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terça-feira, novembro 19, 2024

A ÁUSTRIA NO PERÍODO MODERNO

PROPOSIÇÃO:

Estudar a história da Áustria nos anos 1500-1800, correspondente ao período moderno, evidenciando os principais aspectos de suas relações internacionais.

1 – INTRODUÇÃO

ocalizada no centro da Europa, com os Alpes constituindo forma predominante do seu relevo, a Áustria não é só o ponto de encontro natural entre o Ocidente e o Oriente daquele continente, mas também um permanente campo de batalha pelo controle da região. Desta maneira, disputas territoriais envolveram seus primeiros habitantes com os invasores celtas e os povos que lhes sucederam e se estabeleceram na área: romanos, ávaros, bávaros, lombardos, francos e diversos outros povos germânicos e eslavos e, por fim, os turcos. Isto sem falar nas disputas internas pelo poder.

Nos séculos XVI, XVII e XVIII, período correspondente à era moderna, a história da Áustria, objeto deste estudo é rica em fatos políticos, econômicos e culturais. Desta maneira, o Grupo de Trabalho, dentro do escopo do estudo proposto, optou por eleger as passagens mais relevantes da história austríaca relacionadas ao campo das relações internacionais – as controvérsias e disputas pelo poder-, como assuntos a serem apresentados no presente trabalho. Por uma questão de facilidade de redação e simplicidade do texto, sempre que possível e evitando incorrer em imprecisão na descrição do fato histórico, o estudo mencionará a Áustria, quando na realidade, vários outros países , como a Hungria, a Boêmia e outros faziam parte, naquele momento, do império austríaco.

Em 1500, a Áustria é um país de primeira linha no cenário europeu. O poder político na Áustria estava consolidado nas mãos do Arquiduque Maximiano I, que inicia a grandeza da sua dinastia – os Hasburgos, presente em terras austríacas desde o século XIII. Aliás, estudar a historia da Áustria no período moderno é estudar a história dos Habsburgos, que governaram a Áustria até o início do século XX. Ferdinando I, sucessor de Maximiano I transforma o arquiducado em monarquia moderna, com todas as características que terá por três séculos. É uma história permeada pelas vitórias e também pelas derrotas mas, sem dúvida, uma história de glória, como veremos.

2 – A DINASTIA DOS HASBURGOS

riginária de um obscuro condado no atual cantão suíço do Aargau, a família Hasburgo adquirira com Rodolfo I , em 1306, uma base territorial no coração da Europa – a Boêmia – e se lança numa prodigiosa evolução política a partir do fim do século XV, quando Maximiliano I se tornou o único senhor da Áustria reconstituída. Isto, depois de muitas peripécias e lutas iniciadas nos primeiros anos daquele século, envolvendo os territórios da família (Áustria, Caríntia, Estíria, Windish, o Tirol e a Carníola), exceto Hungria e Boêmia que permaneceram separadas e com reis próprios. Uma sábia política de casamentos fez o resto. Segundo brocado famoso, ela deu mais Estados à Áustria do que as guerras deram aos outros. Os mais famosos desses casamentos foram o do próprio Maximiliano I (1477) com Maria de Borgonha, filha de Carlos o Temerário (territórios que iam dos Vosges ao Mar do Norte); o do seu filho Felipe o Belo com Joana a Louca, filha de Fernando e Isabel ( Espanha, Nápoles, Sicília, Sardenha e América); e dos filhos de Felipe, Maria e Ferdinando com Luis e Ana, herdeiros de Vladislau V, que garantia, pelo Tratado de Viena (1515), a união futura da Boêmia e da Hungria à coroa da Áustria. Conclusão: o neto de Maximiliano, Carlos I da Áustria e Carlos V do Sacro Império Romano-Germânico herdou, praticamente, o mundo.

É interessante registrar que o inédito título arquiduque, exclusivo da família, foi criado em 1359 por Rodolfo IV, (1358-1365), o verdadeiro fundador da Áustria. Este título seria, daí por diante privativo dos príncipes da casa de Hasburgo (1) . Caso interessante foi o dos netos de Maximiliano I: Carlos, herdeiro da Áustria, da Espanha e do Sacro Império, resolve doar a Áustria para seu irmão Maximiliano, por considerar que tal império seria inexeqüível em termos administrativos e por não querer que a Áustria se transformasse num reino de segunda categoria, incorporado à Espanha. O advento de Ferdinando I ( 1521-1564), assinalou também a transformação do arquiducado hereditário em monarquia moderna. Ela já se encontrava, a essa altura, perfeitamente constituído, com o sólido núcleo territorial original, o território correspondente à Áustria atual. Ademais, existia a expectativa de sucessão nas terras da Hungria e da Boêmia, na forma do tratado de 1515, que veio se transformar em realidade em 1526, dando origem ao que viria ser conhecido no século XIX como Império Austro-Húngaro. É oportuno registrar que a Hungria e a Boêmia nem sempre tiveram uma união sólida e estável com a Áustria. A esta constelação de Estados, acrescentar-se-iam outros mais tarde, nas Flandres, na Itália e nos Balcãs.

(1) Enciclopédia Britânica

No entanto, territórios sem continuidade territorial e povos sem unidade étnica e separados por diferenças de religião e de costumes, o império tinha dificuldade para se manter. A organização e a manutenção de um Estado viável nestas condições foi, então, a primeira grande tarefa dos Hasburgos. Assim, a luta permanente contra o perigo turco que lhe ameaçava as fronteiras, na ordem externa e contra a Reforma, que lhe minava a unidade, na ordem interna, seriam as preocupações centrais dos Hasburgos, naquele momento. Maximiliano I inicia a organização do Estado e Ferdinando I continua esta obra, fazendo reformas de caráter nacional e lançando as bases para a administração de um estado moderno. São contempladas as áreas da economia, das relações exteriores, da defesa nacional e da política e segurança interna. Mais tarde, em decorrência da expansão do poder dos Hasburgos, o eixo da política externa fica acrescentada da idéia da hegemonia européia. Não se contentam mais com a grande Áustria, querem lançar seu poder político sobre toda a Europa. Deparam com as dinastias francesas que têm o mesmo objetivo. As medidas de modernização do estado são completadas bem mais adiante, sob a Imperatriz Maria Teresa (1740- 1780). Por séculos, a máquina administrativa dos Hasburgos assim montada, funcionaria como um relógio e seria o sustentáculo do Império. A dinastia dos Hasburgos prossegue dominando a história da Áustria até o início dos século XX

Vamos tratar, a seguir, da maneira que os Hasburgos desenvolveram sua política no período moderno, tanto no plano interno, quanto no plano externo.

3 – A QUESTÃO RELIGIOSA

melhor compreensão da história moderna austríaca, no seu viés das relações internacionais, parte do conhecimento da controvérsia religiosa que abalou a Europa no século XVI – a Reforma Protestante- na qual a Áustria se envolveu profundamente. A religião ocupava um lugar central na vida das pessoas nos primeiros anos da Europa Moderna. Elevava e dignificava qualquer ação importante de suas vidas, desde o nascimento e o batismo, até o casamento e a sua morte. E outorgava a esperança da salvação. Em princípio, este desejo espiritual estava circunscrito às igrejas existentes: a Católica Romana no Ocidente e a Ortodoxa Grega, no Oriente. Os únicos grupos importantes fora destas igrejas eram os judeus, alguns mouros no sul da Espanha e os hussitas na região da Boêmia. Em conseqüência, a heresia estava virtualmente extinta em 1500 e, ao se ver enfrentando rivais sem importância, a Igreja Católica Romana tornou-se complacente e falhou não destinando sua riqueza adequadamente para satisfazer a fome espiritual existente no início do século XVI. Esta conjuntura de uma igreja espiritualmente em decadência e ambiciosa materialmente explica a revolução religiosa que se inicia. Assim, surge uma teologia reformada.

Os primeiros reformistas eram provenientes da Alemanha e da Suiça de língua germânica, liderados por Martinho Lutero e por Ulrico Zwinglio. Lutero prega que para se alcançar a salvação não eram necessárias as penitências e jejuns, bastando somente a fé. O luteranismo se apoia na justificação através da fé e rechaça a necessidade de se observar certos ritos e dogmas que para a Igreja Católica são fundamentais. Assim, Lutero desconhece a importância de certos

sacramentos, tais como a confissão e a extrema-unção, não admite o celibato eclesiástico, bem como a veneração aos santos. A livre interpretação da bíblia e a supremacia do Estado sobre a religião constituem também elementos que deram corpo à doutrina luterana. Em princípio Lutero não pretendia dividir a Igreja, mas sim reformá-la e consolidá-la. O que aconteceu, na realidade, foi a cisão e desavenças entre as duas correntes. Certos de que a reforma poderia abrir as portas à secularização de muitos bens da Igreja, diversos soberanos logo a apoiaram. Assim Henrique VII da Inglaterra, Gustavo da Suécia e a maioria dos príncipes da Alemanha setentrional repeliram a autoridade do Papa, introduziram um ordem na Igreja mais ou menos reformada e apoderaram de todos os bens monásticos em seus reinos. O resultado desta onda reformista foi que, por volta de 1570, setenta por cento dos súditos do Sacro Império Romano eram protestantes. (2)

A Reforma penetra na Áustria com facilidade. Era natural que tivesse passado da Alemanha à Áustria, que tinha os mesmos problemas do outro lado da fronteira. Movimento libertário, conquistara o povo, explorado pelo clero, e agradara aos nobres, que pretendiam usá-lo contra o Imperador. Homem do seu tempo, Ferdinando I acreditou a princípio na possibilidade de um acordo com Roma, mas foi obrigado a fazer a sua Contra-Reforma, dificultando o culto protestante. Seu sucessor, Maximiliano II, simpatizante da reforma luterana, deu novamente liberdade de culto. Seu sucessor, no entanto, era católico. Proibiu o protestantismo na Áustria e promoveu a conversão forçada de seus súditos ao catolicismo. Diante da grande reação contra estas medidas, ele foi substituído e maior liberdade religiosa passou a vigorar. Entretanto, as divergências religiosas eram cada vez mais sérias dentro do país e nas suas fronteiras.

Diante da avassaladora expansão dos protestantes, a Igreja Católica reage e convoca em 1562 um concílio geral para reverter a situação. No Concílio de Trento, são aprovados decretos, que permanecem em vigor por mais de trezentos anos, destinados a revitalizar a Igreja por intermédio de novas normas de ortodoxia e disciplina. Definiu-se a doutrina correta da Igreja, condenaram-se os abusos do clero e estabeleceu-se um eficiente sistema de supervisão eclesiástica. Estas medidas conhecidas como Contra-Reforma, detiveram a expansão do protestantismo e um novo entusiasmo e confiança animaram os católicos. Ao redor de 1650, mais de dois terços da Europa prestavam novamente obediência à Roma. Neste cenário está lançada a semente da controvérsia religiosa que irá dividir os europeus e servir de motivação para guerras nos anos vindouros.

(2) Atlas da História Universal – p. 180

4 – A GUERRA DOS TRINTA ANOS

episódio da história européia denominado a Guerra dos Trinta Anos, foi de grande importância para a Áustria, pelo envolvimento dos Hasburgos na disputa, em todas as suas fases. Ela foi, na realidade, foi uma série de guerras no período 1618-1648, que envolveu diversos países da Europa Ocidental e lutada principalmente na Alemanha. Inicialmente, a disputa foi motivada por questões religiosas, relacionadas à Reforma, mencionadas na seção anterior. No entanto, à medida que o conflito prossegue, sua direção e caráter foi decisivamente influenciada por outros temas, incluindo rivalidades de príncipes de dinastias alemãs e a determinação de certas potências européias, notadamente a França e a Suécia, em limitar o poder do Sacro Império Romano-Germânico, então carro-chefe da política austríaca e da dinastia dos Hasburgos. As questões religiosas que resultaram na guerra, começaram a se formar meio século antes. De uma maneira geral, esta situação resultou da fraqueza da Paz de Augsburg, um tratado concluído em 1555, que não resistiu às tensões desenvolvidas entre o Sacro Império e os príncipes alemães luteranos, signatários deste tratado, que pretendeu a convivência pacífica entre as duas religiões (3). A guerra, uma das mais destrutivas da história da Europa, pode ser dividida em quatro fases: Palatinado-Boêmia (1618-25), Dinamarquesa (1625-29), Sueca ( 1630-35) e Francesa ( 1635-48). A primeira fase começa em 1618, quando Ferdinando II, então rei da Boêmia e herdeiro dos Hasburgos, tentou impor a exclusividade católica em seus domínios. Os nobres protestantes da Boêmia e da Áustria se rebelaram. sob a liderança de Frederico V, rei protestante da Boêmia, que acumulava também o Palatinado. Ele foi eleito Imperador do Sacro Império , mas perdeu o trono em 1619, depois de uma batalha nas vizinhanças de Praga. O novo imperador do Sacro Império passa a ser seu oponente Ferdinando II, Arquiduque da Áustria, Rei da Boêmia e da Hungria. Os protestantes são vencidos e o Palatinato é incorporado ao Sacro Império.

(3) BURNS, Edward p. 367-370
A segunda fase- a dinamarquesa – marca a internacionalização do questão religiosa, inicialmente alemã. Os protestantes alemães pedem ajuda estrangeira contra os católicos austríacos. A Inglaterra, a França e outros países ocidentais ficam assustados e intimidados com o poderio dos Hasburgos, após a fase anterior da guerra. Cabe a Christian IV, rei da Dinamarca e Noruega tomar a iniciativa da ajuda militar aos protestantes alemães. Na realidade, os dinamarqueses se interessavam primordialmente por ambições territoriais sobre o noroeste europeu e deter o controle dos Hasburgos sobre o enclave dinamarquês de Holstein, na Alemanha. Christian mobiliza um grande exército e invade a Saxônia, mas após vários combates é derrotado pelos austríacos. Deve ser registrado que o exército dos Hasburgos tinha um elevado contigente de mercenários nas suas fileiras. Esta fase se encerra com o Tratado de Lübeck, com a perda de territórios controlados pelos dinamarqueses na Alemanha.

A fase sueca, se inicia com o orientação anti-Hasburgos do Cardeal francês Richelieu, primeiro-ministro do rei Luis XIII. Devido a restrições internas no seu país, Richelieu estava impedido de intervir diretamente na Alemanha, então ele incentiva e articula a ação do rei sueco Gustavo Adolfo II neste sentido .Este rei era um ardoroso luterano e, com a promessa de ajuda dos franceses, resolve partir em defesa dos protestantes do norte da Alemanha, e, principalmente para satisfazer sua ambição de estabelecer a hegemonia sueca na região do Báltico. Gustavo Adolfo inicia o conflito em 1630 com um ataque à região da Pomerandia. Esta ação desperta a reação do Sacro Império que inicialmente derrota os suecos e seus aliados alemães. No decorrer da guerra os suecos se recuperam e infligem sérios danos no exército imperial, mas perdem o seu rei, que morre em combate. Os Hasburgos reforçam seu exército com mais mercenários e por fim derrotam os suecos e a paz é restabelecida com o Tratado de Praga em 1635.

A quarta e última fase afasta-se da motivação religiosa para se tornar uma questão entre a França e a Áustria pela hegemonia européia. De um lado os Hasburgos, do outro o Cardeal Richelieu. Os combates começam com a França invadindo a Espanha, governado pelos Hasburgos, ao lado da Áustria. A França, país católico tem como aliados os protestantes alemães e suecos. Em 1636, os franceses são repelidos na Espanha. A partir de 1638, o exército imperial começa a ser derrotado e perde territórios na Alemanha e na própria Áustria. Em 1643, a situação fica indefinida com vitórias e derrotas para ambos os partidos, mas a partir de 1647, torna-se ao final totalmente favorável aos franceses e seus aliados. Por fim, Ferdinando III, da Áustria é obrigado a capitular.

A Guerra dos Trinta Anos se encerra com a Paz de Westfalia. Este tratado assinado em 24 de outubro de 1648, terá influência marcante na história da Europa, por definir e reconhecer as fronteiras dos Estados europeus, em especial os diversos Estados germânicos. É o embrião de um sistema internacional de Estados, que vai nortear as relações internacionais daí por diante. Ele adicionalmente cria os Estados da Suiça e da Holanda e enfraquece o Sacro Império Romano e os Hasburgos. Como resultado final assegura a ascensão da França como a primeira potência européia.(4)

5 – A DISPUTA PELA HEGEMONIA EUROPÉIA

grande influência dos Hasburgos na Europa tornou-se evidente desde o momento (1519 ) em que Carlos I, que já era rei da Espanha, foi escolhido o novo monarca do Sacro Império Romano-Germânico. Assim, esse monarca, como Carlos I da Espanha e Carlos V da Alemanha, tornou-se um soberano em cujos territórios o ” sol jamais se punha”. Em sua pessoa conjugou-se a velha idéia imperial de dominar sob uma só coroa grande parte do mundo, consolidando uma unidade territorial que no plano político foi impossível obter. Aí começa a controvérsia com a França, que se vê literalmente envolvida por um cinturão dos Hasburgos. A França fica, então, em situação de perigo e as hostilidades entre os dois países começam. Na realidade o Sacro Império era mais um título do que uma organização política sólida. Composto por diversos estados germânicos, sem uma estrutura central de poder, ele não era a ameaça imaginada pela França. É possível que este pensamento fosse um pretexto para apoiar sua política externa. No entanto, o Sacro Império trazia prestígio e poder de influenciar ao Imperador, o que o transformava em um importante veículo das pretensões hegemônicas dos Hasburgos para a Europa. Cinco guerras, entre 1521 e 1556, produto da ambição de ambos pelo território italiano, foram necessárias para dirimir esta contenda. A paz foi consolidada de acordo com a política de matrimônio dos Hasburgos, Felipe II da Espanha casa-se com Isabel de Valois, filha de Henrique II, rei da França (5).

A seguir, dentro desta disputa, vem a Guerra dos Trinta Anos, descrita na seção anterior.

A Paz de Westfalia, que pôs fim à Guerra dos Trinta Anos, deixou a Alemanha dividida em 350 pequenos Estados. Isto liquidava a antiga pretensão austríaca de unificá-la sob a sua liderança. Esta posição foi uma vitória da França, que lutava contra o Sagrado Império Romano, principal instrumento político dos austríacos. Frustavam-se, naquele momento, os sonhos de predominância européia dos Hasburgos. Mas a disputa continua.

(4) Enciclopédia Encarta

(5) Atlas da História Universal – p 177

A rivalidade entre as duas monarquias, igualmente expansionistas e messiânicas, ia ser, doravante, o fato central da política européia. Mas as verdadeiras razões eram outras: a França aspirava a uma fronteira natural no rio Reno a expensas do território austríaco e desejava separar a Áustria da Espanha, para escapar do cerco dos Hasburgos. Ademais, sua vocação imperialista – legado de Richelieu – chocava-se com a política de hegemonia européia austríaca.(6)

Assim, nos séculos XVII a XVIII, a Áustria e a França se engajam em sucessivas guerras de prestígio (7): a da Holanda 1672-1679), da liga de Augsburg ( 1686-1889), da sucessão da Espanha ( 1700-1713) e da sucessão da Polônia ( 1733-1735). Destas, destaca-se a emblemática Guerra da Sucessão Espanhola, que permite apreciar a complexidade dessas disputas, com suas alianças de momento, interesses os mais variados e resultados não definidos.

Leopoldo da Áustria iniciou a luta pela herança espanhola de Carlos II, com a invasão da Itália. Foi apoiado nessa disputa pela Inglaterra e Holanda

ante a aceitação de Luis XIV da França, da herança de Carlos II – a coroa espanhola – em favor de Felipe seu neto. O Sacro Império Romano-Germânico, Portugal e Savóia também declararam guerra à França. Os primeiros êxitos franceses foram seguidos de reveses entre 1704-1709, mas os aliados foram incapazes de manter o Arquiduque Carlos, segundo filho de Leopoldo, como o

rei da Espanha. Finalmente a Inglaterra e a França alcançaram um compromisso de paz, conhecido como Paz de Utrecht, (1710) com seus respectivos aliados. O resultado foi que Felipe reteve a Espanha e a América, enquanto os Países Baixos espanhóis e os territórios italianos foram destinados aos austríacos e à Savóia. Ganha, assim, a Áustria e ganha também a Espanha.

Outro fato importante, dentro desta disputa, foi a Revolução Francesa, que também provoca mais uma crise entre a França e a Áustria, só que desta feita, um novo motivo para a controvérsia aparece: o perigo republicano. A Áustria, monarquia absolutista, lidera um movimento de reis da Europa contra a França – Circular de Pádua (1791) para atuar em apoio a Luiz XVI, e, é claro, combater a república francesa. Em represália, a França declara guerra à Áustria em 1792. A Áustria está novamente em guerra e o imperador Francisco II, pai da D. Leopoldina, primeira imperatriz do Brasil, foi obrigado a enfrentar, primeiro ao exército da Revolução, depois Napoleão Bonaparte. A Áustria tomou parte em todas as coligações contra a França, exceto a quarta. É oportuno mencionar que a cooperação com os aliados, com tantos interesses distintos, não era fácil e, a Áustria embora aliada à Rússia, Inglaterra – a Tríplice Aliança, acordada em 1795 – teve, na realidade, de combater praticamente sozinha. Sofreu, então, uma série de revezes militares e diplomáticos. Contudo, a Áustria seria vencedora nos anos a seguir, com a derrota de Napoleão.
A Áustria chega ao final do século XVIII com a sua política externa tendo o mesmo objetivo do início do século XVI, superar a França como a primeira potência européia.

(6) PIRENNE, Jacques-Henri – p. 78

(7) Enciclopédia Encarta

6 – A AMEAÇA TURCA

turcos foram peça importante da história da Áustria no período moderno. O conflito entre o Império Austro-Húngaro e os turcos inicia-se em 1529, quando Solimão I assediou Viena, mas a cidade resistiu. Em 1541, os turcos voltaram, ocuparam Buda e exigiram tributo anual do império. As férteis planícies do Theiss e do Danúbio ficaram mais de um século em seu poder. Só em 1606, os austríacos conseguiram expulsá-los de parte da Transilvânia. Em 1664, uma ofensiva turca em São Gotardo foi contida por Leopoldo I. Em 1683, os turcos chegaram outra vez aos jardins de Viena. Foram batidos por um exército internacional comandado por Jan Sobieski, rei da Polônia. Finalmente, a vitória do Príncipe Eugênio sobre os otomanos em 1697 pôs fim à expansão turca, quase toda a Hungria turca foi cedida à Áustria , em 1699, toda a Transilvânia e em 1718, o Temesvár e parte da Sérvia. A ameaça turca era coisa do passado. A participação dos turcos na história da Áustria não se restringe às guerras entre os dois Estados. (8) Tem um interessante capítulo da sua participação na política interna do Império. A sociedade austríaca se organizava em pirâmide, pomposa e hierárquica. No topo, os grandes proprietários, a nobreza, o alto clero, os donos de castelos, matas, rebanhos, quando não cidades e aldeias. Exerciam considerável poder político. Vinha em seguida a pequena nobreza sem terras, que gravitava em torno do príncipe e vivia de seu favor. Abaixo dela estava a burguesia. O povo não tinha voz, embora constituísse noventa por cento da população. Esse caráter aristocrático do regime tempera, paradoxalmente, os excessos do absolutismo dos Hasburgos. Porque as aristocracia era ciosa não só de seus direitos como também das prerrogativas de suas regiões. Neste contexto, os turcos foram importantes num sutil jogo de influência. Isto porque para os nobres, tanto austríacos quanto os húngaros, atirar o sultão contra o imperador passou a ser a melhor maneira de garantir a própria independência. Freqüentemente nas incursões, acima descritas, os turcos ou contavam com a cooperação de alguns nobres do império ou eram estimulados por eles a atacar o exército do imperador.

(8) BURNS, Edward – p.370

7 – CONCLUSÃO

divisão da Europa em dois campos de batalha religiosos depois do início do século XVI traz significativas conseqüências políticas para os seus habitantes. Em primeiro lugar, desestabilizou as relações internacionais. É certo que muito antes da Reforma Protestante, os Estados europeus guerreavam freqüentemente entre si, mas depois dela as guerras tornaram-se mais generalizadas e cruéis.

Como vimos, a síntese da história da política externa da Áustria no período moderno foi a contínua luta para se consolidar o império, não só em termos de fronteiras definidas e seguras e desfrutando de estabilidade política e

religiosa interna, mas também em termos de hegemonia no cenário europeu. A Áustria entrou em choque com muitos países por estes ideais, mas a França foi sempre o seu principal adversário. A Áustria chega ao final do século XVIII praticamente como começou o século XVI, em disputa, em especial com a França, por espaço e prestígio. Fica demonstrada a afirmação inicial que estudar a história austríaca é estudar a história dos Hasburgos, que conduziu a Áustria nestas disputas.

No século seguinte, em especial na sua primeira metade, o Império Austro-Húngaro finalmente atingirá seu objetivo, será a grande potência continental da Europa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 -BURNS, Edward M. – História da Civilização Ocidental, vol 2, Rio de Janeiro, Editora Globo, 1989.

2 – PIRENNE, Jacques-Henri – Panorama da História Universal, São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1973.

3 – …………….. – Atlas da História Universal, Rio de Janeiro, Editora Globo, 1985.

4 – ………………- Enciclopédia Britânica, 1996.

5 – ………………- Enciclopédia Encarta – Microsoft, 2001.

Outros Autores: Delcio Machado de Lima, Marcelo Alves Santos, Odilon do Carmo Silva e Paulo Roberto S. Neves

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