A AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO ESPECIAL
RESUMO
A partir do uso da afetividade na relação do educador e educando na escola especial é possível conquistar a qualidade e a competência tão necessária para o desempenho pleno de nossas funções como educadores, pretende-se assim refletir a maturidade humana de uma sociedade em mudança e construir através de nossas competências seres especiais participativos na escola, família e sociedade. Trazendo os indesejáveis do passado para uma realidade atual onde serão educados, respeitados e sim membros atuantes da sociedade em que estão inseridos. Fazendo uso da afetividade é possível aproxima-los do nosso mundo sem excluir o mundo dos deficientes respeitando e paralelamente trabalhar com as diferenças preparando-os para uma sociedade competitiva e flexível as mudanças valorizando os alunos especiais como seres atuantes da sociedade democrática.
Palavras – Chave: Afetividade; Educando; Educador.
1 INTRODUÇÃO
Ao longo da história da humanidade, observamos as muitas condições sociais que representam ou representavam uma situação de subalternidade de direitos e de funções sociais.
Está problemática, relacionada á deficiência, reflete a maturidade humana e cultural de uma sociedade que estigmatizou o deficiente através de uma relatividade cultural obscura, sutil e confusa que procurou afastar, excluir os indesejáveis, os inconvenientes cuja presença ofende perturba e ameaça a ordem social.
Levantamento acerca da deficiência revela-nos as razoes e a forma como a mesma foi percebida em diferentes períodos históricos a começar pelo homem primitivo que via o deficiente como sinônimo de superstição e malignidade.
A idéia que a sociedade estabelece em relação ao aluno especial é que seja o portador de deficiência a uma condição de inferioridade em relação às pessoas economicamente produtivas reforçando assim, a idéia acerca das instituições assistencialistas enquanto depósitos de incapazes e inválidos.
Enquanto cidadãos de uma sociedade que se pretende democrática temos que propugnar a conquista de um espaço social para todos e, essa busca não comporta exclusão, sob qualquer pretexto.
Diante de tal ideal proclamado verificamos na instituição pesquisada diferencial como modelo para a formação intelectual de seres especiais e com potencial de interação e convívio social fazendo uso da afetividade e respeito os alunos são orientados e disciplinados para um convívio em família e sociedade.
2 FAZENDO USO DA AFETIVIDADE NA ESCOLA ESPECIAL
Enfatizo que sem a educação e a reabilitação, os deficientes não poderão atingir uma vida de valor e de significado humano. Quanto mais significativo para o aluno for o professor, mais chances o mesmo terá de promover novas aprendizagens.
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A escola deveria também saber que, em função dessas articulações, a relação que o aluno estabelece com o professor é fundamental enquanto elemento energizante do conhecimento. As famosas estratégias educacionais nada mais são do que a criação de relações adequadas, afetivas, carinhosas, aptas a fazer com que a criança trabalhe seu narcisismo secundário, restabelecendo sua beleza, diante de si e o mundo, na medida em que aprende. (SALTINI, 2002, p.20).
Envolvendo o aluno especial com atividades de rotina e fazendo uso da afetividade é o primeiro passo e o mais difícil objetivo a ser alcançado.
Sendo que se colocar-mos como a primeira conquista entre professor e aluno tornaremos a mais importante vitória, pois, por muitas vezes, somente assim, com você e através de você é que irá se abrir pra este aluno um universo de possibilidades, de interesses, de descobertas de experimentações, de vivencias, de emoções de sensações boas ou não, de conhecimentos e aprendizagens adequadas ou não e de tantas outras coisas que a vida nos proporciona e que nós experimentamos desde que nascemos.
Conforme a fala de Leontiev (1978, p.267), “cada individuo aprende a ser homem, o que a natureza lhe dá quando nasce não lhe basta para viver em sociedade, é-lhe ainda preciso adquirir o que foi alcançado no decurso do desenvolvimento histórico da sociedade humana”.
No entanto sua “imperfeição” nega-lhe a semelhança, na medida em que a apropriação da experiência afetiva lhe é a proporcionada.
Sendo assim os programas educacionais e reabilitativos adaptados fazem a diferença para esses alunos de forma gratificante no tocante ao bem estar e a qualidade de vida dos mesmos.
O homem é um ser com raízes espaços-temporais e cabe a ele operar uma transformação, que está entre ele e o mundo, isto é, realizar um sonho. Poderíamos, portanto, dizer que o homem é sempre o resultado da ação de transformação de uma realidade, de sua adaptação a ela e da consciência de sua capacidade de transformá-la. (SALTINI, 2002, p. 30).
A presença de uma deficiência de uma dificuldade ou de uma desordem, qualquer que seja a sua severidade, não deve alterar a necessidade de respeitar a dignidade e a valoresidade humana dos deficientes.
Educa-los e reabilita-los é uma luta pelos direitos humanos, que se deve impulsionar com abnegação e determinação, onde a deficiência não é uma condição fixa, inalterável ou imutável, o individuo deficiente está aberto a modificabilidade do seu potencial habilitativo e cognitivo.
Neste contexto falar de afetividade no processo ensino-aprendizagem, podemos dizer que é de grande importância para o desenvolvimento emocional, intelectual, social e afetivo de uma criança, seja ela portadora de necessidades especiais ou não.
Na busca da construção da identidade da criança especial ocorre através de significados a respeito das ligações que a mesma estabelece com o mundo. Significados esses que podem ser consciente ou inconsciente para ela, num determinado momento.
Sendo assim as emoções estão presentes nesses indivíduos e buscando conhece-los estabelece relação com objetos físicos, concepções e com os outros indivíduos. Afeto e cognição constituem aspectos inseparáveis, presentes em qualquer atividade, embora em proporções variáveis.
A afetividade e a inteligência se estruturam nas ações e pelas ações dos indivíduos que se relacionam. O afeto pode ser entendido como a energia necessária para que a estrutura cognitiva passe a operar. Ele influencia a velocidade com que se constrói o conhecimento, pois quando as pessoas se sentem seguras, aprendem com mais facilidade.
O desenvolvimento da identidade e da autonomia estão intimamente relacionados com os processos de socialização. Nas interações sociais se dá a ampliação dos laços afetivos que as crianças podem estabelecer com as outras crianças e com os adultos, contribuindo para que o reconhecimento do outro e a constatação entre as pessoas sejam valorizadas e aproveitadas para o enriquecimento de si pro pias. Isso pode ocorrer nas instituições de Educação Infantil que se constituem, por excelência, em espaços de socialização, pois propiciam o contato e o confronto com adultos e crianças de várias origens socioculturais, de diferentes religiões, etnias, costumes, hábitos e valores, fazendo dessa diversidade um campo privilegiado da experiência educativa. (RNEI. 1998, p.11).
Considerando-se as especialidades sociais das crianças especiais, a qualidade das experiências oferecidas que podem contribuir para o processo de aprendizagem, devem ser embasadas nos seguintes princípios.
O respeito á dignidade e aos direitos das crianças, consideradas nas suas diferenças individuais, sociais, econômicas, culturais, étnicas, religiosas etc. o direito das crianças a brincar, como forma particular de expressão, pensamento, interação e comunicação infantil; o acesso das crianças aos bens socioculturais disponíveis ampliando o desenvolvimento das capacidades relativas á expressão, á comunicação, á interação social, ao pensamento, á ética e a estética; a socialização das crianças por meio de sua participação e inserção nas mais diversificadas práticas sociais, sem discriminação de espécie alguma; o atendimento aos cuidados essenciais associados á sobrevivência e ao desenvolvimento de sua identidade. (RCNEI. 1998, p.13).
Quanto a Educação Especial encontramos objetivos para compreensão da realidade junto do educador através de atividades realizadas pelos educando com estimulo, prazer, proporcionando aos alunos um mundo de significados e alegria em estar inserido na Escola Especial.
A inteligência e a afetividade são mecanismos de adaptação, em que permitem ao individuo construir noções sobre os objetos, as pessoas e as situações, conferindo-lhes atributos, qualidades e valores. Contribuindo dessa forma para a construção do próprio sujeito, sua identidade e participação no mundo.
As diferenças individuais são características apresentadas por pessoas especificas na medida em que algumas delas se destacam e lhe são atribuídas significações de desvantagem e descrédito social, essas diferenças não podem ser mais vistas tão somente como variações nas características inerentes a algumas pessoas. (AMOTE apud, FREIRE, 2006, p.145).
O afeto é um regulador da ação, influenciando na escolha de objetivos específicos e na valorização de determinados elementos, eventos ou situações por parte do aluno especial.
Portanto, amor, ódio, tristeza, alegria ou medo levam a criança especial a procurar ou evitar certas pessoas ou experiências. As aquisições do desenvolvimento histórico das aptidões humanas não são simplesmente dadas aos homens nos fenômeno objetivos da cultura material e espiritual que os envolve, mais são apenas postas.
Conforme a fala de Ida Mara Freire, para se apropriar destes resultados, para fazer deles suas aptidões, os órgãos da individualidade, a criança, o ser humano, especial deve entrar em relação com os fenômenos do mundo circundante através de outros homens, isto é, num processo de comunicação com eles, assim a criança aprende a atividade adequada.
Neste sentido, a relação professor aluno não pode ser construída somente pela mediação ou uso dos órgãos dos sentidos, pois esses já são mediados pela experiência social.
O ser humano não vê apenas com os olhos assim como não ouve apenas com os ouvidos, ele vê e ouve através de toda uma experiência acumulada,quando o afeto interage na relação humana a criança se envolve fazendo de maneira prazerosa a identificação e leitura da sua realidade, desenvolvendo todos os sentidos.
A subjetividade construída na sua existência sentindo assim prazer no estar e no crescer onde desenvolve sua aprendizagem e experiências.
Na maioria das atividades é necessário persistência, respeito, muito amor e vontade de acertar.
Segundo Fonseca (1987, p.106), “Por aqui se pode constatar que o insucesso ou sucesso da intervenção terapêutica ou do ensino. Deficientar o deficiente depende mais dos adultos que lhes dão atendimento do que do próprio deficiente”.
Percebe-se na fala do autor que participar do mundo da criança especial é estar envolvendo-os num momento novo a cada atividade proposta pelo adulto.
É possível fazer, apesar de difícil, porém possível sim envolve-los num mundo de significados que eles não se interessam num primeiro momento por não conhecer ou não conseguirem ver, participar e compreender a sua volta.
Durante a pratica da pesquisa desenvolvemos atividades onde com esforço e muito amor foi possível mediar com o aluno altista severo de apenas 13 anos um histórico bastante difícil onde ocorria resistência do mesmo para com os profissionais que lhe prestaram atendimento.
Atuamos na turma de alunos com DM num período de 90 dias havendo muita interação e troca de experiência entre alunos e professora essa turma era composta por sete alunos de idades diferentes e perfil psicológico também.
Os alunos foram conduzidos ao aprendizado através do contato pessoal, do abraço, do carinho do beijo e com isso foi possível instigá-los na busca de novos saberes. Ao dar andamento ao projeto deixado pela educadora da turma senhora L.R. iniciamos as atividades fazendo uso de musicas, recortes, colagens, jogos pedagógicos, etc.
Os alunos participaram com entusiasmo, alguns atuando nas atividades ,outros somente observando, percebe-se que com o uso do afeto é possível integrar todos dentro das suas limitações.
Iniciamos atendimento ao aluno I.M. no colchão onde o mesmo já estava habituado, aos poucos foi acontecendo o envolvimento entre aluno e professora percebeu-se que o mesmo não gostava do ambiente escolar sentia-se preso e não sentia prazer nas atividades que lhe eram proposta. Atuado com dedicação e amor nas relações pessoais aluno/professora foi possível integra-lo no ambiente escolar.
Apresentando ao mesmo as partes do corpo humano usando membros do corpo humano como instrumento de mediação da aprendizagem do educando. Tocando no aluno com os pés nos seus pés, nas mãos com minhas mãos, nos dedos com meus dedos, braços, pernas, barriga, cotovelos, unhas tronco, pescoço, cabeça, olhos, nariz, boca etc.
Houve resistência sim, porém o uso da afetividade no mediar essas atividades garantiu o envolvimento dos sentimentos da criança e da professora onde foi possível trabalhar com sucesso.
O aluno percebeu a professora como sujeito no seu mundo e se percebeu como membro do
novo mundo que lhe foi aberto. Após um período de atividades repetidas aconteceu o toque da criança pela curiosidade de ver ou sentir mais.
Demonstrando carinho o aluno mostrou-se bastante receptivo ao atendimento prestado pela educadora.
As massagens repetidas quase que diariamente nas costa, pernas e braços de I.M. foi muito enriquecedora no mediar à relação. No banho voltava a falar repetindo as partes do corpo que estavam sendo esfregadas com escova pró pia ao banho da criança.
No período que aconteceu esta pesquisa foi possível levar I.M. a participar de atividades coletivas como festa no refeitório, festa no dia da criança, no pátio da escola no horário do recreio, sentar o aluno na cadeira e fazer atividades dirigidas como colagens e recortes com auxilio e supervisão, foi gratificante perceber que com o uso da afetividade é possível envolver a criança especial num mundo que eles não conhecem e algumas vezes não se interessam por não conhecer.
Esse aluno tem obsessão por vidro ao se aproximar de vidros o mesmo quebra com muita rapidez sendo algumas vezes difícil conte-lo,durante o atendimento trabalhamos com a criança vários tipos de embalagens e potes pequenos de vidro e era permitido ao mesmo passar as mãos sobre o objeto orientando que o mesmo quebra , machuca, levando o aluno nas janelas e com supervisão nas mãos permitimos ao mesmo manusear as vidraças e o aluno não quebrou nenhum vidro durante o desenvolver dessa pesquisa.
Para atuar junto aos alunos especiais, foram pesquisados vários autores e por esse caminho onde o uso da efetividade faz parte do dia-a-dia da escola especial e dos educadores atuante neste projeto obtivemos resultado positivo no mediar o conhecimento e a individualização destes educando preparando-os para atuarem na sociedade em que estão inseridos independentes de suas diferenças culturais, raciais, religiosas e cognitivas.
Na busca por essas respostas é que pesquisamos e atuamos na relação professor/aluno, no carinho, no toque, no contato de pele, no beijo, nas massagens, no passeio, no contato do sabonete espumando durante o banho que acredito ter sido a essência da qualidade do processo mediador educativo onde com sucesso foi possível promover o aprendizado do aluno especial.
3 CONCLUSÃO
Tendo em vista minimizar a problemática exposta, necessita não apenas de garantias legais que determinam como devem ser educados os deficientes. Acima de qualquer ato legal deve despontar uma bandeira que estruture, reorganize e subsidie o processo, essencial á vida humana ou á vida em sociedade, a integração, inclusão no âmbito social, político e cultural através do reconhecimento de que tal diferença, por mais acentuada que seja, representa apenas um dado a mais no universo plural em que vivemos foi possível fazer uso do afeto e respeito dentro de uma educação inclusiva, percebe-se que os resultados são positivos sendo que no período em que foi realizada esta pesquisa na escola especial obtivemos grande envolvimento com esses alunos, ou seja, sua condição física, mental e sensorial não alterou o processo educativo dos mesmos, mas principalmente pelo seu modo de ser autentico e único é que estivemos próximos a eles e fazendo uso da afetividade como recurso no envolvimento aluno/professor foi sim possível acrescentar na vida de cada educando preparando-os para uma sociedade integradora e inclusiva.
4 REFERÊNCIAS
BRASIL, Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil V1. Secretaria de educação Fundamental. Brasília; MEC, 1998.p.13.
BRASIL, Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil V2. Secretaria Educação Fundamental. Brasília; MEC 1998.
FONSECA, Vitor da. Educação Especial. Programa de Estimulação precoce – uma introdução às idéias de Feuerstein. Porto Alegre; Artes Médicas. 1995.
FREIRE, Ida Mara. Um Olhar Sobre a Diferença; São Paulo; Papiro Editora p.145; apud Omote (1994, p, 66).
LEONTIEV, A. O Desenvolvimento do Psiquismo. Lisboa: Livros Horizontes, 1978.
SALTINI, Cláudio J.P. Afetividade Inteligência a Emoção na Educação; 4ª edição, Rio de Janeiro; DP&A editora p.20-30; ano2002.