Autoria: Janaina Zulmira Leiras
A surpresa mais perturbadora do final do século XX talvez tenha sido a descoberta da fragilidade do novo meio ambiente. As florestas tropicais, que fornecem parte do oxigênio que respiramos, estão desaparecendo a uma velocidade alarmante na África, na América do Sul e principalmente no Sudeste Asiático. A camada de Ozônio, que nos protege de radiações nocivas, está sendo destruída.
Tudo começou com um fenômeno importante para a manutenção da vida, foi a transformação de parte do oxigênio que se acumulava na atmosfera em ozônio. Isso graças a interação das radiações ultravioletas do sol nas altas camadas da atmosfera. Essas reações originaram uma verdadeira barreira de ozônio, filtrando e impedindo a penetração de quantidades excessivas de raios ultravioletas, que são nocivos à vida.
A camada de ozônio é uma “capa” desse gás (ATMOSFERA) que envolve a Terra e a protege de vários tipos de radiação, sendo que a principal delas, a radiação ultravioleta, é a principal causadora de câncer de pele. No último século, devido ao desenvolvimento industrial, passaram a ser utilizados produtos que emitem Clorofluorcarbonos (CFC), um gás que ao atingir a camada de ozônio destrói as moléculas que a formam (O3), causando assim a destruição dessa camada da atmosfera. Sem essa camada, a incidência de raios ultravioletas nocivos à Terra fica sensivelmente maior, aumentando as chances de contração de câncer.
A origem dos atuais problemas ambientais está no estilo de vida das nações industrializadas. O aumento da industrialização no hemisfério norte trouxe riquezas materiais às custas do meio ambiente. A mineração a céu aberto deixou cicatrizes na área rural, cidades e fábricas se espalharam, liberando substâncias químicas nocivas no ar. Os carros estão se multiplicando, acrescentando poluentes à atmosfera. O uso generalizado de artigos descartáveis que são “energeticamente ineficientes ” é um desperdício de recursos escassos &ndash as pilhas usadas em rádios precisam de 50 vezes mais energia para serem fabricadas, do que àquela que produzem. Se o Terceiro Mundo seguir essas práticas ao se desenvolver, poderá levar a terra a um holocausto ecológico.
Nas últimas décadas tentou-se evitar ao máximo a utilização do CFC e, mesmo assim, o buraco na camada de ozônio continua aumentando, preocupando cada vez mais a população mundial. As ineficientes tentativas de se diminuir a produção de CFC, devido à dificuldade de se substituir esse gás ,principalmente nos refrigeradores, fez com que o buraco continuasse aumentando, prejudicando cada vez mais a humanidade. Um exemplo do fracasso na tentativa de se eliminar a produção de CFC foi a dos EUA, o maior produtor desse gás em todo planeta. Em 1978 os EUA produziam, em aerossóis, 470 mil toneladas de CFC, aumentando para 235 mil em 1988. Em compensação, a produção de CFC em outros produtos, que era de 350 mil toneladas em 1978, passou para 540 mil em 1988, mostrando a necessidade de se utilizar esse gás em nossa vida quotidiana. É muito difícil encontrar uma solução para o problema. De qualquer forma, temos que evitar ao máximo a utilização desse gás, para que possamos garantir a sobrevivência de nossa espécie.
CONSEQUÊNCIA
Do total da energia que nos chega do Sol, cerca de 46% correspondem à luz visível; 45%, à radiação infravermelha, e 9% , à radiação ultravioleta. Essa última contém mais energia e, por isso, é mais perigosa para a vida dos animais e vegetais sobre a superfície da terra. O ultravioleta é a radiação que consegue “quebrar” várias moléculas que formam nossa pele, sendo por isso o principal responsável pelas queimaduras da praia.
Na atmosfera terrestre. entre 12 e 32 Km de altitude, existe a camada de ozônio (O3) e que funciona como escudo, evitando que 9% da radiação ultravioleta atinja a superfície da Terra.
No início da década de 60 verificou-se que a camada de ozônio estava sendo destruída mais rapidamente que o normal. O problema foi agravado pelo aumento do número de automóveis, aviões a jato, aviões supersônicos, foguetes, ônibus espaciais. Em 1984 verificou-se uma perda de 40% da camada de ozônio sobre a Antártida. Calcula-se que a camada de ozônio vem diminuindo 0,5% ao ano, e que uma redução de 1% na camada de ozônio corresponde a um aumento de 2% da radiação ultravioleta que chega à superfície terrestre, o que trará problemas como câncer de pele, catarata, cegueira, queima de vegetais, alterações no plâncton e reflexos em toda a cadeia alimentar marítima.
No Brasil, a camada de ozônio ainda não perdeu 5% do seu tamanho original, de acordo com os instrumentos medidores do INPE (Instituto de Pesquisas Espaciais). O instituto acompanha a movimentação do gás na atmosfera desde 1978 e até hoje não detectou nenhuma variação significante, provavelmente pela pouca produção de CFC no Brasil em comparação com os países de primeiro mundo. No Brasil apenas 5% dos aerossóis utilizam CFC, já que uma mistura de butano e propano é significativamente mais barata, funcionando perfeitamente em substituição ao Clorofluorcarbonos.
A FORMAÇÃO DE “O3”
Átomos de oxigênio podem se combinar de diferentes formas; esse fenômeno é chamado de alotropia e as formas resultantes destas combinações são chamadas de formas alotrópicas. Assim, o ozônio é uma forma alotrópica do oxigênio. Ele é formado por três átomos de oxigênio e tem propriedades físico-químicas muito diferentes das outras formas alotrópicas.
A atmosfera é constituída por aproximadamente 21% de O2 e 78% de N2, e essa composição varia muito pouco até aproximadamente 70Km de altura. À medida que as radiações mais energéticas chegam à superfície da Terra podem ser absorvidas seletivamente por algumas substâncias. Entretanto, antes de chegar à baixa atmosfera, uma parte dessa radiação é absorvida pelo oxigênio existente na estratosfera, desencadeando uma série de reações. Um mecanismo proposto para explicar uma rota freqüente de formação do ozônio a partir do oxigênio é:
A primeira equação representa a reação de desenlace da molécula de oxigênio, que ocorre quando essa molécula absorve reações energéticas ( de baixo comprimento de onda ).
A Segunda equação representa a adição do oxigênio atômico (O) à molécula de oxigênio, O2. A presença de uma molécula (M), por exemplo N2, faz-se necessária para absorver o calor liberado na reação, pois esta é exotérmica. Caso não houvesse uma terceira molécula para absorver parte da energia liberada pela reação, o ozônio formado sofreria decomposição em aproximadamente 10&ndash13 segundos. Muito provavelmente é dessa maneira que se forma a importante camada de ozônio na estratosfera.
A camada de ozônio formada corresponde a uma faixa de aproximadamente 30 mil metros de espessura, que se inicia perto de 15Km da superfície terrestre. Se a camada estivesse nas condições de temperatura e pressão do nível do mar teria uma espessura de, no máximo, 3 milímetros. Mesmo assim ela é fundamental para a conservação da vida na Terra. O ozônio absorve intensamente a radiação ultravioleta. Por isso funciona como um filtro que impede esta radiação de chegar à superfície terrestre.
Em pequena quantidade, os raios ultravioleta são benéficos: por exemplo, ativam a formação de vitamina D em nossa pele. Mas em grande volume causam vários males aos seres humanos, entre eles as conhecidas queimaduras de sol, câncer de pele e lesões oculares. Nas plantas e nos fitoplânctons o excesso de radiação ultravioleta determina redução do ritmo de crescimento e de produtividade.
O ozônio também se forma na troposfera, região mais baixa da atmosfera e onde vivemos. Aqui embaixo, sob a ação da luz, o ozônio se forma preferivelmente de uma combinação de óxidos de nitrogênio ( produtos formados a partir da combustão de derivados do petróleo, eliminados pelas chaminés de fábricas e canos de escape dos veículos automotores.). Por se constituir numa espécie extremamente reativa, um poderoso agente oxidante, o ozônio ataca uma série de materiais, como obras de arte, plantas, tecidos, borrachas e até os seres vivos, inclusive o próprio organismo humano; portanto, sua presença na baixa atmosfera é indesejável. E, por seu caráter reativo, constitui um importante causador de vários poluentes secundários.
AS REAÇÕES NOCIVAS
As moléculas de Clorofluorcarbonos, ou Freon, passam intactas pela troposfera, que é a parte da atmosfera que vai da superfície até uma altitude média de 10.000 metros. Em seguida essas moléculas atingem a estratosfera, onde os raios ultravioletas do sol aparecem em maior quantidade. Esses raios quebram as partículas de CFC (ClFC) liberando o átomo de cloro. Este átomo, então, rompe a molécula de ozônio (O3), formando monóxido de cloro (ClO) e oxigênio (O2).
A reação tem continuidade e logo o átomo de cloro libera o de oxigênio que se liga a um átomo de oxigênio de outra molécula de ozônio, e o átomo de cloro passa a destruir outra molécula de ozônio, criando uma reação em cadeia.
O ozônio pode ser destruído pelo freon que é o gás de refrigeração utilizado em geladeiras, freezers, aparelhos de ar condicionado, aerossóis, sprays de perfumes, desodorantes, tintas, etc.
UV
Observe que ocorre uma reação em cadeia com a formação de cloro atômico que dá continuidade à destruição da camada de ozônio.
Por outro lado, existe a reação que beneficia a camada de ozônio: Quando a luz solar atua sobre óxidos de nitrogênio, estes podem reagir liberando os átomos de oxigênio, que se combinam e produzem ozônio. Estes óxidos de nitrogênio são produzidos continuamente pelos veículos automotores, resultado da queima de combustíveis fósseis. Infelizmente, a produção de CFC, mesmo sendo menor que a de óxidos de nitrogênio, consegue, devido à reação em cadeia já explicada, destruir um número bem maior de moléculas de ozônio que as produzidas pelos automóveis.
OS EFEITOS
A principal conseqüência da destruição da camada de ozônio será o grande aumento da incidência de câncer de pele, desde que os raios ultravioletas são mutagênicos. Além disso, existe a hipótese segundo a qual a destruição da camada de ozônio pode causar desequilíbrio no clima, resultando no “efeito estufa”, o que causaria o descongelamento das geleiras polares e conseqüente inundação de muitos territórios que atualmente se encontram em condições de habitação. De qualquer forma, a maior preocupação dos cientistas é mesmo com o câncer de pele, cuja incidência vem aumentando nos últimos vinte anos. Cada vez mais aconselha-se a evitar o sol nas horas em que esteja muito forte, assim como a utilização de filtros solares, únicas maneiras de se prevenir e de se proteger a pele.
OS POLUENTES
O monóxido de carbono é o contaminante do ar mais abundante da camada inferior da atmosfera. Outros poluentes são óxidos de nitrogênio, óxidos de enxofre, dióxidos de enxofre, hidrocarbonetos (identificaram-se 56 hidrocarbonetos diferentes em áreas urbanas), o ozônio ( o mesmo que exerce um efeito benéfico na alta atmosfera, protegendo-nos dos raios ultravioleta), chumbo, aldeídos e material particulado.
Estas substâncias atingem seres humanos manifestando-se através de sintomas distintos: dores de cabeça, desconforto, cansaço, palpitações no coração, vertigens, diminuição dos reflexos (monóxido de carbono, que em concentrações elevadas, pode conduzir à morte), irritação dos olhos, nariz, garganta e pulmões (óxidos de nitrog6enio); infiltração de partículas nos pulmões formando ácidos sulfurícos (óxido de enxofre); asma aguda e crônica, bronquite e efisema (dióxido de enxofre); Câncer (hidrocarbonetos); destruição de enzimas e proteínas (ozônio); degeneração do sistema nervoso central e doenças nos ossos, principalmente em crianças (chumbo). O material particulado causa irritação e entupimento dos alvéolos pulmonares. O Brasil é um dos países com maior quantidade de aldeídos na atmosfera, originados pelos carros à álcool. Acredita-se que o aldeído fórmico provoque tumores em cobaias, mas sobre os efeitos no homem ainda não há informações.
A CAMADA DE OZÔNIO CONTINUA AMEAÇADA
O dia 16 de setembro de 1997 marcou o décimo aniversário da assinatura do Protocolo de Montreal Sobre as Substâncias que Destróem a Camada de Ozônio, um acordo internacional destinado a reduzir os trágicos efeitos do desenvolvimento industrial sobre o fino escudo atmosférico que protege a Terra – e todos os seres que nela vivem – dos mortais raios ultravioletas B (UV-B).
Mas será que há razões suficientes para uma comemoração? Estudos científicos realizados anualmente demostram que a camada de ozônio continua a diminuir, apesar das medidas de proteção impulsionadas pelo Protocolo de Montreal.
Dados da agência espacial norte-americana NASA mostram que em 1996 o buraco na camada de ozônio sobre a Antártida atingiu o recorde de 16 milhões de km quadrados – área duas vezes maior que o Brasil.
Em algumas regiões, já foram detectados níveis de raios UV-B cinco vezes mais altos do que o normal. As conseqüências dessa radiação excessiva são tremendas: câncer de pele, catarata, danos ao sistema imunológico, redução da biodiversidade etc.
As grandes inimigas da camada de ozônio são as moléculas de cloro [1] e de bromo lançadas na atmosfera em decorrência de produtos e tecnologias industriais. As principais dessas substâncias são os CFCs (clorofluorcarbonos), HCFCs (hidroclorofluorcarbonos) e brometo de metila [2]- presentes em ampla gama de produtos – gases refrigerantes, solventes, espumas etc. Esses gases tendem a se acumular nas regiões mais frias do planeta tais como os pólos. Por isso o buraco na Antártida é tão grande.
Os CFCs são gases cumulativos: uma vez na estratosfera, ficam por décadas ou mesmo séculos. Ou seja: mesmo que todo o mundo deixasse de produzir CFC hoje, a camada de ozônio continuará a sofrer os efeitos por muito tempo.
Para manter seus lucros, a poderosa indústria química mundial têm resistido fortemente aos esforços destinados a proteger a camada de ozônio. Durante anos, seus porta-vozes negaram os efeitos destrutivos do CFC sobre o ozônio, apontados pelo Greenpeace e por diversos cientistas. Foi preciso que a NASA confirmasse a maciça presença de monóxido de cloro sobre a Antártida para que a indústria se rendesse às evidências. Ao admitir os efeitos do CFC, a indústria química passou a defender o HCFC como alternativa. Alternativa falsa: o HCFC também destrói a camada de ozônio. Outra “solução” proposta pela indústria, o HFC (hidrofluorcarbono), embora não destrua o ozônio, é 3.400 vezes mais poderoso do que o CO² como fator de aquecimento global [3].
Desde 1995, o uso de CFC está proibido em todos os países chamados “desenvolvidos” do “Norte”- mas os chamados “países em desenvolvimento” do “Sul”- como o Brasil – ganharam um prazo maior (2005) para substituir o CFC por outros produtos menos nocivos ao ozônio. Desculpa para essa prorrogação: “proteger” a economia desses países, menos capazes de competir. Na prática, com a globalização da economia mundial, as empresas dos países desenvolvidos simplesmente ganharam a chance de transferir para os países não desenvolvidos suas unidades industriais e tecnologias proibidas. São elas que estão sendo “protegidas”.
UM TRATADO CHEIO DE FUROS
Graças a tudo isso, o tratado internacional destinado a reduzir o buraco na camada de ozônio está ele mesmo cheio de furos:
O uso de substâncias destrutivas do ozônio é atualmente de 200 kg/ano per capita nos países desenvolvidos. Apesar das medidas adotadas nesses países, o consumo dessas substâncias aumentou 45% na última década.
O Fundo Multilateral [4] do Protocolo de Montreal continua a financiar projetos utilizando HCFCs, contrariando decisões que limitam o uso dessas substâncias nocivas em aplicações onde não existem soluções ambientalmente corretas. Um bom exemplo disso é o financiamento de US$ 5 milhões aprovado na 19ª reunião do Comitê Executivo do Fundo Multilateral, em outubro de 1996, para a empresa brasileira Multibrás [5]. A empresa quer usar os recursos para substituir os CFCs 11 e 12 por HCFCs e HFCs em seus produtos.
Os recursos do Fundo Multilateral são insuficientes e os atrasos no desembolso desses recursos adiam por vários anos a eliminação das substâncias destrutivas do ozônio.
O Protocolo de Montreal não vigora em várias regiões do planeta – tais como a Federação Russa.
Substâncias destrutivas do ozônio, como o brometo de metila, sequer são contempladas no Protocolo de Montreal.
A ausência de controle estrito sobre o HCFC e brometo de metila adia ou torna mais lento o declínio da presença de substâncias destrutivas do ozônio.
O comércio ilegal e o consumo de CFCs continua a ameaçar a camada de ozônio.
O PROTOCOLO DE MONTREAL SÓ VAI FUNCIONAR:
SE a produção e o uso das substâncias que destróem a camada de ozônio forem banidos. Nós não precisamos delas.
SE os países do Norte desenvolvido mantiverem suas promessas. Eles não estão. E não estão contribuindo com recursos financeiros suficientes para que o Fundo Multilateral possa ajudar os países do Sul, em desenvolvimento, a adotar tecnologias apropriadas.
SE os países do Sul atuarem de forma responsável – eles não o fazem. Alguns insistem em construir fábricas de CFC e fabricar produtos utilizando CFCs alegando não terem recursos para a conversão tecnológica de suas indústrias.
SE o Norte não despejar tecnologia obsoleta e poluente no Sul. Subsidiárias das indústrias químicas do Norte continuam a produzir substâncias destrutivas do ozônio nos países em desenvolvimento. Essas empresas continuam a fabricar seus produtos químicos destrutivos no Norte e a exportá-los.
[1] Cloro – é um ávido destruidor da camada de ozônio – na estratosfera, ele “quebra” a molécula do ozônio (O³) e se “apropria” de um átomo de oxigênio para formar monóxido de cloro (ClO), um gás pouco estável que gera um processo em cadeia de eliminação do ozônio.
[2] Brometo de metila – substância química usada principalmente em agricultura para limpeza do solo, antes do plantio, e na eliminação das pragas. Os principais consumidores no Brasil são a indústria de fumo (no sul do país) e a indústria de armazenamento de grãos.
[3] Aquecimento global: “esquentamento” gradativo do planeta pelos chamados “gases-estufa” gerados pelo processo industrial – tais como o dióxido de carbono (CO²) -, resultantes principalmente da queima de combustíveis fósseis como o petróleo. Desde 1890, marco da revolução industrial, a temperatura média global do planeta aumentou 0.5 grau Celsius.
[4] Fundo Multilateral: fundo criado pelos países-membros do Protocolo de Montreal destinado a financiar a conversão de tecnologias e processos destrutivos do ozônio por outros, não destrutivos.
[5] Multibrás – maior produtor brasileiro de geladeiras, controla a Brastemp, a Consul e a Embraco. Tem 41% de suas ações em mãos da multinacional Whirpool.
(Fonte: Greenpeace Brasil)
Laboratórios de pesquisa DO OZÔNIO da estação “Comandante Ferraz” – ANTARTICA
A maior atividade do Laboratório de Ozônio é fazer observações, isto é, medidas da Camada de Ozônio usando uma rede de instrumentos de superfície chamados espectrofotômetros, do tipo Dobson e do tipo mais moderno, o Brewer. No momento, operamos dois instrumentos Dobson, e seis instrumentos Brewer em diferentes estações de medida. Natal, RN e Cachoeira Paulista, SP, são estações Dobson; Natal (RN), Cuiabá (MT), Cachoeira Paulista (SP), Santa Maria (RS), La Paz (Bolívia), e Punta Arenas (Chile), são estações Brewer. Além dos instrumentos de superfície citados, usamos também a técnica ECC (células de concentração eletroquímica) para medir a concentração de ozônio em função de altura, na troposfera e na estratosfera, usando balões meteorológicos. Um programa de medidas usando esta técnica está em operação em Natal, RN, desde 1978.
A região mais afetada pela destruição da camada de ozônio é a Antártica. Nessa região, principalmente no mês de setembro, quase a metade da concentração de ozônio é misteriosamente sugada da atmosfera. Esse fenômeno deixa à mercê dos raios ultravioletas uma área de 31 milhões de quilômetros quadrados, maior que toda a América do Sul, ou 15% da superfície do planeta. Nas demais áreas do planeta, a diminuição da camada de ozônio também é sensível; de 3 a 7% do ozônio que a compunha já foi destruído pelo homem. Mesmo menores que na Antártida, esses números representam um enorme alerta ao que nos poderá acontecer, se continuarmos a fechar os olhos para esse problema.
Campanhas especiais de campo também tem sido feitas, especialmente na região Amazônica, para estudar efeitos na atmosfera das queimadas locais. Mais recentemente, acrescentamos também outros instrumentos de medida da radiação UV-B nas estações da rede.
Os dados de ozônio obtidos na troposfera são muito úteis para estudos das queimadas, e seus efeitos sobre a atmosfera. Este estudo de queimadas é uma segunda prioridade do Laboratório de Ozônio. O pessoal do laboratório, em 1997, é formado por 5 Doutores, 2 engenheiros, e 5 técnicos. Alguns estudantes de mestrado e doutorado completam o time.
O laboratório foi criado em 1985 pelo Dr. Volker W.J.H. Kirchhoff, que até o presente é o seu chefe.
Esta estação é mantida pela Marinha do Brasil, com apoio logístico da Força Aérea Brasileira. O INPE tem mantido vários projetos de pesquisa nesta estação durante os últimos 10 anos, com o apoio financeiro do CNPq. O Laboratório de Ozônio do INPE mantém aí estudos sobre a camada de ozônio, o Buraco na Camada de Ozônio da Antártica, e medidas de Radiação UV-B.
O ozônio é uma molécula que existe em toda a atmosfera. Na parte mais baixa, a troposfera, a concentração é relativamente baixa. Na estratosfera, que fica entre 15 e 50 km de altura, a concentração do ozônio passa por um máximo a aproximadamente 30 km. Entre 25 e 35 km define-se, arbitrariamente, a região da “camada de ozônio”.
O ozônio desta região tem uma função muito importante para a vida na superfície terrestre. Ela absorve a radiação que vem do sol, o ultravioleta do tipo B, entre 280 e 320 nanometros (nm). Apenas o ozônio, na atmosfera, tem esta propriedade importante de absorver a radiação UV-B, que é prejudicial à vida de homens, animais, e plantas.
Explica-se que a vida surgiu na Terra junto com o oxigênio, e portanto o ozônio, e portanto os seres vivos nunca precisaram de se defender contra a radiação que sempre, desde o início, protegeu a Terra contra este tipo de radiação.
A partir dos anos 60, percebeu-se uma nítida diminuição do conteúdo da camada de ozônio, a nível mundial, de ano a ano. Esta diminuição, que é da ordem de 4% por década, em média, continua ainda hoje, e deve permanecer nesta tendência por várias décadas. Sabe-se hoje que o problema da camada de ozônio está associado aos chamados CFC´s, substâncias produzidas artificialmente pelo Homem moderno, e que foram e são muito úteis nos processos de refrigeração, em geladeiras e ar condicionado, principalmente. Nestas substâncias existe o cloro, mas que somente pode ser liberado da molécula do CFC quando esta é submetida a altas doses de radiação UV-B. É exatamente isto que acontece na estratosfera, na altura e acima da camada de ozônio. O CFC é liberado na superfície, e demora muitos anos para chegar, em parte, na estratosfera.
Quando chega na altura certa o cloro é liberado de sua molécula, podendo então reagir quimicamente com o ozônio, numa reação química que destrói o ozônio. O cloro, no entanto, é regenerado logo depois, via outra reação química, e pode então, destruir mais moléculas de ozônio. Este tipo de reação catalítica é responsável pela destruição de milhares de moléculas de ozônio por apenas um átomo de cloro.
Porque o buraco está na Antártica?
Em todo o mundo as massas de ar circulam, sendo que um poluente lançado no Brasil pode atingir a Europa devido a correntes de convecção. Na Antártida, por sua vez, devido ao rigoroso inverno de seis meses, essa circulação de ar não ocorre e, assim, formam-se círculos de convecção exclusivos daquela área. Os poluentes atraídos durante o verão permanecem na Antártida até a época de subirem para a estratosfera. Ao chegar o verão, os primeiros raios de sol quebram as moléculas de CFC encontradas nessa área, iniciando a reação. Em 1988, foi constatado que na atmosfera da Antártida, a concentração de monóxido de cloro é cem vezes maior que em qualquer outra parte do mundo.
O INPE desenvolve importante programa de observações da camada de ozônio, mantendo no território nacional uma rede de observatórios da camada de ozônio e de radiação ultravioleta. O grupo é muito ativo em termos de publicações e participação em eventos internacionais. Dois de seus membros já foram parte do IOC, International Ozone Commission. Fora do Brasil, instalou-se ainda um observatório em La Paz, na Bolívia, para obter dados de altitude nos Andes, e também no Chile, na região mais austral do continente, em Punta Arenas, com o objetivo de observar o Buraco da Camada de Ozônio, fenômeno tipicamente Antártico.
Seguem abaixo dois exemplos de medidas feitas em Punta Arenas, Chile, região da Antártica, onde se pode observar o Buraco na Camada de Ozônio da Antártica.
Exemplo do buraco de ozônio da Antártica, mostrando concentrações de ozônio em nbar (nanobar) em função de altura em km, em função do tempo (dias de outubro); a concentração é mínima no dia 12, 13, e 14 de outubro de 1995, quando o buraco passa por cima de Punta Arenas.
Representação do buraco de ozônio da Antártica, visto em Punta Arenas, em função da variação do conteúdo total de ozônio, medido por duas técnicas diferentes: usando espectrofotômetro e usando sondagens de ozônio.
A Radiação Ultravioleta é uma parte sui-generis do espectro solar, e pode ser separada em três partes: a radiação UV-A, que se estende desde 320 a 400 nanometros (nm); a radiação UV-B, que vai de 280-320 nm; e a radiação UV-C, que vai de 280 a comprimentos de onda ainda menores. O UV-C é totalmente absorvido na atmosfera terrestre, e por isto não é de maior importância para medidas feitas da superfície da Terra. O UV-A é importante, porque não é absorvido pela atmosfera, a não ser por espalhamento nas moléculas e partículas, e porque tem efeitos sobre a pele humana. A radiação UV mais importante, sem dúvida, é a UV-B. Esta radiação é absorvida na atmosfera pelo ozônio, na estratosfera. A pequena quantidade que passa pela atmosfera e atinge a superfície é muito importante, porque excessos desta radiação causam câncer de pele, e são a grande preocupação dos médicos dermatologistas. Como a camada de ozônio está ainda diminuindo, e vai continuar assim por mais algumas décadas, acredita-se que o UV-B vai aumentar sua intensidade no futuro.
É por isto que as medidas de UV-B, em diversas situações e em vários sítios, é considerada tão importante. Já existe tecnologia adequada para se medir o UV-B.
Instrumento que mede a radiação UV-B em vários canais importantes do espectro, permite estudos da camada de ozônio e do Buraco na camada de ozônio, e da radiação UV-B. A foto mostra um instrumento instalado na Estação Brasileira da Antártica, Comandante Ferraz
O INPE mantém uma importante rede de monitores de UV-B no território nacional, e tem oferecido estas informações à comunidade médica. Um dos objetivos do trabalho é divulgar o índice de UV-B, que é um número sem dimensões que visa definir quantitativamente se o sol está forte ou fraco. É um número de 0 a 16. No inverno, em S.Paulo, por exemplo, o índice é da ordem de 5, e no verão da ordem de 12.
DENÚNCIA SOBRE OS FABRICANTES DE GELAGEIRAS “FONTE GREENPEACE”
GELADEIRAS BRASILEIRAS DESTROEM O OZÔNIO E ESQUENTAM A TERRA.
Para os europeus bons produtos, já no Brasil… Brastemp e Consul estão lançando geladeiras e freezers com o selo “Sem CFC”. A Whirpool, dona dessas marcas, quer nos fazer acreditar que estes modelos são ambientalmente melhores. NÃO É VERDADE. Eles contêm duas substâncias nocivas ao meio ambiente. No isolamento térmico das paredes, usam o gás HCFC (HidroCloroFluorCarbono), que destrói a camada de ozônio. A própria Whirpool já não o usa na Alemanha. Nos sistemas de refrigeração, usam o HFC (HidroFluorCarbono), que causa dois problemas: primeiro, destrói indiretamente a camada de ozônio, já que e fabricado a partir do CFC; segundo, e um poderoso gás estufa, 3200 vezes mais potente que o gás carbônico no aquecimento global do planeta.
Maus Antecedentes:
A Whirpool já foi condenada por propaganda enganosa nos EUA. As entidades Ozone Action e Environmental Law Foundation processaram-na na Califórnia por etiquetar suas geladeiras como “Amigas do Ozônio”. A Whirpool perdeu a causa, e teve de substituir as “etiquetas verdes” por outras que indicavam que o HCFC destrói a camada de ozônio em menor grau que o CFC.
Onde esta a verdade?
A Whirpool produz na Europa as verdadeiras geladeiras verdes – GREENFREEZE – construídas com duas substancias simples (hidrocarbonetos): ciclopentano nas espumas de isolamento térmico e isobutano nos sistemas de refrigeração. Estas substancias permitem construir equipamentos com maior economia de energia e que não danificam o meio ambiente.
A tecnologia GREENFREEZE foi desenvolvida em 1992 pelo Greenpeace, em associação com o Instituto de Higiene de Dortmond da Alemanha. A tecnologia e de livre acesso e as substancias utilizadas não são patenteáveis. O HCFC e o HFC, ao contrario, são patenteados por industrias químicas e são somente produzidos contra o pagamento de ‘royalties’. O GREENFREEZE e hoje produzido por todos os grandes fabricantes europeus. Só na Alemanha já se vendeu mais de 9 milhões de aparelhos com as marcas Bosh, Liebherr, Siemens, AEG, Electrolux e Bauknecht (Whirpool). Na China a Kelon produzira 800 mil destes aparelhos este ano, e Rússia, Ucrânia, Bielorussia, Turquia, Índia, Bangladesh e Cuba preparam-se para fabrica-los. Na Argentina, depois de forte pressão, a Whirpool comprometeu-se com o Greenpeace, publicamente e por escrito, a fabricar greenfreeze ate 1999.
Não somos consumidores de segunda!
O Greenpeace considera inaceitável que o conglomerado Whirpool/Brastemp/Consul trate o consumidor brasileiro como de segunda categoria, não se propondo a aqui produzir o GREENFREEZE.
A SOLUÇÃO! “GELADEIRA VERDE”
Para desmontar as alegações da indústria de que era inviável a produção de refrigeradores não destrutivos da camada de ozônio, o Greenpeace desenvolveu em 1992, na Alemanha, a “geladeira verde” (Greenfreeze), utilizando gases hidrocarbonetos [1] como elemento refrigerante e na fabricação das espumas isolantes. Foi a primeira geladeira no mundo a não destruir o ozônio. A tecnologia foi doada gratuitamente à indústria mundial de geladeiras.
A indústria química, que vem pressionando a indústria de refrigeração a adotar os HCFCs e HFCs como alternativa aos CFCs, reagiu de forma dura, lançando uma campanha contra o Greenpeace alegando que as “geladeiras verdes” consumiriam mais energia, seriam inflamáveis e eram tecnicamente inviáveis. Por trás da campanha, uma lógica: a indústria química tem bilhões de dólares investidos em HCFC e HFC. A multinacional inglesa ICI, grande produtora dessas substâncias, e também de CFC (e alvo de várias ações diretas do Greenpeace), chegou a escrever aos sócios da organização na Inglaterra perguntando: “Será que devemos todos ir para o laboratório e passar os próximos dez anos verificando se as idéias do Greenpeace podem ser colocadas em prática?”
A ICI precisou de apenas duas semanas para descobrir que estava errada: esse foi o tempo necessário para que a Universidade de South Bank, na mesma Inglaterra, desenvolvesse um protótipo de “geladeira verde”.
Em 1993 a indústria alemã DKK/ Foron, que estava em dificuldades financeiras, anunciou a intenção de produzir a geladeira verde em grande escala, depois que milhares de sócios do Greenpeace na Alemanha se comprometeram a comprar o produto. Hoje a empresa é economicamente saudável. O sucesso da Foron levou várias outras indústrias a seguirem seu exemplo.
A tecnologia Greenfreeze está largamente difundida na Europa e em outras partes do mundo, presente em geladeiras que não só preservam o ozônio como são economicamente competitivas e mais eficientes do ponto vista do consumo de energia do que as tradicionais.
“Geladeiras verdes” com marcas dos grandes fabricantes mundiais – inclusive Bosch (Continental, no Brasil), Electrolux e Whirpool (Brastemp/Consul, no Brasil) – estão à venda na Alemanha, Áustria, Dinamarca, França, Itália, Holanda, Suíça e Inglaterra. E, melhor ainda: empresas do “Sul” já estão optando pela tecnologia desenvolvida pelo Greenpeace: a China já produz Greenfreezers e indústrias da Argentina, Cuba e Índia lançarão em breve “geladeiras verdes” como resultado de iniciativas do Greenpeace. Falta o Brasil seguir o exemplo.
O que é bom para a Europa não é bom para o Brasil?
Electrolux, Whirpool e Bosch fabricam greenfreezers em outros países. Mas no Brasil, suas subsidiárias optaram por geladeiras falsamente apresentadas como “ecológicas”. Os modelos da Electrolux, Brastemp e Consul recém lançados no mercado usam o gás HFC ou HCFC em substituição ao CFC. A Electrolux foi mais longe em sua “maquiagem verde” e recorreu à propaganda enganosa de seu modelo R260, que usa o gás refrigerante R134a (nome de mercado de um dos HFCs), apresentado em anúncios assim: “Isto é que é geladeira: não deixa nem a temperatura da Terra subir”. O HFC é 3.400 vezes mais poderoso agente de aquecimento global do que o CO². O Greenpeace entrou com representação contra a mentira na Delegacia do Consumidor e no Conselho de Auto-Regulamentação Publicitária (Cade). O Cade recomendou a retirada da propaganda. Mas a falsa solução continua à venda.
[1] Hidrocarbonetos – gases simples, como o butano, o propano e o isobutano, excelentes fluidos refrigerantes. Há muito são conhecidos pela humanidade, a tecnologia é bastante experimentada e eles são totalmente inofensivos à camada de ozônio, além de muito mais baratos do que os HCFCs e HFCs.
CONCLUSÃO
Diante de tudo que foi dito, surge uma pergunta: é possível reconstruir a camada de ozônio? Em tese, sim. Mas há alguns complicadores práticos. Devido ao longo período de residência dos clorofluorcarbonos na atmosfera e a sua ainda intensa emissão para o ar, eles já se acumularam numa quantidade muito grande. Segundo algumas previsões, mesmo que as emissões se reduzissem a zero, as reações da destruição do ozônio continuariam por pelo menos mais 100 anos. Caso persistam as emissões, hoje na ordem de 1,2 milhões de toneladas anuais, o ritmo da destruição da camada de ozônio será cada vez mais alto, levando eventualmente a mudanças significativas também na composição da alta atmosfera, em elevadas altitudes. Não dá para prever com certeza o que aconteceria numa situação dessas, pois não se conhece com precisão como as espécies constituintes da atmosfera reagiriam a um ambiente onde o processo de formação-destruição-regeneração do ozônio estratosférico fosse intensificada; além disso, não se conhece com exatidão os mecanismos desse processo.