INTRODUÇÃO
Caracterizada pelo modelo de produção em série, adotado peIas indústrias, e as empresas, uma nova sociedade aparece: a sociedade de consumo. Esse termo designa a atual sociedade moderna, urbana e industrial, dedicada à produção e aquisição crescentes de bens de consumo cada vez mais diversificados. Nesta sociedade, o consumo é lei, e a única escolha que o indivíduo pode ter, é a de escolher dentre aquilo que é oferecido. A sociedade de consumo é um sistema que dita quem produz, para quem produz, como produz, e quem consome.
Neste sistema, empresas detêm o poder de criar necessidades de uso de novos produtos, e o mecanismo mais eficiente que eles utilizam são as propagandas, que são fortes ferramentas na manipulação do consumo.
A DINÂMICA DA SOCIEDADE DE CONSUMO
Em 1800, foi realizada a primeira produção em série em uma fábrica de armas nos EUA, e posteriormente, os americanos Frederico Taylor e Henry Ford criaram a chamada linha de montagem, elevando a produtividade “num sistema cada vez mais rápido, preciso e em série” . A partir daí, então, o artesão perdeu seu trabalho passando à “categoria” operário, facilmente substituível e que não tinha mais poder sobre sua criação. Dentro dessa nova forma de produção – em massa –produto passa a não ser tão valorizado como antes; ao adquirir um bem produzido em série, o consumidor nada sabe sobre quem o criou e não tem com ele vínculo cultural ou afetivo, como ocorria, por exemplo, com um objeto de arte.
Assim, as fábricas passaram a se organizar em indústrias que se transformaram em grandes grupos empresariais nacionais e internacionais que definem onde, como e para quem um bem de consumo ou serviço será produzido. Aliado a esses acontecimentos, estão os meios de comunicação que têm um fantástico poder sobre as massas, criando um padrão a partir do qual necessidades supérfluas são tidas como básicas.
Surge, então, a chamada sociedade de consumo como fruto da associação entre produção em série e as grandes empresas de comunicação e prestação de serviços. “Esse termo [sociedade de consumo] designa a atual sociedade moderna, urbana e industrial, dedicada à produção e aquisição crescentes de bens de consumo cada vez mais diversificados.”
O mundo atual gira em torno do consumo. Todos temos necessidades básicas como alimentação, moradia, saúde, educação, etc., mas paralelamente a isso temos necessidades complementares como de lazer, segurança, justiça, saneamento, dentre outras. Portanto, precisamos de serviços que tornem a vida mais longa e confortável e isso faz com que em última instância, todos nós procuremos consumir produtos e serviços necessários ou supérfluos a fim de garantir tal conforto e longevidade.
Assim, o indivíduo não tem a opção de não consumir, mas apenas a de escolher o que consumir, como, quando e quanto consumir. “E a tudo isso consumimos, com intensidade e velocidade proporcionais ao crescimento da população mundial e das riquezas que esta consegue gerar. Consumimos tanto, que chamamos a nós mesmos de sociedade de consumo.”
Para a sobrevivência de uma sociedade de consumo, é essencial que sejam criadas necessidades de uso de novos produtos, pois, logo que um produto aparece no mercado, ele deve ser consumido imediatamente e em seguida substituído por outro. A real vida útil de um produto já não corresponde ao seu prazo de validade original, mas sim à validade que a mídia estipula.
Um exemplo disso é o mercado de equipamentos eletrônicos que por se desenvolver muito rápido, gera nas pessoas o desejo de acompanhar tal evolução, desejo este despertado pela propaganda veiculada aos meios de comunicação em massa; às vezes nem sequer necessitamos realmente do produto, mas a mídia, com todos os seus atrativos, nos faz acreditar na necessidade de consumi-lo.
De uma forma ou de outra, o indivíduo passa a ser rejeitado, ou taxado de “atrasado” quando não acompanha a mídia, pois, ao não seguir o ritmo da onda do consumo, está automaticamente “fora de moda”. O problema não está só na aquisição do desnecessário, mas também na agilidade com que novos produtos são produzidos; as pessoas mal compram um produto, e outro mais novo, mais moderno e “top de linha” já está nas prateleiras, gerando um ciclo vicioso de consumo em massa.
Assim, o ter vai se tornando mais importante que o ser, de modo que a pessoa seja vista como um simples instrumento ou meio de reprodução dos padrões estabelecidos por essa sociedade consumista: O que ela – a pessoa – tem, e não o que ela é, determina se ela será ou não aceita em determinado ambiente social.
Paralelo ao aspecto social está o aspecto ambiental que tem merecido cada vez mais destaque. Como reflexo dessa alta produção que naturalmente desencadeia um alto consumo, agrava-se cada vez mais o problema do desperdício e do mau gerenciamento dos recursos naturais e energéticos, além dos problemas de geração e processamento de lixo, todos eles decorrentes da necessidade de se acompanhar os altos fluxos produtivos, a rapidez e a instantaneidade do mercado.
Um dos outros aspectos influenciados por essa sociedade de consumo é o da exclusão. “A exclusão social é um processo de frustração de desejos e da sensação de participar da sociedade de consumo,” diante da qual podemos tomar várias posturas que vão desde apatia, conformismo ou determinismo até atitudes mais violentas, sendo esta última, sem dúvida nenhuma a mais problemática e ambígua.
Isso ocorre devido à possibilidade de se atribuírem diversas interpretações do que seria a exclusão social, e tomando como pressuposto que a violência é uma alternativa para a resolução do problema, todos aqueles que, de algum modo se “classificaram” como excluídos passam a se sentir legitimados a agirem de forma violenta.
“Aceito o princípio de que a violência é uma forma de reivindicação de direitos, existentes ou supostos, o mesmo princípio vale tanto para o agricultor sem terra, como para o desempregado urbano que resolveu se juntar àquele, como para o produtor inconformado com a taxa de câmbio, como para o presidiário que se julga no direito de melhor tratamento ou de liberdade. A mesma violência que cortou a cabeça de Luiz XVI cortou a cabeça de Robespierre.”
O grau mais danoso da exclusão social é, sem duvida nenhuma, a criminalidade que surge, em alguma medida, como reflexo dessa sociedade consumista da qual fazemos parte. Como o ter passou a ser mais importante que o ser, as pessoas buscam cada vez consumir, ter, ou pelo menos parecer. E nesse contexto, um menino da periferia, por exemplo, que vê de um lado os pais trabalhando dia e noite, nunca tendo dinheiro para consumir nada mais além do estritamente necessário e do outro o traficante com roupas e tênis de marca, com os carros mais caros, e com todas as facilidades e conforto que o dinheiro pode oferecer escolherá ou se sentirá no mínimo impelido a escolher qual dos dois lados?
É isso o que acontece freqüentemente, senão diariamente, em nossa sociedade. E é essa mesma sociedade que prega o consumismo, o ter acima de tudo que irá (pelo menos em tese) prender e julgar aqueles que roubaram, traficaram e que de maneira geral optaram pelo caminho do crime, condenando-os. Ora, eles não estariam de certa forma, obedecendo àquilo que essa sociedade prega que eles deveriam fazer? Eles deveriam consumir: como não têm como fazê-lo, roubam. Prega que eles, através do consumo de carros, roupas de marca, etc. conquistarão várias mulheres: Eles não têm como consumir tais produtos a fim de terem essas mulheres, então estupram, e assim sucessivamente se desenvolve uma cadeia imensurável daquilo que poderíamos chamar, em algum grau, de “causas e efeitos”.
No entanto, o pior é quando passamos realmente a acreditar que medidas violentas de repressão são a única saída e que só através delas se resolverão problemas sociais como o da criminalidade. Aí sim toda e qualquer possibilidade de reversão do quadro se anula e o caos se instaura. “Ao invés de tentar resolver o problema econômico-social das áreas degradadas, apelamos para o ‘Capitão Nascimento’ enquanto grupos de extermínio já realizam, na prática, as torturas e execuções que são encenadas no cinema.”
BIBLIOGRAFIA
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