Autor: Luiz Carlos de Moraes
Continuando a falar das atividades de academia, uma das que tem carreado uma multidão para as salas de aula e também gerado muita discussão é o Body Pump. Uma atividade que mistura ginástica e musculação fazendo parte do Sistema Body Systems de programas prontos com os variados treinamentos físicos conhecidos de ginástica localizada, aeróbica de alto e baixo impacto step, ciclismo indoor, dança de estilos variados. Enfim… o que os professores aprendem na faculdade.
O sistema que é patenteado pela empresa internacional Les Mills usa o típico marketing americano das mega festas em feiras e convenções, músicas alucinantes, roupas bastante coloridas e os discursos de impacto… também “prontos”.
A filosofia é toda calcada nos conhecimentos que todo profissional de Educação Física tem obrigação de conhecer tais como métodos e sistemas de ginástica, periodização, princípios e as valências físicas a serem desenvolvidas em cada método.
O Body Pump trabalha com pesos sincronizado às musicas do momento muito conhecidas pelo público da Rádio Jovem Pam. Os chamados “Mix”, nada mais são do que os mesociclos da periodização que mudam em média de dois em dois meses visando a evolução dos exercícios e a intensidade prometendo a evolução das valências físicas.
É importante lembrar que o programa Body Systems tem fundamento calcado na fisiologia e a padronização dos “Mix” teria a intenção por exemplo, quando um aluno viajasse para qualquer lugar do mundo pudesse dar continuidade ao seu programa. Bastaria ele procurar uma academia na cidade onde ele estivesse e fazer a aula respectiva à sua evolução.
Bom, o programa também recebe críticas. O fato dos professores fazerem os cursos e terem que ministrar as aulas exatamente como aprendem, sem questionamento nenhum, são taxados de meros repetidores de movimentos como foi, há tempos, a infeliz declaração do deputado Carlos Mink (RJ). Aos instrutores não cabe a criatividade porque têm de seguir os “Mix” sem mudanças. A questão do excesso de repetição podendo gerar lesões articulares e a impossibilidade do professor corrigir os movimentos dos alunos numa sala muito cheia é outro fato alvo de crítica. Um número máximo de alunos em cada aula deveria ser respeitado o que não acontece por absoluta ganância de alguns proprietários de academia, embora isso, não seja característica “só” do Body Pump. Numa aula de ginástica localizada, spining, RPM, ciclismo Indoor, entre outras atividades coletivas o mesmo pode acorrer por ser humanamente impossível manter a qualidade de serviço nessas condições, por melhor que seja o profissional.
O programa Body Systems, é na verdade uma tentativa de monopolizar a Educação Física podendo jogar “por água abaixo” 4 anos de carreira acadêmica a quem se sujeita às normas do curso orientado pela empresa. Um curso de poucas horas de Body Pump, Step, Jump, RPM entre os outros, promete “habilitar” qualquer um a ministrar as aulas, mas não pode de maneira nenhuma passar por cima da lei 9696 de 1º de setembro de 1998. É preciso não confundir as coisas. Qualquer profissional graduado REGISTRADO pode ministrar aulas de qualquer tipo em qualquer lugar, por isso tem exercício pleno. Se o profissional é provisionado, ele só pode ministrar as aulas do Body Systems se possuir a categoria “ginástica”.
Convenhamos. Olhando pelo lado bom do problema o Body Systems é uma grande oportunidade de desenvolvimento de trabalhos acadêmicos (teses, monografias e etc.) porque até agora existem poucos conclusivos. Os existentes não convencem até porque são tendenciosos.
Quais os métodos utilizados? A seqüência de exercício tem alguma lógica? Qual? Tem erros? Por quê? A seqüência de exercícios é proposta para quais grupos musculares? Podem ser modificados levando-se em consideração os braços de alavanca? Quais as valências físicas propostas por cada “MIX”? No campo cardiovascular a oportunidade de estudo também é enorme. Freqüência Cardíaca, Pressão Arterial. Duplo Produto e etc.
E os donos de academia? Analisando pelo lado empresarial, muitas vezes se vêem obrigados a comprar o programa por causa da concorrência. Mas o dono de academia que deseja fazer um bom trabalho oferecendo outros atrativos, pode fazer do Body Systems a porta de entrada de novos alunos. Não podemos esquecer que para atrair o cliente, primeiro temos que oferecer o que ele gosta, depois ser convencido do que precisa, e temos algo melhor.
E os novos profissionais? Muitas vezes o Body Systems pode ser a oportunidade de primeiro emprego. Por que não? Depois, cabe a ele ter espírito crítico, bom senso e comportamento ético para provar que pode mudar e crescer em qualquer lugar. Não podemos é aceitar é a exploração de mão de obra barata. Um estagiário de 1º ao 4º período não deve aceitar ministrar aulas sem supervisão de um graduado, muito menos salários tão baixos, sob risco de ser substituído por outro estagiário “barato” quando se graduar. Essa é uma questão de princípio. Ou não?
Na lista de discussão de Fisiologia do CEV (Centro Esportivo Virtual) esse assunto foi discutido e uma das opiniões foi colocado um trecho do livro, “A evolução da Educação Física e Esportes” de João batista Freire bastante pertinente à essa questão.
“Talvez as faculdades de Educação Física não tenham ainda percebido, até por que demoram bastante para perceber qualquer coisa, mas o universo do fitness vai na contramão da formação universitária. Se a coisa continuar assim, será melhor abolir os diplomas universitários e declarar obsoletas as faculdades, pois, com alguns breves cursos de finais de semana, uma fita de vídeo e uma roupa extravagante qualquer um terá habilitação para dar aulas em academias, dispensando o tedioso e demorado curso universitário”…
E continua em outro trecho. “Os clientes dos encontros de Educação física cuja tônica é o fitness lotam as salas, onde a prática sobrepuja qualquer experiência teórica, onde o som ensurdecedor abafa qualquer tentativa de debate, onde o cansaço e o suor inibem todas as possibilidades de reflexão”.
O prof. Dr. João Batista Freire é docente de pedagogia da UDESC e suas palavras nos convidam a uma reflexão. Precisamos estar atentos a essas novidades que surgem de uma hora para a outra e não simplesmente sair combatendo ou condenando as atividades. É uma questão de inteligência extrair a parte boa das chamadas ondas e melhorar a nossa Educação Física como um todo e o serviço prestado aos nossos clientes. O Body Pump tem uma proposta legal, porém calcada em conhecimentos que qualquer bom profissional deve ter para elaborar um plano de aula inteligente. Os procedimentos e cuidados profissionais devem estar voltados ao cuidado com os clientes para reverter por exemplo os números de uma pesquisa coordenada pela Drª Laíra Campello onde a dor nas costas atingiu 28,5% dos praticantes entrevistados de Body Pump. O estudo foi feito em nove grandes academias de São Paulo, 18 somando com as filiais, além de 17 de outras capitais. Portanto, é preciso refletir.
Bibliografia: Site da Body Systems Brasil