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sexta-feira, novembro 8, 2024

A Arte Brasileira Representada Através de Sua História

INTRODUÇÃO

A história da arte brasileira começou desde a chegada dos primeiros povos á América com a introdução da arte rupestre, conhecidas como “pinturas rupestres” entretanto com o passar do tempo tudo foi se evoluindo e conseqüentemente se aprimorando.

A arte brasileira é uma linguagem que serve como uma designação de toda a arte produzida aqui no Brasil desde a época pré-colonial até os dias atuais. No Brasil as artes antigas são representadas e relacionadas aos índios trazidos pelos portugueses. Entre outras, como referência ao passado da História da Arte no Brasil, tem a abertura da Academia Imperial de Belas Artes, consolidada no Rio de Janeiro e foi a primeira no país.

Diante disso, nota-se a riqueza da História da Arte no Brasil, representados em suas diferentes épocas: primeiramente pela arte rupestre, logo em seguida a arte indígena e, sequentemente pela pintura, literatura, arquitetura, e pelo grande marco da “Semana de Arte Moderna” acontecido em 1922, que selou o início da luta liberdade de expressão da arte brasileira, apresentada nesta monografia pela música, literatura, cinema, teatro, entre outros.

A partir da Semana de Arte Moderna, e, considerando o momento caótico e paradoxal em que as novas tecnologias conviviam com uma estrutura social arcaica, e o provincialismo coexistia com um ambiente universal, iniciou-se entre os brasileiros, uma camada de artista intelectuais de classe média, fortemente influenciados pela cultura modernista européia, mas com indagações sobre sua própria identidade histórica cultural.

Ao colocar o problema da identidade nacional, os modernistas brasileiros apenas traduziam para a História do Brasil, uma questão que, em todo o mundo, particularmente na Europa, ocupava um lugar central nas grandes discussões políticas, estéticas e culturais.

Não se pode afirmar, no entanto, que o Modernismo tenha sido inaugurado no Brasil pela Semana de 1922. De fato, a Semana apenas galvanizou e estimulou um movimento profundo de renovação das artes e da cultura brasileira, que já se manifestava no país desde o início do século; alguns poetas, por exemplo, faziam experimentos com o verso livre, em oposição à rígida métrica que caracterizava a forma tradicional de escrever a musica, a poesia e de trabalhar a arte.

Para os artistas e intelectuais brasileiros do final do século XIX, essas questões não eram realmente novas. Em contextos distintos, e com os mais diversos objetivos, pois muitos já haviam expressado suas inquietações e sentimentos em relação ao problema de uma cultura genuinamente brasileira.

Mas pode-se afirmar que foi através do movimento modernista, que a cultura brasileira começou a desenvolver-se e a formar sua própria identidade. O modernismo de 1922 no Brasil, iniciado com o movimento da Semana de 1922, não se impôs de imediato para a formação dessa cultura. As primeiras obras traziam a marca alienígena, especialmente das vanguardas européias, embora não muito profunda: futurismo, cubismo e dadaismo que influenciaram sobretudo as artes plástica. Contudo, pouco a pouco, o movimento cultural brasileiro foi adquirindo sua estruturação própria ou seja, foi identificando sua própria identidade.

Pode-se entender então, que a Semana de Arte Moderna representou a inauguração oficial de uma nova sensibilidade artística no Brasil: O Modernismo. A chegada da modernidade levou os modernistas ao desejo e à tentativa de expressá-la através da arte.

A partir de 1924, as oposições tornaram-se mais acirradas, contribuindo para que houvesse no Brasil uma diversificação nas mais variadas tendências, nascidas da abertura propostas pelas atitudes revolucionárias de tal maneira que na história da arte brasileira, foi possível apontar uma imensa diversidade cultural

No cinema, o Brasil se tornou um dos principais consumidores mundiais, embora ainda se comportasse como importador no mercado cinematográfico (em particular de Hollywood). Na produção musical nacional é uma das mais ricas do planeta. A música popular brasileira sempre foi e ainda é reconhecida por sua fertilidade e capacidade de inovação. O Brasil como muitos sempre disseram e dizem, transpira musicalidade por meio da MPB, samba , sertanejo, entre outros.

Na literatura, o Brasil passou por uma verdadeira transformação. O Brasil contemporâneo tem uma história rica em prosa e verso, apesar do grande números de analfabetos e iletrados, dos problemas estruturais que já se tornaram tradição no sistema de ensino público, das tremendas desigualdades sociais.

Dentro de um enfoque bibliográfico e qualitativo, a presente pesquisa abrangeu os seguintes tópicos:

O primeiro capítulo apresenta a História da arte brasileira representada pelos estilos Barroco, Arcadismo e Expressionismo.

O segundo capítulo mostra o Pré-Modernismo, e o Modernismo no Brasil, os principais autores e tendências.

O terceiro capítulo enfoca um dos principais movimentos que marcaram a História da Arte no Brasil – A Semana de Arte Moderna, mostrando toda a sua retratação na literatura, prosa, poesia, música, arte, pintura e arquitetura.

O quarto capítulo mostra como ficou o Brasil depois da Semana de Artes Moderna e o reflexo diante do desenvolvimento das novas mentalidades voltadas para a música, artes plástica, teatro, cinema e outros movimentos.



1. A HISTÓRIA DA ARTE BRASILEIRA REPRESENTADA PELOS ESTILOS BARROCO, ARCADISMO E EXPRESSIONISMO

1.1. O Barroco no Brasil

O primeiro estilo artístico que o Brasil conheceu foi o Barroco, trazido pelos primeiros colonizadores e introduzido em toda a costa brasileira. Era o estilo vigente na Europa e é muito lógico portanto, que todas as construções feitas no Brasil nesse período fossem feitas dentro do estilo Barroco Português: os fortes, as construções civis e as igrejas.

O Barroco no Brasil foi formado por uma complexa teia de influências européias e locais, embora em geral coloridas pela interpretação portuguesa do estilo. É preciso lembrar que o contexto econômico em que o Barroco se desenvolveu na colônia era completamente diverso daquele que lhe dava origem na Europa. Aqui o ambiente era de pobreza e escassez, com tudo ainda por fazer. Por isso o Barroco brasileiro já foi acusado de pobreza e incompetência quando comparado com o europeu, de caráter erudito, cortesão, sofisticado e sobretudo branco, apesar de todo ouro nas igrejas nacionais, pois muita coisa é de execução tecnicamente tosca, feita por mão escrava ou morena. Mas esse rosto impuro, mestiço, é que o torna único e inestimável.

Também é preciso assinalar que o barroco se enraizou no Brasil com certo atraso em relação à Europa, e este descompasso, que se perpetuou por toda sua trajetória, por vezes ajudou a mesclar, de forma imprevista, elementos estilísticos que se desenvolveram localmente com outros externos mais atualizados que estavam em constante importação. Os religiosos ativos no país, muitos deles literatos, arquitetos, pintores e escultores, e oriundos de diversos países, contribuíram para esta complexidade trazendo sua variada formação, que receberam em países como Espanha, Itália e França, além do próprio Portugal. O contato com o oriente, via Portugal e as companhias navegadoras de comércio internacional, também deixou sua marca, visível nas peças que se encontram ocasionalmente nas decorações e nas estatuetas em marfim.

Por predominar, o Barroco, o aspecto emocional, este tomou características diferentes em cada país. No Brasil, não fugiu à regra e transformou-se no estilo colonial brasileiro, conhecido como “Barroco brasileiro”.

O Barroco firmou-se no Brasil no século XVIII, bem mais tarde do que na Europa, e é chamado aqui de Barroco tardio.

Voltando ao aspecto já visto anteriormente, o Barroco pode ser encontrado em toda a costa brasileira, de norte a sul, mas há três focos principais e caracteristicamente diferentes: Bahia, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

No Brasil, as características apresentadas pela arte barroca são:

Na arquitetura: uso de curvas e contracurvas; Igrejas apresentando uma nave central, duas naves laterais e duas torres laterais, onde se destacam relógios circulares, ou mesmo a Rosa-dos-Ventos dentro de um círculo; simplicidade no aspecto externo dos prédios, constratando com a opulência anterior; aberturas terminadas ou arrematadas com arcos, fugindo da linha reta; escultura a serviço da arquitetura; na Bahia, predominância da cor dourada e do branco; em Minas Gerais, predominância do azul colonial como fundo dourado e vermelho (muito pouco usado), os prédios com acabamento em pedra-sabão, apresentando o medalhão (característica de Aleijadinho); nos conventos, igrejas, palácios e muitas fontes, o uso do azulejo português.

Muitos são os artistas barrocos brasileiros que se destacaram na arquitetura, entre eles Francisco Pombal, Manuel Francisco Lisboa, Xavier de rito, José Coelho Noronha, Antonio Francisco da Costa Lisboa e João Gomes Batista.

Indiscutivelmente, o maior de todos foi Antonio Francisco da Costa Lisboa, o “Aleijadinho”, seja pela quantidade, seja pela qualidade de suas obras. Executou prédios, pórticos, púlpitos, imagens, entre outros. Em Congonhas está uma de suas maiores obras: a Igreja de Bom Jesus de Matosinho, com seus Profetas e Passo da Paixão de Cristo.

Na pintura: a pintura barroca brasileira seguiu os moldes do padrão europeu, mas sofreu influência dos pintores holandeses trazidos por Nassau durante as invasões holandesas no Brasil.

Os principais nomes que devem ser lembrados nesta área são: Francisco Post (o primeiro a executar um trabalho a óleo no Brasil); Albert Eckhout, que procurou retratar o indígena brasileiro: José Soares de Araújo e Manuel da Costa Athayde, contemporâneo e colaborador de Aleijadinho.

A escultura: a escultura barroca também seguiu os moldes europeus, mas acrescentou o toque brasileiro quando se utilizou a pedra-sabão. Além disso, nos trabalhos de Aleijadinho se manifestou uma linguagem estética própria, pela qual quase todas as figuras são encaradas como bonecos, excetuando-se as figuras de Cristo, da Virgem e dos Apóstolos. Aparecendo o tipo físico brasileiro e olhos salientes.

O Barroco encontrado nos Sete Povos das Missões, no Rio Grande do Sul, executados pelos índios da região, retrata nas imagens e nas figuras, o tipo indígena e apresenta o talhe rústico do machado.

Uma curiosidade que caracteriza a escultura barroca brasileira, são as chamadas imagens de pau oco, de onde se originou a expressão “santo do pau oco”. Eram esculturas ocas de imagens sacras, que serviam para levar ouro e pedras preciosas contrabandeadas para a Europa. (ALTET, 1990)

1.2. Arcadismo ou neoclassicismo

O Arcadismo ou neoclassicismo desenvolveu-se no Brasil do século XVIII e se prendeu ao estado de Minas Gerais, onde se havia descoberto ouro, fato que marcou o local como centro econômico e, portanto, cultural da colônia portuguesa.

No apogeu da produção aurífera, entre as décadas de 1740 e 1760, Vila Rica (hoje Ouro Preto) e o Rio de Janeiro substituíram a cidade de Salvador como os dois pólos da produção e divulgação de idéias.

Os ideais do Iluminismo francês foram trazidos da Europa pelos poucos membros da burguesia letrada brasileira – juristas formados em Coimbra, padres, comerciantes, militares. Alguns autores destacados desse momento são: Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Basílio da Gama e José de Santa Rita Durão.

O Arcadismo, também chamado Neoclassicismo, terminou em 1836, no Brasil, e abriu as portas para o Romantismo.

Delimitou-se ao Arcadismo no Brasil entre os anos de 1768 (publicação das Obras poéticas, de Cláudio Manuel da Costa) e 1836 (início do Romantismo) e, apesar dos traços do cultismo barroco em alguns poetas, a maioria deles procurou seguir as convenções dos neoclassicistas europeus. São elas:

• Utilização de personagens mitológicas;
• Idealização da vida campestre (bucolismo);
• Eu lírico caracterizado como um pastor e a mulher amada como uma pastora (pastoralismo);
• Ambiente tranqüilo, idealização da natureza, cenário perfeito e aprazível (locus amoenus);
• Visão da cidade como local de sofrimento e corrupção (fugere urbem);
• Elogio ao equilíbrio e desprezo às extremidades (aurea mediocritas – expressão de Horácio);
• Desprezo aos prazeres do luxo e da riqueza (estoicismo);
• Aproveitamento do momento presente, devido à incerteza do amanhã. Vivência plena do amor durante a juventude, porque a velhice é incerta.

Além das características trazidas da Europa, o arcadismo no Brasil adquiriu algumas particularidades temáticas abaixo apontadas:

• Inserção de temas e motivos não existentes no modelo europeu, como a paisagem tropical, elementos da flora e da fauna do Brasil e alguns aspectos peculiares da colônia, como a mineração, por exemplo;
• Episódios da história do país, nas poesias heróicas;
• O índio como tema literário.

Esses novos temas já prenunciavam o que seria o Romantismo no Brasil: a representação do indígena e da cor local.

1.2.1. Poesia lírica

A poesia lírica, no Brasil, ficou a cargo, principalmente, de Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga, sendo deste último a principal obra árcade do país: Marília de Dirceu.

Soneto

Destes penhascos fez a natureza
O berço, em que nasci: oh quem cuidara.
Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza!
Amor que vence os tigres, por empresa
Tomou logo render-me; ele dedara
Contra o meu coração guerra tão rara
Que não me foi bastante a fortaleza.
Por mais que eu mesmo conhecesse o dano,
A que dava ocasião minha brandura,
Nunca pude fugir ao cego engano:
Vós, que ostentai a condição mais dura,
Temei, penhas, temi; que amor tirano,
Onde há mais resistência, mais se apura.

Cláudio Manuel da Costa

Considerado o introdutor do Arcadismo no Brasil estudou Direito em Coimbra e voltou à terra natal para exercer a profissão e cuidar de sua herança. Apesar da vida pacata em Vila Rica, foi ele uma das vítimas do rigor com que o governo português tratou os participantes da Inconfidência Mineira. Preso em maio de 1789, após um interrogatório, em julho, foi encontrado enforcado em seu cárcere. Há a hipótese de ter sido assassinado.

Como poeta de transição sua poesia ainda está ligada ao cultismo barroco, em vários aspectos. Mesmo assim, era respeitado, admirado e tido como mestre por outros poetas árcades, como Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto.

Sua obra lírica é constituída, principalmente, de éclogas e sonetos. Dentre elas, são dignas de destaque Obras poéticas – obra que introduziu o Arcadismo – e Vila Rica – poema épico.

Tomás Antônio Gonzaga

Português de nascimento, Tomás Antônio Gonzaga passou sua infância no Brasil. Voltou a Portugal e se formou em Coimbra. A partir de 1782 passou a exercer o cargo de ouvidor em Vila Rica.

Apaixonou-se aos 40 anos de idade por Maria Doroteia Joaquina de Seixas, de 17 anos. A família da moça se opôs ao namoro, naturalmente. Quando estava prestes a vencer as resistências, foi preso e enviado para a ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, por ter participado da Inconfidência Mineira, em 1789.

Os últimos anos de sua vida, passou exilado em Moçambique, casado com a filha de um comerciante de escravos. Nunca se casou com Maria Dorotéia, mas transformou esse namoro no primeiro mito amoroso da literatura brasileira e nele inspirou uma das mais importantes obras líricas da língua.

Marília de Dirceu

Frontispício da edição de 1824. As Liras de Tomás Antônio Gonzaga, popularmente conhecidas como Marília de Dirceu, constituem a obra poética de maior relevância do século XVIII do Brasil e do Neoclassicismo em língua portuguesa.

Duas tendências são perceptíveis nas liras de Gonzaga, assim como é possível observar na obra do português Bocage, da mesma época:

• O equilíbrio e o contentamento do Arcadismo, além da utilização das paisagens neoclássicas: o pastor, a pastora, o campo, a serenidade do local etc.;
• O pré-Romantismo representado no emocionalismo, na manifestação pungente da crise amorosa e, logo após, na prisão, que reproduzem a crise existencial do poeta.
• A todo momento, a emoção rompe a estilização arcádica, surgindo, assim, uma poesia de alta qualidade.

Dividida em duas partes mais uma terceira, cuja autenticidade é contestada por alguns críticos, Marília de Dirceu narra o drama amoroso vivido por Gonzaga e Maria Dorotéia.

1ª parte

Reúne os poemas anteriores à prisão de Gonzaga. Nela é mais evidente as composições convencionais: Dirceu contempla a beleza da pastora Marília em pequenas odes anacreônticas. Em algumas liras, o poeta não consegue disfarçar suas confissões amorosas. Mostra-se ansioso por amar uma moça muito mais jovem, por querer demonstrar que merece o coração da amada. Também faz projetos para o futuro ao lado da moça.

2ª parte:

Escrita na prisão da ilha das Cobras. Traduzem a solidão de Dirceu, saudoso de Marília. Esta é considerada a parte de maior qualidade, pois, apesar das convenções ainda presentes, já não consegue sustentar o equilíbrio neoclássico. Há certo pessimismo confessional que já prenunciam o emocionalismo romântico.

1.2.2. Poesia épica

A poesia épica do Arcadismo brasileiro trouxe inovações para esta escola, que a diferenciou ainda mais do modelo europeu. Temas da história colonial em meio à descrição da paisagem tropical do país e a inserção do índio como herói, mesmo que ainda coadjuvante do homem branco. São as novas perspectivas que começam a delinear uma literatura nacionalista, a ser fundada durante o Romantismo.

Dentre os autores mais conhecidos estão Basílio da Gama e seu O Uraguai, o Frei José de Santa Rita Durão com Caramuru e o poema Vila Rica, de Cláudio Manuel da Costa.

Basílio da Gama

Foi um poeta luso-brasileiro do Brasil Colônia, filho de pai português e mãe brasileira. Ficou órfão e foi para o Rio de Janeiro. Entrou em 1757 para a Companhia de Jesus. Dois anos depois, a ordem foi expulsa do Brasil e o poeta foi para Portugal e depois para Roma, onde foi admitido na Arcádia Romana. De volta a Lisboa, por suspeita de hansenismo, foi condenando ao degredo em Angola; salvou-o um epitalâmio que dedicou à filha do marquês de Pombal, que o indultou e protegeu.

Em 1769, publica o poema épico O Uraguai, que tem por assunto a guerra movida por Portugal aos índios das missões do Rio Grande do Sul (Sete Povos das Missões). Mais tarde foi nomeado oficial da Secretaria do Reino. Patrono da Academia Brasileira de Letras. Utilizou o pseudônimo Termindo Sipílio.

1.3. EXPRESSIONISMO

O expressionismo surgiu no Brasil como reação ao impressionismo: bem como os impressionistas plasmavam na tela uma “impressão” do mundo circundante, um simples reflexo dos sentidos, os expressionistas visavam a refletir o seu mundo interior, uma “expressão” dos seus próprios sentimentos.

Assim, os expressionistas empregaram a linha e a cor temperamental e emotivamente, com forte conteúdo simbólico. Esta reação frente ao impressionismo implicou uma forte ruptura com a arte elaborada pela geração precedente, tornando o expressionismo num sinônimo da arte moderna durante os primeiros anos do século XX. O expressionismo implicou um novo conceito da arte, entendida como uma forma de captar a existência, de transluzir em imagens o substrato que subjace sob a realidade aparente, de refletir o imutável e eterno do ser humano e a natureza.

O expressionismo foi o ponto de partida de um processo de transmutação da realidade que cristalizou no expressionismo abstrato e o informalismo. Os expressionistas utilizavam a arte como uma forma de refletir os seus sentimentos, o seu estado anímico, propenso pelo general à melancolia, à evocação, a um decadentismo de corte neorromântico. Assim, a arte era uma experiência catárquica, onde se purificavam os desafogos espirituais, a angústia vital do artista.

No Brasil, existiu ainda a presença de Cândido Portinari, pintor de renome universal. De família pobre, estudou na Escola Nacional de Belas Artes de Rio de Janeiro. Em 1929 viajou para Europa, estabelecendo-se em Paris após percorrer Espanha, a Itália e Inglaterra, para voltar em 1931. Com influência de Picasso, na sua obra expressou o mundo dos pobres e desfavorecidos, dos operários e os agricultores.

Outro nome a destacar-se seria o de Anita Malfatti, considerada a introdutora das vanguardas europeias e norte-americanas no Brasil. Em 1910 viajou para Berlim, onde estudou com Lovis Corinth. A sua obra caracterizou-se pelas cores violentas, em retratos, nus, paisagens e cenas populares. Desde 1925 abandonou o expressionismo e começou uma carreira mais convencional.

No Brasil, observa-se, como nunca, um desejo expresso e intenso de pesquisar nossa realidade social, espiritual e cultural. A arte mergulha fundo no tenso panorama ideológico da época, buscando analisar as contradições vividas pelo país e representá-las pela linguagem estética.

O expressionismo surgiu como reação ao impressionismo: bem como os impressionistas plasmavam na tela uma “impressão” do mundo circundante, um simples reflexo dos sentidos, os expressionistas visavam a refletir o seu mundo interior, uma “expressão” dos seus próprios sentimentos. Assim, os expressionistas empregaram a linha e a cor temperamental e emotivamente, com forte conteúdo simbólico. Esta reação frente ao impressionismo implicou uma forte ruptura com a arte elaborada pela geração precedente, tornando o expressionismo num sinônimo da arte moderna durante os primeiros anos do século XX.

O expressionismo implicou um novo conceito da arte, entendida como uma forma de captar a existência, de transluzir em imagens o substrato que subjace sob a realidade aparente, de refletir o imutável e eterno do ser humano e a natureza. Assim, o expressionismo foi o ponto de partida de um processo de transmutação da realidade que cristalizou no expressionismo abstrato e o informalismo.

Os expressionistas utilizavam a arte como uma forma de refletir os seus sentimentos, o seu estado anímico, propenso pelo general à melancolia, à evocação, a um decadentismo de corte neorromântico. Assim, a arte era uma experiência catárquica, onde se purificavam os desafogos espirituais, a angústia vital do artista.

1.3.1. Principais Artistas do expressionismo brasileiro

Lasar Segall

De volta da Alemanha, até 1923, seu desenho anguloso e suas cores fortes procuravam expressar as paixões e os sofrimentos de ser humanos. Em 1924, retornando para o Brasil, assumiu uma temática brasileira: seus personagens passaram a ser mulatas, prostitutas e marinheiros; sua paisagem, favelas e bananeiras. Em 1929, o artista dedicou-se à escultura em madeira, pedra e gesso. Mas entre os anos de 1936 e 1950, sua pintura voltou-se para os grandes temas universais, sobretudo para o sofrimento e a solidão.

Anita Malfatti

Sua arte era livre das limitações que o academicismo impunha, seus trabalhos se tornaram marcos na pintura moderna brasileira, por seu comprometimento com as novas tendências.

Obras destacadas: A Estudante Russa, O Homem Amarelo, Mulher de Cabelos Verdes e Caboclinha.

Candido Portinari

Importante pintor brasileiro, cuja temática expressa o papel que os artistas da época propunham: denunciou as desigualdades da sociedade brasileira e as consequências desse desequilíbrio. Seu trabalho ficou conhecido internacionalmente através dos corpos humanos sugerindo volume e pés enormes que fazem com que as figuras pareçam relacionar-se intimamente com a terra, esta sempre pintada em tons muito vermelhos. Portinari pintou painéis para o pavilhão brasileiro da Feira Mundial de Nova York, Via Crucis – para a igreja de São Francisco, na Pampulha, Belo Horizonte (MG) e murais da sala da Fundação Hispânica na Biblioteca do Congresso, em Washington. Sua pintura retratou os retirantes nordestinos, a infância em Brodósqui, os cangaceiros e temas de conteúdo histórico como Tiradentes, atualmente no Memorial da América Latina, em São Paulo, e o painel A Guerra e a Paz, pintado em 1957 para a sede da ONU.



2. PRÉ MODERNISMO E MODERNISMO NO BRASIL

2.1. Pré-Modernismo

A fase pré-modernista caracterizou-se pelo clima de euforia da burguesia em contraste com o pessimismo representado pela decadência do Simbolismo. Teve início no final do século XIX, onde no momento havia uma disputa acirrada pelos mercadores fornecedores e consumidores, o que resultou na I Guerra Mundial

No Brasil, era a época da política do café com leite, das rebeliões, movimentos grevistas, guerra dos Canudos e o cangaço no Nordeste Este era o quadro que caracterizava o país.

A classe dominante (Aritocracia), que seguia as tendências européias, distanciava-se cada vez mais da classe média, que acompanhava as manifestações populares.

Com essas desigualdades, a população inquietava-se, aumentando seu desejo de retratar a sociedade.

Assim despontou o Pré-Modernismo, procurando mostrar as falhas de uma sociedade dividida entre o caipira e o sertanejo, representantes da classe média. Era a prosa pré-modernista.

Segundo (PEDRO 2005, p. 368), de modo geral, podem-se classificar como pré-modernistas, as obras das primeiras décadas do século XX que fogem da frivolidade do período anterior, antecipando certas questões mais tarde levantadas pelos modernistas.

Na literatura, destacaram-se Lima Barreto, Euclides da Cunha, Graça Aranha e Monteiro Lobato. Na poesia, o modelo ainda era o parnasiano, com exceção de Augusto dos Anjos, que transitava entre o Parnasianismo e o Simbolismo.

Um poeta – Augusto dos Anjos e três prosadores – Lima Barreto, Monteiro Lobato e Euclides da Cunha, são os principais escritores denominados pré-modernistas. Isto porque, são não há muitas semelhanças estilísticas ou mesmo temáticas em suas obras, elas têm em comum o fato de contrastarem com o contexto literário em que foram escritas.

No Brasil, o Pré-Modernismo teve início aproximadamente em 1902, com a publicação de “Os Sertões” de Euclides da Cunha e terminou em 1922, com a Semana da Arte Moderna.

O Pré-Modernismo se caracterizou por uma literatura satisfeita, sem angústia forma, sem rebelião nem abismos. Sua única mágoa é não parecer de todo européia, seu esforço mais tenaz é conseguir pela cópia o equilíbrio e a harmonia, ou seja, o academicismo (…). Em Alphonsus de Guimarães e Augusto dos Anjos, em Euclides da Cunha e Lima Barreto, poderiam os escritores desta fase encontrar discordâncias estimulantes para a sua atividade literária. No entanto, ou os deixaram de lado, ou foram buscar neles o que tinham de comum com as limitações de que padeciam. (AMARAL, 1995, p. 265).

2.2. Os principais autores Pré-Modernistas brasileiros

Euclides da Cunha (1866-1909)

Por ocasião dos conflitos de Canudos no interior da Bahia, em 1897, Euclides da Cunha para seguiu como correspondente de guerra do jornal “O Estado de são Paulo”. O reporte pensava tratar-se de um levante monarquista contra a República, mas o que encontrou foi somente um agrupamento de sertanejos, a expressão mais cruel de uma terra abandonada à própria sorte, Quando voltou, teve material para sua obra- prima “Os Sertões”. Nessa obra, de difícil classificação, pois se situa entre a história, a sociologia e a literatura, Euclides da Cunha descreveu a terra, o homem da sociedade, a religião, enfim, todos os aspectos do sertão brasileiro. Sua finalidade foi não só mostrar à nação a vida humilde e abandonada da gente do sertão, esquecida pelos governantes, mas também denunciar o erro do governo com sua expedição punitiva, sem considerar os antecedentes de natureza sociologia que deram origem ao conflito.

Sua obra dividi-se em três partes:

1) “A terra” – descrição geográfica da região e das difíceis condições de sobrevivência de seu povo.
2) “O homem” – caracterização dos vários tipos de brasileiros. O autor detém-se no jagunço, a “sub-raça”, com suas desgraças e torturas. Nesta obra apresenta Antônio Conselheiro, o líder de Canudos.
3) “A luta” – descrição da resistência heróica de Antônio Conselheiro e a matança de 25 mil pessoas.

Os Sertões (1902)

Euclides da Cunha

“ … O sertanejo e, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênico do litoral. A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário…”

Este é um dos trechos mais conhecidos de “Os Sertões”, de Euclides da Cunha. Nele, o autor, opondo a força dos sertanejos ao raquitismo dos mestiços do litoral, mostra não só o assunto de que se trata, os dois brasis, mas também o ponto de vista que assume perante este assunto, a do sertanejo.

Este trecho retrata também um componente determinista da obra de Euclides da Cunha, o homem influenciado pela etnia, por circunstâncias genéticas e raciais, que se ligam a condições geográficas e ambientais.

Augusto dos Anjos (1884 – 1914)

Augusto dos Anjos foi o poeta mais original do início do século XX. Embora apresente influências formais parnasianas (gosto pelos versos alexandrinos e decassílabos), influências naturalistas (crença no cientificismo e no determinismo) e, influências simbolistas (musicalidade dos versos e pessimismo), produziu uma poesia singular, expressa em um único livro, “Eu”.

Versos Íntimos (Augusto dos Anjos)

Vês? ! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera;
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A não que afaga é a mesma que apedreja.
Se alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que de afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

(Pau D’Arco, 1901)

Em Versos Íntimos, temos um soneto decassílabo, com um esquema regular de rimas, o que indica a preocupação forma comuns aos estilos parnasiano e simbolista.

Monteiro Lobato (1822 – 1948)

Principais obras

Crônica: obra principal: Urupês (1918)

Contos: Idéias de Jeca Tatu, Cidades Mortas, Negrinha.

Romance: O Choque das Raças ou o Presidente Negro.

Literatura infantil: Reinações de Narizinho, História do Mundo para Crianças, Memórias da Emília, O Pica-Pau Amarelo, etc.

Monteiro Lobato pode ser destacado no Brasil, como um dos melhores escritores de tendência regionalista e de história para crianças – as melhores que já se fizeram no país. Empresário de seus livros e fundador da primeira editora, nacionalista convicto e militante, pode ser considerado uma espécie de símbolo do homem moderno.

Trecho de Urupês

( Monteiro Lobato)

(..) Nada o esperta. Nenhuma ferrotoada o põe de pé. Social, como individualmente, em todos os atos da vida, Jeca, antes de agir, acocora-se.

Jeca Tatu é um piraquara do Paraíba, maravilhoso epítome de carne onde se resumem todas as características da espécie (…)

Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade!

Lima Barreto (1881-1922)

Principais obras:

Romance: Triste Fim de Policarpo Quaresma (1911), Recordações do escrivão Isaias Caminha, Vida e Morte de J. Gonzaga de Sá, Numa e a ninfa, Clara dos Anjos. Escreveu também contos e crônicas.

Lima Barreto, mestiço, de família modesta, passou por várias internações em razão do alcoolismo. É considerado o escritor da Primeira República no Pré-Modernismo. Representou as classes marginalizadas da sociedade carioca no começo do século XX,

Trecho de “Triste Fim de Policarpo Quaresma” de Lima Barreto

“Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público, certo de que a língua portuguesa é emprestada ao Brasil; certo também de que, por esse fato, o falar e o escrever em geral, sobretudo no campo das letra, se vêem na humilhante contingência do sofrer continuamente censuras ásperas dos proprietários da língua (…) – usando do direito que lhe confere a Constituição; vem pedir que o Congresso Nacional decrete o tupi-guarani como língua oficial e nacional do povo brasileiro.”

Destacam-se ainda:

Na prosa

Valdomiro Silveira (1878 – 1941)

Retratou os costumes, as cenas e, sobretudo, o linguajar típico dos caipiras de São Paulo.

Simôes Lopes Neto (1865 – 1916)

Descreveu os tipos humanos, os costumes e a linguagem do Rios Grande do Sul.

Na poesia

Menotti Del Picchia (1892 – 1988)

Escreveu “Juca Mulato”, sua obra mais conhecida, cuja temática é o caboclo. Embora tenha sido figura atuante no pré-modernismo e no modernismo, suas obras revelam uma mistura de Simbolismo e Naturalismo.

2.3. O Modernismo

Na presente pesquisa, não será aprofundado o Modernismo em um contexto geral, apenas uma leve apresentação para que possa ser esclarecido a expressão que fez parte mundialmente a diversos movimentos da literatura, das artes plástica, da arquitetura e da musica, surgido na Europa, no final do século XIX, e que se estenderam até a década de 1930 aproximadamente.

O Modernismo foi muito importante para a cultura brasileira, pois estimulou os escritores e artista a criarem uma cultura genuinamente brasileira. Já estava no momento de o Brasil criar uma cultura adequada à sua própria realidade, que levassem os brasileiros a compreenderem melhor a sim mesmo e ao seu país.

Nessa época, poetas, escritores, músicos, pintores e escultores europeus procuravam novos caminhos para a expressão artística. Essa busca pelo “novo”, deu origem a movimentos como o “Expressionismo”, o “Cubismo”, o “Futurismo” e o “Dadaísmo”, e “Surrealismo”, especificados a seguir, segundo classificação de MAIA (2000).

Expressionismo – Surgido no fim do século XIX, propunha a distorção das formas naturais para expressar a visão e as emoções do artista.

Cubismo – Surgido em 1907, seus integrantes sugeriam várias visões de um objeto em uma única imagem, decompondo-o em formas geométricas e representando-o de diferentes ângulos. Na poesia, valorizava o subjetivismo, a ilogicidade, a frase nominal, o tempo presente, a enumeração caótica e o humor. Na pintura, um dos exemplos é Picasso. Na literatura, Oswald de Andrade.

Futurismo – Movimento artístico e literário (1909-1914) – Surgido na Itália e lançado por Marinetti, retratou a velocidade do mundo moderno, destacando a era das máquinas. Propunha a destruição do passado, a exaltação da vida moderna, o culto da máquina e da velocidade, pregando uma arte voltada para o futuro, agressiva e violentam enaltecendo a guerra, o militarismo e o patriotismo. Marinetti preconizava também a destruição da sintaxe, com substantivos dispostos ao acaso, a eliminação da pontuação e a abolição do adjetivo, do advérbio e das conjunções.

Dadaísmo – Movimento surgido em 1916 entre artistas e intelectuais europeus em repúdio à Primeira Guerra Mundial e aos valores da civilização ocidental. Seu criador, Tristan Tzara, pregava a destruição de todos os valores culturais da sociedade que fazia a guerra, instalando o absurdo, o ilógico e o incoerente. Buscava-se assim uma antiarte, irracional e anárquica. Daí o automatismo psíquico as livres associações, a invenção de palavras desconexas, a exaltação da total liberdade de criação, o sarcasmo, a irreverência e a aproximação com o mundo dos loucos e das crianças.

Surrealismo – Lançado na França, em 1924, valorizava o passado, buscava a emancipação total do homem fora da lógica, da razão, da família, da pátria, da moral e da religião. Influenciados pela teoria psicanalítica de Freud, os surrealistas conferiam importância ao sonho e à exploração do inconsciente, praticando o automatismo psíquico e a expressão libertada da censura e sem o controle da razão.

2.4. O Modernismo no Brasil

No Brasil o Modernismo foi um movimento artístico e literário, cujo marco principal deu-se com a “Semana de Arte Moderna de 1922”, em São Paulo, que constitui uma tomada de posição coletiva de artistas contras os preconceitos, a tradição e os modelos dominantes, propondo o direito à pesquisa estética, a valorização e a atualização da inteligência nacional e o estabelecimento de uma consciência criadora brasileira.

O Modernismo pode ser considerado um movimento da arte brasileira em todas as suas dimensões originado no início do século XX, cujo ápice foi a Semana de Arte Moderna de 1922. Com ele, muito do que era feito segundo tradições bastantes estabelecidas foi deixando de lado: ele representou um ruptura profunda com a tradição. Por isso mesmo, o Modernismo brasileiro nunca deixou de se reinventar.. BELLO (1999, p. 89).

O modernismo não é nada mais do que um estilo construído a partir de uma nova linguagem, amparada por um conjunto de signos, com significações claras. Seria como uma representação estética que gerações, em épocas e períodos determinados

Os ideais modernista chegaram ao Brasil com quase vinte anos de atraso. Este processo se deu diante das dificuldades da troca lenta de informações e do atraso econômico do país. A arte modernista refletia o mundo da máquina da cidade grande, da velocidade do capitalismo industrial, da revolução social nos países desenvolvidos e que no Brasil, essa realidade moderna estava ainda nascendo.

O Modernismo brasileiro refletiu as influências das vanguardas européias e dos acontecimentos político-socias internos: o tenentismo, a coluna Prestes, a desvalorização do café, a revolução de 1930 e o Estado Novo.

Como a tendência de vanguarda, o modernismo de 1922 não se impôs ao primeiro momento e nem provocou, de imediato, grande repercussão. As primeiras obras traziam ainda a marca alienígina, especialmente das vanguardas européias, embora não muito profunda como o futurismo, cubismo e dadaísmo, que influenciaram sobretudo as artes plásticas. Contudo, pouco a pouco, o movimento foi adquirindo estruturação própria. As oposições tornaram-se mais acirradas e o movimento se diversificou nas mais variadas tendências, nascidas da abertura proposta pela atitude revolucionária, de tal maneira que foi possível apontar correntes definidoras e localizadas.

Os artistas modernos não queriam imitar a fotografia, a pintura e a escultura não deveriam reproduzir a realidade fielmente, mas sim, criar uma nova. Uma realidade mais profunda e mais bela e que pudesse revelar, de modo crítico, o mundo em que estavam vivendo. Por isso, buscavam novas maneiras de se expressar, novas linguagens. (SCHIMIDT,1999).



2.5. As tendências no modernismo

No Rio de Janeiro, os movimentos dinamistas, revelava preocupação com o progresso material, a velocidade e a técnica no mundo moderno, e caracterizava-se nas obras de Graça Aranha, Ronald de Carvalho, Álvaro Moreyra, Vila-Lobos e outros. A “tendência primitivista” concentrava-se em motivos primitivos da nacionalidade, e estava presente sobretudo na obra de Oswald de Andrade, Raul Bopp e Antônio de Alcântara Machado, e à qual se deve o rico e importante movimento antropofágico. A “tendência nacionalista”, preocupava-se com a nacionalização da literatura e valia-se de temática folclórica, indígena e americana, e em uma flagrante atitude anti-européia; tem exemplos nas obras de Oswald de Andrade, Raul Bopp, Cassiano Ricardo, Guilherme de Almeida, Menotti Del Pichia e outros. A “tendência desvairista”, que se preocupava com a pesquisa e a renovação dos modelos literários e cujo principal propugnador foi Mário de Andrade.

A tendência espiritualista”, que pretendia a permanência da herança do Simbolismo, a defesa do tradicional e do misterioso, sem descuidar das novas conquistas e tentando conciliar o passado e o futuro. Seus nomes principais são Tasso da Silveira, Andrade Murici, Augusto Frederico Schmidt, Murilo Araújo, Barreto Filho, Adelino Magalhães, Cecília Meireles e Murilo Mendes. Outros nomes como Jorge de Lima e Roberto couto, são também representantes das novas tendências artísticas sem o caráter de atitude coletiva que possibilitou a sistematização apresentada acima..

2.6. Os modernistas da primeira fase (1922 – 1930)

Oswald de Andrade (1890 – 1954)

Obras consagradas:

Romances: Os Condenados; Memórias Sentimentais de João Miramar (1924) Serafim Ponte Grande (1933);

Poesia: Primeiro Caderno do Aluno de Poesia, Pau-Brasil (1925); Teatro: O Rei da vela (1937), Estilo fragmentário e humor e irreverência.

Características:

Sentido anárquico e demolidor; recusa valores desgastados. O verso livre, o tom de prosa, a simplicidade da linguagem e a extrema condensação, ou síntese, são os principais elementos dos poemas de Oswald de Andrade. Ele sugere a idéia de poesia como ingenuidade, supresa, e também imaginação, invenção, magia, liberdade, na medida em que é associada ao universo infantil.

3 de maio

Aprendi com meu filho de dez anos
Que a poesia é a descoberta
Das coisas que eu nunca vi
Pau Brasil (1925)

Oswald de Andrade

Primeiro Caderno de Aluno de Poesia

Eu sou redondo, redondo
Redondo, redondo, eu sei
Eu sou uma redondilha
Das mulheres que beijei
Vou falecer oh! Amor
Das mulheres da milha’ilha
Minha caverna rirá ah! Ah! Ah!
Pensando na redondilha.

Oswald de Andrade

Mário de Andrade (1893 – 1968)

Obras consagradas:

Poesia: Paulicéia desvairada (1922), Remate de Males (1930), Lira Paulistana (1945;

Romances: Macunaíma (1928), Contos novos (1947);

Prosa: Lirismo fluente, coliquialismo; “abrasileiramento” das influências vanguardistas, incorporação do folclore.

Características:

Poeta e escritor paulista por excelência, Mario de Andrade dedicou-se a um grande número de atividades culturais e foi o principal representante da primeira fase do Modernismo. Escreveu poesias que se destacaram como Paulicéia Desvairada, prosas e ensaios. Macunaíma é uma de suas principais obras, chamada por ele de rapsódia (composição musical formada por uma grande variedade de motivos populares). O livro foi construído com base em elementos de várias procedências como: ditado popular, lendas indígenas, evocações históricas, superstições e paródias, associados pelo autor para contar os feitos do herói de Macunaíma, nome originário de um mito indígena.

INSPIRAÇÃO

São Paulo! Comoção da minha vida…
Os meus amores são flores feitas de original…
Arlequinal!…Trajes de losangos…Cinza e ouro…
Luz e bruma… Forno e inverno morno…
Elegâncias sutis sem escândalos, se ciúmes…
Perfumes de Paris…Arys!
Bofetadas líricas no Trianon… Algodoal!…
São Paulo! Comoção de minha vida.l.
Galicismo a berrar nos desertos da América!

Mário de Andrade

Paulicéia Desvairada

Manuel Bandeira (1886 – 1968)

Obras consagradas

Livros: Carnaval (1919), Libertinagem (1930), Estrela da Manhã (1936), Estrela da Tarde (1958).

Características

O solitário pernambucano Manuel Bandeira, viveu ameaçado pela tuberculose, da qual zombou em versos livres, numa linguagem simples e coloquial, que vieram a ser suas características fundamentais.

Manuel Bandeira

Libertinagem (1930)

Antonio de Alcântara Machado (1901 – 1935).

Obras consagradas:

Brás, Bexiga e Barra Funda (1927).

Prosa: Retratos do cotidiano dos imigrantes italianos.

Características:

Foi o modernista pioneiro da prosa simples e de sabor popular. Em suas obras, revela-se um intenso sentimento paulistano, refletindo as modificações da estrutura social de sua cidade: aborda a industrialização, o imigrante, a transformação vertiginosa da paisagem paulistana. Em sua prosa amena e bem humorada, utilizou um vocábulos ítalo-brasileiro.

Carlos Drumond de Andrade (1902 – 1987)

Obras consagradas: Alguma poesia, Brejo das almas

Outros autores modernistas:

Cecília Meireles (1901 – 1964)
Vinicius de Moraes (1913 – 1980)
Raquel de Queiroz (1910 – 2003)
Graciliano Ramos (1892 – 1953)
José Lins do Rego (1901 – 1957)

3. A SEMANA DE ARTE MODERNA E A SUA RETRATAÇÃO NA LITERATURA, PROSA, POESIA, MÚSICA, ARTE,

PINTURA E ARQUITETURA

3.1. A idéia e organização da Semana de Arte Moderna

Em fevereiro de 1922, no Teatro Municipal, no centro da cidade de são Paulo, um grupo de jovens artistas e intelectuais, com o apoio de algumas figuras já estabelecidas no mundo das letras, apresentou poemas e quadros, discursos e músicas, romances e esculturas para um público de modo geral hostil. Na platéia, os estudantes da faculdade de direito, latiam imitando cachorros, para expressar seu repúdio. Alguns tomates foram jogados. Alguns quadros foram mutilados a bengaladas. Tratava-se de um dos grandes acontecimentos da história da cultura brasileira: a legendária Semana de Arte Moderna.

Segundo PRADO (1976), a idéia da Semana de Arte Moderna nasceu numa reunião heterogênea na cada do fazendeiro de café Paulo Prado, que teve a idéia de fazer algo semelhante aos desfiles de moda de Deauville. Foi preciso (por sugestão de Di Cavalcante) recorrer a Graça Aranha, que, aposentado na diplomacia, regressava de Paris, promovendo estrepitosa propaganda das idéias novas sobre a arte moderna.

Com o imponente Teatro Municipal, de estilo eclético e detalhes arquitetônicos do neoclássico, devidamente alugado por 847 mil reis, que oitenta anos depois equivaleriam a cerca de 20 mil reais, teve início a Semana de Arte Moderna. Sua repercussão e importância, cuidadosamente construídas pela historiografia posterior, só o mais otimista de seus idealizadores, Mario de Andrade quando disse: “nossos livros serão comprados! Ganharemos dinheiro! Teremos nossos nomes eternizado nos jornais e na História da Arte Brasileira!.

A Semana de Arte Moderna de 1922, foi o grande marco do modernismo no Brasil. É bom lembramos que neste ano estourou a primeira rebelião tenentista, o episódio dos Dezoito do Forte. Foi também o ano da fundação do Partido Comunista no Brasil. O país estava grávido de mudanças. (SCHIMIDT, 1999).

No período pré-carnavalesco, em pleno mês de fevereiro, a Semana de Arte Moderna inaugurou um ano auspicioso para o Brasil. Foi anunciada em meio a propagandas do Guaraná Espumante, “bebida higiênica para o verão, do lança-perfume “Pierrot e Colombina”, das serpentinas Uris, Anakonda e Condor, as melhores marcas de confetes de cores variadas e dourados, além de máscaras e demais produtos à venda nas lojas.

Realizada sob a gestão de Epitácio Pessoa, a Semana também abriu o ciclo das festas cívicas do Centenário da Independência. No panorama político contaminado pelas seqüelas da Primeira Guerra Mundial e da Revolução Russa, da greve geral de 1917, da qual tomaram parte setenta mil operário, o modernismo pairava no ar, num substrato cultural alienado da política brasileira.

Segundo relato “Quarenta anos depois” publicado pelo Jornal o Estado de São Paulo, em sua perspectiva histórica, a Semana de Arte Moderna funcionou como um símbolo. Ela foi um episódio apenas, de uma série de fatos, circunstâncias e idéias que a antecederam e que a ela se seguiram. A face tangível, a exteriorização enfática, em coro, e com escândalo como convinha, de um concerto de reivindicações e protestos, decorrentes de um estado de espírito e de um estado de coisas de varias ordem, que a precediam.

A programação da Semana de Arte Moderna se estendeu entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922, compreendeu uma exposição com cerca de 100 obras, aberta diariamente no saguão do teatro, e sessões literário-musicais noturnas com inicio às 20h30.

3.2. Os acontecimentos que evidenciaram e marcaram a Semana de Arte Moderna

Em meio à falta de diretrizes que redundou numa exposição irregular, de altos e baixos, recaiu sobre os ombros de Mario de Andrade, a tarefa de pronunciar “coisas infernais sobre as alucianantes criações dos pintores futuristas” justificando as telas que tanto escândalos causavam no hall do Municipal, onde a cada manhã os faxineiros recolhiam bilhetes e cartas insultuosas, sempre anônimas, colocados atrás das telas.

Não é de admirar que Mário tenha recebido, em troca, estrepitosas vaias, que se sobrepunham à sua voz sumida na gritaria. Foi quando resolveu ler um trecho de sua conferência “A escrava que não era Isaura”.

Com sua “bela cabeça de apóstolo imberbe, grande e alongada, óculos redondos e crânio calvo”, como o descreveu MILLIET (2000), Mário explicava, sob assovios e sacarmos, as teorias da arte moderna alertando com voz forte: “os velhos morrerão, senhores”. Nervoso, mas resoluto, pegou o público de supresa.

Excluo da poesia bom número de obras-primas inegáveis, ou na totalidade ou em parte. Não direi quais… Seria expulso do convívio humano… O que aliás seria mui grande exílio para quem por universal consenso já vive no mundo da Lua… (ANDRADE, 1987). 11

Quando as pessoas deram por si, era tarde, a leitura terminava. Anos mais tarde ele se perguntaria como tivera coragem de discursar, cercado de anônimos que caçoavam e “ofendiam a valer”.

Outros poetas e músicos receberam também seu quinhão de desacato. Na primeira noitada, a conferência de Graça Aranha, “A emoção estética da arte moderna”, não desagradou ao público, por seu o autor “bandeira aceita de antemão”, nas palavras de Anita Malfatti.

A Semana foi ilustrada por música de Ernani Braga e poesias de Guilherme de Almeida e Ronald de Carvalho, que recitou “Os sapos”, de Manoel Bandeira, fornecendo pretexto para as vaias e farta munição para uso das galerias. Depois da música de câmara de Villa-Lobos, Mário ainda falou sobre a pintura e a escultura modernas no Brasil.

Manoel Bandeira

Apesar de o Jornal do Comércio mencionar aplausos, o fato é que as “contraditórias idéias”, do orador Mario de Andrade, não ficaram claras, como queixou-se um articulador do jornal O Estado de São Paulo no dia seguinte.

Segundo BATISTA (1972) inquieto, o público lotava o teatro, colhido de supresa, não chegou a vaiar. “Os ânimos estavam fermentado; o ambiente eletrizante, pois que não sabia como nos enfrentar”. Era o prenúncio da tempestade que arrebentaria na segunda noitada.

De chinelos, devido a uma crise de gota, Heitor Villa-Lobos arrancou aplausos tímidos. Suas composições, executadas pelo grupo que trouxe do Rio de Janeiro, não agradaram ao publico mais a feito às valsinhas de Chopin ministradas pelos inúmeros professores particulares de piano espalhados pela cidade. Atacado por ocasião da Semana, foi tachado de “talento ainda não cultivado bastante” em matéria do Jornal do Comércio de 23 de fevereiro. Com sua música “privada de bom senso”, puramente africana’, destituída de melodias e harmonias, “de modo que não resiste à menor análise harmônica sem que o crítico o classifique de disparatado e absurdo”, ele, entretanto, recebeu do governo federal a missão de representar o Brasil numa série de concertos na Europa, ainda em dezembro daquele mesmo ano.

Ao lado da nítida dissonância dos participantes, urros, relinchos, latidos miados, cacarejos e outras onomatopéias foram os ingredientes que moveram as noitadas de música e poesia. Vaias acompanhadas de impropérios, tomates e batatas arremessadas sobretudo das galerias, onde aglomeravam-se estudantes de direito, que, segundo reza a Crônica, teriam sido contratados por Oswald de Andrade para dar o com tom contra à festa.

O intento Oswaldino, nunca esclarecido, parece ter surtido efeito. “Caíram como araras. Gritaram. Insultaram. Vaiaram. Mas o público já era acostumado com descompostura: não levou a sério. O que ficou foi um sentimento de simpatia que não se apagou com certeza da memória do mesmo, explicaria Mario de Andrade numa carta a Del Picchia, que a publicou a sua coluna mantida no Correio Paulistano, tribuna preciosa para a divulgação e a valorização das idéias modernistas. Assim, graças à brilhante jogada de marketing do outro Andrade, o Oswald, a parcela da imprensa até então indiferente, viu-se obrigada a comentar, nem que fosse para criticar. Artigos brotaram às pressas em jornais e revistas ilustradas.

3.3. A imprensa

O trabalho de doutrinação e os artigos favoráveis a serem publicados ficaram por conta de Sérgio Buarque de Holanda, Sérgio Milliet, que escrevia para jornais franceses. Oswald e Mário de Andrade, com suas colunas no Jornal do Comércio e A Gazeta, e, é claro, Menotti Del Picchia, o ufanista Hélios do Correio Paulistano.

O segundo dia do festival no dia 15, causou fortes emoções. A imprensa transcreveu o discurso de Graça Aranha, bem como a carta de Guiomar Novais relatada pelo jornalista Oliveira Castro da Gazeta em 1922, protestando o contra o cunho “bastante exclusivista e intolerante” do primeiro sarau para com as correntes das quais se confessava intérprete e admiradora.

Senti-me sinceramente contristado com a pública exibição de peças satíricas, alusivas à música de Chopin, reclamava, para então ressalvar: “admiro e respeito todas as grandes manifestações de arte, independentemente das escolas a que elas se filiem, e é de acordo com esse meu modo de pensar que acedendo ao convite que me foi feito, tomarei parte num dos festivais.(CASTRO, 1999).

“Talentos desvairados”, era a manchete estampada em 15 de fevereiro de 1922 “n’ A Cigarra”, que dava a medida de sarcasmo em torno do “acontecimento mais interessante destes últimos tempos”. Sem êxito, dizia, “encarado ele sob o ponto de vista futurista, que é absolutamente oposto ao ponto de vista de todos, foi completo, isto é, foi um fracasso”.

Os artistas da Semana deveriam, debochava o texto, estar satisfeitíssimos após impor à platéia sua estética escandalosa segundo a qual “a vida reside menos na tela que no indivíduo que a contempla: este tem, pela tensão da vontade, de imaginar o assunto, de que a tela lhe forma apenas vagos elementos de ideação” . Nesse sentido, prossegui, o quadro menos futurista seria “O homem amarelo, de Anita Malfatti, pela simples razão de ser mesmo daquela cor.(A CIGARRA, 1922).18 .

Segundo BOAVENTURA (2000), tais comentários não eram descabidos já que Graça Aranha, na sua conferência inaugural, admitiu que para muitos a curiosa e sugestiva exposição parecia uma aglomeração de horrores.

Aquele gênio supliciado, aquele homem amarelo, aquele rosto carnaval alucinante, aquela paisagem invertida, se não são jogos da fantasia de artista zombateiros, são seguramente desvairadas interpretações da natureza e da vida.

No mais, a imprensa dividiu-se entre apoiadores que idealizavam os “semideuses futuristas” e os que condenavam com absoluta convicção o circuito empolgado por um capricho passageiro, conforme relata Maria Eugênia Boaventura.

Os textos demolidores da “Folha da Noite”, em geral de primeira página, só foram piores do que a indiferença de revistas do porte e do alcance das cariocas “Fonfon e O Malho”, bem como da “Revista do Brasil”, que se abriu aos modernistas apenas quando o movimento já estava devidamente consagrado. No mesmo patamar, o jornal “O Estado de São Paulo” agiu com secura e distanciamento, entremeando ao noticiário piadas ingênuas ridicularizando os modernistas.

Candido, pseudônimo de Galeão Coutinho, redator-chefe de “A Gazeta”, tornou-se um dos críticos mais consistentes e imparciais do festival, salientando a extravagância e a originalidade do futurismo apresentado na Semana de Arte Moderna, mas também expondo suas fragilidades e incongruências. O jornal que dirigia abriu o palanque das discussões no dia 3 de fevereiro, uma sexta-feira, passando a publicar uma coluna quase diária, sob a epígrafe Notas de Arte, dividida em pró e contra – em verdade, um debate quase amistoso travado entre Mário de Andrade e o próprio Cândido. Como não circulava aos domingos, na segunda-feira, dia 6, estampou o comunicado enviado pela comissão promotora da Semana, que Cândido chamou de “os dozes apóstolos”, e, na quinta-feira, dia 9, lançou uma nota a respeito da chegada de Graça Aranha à cidade.

Na cobertura da Semana, a Gazeta levou vantagem sobre os concorrentes. Jornal vespertino, seus repórteres podiam registrar cada noitada e, na tarde seguinte, divulgou as impressões e as últimas notícias à frente do restante da impressa. Na tarde de sexta-feira, às vésperas da última noite, noticiou as vaias por intermédio de um cavalheiro fictício “sabido em artes e canonizado em estética, com os dedos metidos na cava do colete e o chapéu no alto do cocoruto”, conjeturava.

3.4. A escultura e a arquitetura

No quesito escultura, foram exposta obras de Victor Brecheret, Wilhelm Haarberg e de Hidelgardo Veloso, um jovem carioca que cumpria 23 anos no decorrer da Semana. Haaberg, alemão temporáriamente radicado em São Paulo, onde viveu de 1920 1925, foi descoberto por Mário de Andrade, que o convidou para a Semana. Especialista em esculpir madeira, contribuiu com cinco pequenas figuras de feição arquitetônica, ligadas, segundo Mário, à de Wilst ou os arcaísmos de Millés ou Boudele.

O ponto alto da seção ficou por conta das dozes peças de Brecheret, típica, segundo Aracy Amaral, iam do naturalismo com tendências para o impressionismo em seus jogos de luz e sombra àquelas mais expressionistas, dramáticas, tensionadas e tratadas com má vontade por parte da imprensa.

Um artigo de “A Gazeta” de 22 de fevereiro fez um comentários sobre as esculturas de Brecheret apresentadas na Semana:

Como se vê, o Sr. Brecheret, um dos “grandes artistas” da Semana de Arte Moderna, pode ir pregar originalidade a outras terra, pois os seus dois chefes de obra apenas o recomendam com um estéril plagiador que copiou servilmente Attilo Selva, talvez pior do que fariam alguns marmoristas, e com um imitador importante, que arremedou pecamente o Sr. Rollo, se a poussée genial que se nota nas obras deste. (Jornal A Gazeta, 1992).

Cabe ressaltar o nome de um escultor popular pernambucano, “o Mestre Vitalino”, que retratou as figurar populares em pequenas estátuas de argila e barro pintadas a mão.

Na Semana de Arte Moderna, a arquitetura estava ali defendida por dois estrangeiros: Antonio Garcia Moya, nascido em Granada, Espanha, e o polonês Georg Przymberel. Foi preciso atrair gente formada lá fora, segundo Carlos Lemos, porque no âmbito domestico, os cursos de especialização das duas escolas de engenharia brasileira eram dirigidos por ferrenhos defensores do academicismo e das Belas-Artes francesas: Ramos de Azevedo, formado na Bélgica, e Cristiano das Neves, nos Estados Unidos.

Denominado “o poeta da pedra” por Menotti Del Picchia, Moya expôs no hall do Teatro Municipal plantas de fachadas, interiores e exteriores de residências desenhadas em bico-de-pena; junto a desenhos de fonte e mausoléu que faziam lembrar a Mesopotâmia, Assíria, ou a arquitetura pré-colombiana do México. Seu estilo imaginativo, de inspirações ecléticas e livres, se misturavam com o espírito do evento, também tornava os projetos impraticáveis a ponto de nenhum deles jamais te sido concretizado.

3.5. A pintura

A pintura moderna brasileira teve início com um russo de nome Lasar Segal, pintor que possui características expressionistas e cubista; o principal tema para suas obras era a condição humana.

Segundo relato de BATISTA (1986), entre os quadros catalogados em bloco como “Pintura”, sem indicação da técnica empregada, dimensões ou datação, destacou-se o célebre “ O homem amarelo” cobiçado pelo conselheiro Antônio Prado, para grande espanto de sua comitiva, mas já prometido a Mário de Andrade. Ao lado das outras dezenove obras de Anita Malfatti, ele formava um conjunto que atestava o reconhecimento do grupo ao pioneirismo da artista, pois dos 100 itens do catálogo, 20 eram de sua autoria.

Nas figuras da Sra. Malfatti se notam acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso e companhia. Essa artista possui um talento vigoroso, fora do comum. Poucas vezes, por meio de uma obra torcida para má direção, se notam tantas e tão preciosas qualidades latentes. Percebe-se de qualquer daqueles “quadrinhos” ,como a sua autora é independente como é original, como é inventiva, em que alto grau possui um sem-número de qualidades inatas e adquiridas das mais fecundas para construir uma sólida individualidade artística. Entretanto, seduzida pelas teorias do que ela chama de arte moderna, penetrou nos domínios dum impressionismo dicutibilíssimo, e põe todo o seu talento a serviço duma nova espécie de caricatura. (In Catálogo FAAP, Monteiro Lobato)

O carioca Di Cavalcanti, autor da capa do programa da Semana, compareceu com dois óleos: “Ao pé da cruz” e o penumbrista “Retrato”, bem ao gosto da época, e mais dez obras entre desenhos e pasteis românticos como “A dúvida, Coqueteria e Boemios, que integrou a coleção de Freitas Valle, Jonhn Graz, com suas paisagens suíças “transfiguradas pelo subjetivismo da cor”, já tinha cativado Oswald de Andrade, que comprara o quadro “Ceia” na sua mostra instalada anteriormente em São Paulo.

Vindas do Rio de Janeiro, as obras de Vicente do Rego Monteiro e Zina Aita trouxeram, de acordo com Aracy Amaral, uma lufada de frescor traduzido em suas artes. De família e formação italiana, Zina, nascida em Belo Horizonte, completou os estudos artísticos em Florença. Na opinião de muitos, seu tom pastel pós-impressionista retratando trabalhadores a lida do campo, com manchas coloridas justapostas, foi a obra mais avançada da Semana.

O pernambucano Rego Monteiro, que em 1914 regressara da França para lá retornar em setembro de 1921, compareceu com três retratos, um dos quais de Ronald de Carvalho, responsável pelos quadros dele ali expostos, que iam da incursões cubistas aos assuntos populares e folclóricos.

As pinturas modernistas não foram bem recebidas pelo público na Semana de Arte Moderna, acostumado a um outro padrão de arte. Até o início do século XX, era comum aos artistas brasileiros buscarem um retrato fiel da natureza em suas obras. Eram muito apreciadas as obras que imitavam cenas da realidade. Por exemplo, a pintura de uma paisagem só era considerada boa se fosse bem parecida com a paisagem do mundo real. (CARDOSO, 2006)



3.6. A literatura e a poesia

Como relata JUNIOR (1998), 17 a Semana de Arte Moderna pode ser considerada como um momento decisivo para o desenvolvimento da literatura e poesia brasileira. O Movimento Modernista, marcado pela Semana, abriu caminho para o direito permanente á pesquisa estética; a atualização da inteligência artística brasileira; e a uma estabilização de uma consciência Nacional.

Era o Centenário da Independência do Brasil e, diante de um país subdesenvolvido, da insatisfação dominante, surgiu o Modernismo que na literatura principalmente, rompeu com todas as regras existentes até àquele momento. A liberdade de experimentar e pesquisar adéquo-se como uma luva às novas necessidades de um país que, na época, abria-se para a expansão industrial e tentava se despedir, em certa medida, de seu passado rural.

Na poesia, rompeu-se fórmulas antigas que chocou o público com a divulgação de novas idéias. As principais características observadas foram:

• respeitar a inspiração e não se ater a regras – versos livres
• livre associação de idéias
• valorização do dia-a-dia
• incorporação do presente, do progresso, da máquina
• utilização do humor (poema-piada)

“Se Pedro Segundo vier aqui,
Com história,
Eu boto ele na cadeia.

(Oswald de Andrade)

• aproximação com a prosa
• linguagem popular
• nacionalismo

Na História Literária do Brasil, a Semana ficou marcada como um grande divisor de águas: antes o passado, agora o presente. Antes o retrato artificial e importado da nossa terra, das nossas coisas e da nossa gente. Agora um retrato bem brasileiro e bem fiel.

Com o modernismo e sobretudo com a Semana de Arte Moderna de São Paulo começou o período de independência da Literatura brasileira. Começa uma verdadeira literatura nacional.

4. O BRASIL DEPOIS DA SEMANA DE ARTES MODERNA E O REFLEXO DE UMA NOVA MENTALIDADE EM SUA CULTURA.

4.1. A arte brasileira representada pela música

A época de Ouro da MPB é caracterizada justamente, pela extraordinária expansão do samba e das marchinhas carnavalescas. No início dos anos 30 foi criada, no Rio, a primeira Escola de Samba e das marchinhas carnavalescas , “A Turma do Estácio”. Entre 1931 e 1940, o samba tornou-se o gênero musical mais gravado . Noel Rosa, o “poeta da Vila Isabel’, foi um dos “monstro sagrados” desse período. Em menos de sete anos de atividades, compôs pelo menos 250 obras, das quais 60% são puro samba.

O período mais produtivo, da Época de Ouro da MPB coincide, basicamente, com a ditadura do Estado Novo (1937 – 1945), implantada por Getúlio Vargas. Não é uma simples coincidência, pois o Brasil viveu com Vargas uma espécie de grande ufanismo nacionalista. O Estado, mediante a industrialização, centralização política e emprego de novas tecnologias, seria capaz de colocar o país entre os primeiros do mundo. (JÚNIOR, 2002)

No final dos anos 40, o Brasil já podia se considerar um país relativamente industrializado. São Paulo e Rio de Janeiro, grandes metrópoles, sentiam o impacto das transformações mundiais. Portanto, não poderiam funcionar nesse mundo, a fórmula do samba nacionalista e as marchinhas carnavalesca dos anos 30. Não por acaso, nesse período floresceu o samba-canção depressivo (também conhecido como samba de fossa). Melodias intimistas, letras que falavam de frustrações amorosas, decepções, tudo muito de acordo com o clima psicossocial da época. São exemplos clássicos dessa tendências músicas como “Meu mundo caiu (Maysa), “Molambo” (Roberto Luna), e várias composições da dupla Evaldo Correia e Jair Amorim interpretadas pelo “rei” do samba-canção Nelson Gonçalves: “Dama do asfalto”, “Ciclone”, e a imbatível “Boemia”, verdadeiro de plantão. Nessa época, a música brasileira conheceu uma renovação semelhante à de artes plásticas e da literatura.

Um dos compositores mais reconhecidos do Brasil, além de Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga, é Heitor Vilas-Lobos, que, para sua criação buscou inspiração no folclore brasileiro. Realizou, ainda bastante jovem, uma viagem ao Norte a ao Nordeste do país, onde pesquisou cantigas folclóricas para utilizá-las em peças musicais: choros, sinfonias, coros e música de câmara. Como outros modernistas brasileiros, Villa-Lobos ganhou projeção na Europa e nos Estados Unidos. No Brasil o músico contribuiu ainda para a renovação do ensino musical nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.

O choro, caracterizado pela improvisação instrumental executada basicamente por violão, cavaquinho e flauta, nasceu por volta de 1870, no Rio de Janeiro. Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga foram os primeiros compositores do choro. No início do século XX, o ritmo passou a ser cantado.

Nessa época, a música popular brasileira alcançou prestígio entre as elites, época em que a indústria fonográfica se instalava no país. Em 1917, foi gravado pela primeira vez um samba: “Pelo telefone”, de Donga. Compositores como Pixinguinha, no início de carreira, tocou em bandas que animavam sessões de um cinema mudo.

4.1.1. A música de protesto

Na década de 1960m surgiu um movimento de “música de protesto”, de crítica à situação política e social do país e à ditadura militar. Marco importante foi o espetáculo “Opinião” (1964), de João do Vale e Zé Kéti, o qual também revelou a cantora Maria Bethânia (cantando “Carcará”).

Jovens da classe média foram os mais típicos representantes dessa tendência marcada pelos cantores: os irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle, Geraldo Vandré, Ari Toledo, Edu Lobo e Chico Buarque de Holanda.

4.1.2. A Jovem Guarda

Ainda nos anos 1960, surgiu o movimento musical chamado “Jovem Guarda”. Os seus principais representantes foram Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Jerry Adriani, Martinha e Wanderléia influenciados pelo rock dos Estados Unidos, ficaram famosos sobretudo, por lançarem, no Brasil, o “iê-iê-iê”, uma variação de rock. O movimento influenciou a forma de vestir e de falar de grande parte da juventude brasileira daquela época.

Roberto Carlos é, sem dúvida, o mais importante e visível ícone da Jovem Guarda e da música popular brasileira. Dificilmente haverá algum brasileiro que não conheça algum trecho de alguma música de sua autoria ou por ele interpretada. As letras de suas canções em geral, poemas simples que falam de encontros e desencontros amorosos, são ouvidas e cantadas indistintamente por donas de casa, crianças, jovens e velhos e também por caminhoneiros, operários, executivos de grandes empresas, ou seja, Roberto Carlos é cantado por todas as classes sociais. AYALA (2000, p. 66).

As jovens tardes de domingo tornaram-se um grande fenômeno de massa na Rede Record com o programa da Jovem Guarda. O tom exato do programa era dado principalmente pelas gírias, além das roupas e dos cabelos. No plano ideológico, a Jovem Guarda propagava o sonho americano de consumo. Sua ideologia não oferecia riscos, pois cabia dentro do porta-luvas dum carango.

4.1.3. Os festivais

Os festivais de música popular organizados pelas emissoras de TV Excelsior e Record em São Paulo, de 1965 a 1967, revelaram Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, José Carlos Capinan, Elis Regina, entre outros.

Em 1956, Chico Buarque, com “A banda”, e Geraldo Vandré com “Disparada”, empataram no festival da TV Record. No anos seguinte, Chico Buarque venceu mais um festival da Record com “Roda-viva”. Foi neste festival que Caetano Veloso escandalizou o público conservador com sua música “Alegria, Alegria”. Segundo Almeida (1996, p. 65) , uma das atitudes pouco conservadoras teria sido o uso de guitarras elétricas no acompanhamento da música.

Outra apresentação polêmica foi a de Gilberto Gil, cantando “Domingo no parque”, acompanhado pelos mutantes, grupo musical formado na época por Rita Lee e os irmãos Arnaldo e Sérgio Dias.

Nos festivais internacionais da canção do Rio de Janeiro (1966 a 1972), tiveram destaque Milton Nascimento, Dorival Caymmi e Guttemberg Guarabyra.

4.1.4. O tropicalismo

Em 1968, Caetano Veloso e Gilberto Gil lançaram o “Movimento Tropicalista”, no qual se misturam vários gêneros musicais, desde o tango-dramalhão “Coração Materno’, de Vicente Celestino, ao rock inglês, passado pela bossa nova.

Sob a liderança de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rogério Duprat, Tom Zé e outros, o Tropicalismo marcou forte presença na música popular brasileira. Inspirado nas idéias do escritor Oswald de Andrade, esse movimento introduziu elementos de culturas estrangeiras e manifestou-se com irreverência e ousadia. O Tropicalismo foi sintonizado no Brasil juntamente com o movimento “hippie” dos anos 1960.

Segundo relata do Almanaque Abril (2004) , o tropicalismo não se restringiu somente à música. Destacou-se também: no teatro, José Celso Martinez com seu grupo “Oficina”; No cinema, Glauber Rocha e outros e nas Artes Plásticas, Hélio Oiticica. O questionamento estético da Tropicália ultrapassava também as fronteiras da política. Quando, por exemplo, Caetano Veloso apareceu na TV sem gravata e de gola role, provocou a ira dos conservadores de direita e de revolucionários de esquerda. Mas o maior atrito entre a Tropicália e os “engajados” se deu num festival de música realizado no Teatro Tucá (da PUC – SP), quando Caetano, revoltado com a desclassificação da música “Questão de Ordem”, de Gilberto Gil, que ridicularizava a terminologia das assembléias estudantis, bradou com ironia: “Se vocês forem em política como são em estética, estamos feitos”. Tudo em meio às vaias enquanto cantava: “É proibido proibir”, citação do movimento francês de 1968.

Desagradáveis ao regime político da época, Caetano e Gil foram exilados. Em Londres curiosamente, receberam a visita de Roberto Carlos, que compôs para Caetano a música, “Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos”.

4.1.5. O rock e a arte brasileira

Os anos de 1980 testemunharam a explosão do rock nacional, desencadeada pela irreverência da banda “Blitz”, liderada pelo vocalista Evandro Mesquita, que apresentava letras e visual debochados. Em 1982, a banda estourou com o sucesso “Você não soube me amar”.

Entre os principais representantes da música dos anos 1980 estavam Renato Russo e Cazuza, com suas letras carregadas de poesia e de questionamentos.

Ao lado deles, outras bandas e artistas surgiram no cenário musical como os Titãs, os Paralamas do Sucesso, Ultraje a Rigor, Camisa de Vênus, RPM. Lobão, fazendo com que o rock nacional alcançasse um sucesso atrás do outro e se transformasse em um campeão de vendas da indústria fonográfica.

4.1.6. O samba e a bossa nova

O “Samba”, que nasceu no final do século XIX, diversificou-se nos anos 1930, com o surgimento do “Samba-canção”. Foi nessa década que surgiram três dos maiores nomes da música popular brasileira: Noel Rosa (1910-1937), Ari Barroso (1903-1964) e Lamartine Babo (1904-1963). Toda uma geração de interpretes também apareceu nas décadas de 1930 e 1940, como Francisco Alves, Sílvio Caldas, Carlos Galhardo, Orlando Silva, Mário Reis, Araci de Almeida, Ciro Monteiro, Carmem Miranda, entre outros.

No fim da década de 1930, as valsas de Zequinha de Abreu (1911-1966), as serestas de Orestes Barbosa (1893-1966) e os sambas-canções de Lupícninio Rodrigues (1914-1974) também alcançaram sucesso. O baiano Dorival Caymmi, o mineiro Ataulfo Alves, são exemplos de compositores do samba-canção da década de 1940.

Junto com o futebol, o samba sempre fez e faz parte do cotidiano brasileiro. Ele está presente na programação das mais populares emissoras de rádio e TV do Brasil, em batucadas de botequins, nos tambores das torcidas organizadas durante os jogos esportivos. Ele fornece a moldura rítmica para a manifestação da sensualidade da mulher, é o suporte sonoro e melódico das letras que falam do amor, das dificuldades do dia-a-dia, da malandragem e até do protesto contra as difíceis condições de vida da maioria do povo brasileiro (SENISE, 1998, p 159)

No final do anos 1950, surgiu um novo movimento musical: a “Bossa Nova”, iniciada entre jovens compositores da classe média da zona sul do Rio de Janeiro. As letras das canções da bossa nova falam do cotidiano, com arranjos elaborados e maneira de cantar contida e intimista.

Em 1958, a gravação de “Chega de Saudade”, de Antônio Carlos Jobim e Vinício de Moraes, cantada por João Gilberto e o disco de Elisete Cardoso, “Camão do amor demais”, marcaram o início da bossa nova.

Segundo Moura (1999, p. 98) , a época de Ouro da MPB é caracterizada justamente, pela extraordinária expansão do samba e das marchinhas carnavalescas. No início dos anos 30 foi criada, no Rio, a primeira Escola de Samba e das marchinhas carnavalescas , “A Turma do Estácio”. Entre 1931 e 1940, o samba torna-se o gênero musical mais gravado . Noel Rosa, o “poeta da Vila Isabel’, é um dos “monstro sagrados” desse período. Em menos de sete anos de atividades, compôs pelo menos 250 obras, das quais 60% são puro samba.

O período mais produtivo, da Época de Ouro da MPB coincide, basicamente, com a ditadura do Estado Novo (1937 – 1945), implantada por Getúlio Vargas. Não é uma simples coincidência, pois o Brasil viveu com Vargas uma espécie de grande ufanismo nacionalista. O Estado, mediante a industrialização, centralização política e emprego de novas tecnologias, seria capaz de colocar o país entre os primeiros do mundo. (JÚNIOR, 2002)

É provável que o símbolo mais explícito do espírito na MPB, seja o samba “Aquarela do Brasil, composto em 1939 por Ari Barroso, Cantado, de forma exageradamente ufanista, as grandezas e belezas do Brasil, o samba ganhou as simpatias do governo Vargas e tornou-se uma espécie de segundo hino nacional. Com “Aquarela do Brasil”, Ari Barroso também inaugurou um novo gênero, o samba-exaltação, caracterizado por versos que enaltecem o “povo brasileiro”, as paisagens e riquezas naturais, as tradições folclóricas, tudo compondo uma visão romântica e grandiosa sobre o passado e o destino do país.

“Ari Barroso compôs “Aquarela do Brasil” no início de 1939, numa noite de chuva torrencial, que o obrigou a ficar em casa, contrariando seus hábitos. Antes que a chuva terminasse, ainda teve inspiração para compor outra obra-prima, a valsa “Três lágrimas”. Em entrevista à jornalista Marisa Lira, do “Diário de Notícias”, relatou: “Senti iluminar-me um idéia: a de liberar o samba das tragédias da vida, (…) do cenário sensual já tão explorado. Fui sentindo toda a grandeza, o valor e a opulência de nossa terra. (…) Revivi, com orgulho, a tradição dos painéis nacionais e lancei os primeiros acordes, vibrantes aliás. Foi um clamor de emoções. O ritmo original (…) cantava na minha imaginação, destacando-se do ruído da chuva, em batidas sincopadas de tamborins fantásticos. O resto veio naturalmente, música e letra de uma só vez. Grafei logo (…) o samba que produzi, batizando-o de “Aquarela do Brasil”. Senti-me outro. De dentro de minh’alma extravasara um samba que eu há muito desejara.

(…) Este samba divinizava, numa apoteoso sonora, esse Brasil gloriosa. “ (SEVERIANO E MELLO , 1997). 20

No final dos anos 40, o Brasil já poderia se considerar um país relativamente industrializado. São Paulo e Rio de Janeiro, grandes metrópoles, sentiam o impacto das transformações mundiais. Não poderiam funcionar nesse mundo, a fórmula do samba nacionalista e as marchinhas carnavalesca dos anos 30. Não por acaso, nesse período floresceu o samba-canção depressivo (também conhecido como samba de fossa). Melodias intimistas, letras que falavam de frustrações amorosas, decepções, tudo muito de acordo com o clima psicossocial da época. São exemplos clássicos dessa tendências músicas como “Meu mundo caiu (Maysa), “Molambo” (Roberto Luna), e várias composições da dupla Evaldo Correia e Jair Amorim interpretadas pelo “rei” do samba-canção Nelson Gonçalves: “Dama do asfalto”, “Ciclone”, e a imbatível “Boemia”, verdadeiro hino dos boêmios

De plantão. Aliás, não deixa de ser interessante.

A bossa nova revelou uma série de compositores e intérpretes como: Carlos Lira, Barden Powell, Sérgio Ricardo, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli; cantoras como: Nara Leão , Silvinha Telles, Alaíde Costa, Claudete Soares, Elis Regina; conjuntos como Quarteto em Cy, Os Cariocas, Samba Trio e Zimbo Trio. E em 1963, a dupla Tom Jobim e Vinícius de Moraes lançou um de seus maiores sucessos: “Garota de Ipanema”, gravado por inúmeros cantores e conjuntos nacionais e internacionais, é uma das canções brasileiras mais conhecidas internacionalmente.



4.1.7. A música brasileira e os ritmos dos anos 1990.

Nos anos de 1990, a música popular brasileira conheceu uma mistura de ritmos regionais como o “rock” (de origem negra norte-americana), o “regge” (gênero de origem caribenha, sobretudo da Jamaica) e o “Funk” (ritmo dançante originário dos Estados Unidos).

Todos esses ritmos são de origem negra, mas o estilo musical que melhor representa as raízes africanas e que se tornou mundialmente conhecido nos anos 1990, foi o “rap”. O ritmo surgiu nos Estados Unidos na década de 1970 e fez parte de um movimento social, “o rip rop”, que reúne o “break” (dança) e o grafite (pintura nas paredes).

Nos anos 1990, a música brasileira continuou com sua trajetória de mudanças e de desenvolvimento. Nessa época começou a ganhar força a cultura “hip hop”, que abrange outros campos além da própria música, O movimento “hip hop”, originário das periferias das grandes cidades brasileiras, propõe uma atitude afirmativa para as populações marginalizadas dessas regiões, Na música, sua principal expressão é o rap. (MAGNOLI (1996, p. 125).

No Brasil, o “rap” nasceu na periferia das grandes cidades, como instrumento de crítica à exclusão social; proliferou rapidamente entre os jovens que vêem no “rap” a “voz da favela”. Mas o ritmo não está mais confinado à periferia; está também nos comerciais de TV, no cinema, em campanhas eleitorais e em outros.

4.1.8. A música sertaneja e a arte brasileira

A música sertaneja teve destaque no Brasil, no final da década de 1980 e ao longo de toda a década de 1990. Geralmente interpretada por dupla de cantores, destacaram-se: Chitãozinho e Xororó, ,Zezé di Camargo e Luciano, Leandro e Leonardo, entre outros. Muitas vezes, a música sertaneja se confude também com a música caipira, representada por cantores que embalaram multidões em shows e programas televisivos com músicas de caráter romântico.

4.2. A arte brasileira representada pelas artes plásticas e arquitetura

Nos últimos anos do século XIX e início do século XX, alguns pintores e escultores brasileiros começaram a procurar novos caminhos para as artes plásticas do país. Destacou-se como já foi citado na “Semana de Arte Moderna”, Lasar Segal) (1891 – 1957), de origem lutuana. Sua primeira exposição no Brasil foi em 1913; dez anos depois, ele se fixaria definitivamente no país. Formado no Expressionismo alemão, Segal incorporou às suas obras temas brasileiros, como a mulata, o negro, a favela e a natureza tropical de cores exuberantes.

Mas o mérito da introdução das novas tendências artísticas no Brasil coube a Paulistana Anita Malfatti (1889 – 1964). Estudou na Europa, onde recebeu influência dos pintores Pablo Picasso e Paul Gaugin. Com uma exposição em 1917, provocou verdadeiro alvoroço entre artistas e intelectuais paulistanos. Ela foi criticada por Monteiro Lobato que caracterizou seu trabalho como uma “nova espécie de caricatura”. Entretanto, Anita Malfatti recebeu acolhida de um grupo de escritores e artista.

Precursora do Modernismo brasileiro, a artista Anita Malfatti formou-se junto com Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia e Tarsila do Amaral, o chamado “Grupo dos Cinco” e participou da Semana de Arte Moderna. (PILETTI, 2005, p. 44).

A arquitetura brasileira começou a ganhar ares modernos nesse período, impulsionada pela intensa urbanização: a liberdade de expressão se manifestou nos grandes espaços abertos e arejados, e nas linha curvas, que se opunham aos espaços fechados e às linhas retas do estilo clássico.

Entre um dos maiores arquitetos brasileiros, encontra-se Oscar Niemeyer, com seus exemplos de curvas que caracterizam a arquitetura moderna. A Catedral de Brasília e o Palácio da Alvorada, são exemplos de utilização das linhas de curvas utilizadas pelo arquiteto.

4.3. A arte brasileira representada pelo teatro

O verdadeiro gênero teatral começou a ser desenvolvido no Brasil na década de 1930 com o “teatro de revista”, composto de músicas leves e bem humoradas nos quais se criticavam os fatos e personagens políticos e cotidianos mais marcantes da época.

Na década de 1940 e 1950 surgiram vários autores que inovaram o teatro brasileiro. Um deles foi Nelson Rodrigues (1912-1980). Em 1943, no Rio de Janeiro, estreou sua peça “Vestido de Noiva”, uma das mais importantes de toda a dramaturgia brasileira. Em suas peças, ele procurava mostrar, sem hipocrisia, questões ligadas ao cotidiano e à mentalidade das classes médias urbanas brasileiras.

Um teatro com forte crítica social se desenvolveu a partir da década de 1960, com autores como Augusto Boal: “Revolução na América do Sul, Arena conta Zimbí; Odulvado Viana Filho com “Rasga coração”; Chico Buarque de Holanda com “Gota d’água”; Plínio Marcos com: “Dois pedidos numa noite” e outros.

No fim dos anos 1970 surgiram muitos grupos cuja marca eram a irreverência e o bom humor, como o grupo carioca “Asdrúbal Trouxe o Trombone”; e o grupo paulista Ornitorrinco.

A diversidade foi a principal característica do teatro a partir dos anos 1980. Comédias que retratam situações cotidianas fizeram grande sucesso, mas houve espaço também para o experimentalismo, com peças encenadas em espaços não-convencionais, como hospitais, por exemplo, e para a montagem de clássicos.

Respirando a atmosfera típica dos anos 80, que consagrou valores individualistas, o teatro, ao longo dessa década, voltou-se para indagações de natureza subjetiva. O problema colocado no centro do palco deixou de ser, predominantemente, social para se tornar individual. Um exemplo foram as peças de Naum Alves de Souza “Aurora da minha vida”, “No natal a gente vem te buscar” e outras, todas com bons resultados de bilheteria.

O teatro nos anos 90 atuou com as mesmas perspectiva. Em geral, as peças eram comédias, dramas subjetivos ou crítica social, partindo de uma perspectiva individual. Alguns produtores como Ulysses Cruz, se aventuraram pelo caminho das grandes montagens, com atores, cenários e efeitos especiais que incorporavam a linguagem da televisão.



4.4. A arte brasileira representada pela televisão e pelo cinema

A televisão é e sempre foi um dos entretenimento mais populares entre os brasileiro. Em 1950, pela primeira vez na América Latina foi ao ar uma transmissão de televisão, emitida pela TV Tupi de São Paulo. Em 1956, os brasileiros assistiram à primeira partida de futebol pela televisão. O jogo era entre Brasil e Itália.

Segundo relato de RIBEIRO (2000, p. 152) , quando a TV Tupi entrou no ar, em 18 de setembro de 1950, apenas cinco pessoas tinham televisores no país. O empresário Assis Chateaubriand, idealizador e dono da primeira emissora de televisão do país, a Tupi, instalou mais alguns aparelhos no Jockey Club de São Paulo, na praça da República e no saguão do prédio onde ficava o Museu de Arte de São Paulo.

No final de 1951, já se aprendera a lidar com a novidade e, no dia 21 de dezembro, a Tupi lançou o que mais tarde, seria um dos motivos de projeção da televisão brasileira no mercado internacional: a telenovela. “Sua vida me pertence”, escrita, dirigida e protagonizada pelo autor Walter Foster, foi ao ar duas vezes por semana e pronunciou o sucesso do gênero). A telenovela diária foi inaugurada apenas em 1963, pela TV Excelsior, com “2-5499 – ocupado” com Tarcísio Meira e Glória Menezes.

Em sua estréia no dia 14 de março de 1952, TV Paulista levou ao ar a novela “Helena”, baseada na obra de Machado de Assis, com Hélio Souto, Vera Nunes e Paulo Goulart. Nesse ano, também adaptou para novela, “Casa de Pensão”, de Aluísio de Azevedo. As novelas já faziam sucesso num veículo que veio para ficar, apesar da falta de profissionalização e de recursos. Não havia videoteipe e tudo era feito ao vivo, qualquer gafe era flagrada na hora por milhares de pessoas. O intervalo comercial muitas vezes era usado para salvar uma situação difícil, mas também tinha seus problemas: certa vez, a garota-propaganda enfrentou uma verdadeira luta livre com um sofá-cama que estava anunciando. O móvel só abriu com a ajuda de um bombeiro.

Em 1953, a TV Paulista criou o programa circense mais famoso da televisão, “o Circo do Arrelia”, e começou também a transmitir “A Praça da Alegria”, com Manuel de Nóbrega e Ronald Golias. Foi na Praça que Sílvio Santos estreou na TV e até hoje mantém o programa em seu Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). Ainda em 1953, a TV Record passou a integrar o ranking das emissoras.

Em pleno auge da era da televisão, a Rede Globo invadiu o país inteiro, gerando novos problemas de natureza cultural.

Cacá Diegues, no filme “Bye Bye Brasil”, de 1979, fez uma alegoria do Poder de penetração da TV nos mais longíquos rincões do país. No filme, uma companhia de artistas ambulantes parte do litoral nordestino rumo à Tranzamazônica, percorrendo 3 mil quilômetros de território brasileiro. A companhia adotou o nome de Caravana Holiday (do inglês Holiday), indicando a preocupação do diretor em apontar a crescente influência dos “enlatados estrangeiros” veiculados pela televisão. (RAMOS, 2000, p. 98),

A grande questão é que a televisão brasileira começava a dar os sinais de sua influência, extremamente poderosa, em todo o mundo, e não só no Brasil.

Em 1979, o Jornal da Tarde publicou o poder e a influência da “telinha” na vida das pessoas, Hal Ashboy lançou nos Estados Unidos, o filme “Muito além do jardim”, baseado no livro “O videota”, de Jerzy Kosinski. A obra mostrava dramaticamente como a “telinha” consegue imbecilizar os telespectadores”. No caso em questão, o personagem principal só conhece o mundo através da televisão. Todas as suas emoções, tudo aquilo que sabe sobre a vida foi resultado de horas e horas diante de seu aparelho de TV. No limite, torna-se impossível, para ele conviver com as pessoas no mundo real.(JORNAL DA TARDE, 1995, p. 97)

No Brasil, em particular, a televisão teve um papel de grande relevo na sustentação da ditadura militar e, após o seu fim, em 1985, na vida cultural, social e política da nação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo pode-se perceber que a História da Arte no Brasil é riquíssima, desde as primeiras manifestações que consistem nas pinturas indígenas, já existentes quando da descoberta do país; até a busca das tendências européias, como o Barroco no século XVII, representado por estilos e monumentos religiosos ( jesuísticos, benedetinos e franciscanos).

A apresentação dos movimentos que precederam ao modernismo também foram relatados em todo o seu processo de evolução, mostrando a arte na literatura, na música no teatro, nas artes plásticas com a influência das tendências Européias de acordo com a época.

Até o início do século, o Brasil permaneceu sob o domínio de valores culturais que não corresponderam à autenticidade de sua cultura. As artes em geral, mas sobretudo a pintura e a literatura, que era praticada, sofreram profunda influência das escolas clássicas européias.

Avaliar a questão de uma nova mentalidade na cultura brasileira após a Semana de Arte Moderna, parte também, de uma questão de se fazer uma apresentação geral das diferentes manifestações culturais e estéticas, que emergiram da sociedade brasileira ao longo do século XX e início do século XXI. Um marco nesse sentido foi sem dúvida a Semana de Arte Moderna de 1922, mas foi durante a Era Vargas que mais se impôs a noção de brasilidade ligada estreitamente à questão do nacionalismo e da modernização do país.

Nomes como Villa-Lobos e Portinari, por exemplo, foram material e politicamente beneficiados pela política cultural da era varguista. O Estado Novo, significou, também, a completa transformação do cenário urbano das grandes cidades brasileiras, graças ao acelerado processo nacional de industrialização.

O Brasil deixou de ser um país essencialmente rural, expandiu-se uma classe média relativamente ilustrada e sensível às oscilações internacionais no campo de sua cultura nacional. Ao mesmo tempo, acelerou-se os movimentos de migrações internas, especialmente do Nordeste para o Sudeste do país, onde havia uma maior oferta de empregos, notadamente na construção civil; assim, usos e costumes regionais se interpenetraram, acrescentando novos elementos culturais ao panorama das grandes cidades. Os novos cenários urbanos possibilitaram o crescimento da indústria mediática como cinema, jornais, e emissoras de televisão. Em 1950, forneceram os ingredientes para formação de correntes de vanguardas estéticas, que exerceriam sua influência sobre a produção artística e intelectual até os nosso dias como a Bossa Nova e o Cinema Novo.

A busca de símbolos e signos da brasilidade, nesse período, veio acrescida de um fator complicado: a penetração maciça da cultura norte-americana, bastante acentuada no pós-guerra e decorrente ao apenas do alinhamento com os Estados Unidos, durante o conflito; devido aos rumos tomados pela política econômica brasileira, francamente favorável à entrada de capitais e indústrias estrangeira, as portas do país foram literalmente escancaradas e, é claro, os Estados Unidos não se fizeram de rogados. Afinal a cultura e política externa Americana, mais do que nunca estava decisivamente voltada para a ampliação e consolidação de suas áreas de influência, fator importante no contexto da Guerra Fria.

Assim, diante disso, percebe-se, que novos elementos culturais foram sendo incorporados à cultura brasileira, fato que principalmente durante a década de 1960, acabou produzindo situações, no mínimo, paradoxais:não era incomum ver-se, nas grandes cidades brasileiras, jovens protestando contra o imperialismo americano, mas metidos numa legítima calça Lee (pois essa era a marca da hora).

É claro que a influencia estrangeira não pode ser avaliada a partir de fatos pitorescos e nem reduzida aos seus aspectos mais negativos. À contracultura, brasileira engajada ao rock, ao cinema, juntaram-se também as lições libertárias da Europa, principalmente França e a antiga Tchecoslováquia, fazendo ecos no Brasil, já em pleno governo militar.

O endurecimento progressivo da ditadura militar, não conseguiu portanto, abafar as expressões artística da época, que ao contrário explodiram na chamada “cultura de resistência”. Ainda que mesmo em espaços vigiados pela intensa repressão militar, surgiram no Brasil, obras marcantes na música, na literatura, no teatro, nas artes plásticas; obras que além de atestar a vitalidade criativa do brasileiro, descortinaram toda a complexidade e diversidade de um país em tudo diferente das mensagens impostas pela propaganda oficial.

Na década de 1980, os militares finalmente voltaram para os seus quartéis e o Brasil passou a enfrentar a dura tarefa de reconstruir sua democracia em tempos de crise econômica e crescente processo de globalização. De qualquer forma, ficou mais fácil definir o que é a cultura brasileira em todos os seus setores. Enfim, a modernidade brasileira, não conseguiu se fazer por rupturas, mas sim por atualizações contínuas, de modo que está sempre a reproduzir culturas ao invés de produzir de acordo com as necessidades, inventando identidades conforme o sincretismo próprio dos processos atuais.

REFERÊNCIAS

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