Sócrates nasceu em Atenas, cidade da Grécia, e ali viveu de 470 a 399 a.C. Não levava uma vida quieta, negligenciou riquezas, negócios, postos militares, tribunas, funções públicas e passava a maior parte do seu tempo nas praças dos mercados e nas ruas onde conversava com toda a sorte de pessoas levando-as a refletir sobre a vida e os costumes, sobre o bem e o mal.
Para Sócrates, mais inteligente é aquele que sabe que não sabe. Á grosso modo, ele defendia a idéia de que a pessoa que tem consciência de que não entende de todos os assuntos celestiais e terrenos é mais inteligente do que aquela que sabe pouco, mas que acha que sabe muito. Assim, claro fica que “saber que não se sabe também é uma forma de conhecimento” (GARDER, Jostein.O mundo de Sofia: romance da história da filosofia; tradução João Azenha Jr. São Paulo. Companhia das Letras, 1995. p.74) . Então, a única coisa que ele sabia é que não sabia de nada e por isso, vivia tentando chegar ao verdadeiro conhecimento.
Contrapondo á idéia dos sofistas que eram pessoas estudadas que se diziam sábias, versadas em determinados assuntos e que ganhavam a vida ensinando aos cidadãos atenienses a, principalmente dominar a arte de bem falar, a retórica, Sócrates, tentou mostrar aos cidadãos atenienses que algumas normas são realmente absolutas e de validade universal.
No entanto, ele não queria propriamente ensinar as pessoas pois ao “ensinar” ele não assumia a posição de um professor tradicional. Pelo contrário, sem visar retornos financeiros, ele dialogava, discutia e assim, durante a conversa ele conseguia levar seu interlocutor a usar a razão e ver os pontos fracos de suas próprias reflexões reconhecendo o que estava certo e o que estava errado. Para Sócrates, o fim da educação era ministrar saber ao indivíduo pelo desenvolvimento de seu poder de pensamento e isto contrariava á classe dominante.
Certo dia, Querofonte, seu amigo de infância, perguntou ao oráculo de Delfos quem seria o homem mais inteligente de Atenas. O Oráculo respondeu: Sócrates. Quando Sócrates ficou sabendo disto, mesmo confuso, resolveu fazer uma investigação junto áspessoas que se passavam por sábias na sua cidade: políticos, poetas e artífices, submetendo-os a exames.
Depois da conversa com essas pessoas, Sócrates descobriu que, apesar de passarem por sábios aos olhos de muita gente, não o eram. Então percebeu que o oráculo tinha razão. Mesmo assim, havia qualquer coisa dentro dele que não lhe deixava outra saída senão mostrar a estas pessoas que elas sabiam muito pouco. A conseqüência disto, foi tornar-se odiado deles e de muitos outros.
Pois bem, para atender a voz divina que ouvia dentro de si, Sócrates expunha as fraquezas do pensamento dos atenienses, por isso ele incomodou e irritou a muitas pessoas, principalmente os que detinham poder na sociedade e como conseqüência disso, ele foi obrigado a ir ao tribunal, ao setenta anos de idade para tentar defender-se de duas acusações contra a sua pessoa.
Primeiro, Sócrates foi acusado de “estudar os fenômenos celestes, investigar tudo que há debaixo do céu e da terra e fazer prevalecer a razão mais fraca” (pág. 14).
Depois ele foi acusado de “corromper a juventude” e de “não reconhecer a existência dos deuses”.
Sócrates revela que apresentou sua defesa apenas para cumprir a lei, pois apesar de inocente, seria muito difícil provar isto em tão pouco tempo. Na sue defesa, Sócrates afirmou o tempo todo que tudo o que fizera fora para o bem do Estado e pediu que testemunhassem contra o que falava quem se sentiu prejudicado por um ato seu. Mas não havia ninguém que pudesse apontar uma falha sua, pelo contrário, ele mostrou que a juventude estava sempre ao seu redor e até o ajudava na sua missão. Mesmo assim, por poucos votos de diferença, Sócrates foi considerado culpado e condenado à morte.
Sócrates se defendeu racionalmente não fez súplicas persuasivas nem dramas lamurientos, muito menos concordou em deixar Atenas para salvar sua vida. Se fizesse isso estaria se contradizendo em não considerar sua consciência e não seria Sócrates, um eterno sábio.
Se serve de conforto para os seus admiradores, Sócrates antes de morrer disse que havia recebido sinais dos deuses de que a morte não lhe seria um mal e convenceu os seus absolvidores disso. Foi pensando assim que ele passou para um mundo mais digno de um homem justo, pio e sábio pois “não há, para o homem bom nenhum mal, quer na vida, quer na morte” (pág. 38).
Pelos atos e modo enigmático de viver, pode-se estabelecer um paralelo entre a vida de Jesus Cristo e a de Sócrates:
Ambos foram “até as últimas conseqüências e pagaram suas idéias com a própria vida …” “…além disso, ambos tinham tanta autoconfiança no que diziam que podiam tanto arrebatar quanto irritar seus ouvintes. Para completar, ambos acreditavam falar em nome de uma coisa que era maior do que eles mesmos. Eles desafiavam os que detinham o poder na sociedade, porque criticavam todas as formas de injustiça e de abuso de poder…” (GARDER, Jostein.O mundo de Sofia: romance da história da filosofia; tradução João Azenha Jr. São Paulo. Companhia das Letras, 1995. p. 81).
Além dos exemplos expostos, pode-se acrescentar também que ambos acreditavam estar traindo sua missão se tivessem pedido clemência no processo de acusação. Preferiram enfrentar a morte de cabeça erguida, fato que garantiu a fidelidade das pessoas mesmo depois de sua morte. Ressalto com isso que Sócrates, como Jesus “…tinha uma mensagem a transmitir e que esta mensagem estava indissoluvelmente associada à sua coragem pessoal”. (idem. Pág. 82)
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
(GARDER, Jostein.O mundo de Sofia: romance da história da filosofia; tradução João Azenha Jr. São Paulo. Companhia das Letras, 1995.
PILETTI, Nelson et.alii. História da educação. 6. ed. São Paulo. Ed. Ática, 1997.
PLATAO. Diálogos, tradução Jaime Bruna. São Paulo. Editora Cultrix, 1995.