Autor: Profa. Márcia Greguol
O esporte adaptado, aqui definido como o esporte modificado ou criado para pessoas portadoras de deficiências, tem adquirido nos últimos tempo cada vez mais status de rendimento. Mas, afinal, quem são essas pessoas portadoras de deficiências? Uma mulher um pouco mais gorda, um sujeito baixinho, uma pessoa que usa óculos, será que elas se encaixam nesse grupo?
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), pessoas portadoras de deficiências (PPD) são aquelas que, por alguma condição motora, sensorial ou mental, vêem-se limitadas de viver plenamente. Daí pode-se concluir que o indivíduo apresenta, ao nascer ou durante o decorrer de sua vida, algum distúrbio que lhe acarretará uma limitação. Assim, a OMS propõe o seguinte esquema: Doença ou distúrbio ® deficiência ® limitação ® desvantagem . Daí podemos concluir que, para um indivíduo ser considerado portador de deficiência, ele deve apresentar limitações que lhe causem prejuízos à sua vida plena. Dessa forma, quem usa óculos, é gordo ou baixinho, não será considerado portador de deficiência já que, de forma geral, consegue ter uma vida dentro dos padrões de normalidade. Obviamente, devemos lembrar que a “normalidade” é algo que varia muito de sociedade, época e cultura. Assim, o esporte adaptado procura atender portadores de deficiências visuais, auditivas, mentais e motoras, desde que estes sejam realmente limitados de participar de atividades esportivas convencionais.Como foi anteriormente mencionado, o esporte adaptado pode ser criado ou apenas modificado para atender as PPD. Como exemplo de modalidades esportivas modificadas, teríamos o tênis em cadeira de rodas, a natação para cegos, o futebol para surdos, o basquetebol em cadeira de rodas, o atletismo para deficientes mentais. Já como modalidades criadas especialmente para PPD poderíamos citar o golbol (esporte com bola para cegos) e bocha para paralisados cerebrais. A história do esporte adaptado no mundo é relativamente recente.
Os primeiros registros referem-se a treinamentos e competições de futebol para surdos, realizados na Inglaterra e nos Estados Unidos na primeira década do século XX. Algumas competições de atletismo para cegos também foram organizadas nos EUA a partir de 1920. Contudo, o grande desenvolvimento do esporte adaptado no mundo ocorreu após a II Guerra Mundial. Apesar de todas as suas conseqüências desastrosas, a II Guerra forçou a evolução de pesquisas e proporcionou às PPD condições melhores do que as anteriormente existentes. Muitos soldados, ao voltarem para seus países cegos, surdos, mutilados ou com lesões medulares, começaram a exigir do governo melhores condições de tratamento para que pudessem retornar à vida o mais próximo possível da normal. Assim, a partir de 1946, começaram a surgir nos Estados Unidos e na Inglaterra os primeiros movimentos organizados de esporte para portadores de deficiências físicas e sensoriais. Na Inglaterra, o movimento teve uma conotação mais voltada para a reabilitação do indivíduo e centrou-se no hospital de Stoke Mandeville, comandado pelo Dr Ludwig Gutman. Já nos EUA, as associações visavam o rendimento e não apenas um complemento da terapia dos indivíduos. A partir de 1950 muitos campeonatos mundiais e associações foram organizados, sendo que a principal na Inglaterra foi a ISMGF (International Stoke Mandeville Games Federation) e nos EUA foi a PVA (Paralyzed Veterans of America). No Brasil, a influência foi tanto inglesa como norte-americana, sendo que os primeiros clubes foram fundados em 1958: Clube dos Paraplégicos de São Paulo e Clube do Otimismo do Rio de Janeiro. Ambos os clubes foram fundados por atletas que ficaram lesados medulares em um certo momento de suas vidas e que tiveram a oportunidade de tratarem-se nos EUA, onde conheceram o esporte adaptado. Em São Paulo, o fundador foi Sérgio Del Grande e no Rio de Janeiro foi Robson Sampaio.
Nos últimos anos, em todo o mundo, tem se falado muito no termo “acessibilidade”. Hoje em dia é muito comum ouvirmos falar sobre o direito de todas as pessoas, independente de sua condição, à educação e à prática de atividades físicas. Diante desse quadro, muitos mecanismos legais têm sido criados para garantir esses direitos a todos os indivíduos. Assim, formalizou-se a partir da década de 50 a Educação Física Adaptada, que hoje pode ser definida como um conjunto de atividades, jogos, exercícios, ritmos e esportes, voltados para atender às necessidades especiais de indivíduos na área de Educação Física. Esses programas vieram inicialmente com a finalidade de possibilitar a inclusão de alunos portadores de deficiências físicas, mentais, visuais e auditivas em aulas de Educação Física escolar. Hoje, com a evolução das pesquisas na área da atividade motora, a Educação Física Adaptada busca, através de diversas estratégias, oferecer programas individualizados de atividades físicas para indivíduos que, por algumas deficiência ou distúrbio, não teriam benefícios ideais caso participassem de um programa convencional.
Esse público alvo, então, inclui portadores de deficiências motoras, visuais, auditivas, mentais, comportamentais, distúrbios respiratórios, posturais e cardíacos, obesidade, diabetes, hipertensão e gestantes. A gravidez, embora não se trate de um distúrbio ou deficiência, é incluso nesse quadro por se tratar de um estágio especial pelo qual nem todas as pessoas passam. A terceira idade, embora apresente características particulares, não é inclusa por muitos autores dentro da educação física adaptada, por tratar-se de um estágio natural da vida, e não de uma situação especial. Importante ressaltar que programas individualizados não implicam em aulas particulares. O desafio do professor na Educação Física Adaptada deve ser o de desenvolver programas de atividades físicas para populações específicas, podendo ser trabalhadas individualmente ou em grupos. Para tanto, o professor deve possuir conhecimentos sobre as diversas deficiências e distúrbios orgânicos que ocasionam limitações específicas nos indivíduos. Muitos alunos que participam desses tipos de programas, poderiam até acompanhar aulas de atividades físicas convencionais; contudo, muitos não teriam benefícios tão específicos ou mesmo se arriscariam a agravar sua condição caso persistissem em tais atividades.
Em 1960 ocorreram os primeiros jogos Paraolímpicos em Roma. Desde esta data, os jogos ocorrem sempre algumas semanas após os Jogos Olímpicos convencionais e utilizam a mesma sede para sua realização. O Brasil participa das Paraolimpíadas desde 1972 e, especialmente nas duas últimas participações, vêm alcançando resultados cada vez mais elevados, embora a mídia brasileira insista em ignorar este acontecimento. Hoje, existem no Brasil grandes associações que cuidam do desporto adaptado para portadores de deficiências. Gostaria de destacar a ADD – Associação Desportiva para Deficientes, que, além de possuir atletas deficientes físicos em diversas modalidades esportivas, também os encaminha para o mercado de trabalho e oferece a eles cursos profissionalizantes. A ADD conta para isso com o apoio de voluntários e de algumas empresas privadas. Para conhecer mais sobre esse trabalho e sobre o esporte adaptado para portadores de deficiências, sugiro o site da ADD: www.add.com.br . Lá existem muitas informações sobre o esporte adaptado e outras associações que atendem pessoas portadoras de deficiências.
Bibliografia: Site Fitmail.com