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terça-feira, novembro 19, 2024

CLASSIFICAÇÃO DAS MALOCLUSÕES E TIPOS DE MORDIDA

Autor: Gercélia dos Santos Ramos

DESENVOLVIMENTO DENTÁRIO

Os dentes possuem a substância mais dura do corpo humano (esmalte) e representam também, a estrutura de maior tempo de formação, quando comparados e relacionados aos outros tecidos humanos. Quando formados, os dentes, apresentam suas coroas, em termos dimensionais, com seu tamanho e formatos definitivos. Este fato é bastante significativo em função de que as estruturas circunjacentes passarão pelo processo de aumento proporcional ao avanço da idade do indivíduo. Esta assincronia gera situações de aparência complexa e às vezes não harmoniosas; que são inerentes ao desenvolvimento da oclusão dentaria.

Segundo Petrelli (1992), é interessante observar que as coroas dos dentes são formadas, iniicialmente, na região que futuramente acomodara as suas próprias raízes.

O sistema dentário humano é difiodonte (duas dentições: decídua e permanente). A necessidade destas duas dentições é explicada pelo fato de que os dentes decíduos, uma vez formados, não aumentam de tamanho, ficando, com o correr do tempo, em flagrante discrepância com as bases ósseas, que sofrem crescimento. Daí a necessidade de uma segunda dentição, a permanente, com dentes maiores em dimensão e número.

A dentição decídua tem início de sua formação durante as seis primeiras semanas de vida intra-uterina. A erupção dos primeiros dentes decíduos se dá por volta dos seis meses de idade. O término ocorre, normalmente, cerca de vinte e quatro a trinta meses após o nascimento da criança, quando os segundos molares decíduos entram em oclusão.

As arcadas dentárias, nesta fase, apresentam-se em forma semicircular ou ovóide, havendo a presença ou não de diastemas entre os dentes. É importante notar que as arcadas dentárias apresentam menor variabilidade em sua forma do que as permanentes. Em contra partida a este temos, o fato de que na dentadura permanente, os dentes, estão orientados (sentido axial) quase que perpendicularmente ao plano oclusal. Os dentes inferiores ocluem suavemente por lingual em relação aos superiores.

Os dentes molares decíduos têm uma ampla área de contato para fazer face ao ato da trituração dos alimentos. É interessante notar, que existem uma considerável variação dimensional nas coroas dos dentes 2º molares decíduos.

Poucas alterações costumam ocorrer na dentição decídua no período que vai dos dois anos e meio aos cinco anos de idade Isto se aplica ás posições dentárias individuais e também à relação transversa e sagital das arcadas. Neste período os dentes permanentes estão fazendo sua formação intra-óssea:

Molares permanentes estão em formação em situação espacial sempre posterior ao último decíduo;
Os incisivos permanentes estão localizados por lingual em relação às raízes de seus predecessores.
De acordo com Moyers, a forma básica das arcadas é determinada, até o quarto mês de vida intra-uterina, pelos germes dentários em desenvolvimento e pelo osso basal em desenvolvimento. Nesta mesma época, a língua adapta-se ao espaço que vai’, gradativamente aumentando.
Após a erupção dos dentes decíduos, o arco formado pelas coroas dentárias é sempre alterado pela atividade muscular, embora sua forma inicial não seja determinada pelos músculos.
Para Figun & Garido, os dentes decíduos durante seu período de existência na cavidade bucal, cumprem funções de ordem fisiológicas e biológicas.
Funções de ordem fisiológicas:

Ações mastigatórias;
Estabelecimento de uma linha e de um plano oclusal;
Manutenção da dimensão vertical;
Início da fonação;
Manutenção do espaço necessário para a correta erupção dos dentes permanentes.
Funções biológicas:

Ação estimulante no crescimento ósseo alveolar dos maxilares;
Atuação no processo de erupção dos futuros dentes permanentes, pela relação de proximidade que têm com os mesmos.
A dentadura decídua é composta de vinte dentes em cada arcada. A erupção ocorre seqüencialmente (incisivos centrais inferiores, incisivos centrai superiores, incisivos laterais superiores, incisivos laterais inferiores, 1º molares superiores e os inferiores, caninos superiores e inferiores, 2º molares superiores e inferiores) e, acedida que surgem os dentes, os músculos aprendem a efetuar os movimentos oclusais funcionais necessários.

Existem diastemas generalizados na região anterior, sendo que o espaço mais amplo, denominados “primatas”, podem, ocorrer em mesial dos dentes caninos decíduos superiores e em distal dos caninos decíduos inferiores. Segundo Petrelli (1992 ), os dentes decíduos inferiores são, geralmente, um pouco maiores do que os superiores, dando origem a um plano terminal reto, típico da porção posterior final da dentadura decídua.

Desarmonias no padrão esqueletal, hábitos inadequados de sucção e processos cariosos interproximais podem produzir um degrau no plano terminal. Este degrau pode ser do tipo “mesial “ou “distal.” O plano terminal determinado pelos 2º molares decíduos (retos ou em degrau mesial ou distal ) exerce influência sobre o futuro posicionamento dos 1º molares permanentes, antes e após o seu processo de erupção.

No entender de Moyers, o período de dentição mista é aquele em que os dentes decíduos e permanentes estão na boca simultaneamente. O início deste período é marcado pela erupção dos 1º molares permanentes. Estes dentes têm sua guia de erupção na arcada determinada pelas superfícies distais dos 2º molares decíduos. Os 1º molares permanentes são considerados “peças chaves” para o estabelecimento de uma oclusão dentária definitiva dentro dos padrões de normalidade.

Os planos terminais dos 2º molares decíduos determinam o tipo de relacionamentodos1º molares permanentes. Angle foi o autor do sistema de classificação que se baseia nas relações anteroposteriores dos 1º molares superiores e inferiores entre si.

Ainda de acordo com Moyers, os dentes permanentes que irão fazer seu processo de erupção nesta e, após esta fase, são classificados em duas categorias:

Dentes sucessores: aqueles que substituem os decíduos existentes anteriormente na arcada. É o caso dos dentes incisivos, caninos e pré-molares permanentes.

Dentes adicionais: aqueles que fazem seu processo de erupção na região situada, na arcada, posteriormente aos2º molares decíduos. É o caso dos dentes molares: 1º, 2º e 3º.

A ortodontia tem a possibilidade de poder, com o uso de recursos terapêuticos de sua área de atuação e com o auxilio complementar, quando necessário, de especialidades como a fonoaudiologia e a otorrinolaringologia, administrar e orientar o correto crescimento e desenvolvimento dento- ósteo-craniofacial de uma criança.

A fase da dentição mista é aquela em que, pela própria dinâmica das modificações que se processam, aumenta a possibilidade de ocorrência de anomalias nesta região.

Este estágio intermediário ou de “dentição mista “é aquele que possibilita grandes possibilidades de início oportuno e tempestivo de tratamento. Acha o autor que pelas características próprias pertinentes ao citado estágio, a maioria dos tratamentos deveria ser iniciada nesta época.

Em seus estudos Petrell (1992) menciona classificação feita por Barnett, em 1978. Nela, relaciona-se a idade cronológica, dividida em cinco estágios, às características do desenvolvimento da oclusão dentária. Esta classificação é efetuada a partir do ponto de vista de observação clinica.

3 anos – 1º estágio – Dentição decídua
6 anos – 2º estágio – Erupção dos dentes 1ºs molares permanentes.
6 a 9 anos – 3º estágio – Troca dos dentes incisivos.
9 a 12 anos – 4º estágio – Troca dos dentes dos segmentos laterais das arcadas.
12 anos – 5º estágio – Erupção dos dentes 2ºs molares permanentes.
Petrelli (1992), considera que com a esfoliação e queda do último molar decíduo, termina a fase da dentição mista e se completa a dentadura permanente do ser humano. Isto ocorre, normalmente, por volta dos 12/13 anos de idade, estando presentes todos os dentes permanentes, exceto os 3ºs molares, que nesta época ainda estão com seus germes em processo intra-ósseo de formação.

Ultrapassada a fase da dentição mista termos, finalmente, arcadas que contém somente dentes permanentes. Quando completa (inclusive a erupção dos 3ºs molares), a arcada humana é composta por 32 dentes, 16 superiores, sendo oito em cada hemiarcada. Estes dentes são divididos em vários grupos:

Grupo dos incisivos.
Grupo dos caninos.
Grupo dos pré-molares.
Grupo dos molares.

OCLUSÃO

Segundo ENLOW (1993), a oclusão dentária é um dos assuntos mais complexos da odontologia e tão fundamental aos estudos da fonoaudiologia, ou seja necessitamos dos conhecimentos a respeito de como se estabelecem os perfeitos e corretos funcionamentos oclusais, na arcada decídua, mista e permanente, pois a oclusão é o resultado do controle neuromuscular dos componentes do Sistema Estomatognático que são os dentes, periodonto, maxila, mandíbula, articulação têmporo mandibular eseus músculos associados.

Durante a erupção normal dos dentes, para que ocorra a oclusão, espera-se que os dentes e o osso alveolar desenvolvam-se até que o antagonista do arco oposto seja encontrado.

MALOCLUSÃO

Segundo Moyers, em vez de possuir “causas” especificas, como algumas enfermidades, maloclusões são em geral alterações clinicamente significativas do campo normal de crescimento e morfologia. Fatores etiológicos contribuem para a desarmonia com mais freqüência do que simplesmente a “causam”. Muitas vezes, a maloclusão e deformidade dentofacial não são causadas por processos patológicos, mas sim por distorções moderadas do desenvolvimento normal. Freqüentemente, estes problemas resultam de uma interação complexa de múltiplo fatores que influenciam o crescimento e o desenvolvimento, e se torna possível descrever um fator etiológico específico.

Embora seja difícil conhecer a causa precisa de muitas maloclusões, podemos saber, geralmente, quais são as possibilidades, e estas devem ser levadas em conta quando o tratamento for considerado.

Causas específicas da maloclusão

Distúrbios no desenvolvimento embrionário.
Distúrbios no desenvolvimento esquelético.
Distúrbios no desenvolvimento dentário.
Guia inadequada de erupção.
Trauma dentário.
Influências genéticas Influências ambientais.
Maus hábitos orais.
Classificação da maloclusão

Para Petrelli (1992), classificar significa distribuir em classes e nos grupos respectivos de acordo com o método ou sistema de classificação. Para classificar uma maloclusão, devemos ter um conceito de oclusão normal. Como a oclusão normal é composta de vários fatores, onde alguns deles, se considerados isoladamente, poderão estar fora da variação normal esperada; a simples classificação da maloclusão normal ou anormal é difícil.

O sistema de classificação é o agrupamento de certos sinais e sintomas das maloclusões típicas, produzindo síndromes ou classes, cuja identificação e classificação são úteis.

O sistema de classificação é o agrupamento de certos sinais e sintomas das maloclusões típicas, produzindo sindromes ou classes, cuja identificação e classificação são úteis.

Há várias razões práticas para realizarmos uma classificação. Segundo Moyers, elas seriam feitas por razões tradicionais, para facilidade de referência, para fins de comparação e para facilitar a comunicação pessoal. Edward H. Angle, apresentou um tipo de classificação que tinha com referência a oclusão do 1º molar superior, supondo que sua posição na arcada era imutável.

Classificação de Angle

Edward Angle, considerado o pai da Ortodontia, criou a classificação mais usada mundialmente. Esta classificação tem por base que os 1ºs molares superiores permanentes determinavam a “chave de oclusão”. Estuda as relações anteroposteriores das arcadas dentárias.

Angle sistematizou a maloclusão em três grupos principais:

CLASSE I

É quando a cúspide mesiovestibular do 1º molar superior permanente oclui no sulco mesiovestibular do 1º molar inferior permanente. Nesta categoria, basicamente existe uma relação normal entre a maxila e a mandíbula. As anomalias encontradas são apenas de posição dentária.

Nesta classe são classificadas as anomalias de forma, número e posição dentárias, mordidas abertas, mordidas profundas, biprotrusões, e mordidas cruzadas. Neste caso pode ser encontrada uma desarmonia entre o volume ósseo e dentário, provocando apinhamentos dentários, principalmente na região anterior.

CLASSE II

Este grupo caracteriza-se pela mandíbula encontra-se em posição distal com respeito à maxila. A cúspide distovestiular do 1º molar superior oclui com o sulco mesiovestibular do 1º molar inferior. A oclusão dos demais dentes reflete esta relação distal, quando é comum dizer que os dentes inferiores encontram-se em posição posterior aos dentes superiores. Esta classe apresenta duas divisões:

DIVISÃO 1

Casos cuja chave de molar apresenta-se em classe II e os incisivos superiores estão freqüentemente em labioversão exagerada. Pode estar associada uma musculatura peribucal anormal comum lábio superior hipotônico e o inferior hipertônico. A arcada superior pode apresentar-se com uma grande atresia. A língua não encosta no palato durante a posição de descanso. Durante a deglutição, há atividade muscular anormal dos músculos do mento e bucinador, juntamente com uma função compensadora da língua e modificação da posição lingual, com tendência a acentuar o estreitamento da maxila. Podemos encontrar também associado a este tipo de maloclusão algum tipo de hábito vicioso, como sucção de dedo ou de chupeta, como também casos de respiradores bucais.

DIVISÃO 2

Apresenta a mesma morfologia da classe II, com relação à oclusão de molares, distinguindo-se pela posição dos incisivos centrais superiores que encontram-se em palatoversão, enquanto os incisivos laterais superiores apresentam uma inclinação vestibular. Em alguns casos podemos encontrar tanto os incisivos centrais e laterais superiores inclinados para palatino como os caninos superiores em posição vestibular. A arcada superior dificilmente é atrésicas sendo freqüentemente mais ampla que o normal na região intercaninos. Encontramos com bastante freqüência a presença de uma mordida profunda. A função muscular peribucal geralmente encontra-se dentro dos limites de normalidade, sendo que em alguns casos nota-se a hipertonicidade do lábio inferior.

CLASSE III

Nesta categoria, englobam-se as anomalias que apresentam uma relação anterior da mandíbula em relação à maxila. Na oclusão dos 1ºs molares, o sulco mesiovestibular do 1º molar permanente inferior oclui anteriomente à cúspide mesiovestibular do 1º molar permanente superior. Apresenta-se, muitas vezes, associadas a uma hiperplasia mandibular. Freqüentemente apresentam uma mordida cruzada anterior e os incisivos inferiores em linguoversão.

TIPOS DE MORDIDA

Sobremordida (Overbite)

Quando as pontas incisais dos dentes mandibulares se fecham contra a superfície lingual do seu antagonista maxilar de tal modo que aproximadamente um terço da coroa mandibular fique escondida.

Sobremordida zero

Quando o incisivo se coloca habitualmente ponta-a-ponta durante a oclusão.

Mordida aberta (Openbite)

Quando persiste um espaço ou distancia habitual entre as superfícies incisal e oclusal durante a oclusão habitual.

Overjet

É uma dimensão antero-posterior e constitui uma distancia, no plano horizontal, entre as superfícies linguais dos incisivos superiores e as superfícies labiais dos incisivos inferiores.

Mordida cruzada (Crossbite)

Quando um ou mais dentes se encontram mal posicionados lingual, labial ou facialmente em relação aos seus correspondentes no arco oposto.

CLASSIFICAÇÃO DAS OCLUSÕES

Classe I Classe II Classe III

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ENLOW, D.H. Crescimento Facial – Porto Alegre – Editora Artes Médicas. 1993a, 188p

GONZÁLEZ, N.Z.T, Fonoaudiologia e Ortopedia Maxiliar na Reabilitação Orofacial, São Paulo, Editora Santos, 2000, 33-34p.

HANSON, M.L., Fundamentos da Miologia Orofacial. Rio de Janeiro, Editora Enelivros, 1995, 67-73p.

MOYERS, R. – Ortodontia. 3 ed. RJ : Editora Quanabara Koogan, 1979. 669p.

PETRELLI, E. – Ortodontia para Fonoaudiologia. – PR> Lovise, 1992.

PROFFIT, W. R. – Ortodontia contemporânea – 2ª ed. Editora Med., 1979.

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