionário do Setor de Manutenção se incumbia de enviar os equipamentos com falhas, quebras ou defeitos para empresas prestadoras de serviços ou para os fabricantes.
Tabela E – 1: Resolução de problemas de defeito durante procedimento cirúrgico
Enfermeira
Formas de Resolução
1
“Enfermeira acionava o setor de manutenção que providenciava a solução do problema”
2
“Os equipamentos eram substituídos, quando havia.”
3
Não respondeu
4
“Os equipamentos eram encaminhados, mas demoravam para voltar, pois a maioria era enviada para firmas.”
5
“Chamava o funcionário da manutenção que encaminhava o aparelho para revisão na autorizada.”
Tabela E-2: Danos Causados aos pacientes por falta de energia elétrica durante as cirurgias na época em que o HSC não dispunha de gerador
Enfermeira
Resposta
1
“Não tive nenhuma experiência desta natureza.”
2
“Não me lembro de nenhum fato desta natureza durante as cirurgias. Porém, tivemos problemas para transportar pacientes de andares para a UTI, pela escada, em lençóis.”
3
“Grandes transtornos, pois os elevadores ficavam inoperantes. Na UTI, o Sistema de Vácuo (aspiração não funcionava). Gerava gasto excessivo de O2, pois, utilizávamos Válvula de Venturi para aspiração, que é conectado na saída de Oxigênio.”
4
“Não trabalho no CC”
5
Não respondeu.
Tabela E-3: Mudanças nas condições de manutenção dos equipamentos hospitalares
Enfermeira
Resposta
1
“A partir de 1999, quando foi criada a Engenharia Clínica e admitido um técnico em eletrônica no CC.”
2
“A partir da contratação de um técnico atuante em conjunto com o engenheiro e os estagiários, a mudança foi muito significante.”
3
“A partir da contratação do engenheiro clínico, técnico em eletrônica e estagiários.”
4
“Com a entrada da Engenharia Clínica”
5
“Na Hemodinâmica sempre houve manutenção periódica.”
Tabela E – 4 Mudanças ocorridas
Enfermeira
Resposta
1
“Criação de algumas rotinas para início de cirurgias, manutenção preventiva intensificada, orientação para manuseio dos equipamentos.”
2
“Manutenção preventiva, cadastro dos equipamentos, treinamento dos usuários, agilização das manutenções corretivas e desenvolvimento de alguns equipamentos que facilitam o dia a dia.”
3
“Recuperação de muitos materiais e equipamentos, anteriormente considerados sem conserto por empresas externas.”
4
“Consertos dos equipamentos atendidos prontamente. Quando o conserto imediato não é possível, a Engenharia Clínica substitui por outro equipamento.”
5
“Desenvolvimento de duas máquinas: uma para lavagem e outra para secagem de catéteres hemodinâmicos.”
Tabela E-5: Fatores associados à mudança
Enfermeira
Resposta
1
“Estas mudanças estão associadas à qualidade e segurança na prestação de serviços e cuidados.”
2
“Pessoal capacitado, interessado no desenvolvimento e melhoria do serviço.”
3
“Qualidade dos serviços. A enfermagem presta cuidados ao paciente e, portanto, os equipamentos devem estar funcionando de acordo com suas especificações.”
4
“Ao profissionalismo do pessoal da Engenharia Clínica.”
5
“Na agilidade da lavagem e preparo do material para re-esterilização.”
Tabela
E-6: Benefícios proporcionados aos pacientes pela implantação da Engenharia Clínica no HSC.
Enfermeira
Resposta
1
“Segurança, confiabilidade, qualidade no atendimento.”
2
“Segurança, confiabilidade, controle e utilização adequada dos equipamentos.”
3
“Acredito que foi uma das melhores implantações ocorridas no HSC, como seria em qualquer hospital. Enfermagem sente-se aliviada em não ter que ficar controlando e fazendo diagnóstico do equipamento.”
4
“Não ter que esperar pelo empréstimo de equipamento de outros setores do hospital.”
5
“Reforma dos elevadores.”
5.3.2. Avaliação pelos Médicos
Quatro médicos cirurgiões contribuíram com esta pesquisa e responderam os questionários: dois cirurgiões ortopedistas (médicos 1 e 2) e dois neuro-cirurgiões (médicos 3 e 4), que trabalham no HSC entre 8 (oito) e 18 (dezoito) anos.
A questão existência de equipe de manutenção de equipamentos hospitalares quando o Doutor começou a operar no HSC, 1 (um) respondeu SIM e 3 (três) responderam NÃO.
Tabela M – 1: Resolução de problemas de defeito, quebra dos equipamentos durante o procedimento cirúrgico.
Médico
Formas de Resolução
1
“A grande maioria era encaminhada para manutenção externa.”
2
“Chamava-se a enfermeira e ela resolvia o problema.”
3
“O auxiliar de enfermagem é que improvisava e fazia os pequenos reparos simples.”
4
“Reparos simples eram realizados por nós mesmos ou pela enfermagem. Porém, quando não era possível a correção, a cirurgia era suspensa ou readaptada de acordo com a disponibilidade do momento.”
Tabela M – 2: Danos causados aos pacientes por falta de energia durante as cirurgias na época que o HSC não dispunha de gerador.
Médico
Resposta
1
“O aumento do tempo cirúrgico. Nos casos onde alguns focos eram acionados através de bateria, a visão do cirurgião ficava mais restrita em função da baixa luminosidade.”
2
“Graças a Deus sempre consegui terminar as cirurgias.”
3
“Cirurgias de alta complexidade não eram realizadas. Os médicos jamais submetiam procedimentos complexos e cirurgias de longa duração. O único contra-tempo foi que procedimentos simples demoravam e tempo maior era necessário para cirurgias simples.”
4
“Graças a Deus não tive nenhum dano significativo para o paciente. Apenas implicou em demora do tempo cirúrgico e “stress” da equipe cirúrgica.”
Tabela M – 3: Mudanças nas condições de manutenção dos equipamentos hospitalares.
Médico
Resposta
1
“A partir do momento que se formou uma equipe de manutenção mais sólida e com a participação do engenheiro.”
2
“Há alguns anos.”
3
“Na medida em que o hospital adquiriu novos equipamentos modernizando-se e nos contratos de compra tomou-se o cuidado de negociar a sua manutenção.”
4
“Não recordo exatamente a data, mas a partir da vinda da equipe de Engenharia Clínica.”
Tabela M – 4: Mudanças ocorridas
Médico
Resposta
1
“Rapidez e agilidade na reposição e manutenção dos equipamentos.”
2
“Melhor manutenção. Conserto mais rápido dos aparelhos quebrados.”
3
Não respondeu
4
“Ter à disposição uma pessoa qualificada para resolver problemas de ordem técnica e de engenharia dentro do Centro Cirúrgico.”
Tabela M – 5: Fatores associados às mudanças
Médico
Resposta
1
“À qualidade da prestação de serviços
2
À criação de um comitê de engenharia hospitalar ou Engenharia Clínica.”
3
“Primeiro à política e à meta de modernizar o hospital que dispunha de aparelhos obsoletos e ultrapassados. Apesar dos poucos recursos de que se dispunha para investimentos, foram feitos esforços extraordinários para colocar o hospital na situação de hoje num patamar para concorrer com os hospitais de São Paulo.”
4
“Preocupação da administração do hospital visando qualidade e segurança para os pacientes.”
Tabela M – 6: Benefícios proporcionados aos pacientes pela implantação da Engenharia Clínica no HSC
Médico
Resposta
1
“Melhora na qualidade dos serviços prestados no que se refere às cirurgias.”
2
“Trouxe a tranqüilidade e a confiança num bom resultado do tratamento médico.”
3
Não respondeu.
4
“Rapidez no procedimento e segurança para o paciente.”
5.4. Contribuição da Engenharia Clínica
A prestação de serviços de qualidade é possível através de recursos materiais (estrutura física, equipamentos, instalações) e recursos humanos (atendimento, serviço) aliados aos recursos tecnológicos.
A Engenharia Clínica contribui para boa prestação de serviços médico-hospitalares aos pacientes através da disponibilização e da confiabilidade dos equipamentos hospitalares para suas funções específicas, qualificando, assim, a hospitalidade da instituição de saúde.
A atividade da Engenharia Clínica associa, tanto os recursos materiais quanto os recursos tecnológicos e humanos, na medida em que provê o estabelecimento de assistência à saúde de equipamentos prontos em que pesquisa, avalia e incorpora novas tecnologias e prepara os recursos humanos (corpo clínico, corpo de enfermagem e equipe de técnicos e funcionários) através de treinamento e desenvolvimento no tocante ao correto e adequado manuseio dos aparelhos médico – hospitalares.
Na medida em que minimiza as dificuldades e torna mais confortável a estada do paciente no hospital, pesquisando e desenvolvendo novos materiais e equipamentos médicos, a Engenharia Clínica desempenha uma função essencial na prestação de serviços com qualidade aos usuários da instituição, contribuindo significativamente para assegurar adequado nível de hospitalidade.
6. CONCLUSÕES
As pesquisas feitas para a realização deste estudo de caso, através de levantamentos bibliográficos, de consultas a especialistas, de participação em simpósio sobre a engenharia clínica e de questionários submetidos a médicos e a enfermeiras do HSC forneceram informações suficientes que permitem as conclusões que se seguem:
A Engenharia Clínica é um setor especializado da manutenção hospitalar, ainda bastante recente, mas muito importante na estrutura de apoio ao corpo clínico e à equipe de enfermagem no atendimento aos pacientes;
Dada à intensa incorporação de recursos tecnológicos nos equipamentos médico-hospitalares, os hospitais estão investindo em recursos humanos (engenheiros e técnicos especializados) e, através destes profissionais treinando e desenvolvendo os usuários desses equipamentos;
O desenvolvimento do Sistema da Qualidade possibilitou a constatação da necessidade e a administração do HSC decidiu pela implantação da Engenharia Clínica visando melhor atender aos seus pacientes;
A implantação da Engenharia Clínica do HSC foi realizada por etapas, na seguinte ordem: inventário dos equipamentos médico-hospitalares do Centro Cirúrgico; cadastramento e controle dos equipamentos; desenvolvimento do sistema de gerenciamento da manutenção dos equipamentos; treinamento dos usuários; elaboração das rotinas de manutenção; desenvolvimento de fornecedores; pesquisa e desenvolvimento de equipamentos.
Os resultados da pesquisa, realizada no HSC, através de questionários submetidos aos médicos cirurgiões e às enfermeiras, evidenciam a contribuição da EC na melhoria da qualidade dos serviços prestados aos seus pacientes, como segue:
A instalação de 2 geradores a diesel com 250 kVA cada, conectados à UTI, ao CC, ao CCA, ao PA, aos elevadores, à hemodinâmica e ao Centro de Diagnósticos (Tomografia, Raio X, Ultra-som, Ressonância Magnética) asseguram plenamente as condições para o adequado atendimento pelo HSC aos seus pacientes independentemente da interrupção do fornecimento de energia elétrica, ressaltando os aspectos de hospitalidade disponibilizados aos usuários do hospital;
O desenvolvimento de um Sistema de célula de carga em uma maca transfer, que possibilita a pesagem do paciente na posição sentada, é um importante exemplo de contribuição da EC ao processo de atendimento dos serviços de hotelaria e à hospitalidade dispensados aos pacientes do HSC;
O corpo clínico e a equipe de enfermagem afirmaram que a implantação da Engenharia Clínica no HSC contribuiu para assegurar-lhes a confiabilidade, a segurança e a qualidade nos procedimentos de atendimento aos pacientes, aliviando-os da tarefa e da preocupação de disponibilizarem equipamentos em condições adequadas de utilização;
O corpo clínico e a equipe de enfermagem afirmaram, unanimemente, que a implantação da EC no HSC proporcionou a melhoria da qualidade dos serviços cirúrgicos prestados aos pacientes, pela rapidez e segurança nos procedimentos, assegurando-lhes tranqüilidade e confiança num bom resultado do tratamento médico;
Está amplamente caracterizada a contribuição direta da EC na prestação de serviços de qualidade aos pacientes, através do trinômio Qualidade na Infra-Estrutura Física (“Total Productive Maintenance”), Qualidade no Produto e no Processo (“Total Quality Control”) e Qualidade Total (“Total Quality Maintenance”), evidenciando os aspectos da hotelaria hospitalar e da hospitalidade no atendimento, com calor humano, aos usuários do HSC.
O objetivo geral deste TCC de avaliar o HSC, antes e após a implantação da EC, e a contribuição desta para a hospitalidade e o Sistema da Qualidade, adotados pelo HSC, no atendimento aos seus pacientes, através da melhoria dos serviços de hotelaria hospitalar, foi plenamente alcançado.
7. BIBLIOGRAFIA
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CALIL, Saide Jorge e TEIXEIRA, Marilda Sólon. Gerenciamento de manutenção de equipamentos hospitalares. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, 1998 (Série Saúde & Cidadania).
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira S.A., 1975.
KOTAKA, Filomena. “Estudo dos resultados da reformulação e modernização do Hospital Santa Cruz, segundo as opiniões dos funcionários e usuários, aplicando Avaliação Pós-Ocupação (APO).” Tese de Doutorado, Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. São Paulo: abril, 1997.
MEZOMO, João Catarin. Gestão de qualidade na saúde: princípios básicos. São Paulo: J.C. Mezomo, 1995.
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TAKEUTI, Crystina Etsuko; ARIE, Siguemituzo; FACUNDES, Elvira; KUBOTA JR. Paulo K.; VESSONI PENNA, Thereza Christina; TACHIBANA, Toshi-ichi. “Proposição de uma Metodologia de Remoção de Contraste do Circuito Fechado do Cateter bRT Automatizado”. Laes & Haes. São Paulo, 132: 88-104, Ago/Set., 2001.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (UFRJ). Programa de engenharia biomédica da UFRJ – PEB/COPPE/UFRJ. Rio de Janeiro: s/d (consulta na internet, endereço http://www.peb.ufrj.br/peb-copp.html, em 26/03/2002).