Maria Lucia dos Santos relata, no livro, seu descontentamento com o ensino formal da Língua Portuguesa ao ingressar, em 1968, no magistério oficial. Buscando caminhos alternativos para ensinar Língua Portuguesa, na pós-graduação conheceu mais aprofundadamente as idéias pedagógicas de Freinet e, na França, teve contato com tal trabalho nas salas de aula freinetianas. De volta ao Brasil, em 1975, passou a adotar as técnicas de Freinet para suas aulas em escolas públicas, o que deu origem ao livro em questão.
A autora parte do texto livre, espontâneo para trabalhar tópicos como correção gramatical, interpretação e aperfeiçoamento coletivo. Enfim, o conteúdo deve ser livre, mas a forma trabalhada.
Outras técnicas utilizadas para o ensino de português são o jornal escolar (que permite ao aluno participar de um trabalho social produtivo), o jornal falado (que permite aos colegas argumentarem), a correspondência interescolar (para que o aluno perceba a função social da escrita e reconheça sua importância, utilidade e exigência), a festa de aniversário (com números artístico-culturais, jogos e brincadeiras), a dramatização, o projeto (muito utilizado atualmente, envolvendo desde o planejamento ate a execução/exposição do mesmo) e o relatório de aula (no qual, em cada aula, um voluntário registra no caderno de relatórios as atividades desenvolvidas).
Seguindo o preceito de Freinet, a autora defende o método natural para aprendizado da gramática, que se caracteriza pela inversão do procedimento adotado pelo método tradicional. Defende chegar à aquisição do conhecimento por meio do tateio experimental. Para tal, algumas propostas são dadas, a saber: o fichário autocorretivo (individual, com gabarito) e a ficha para treino ortográfico.
No que tange à avaliação, Santos ressalta ser esta um instrumento valioso para o professor e positivamente significativo para o aluno. Destaca ainda a necessidade de coerência entre os objetivos educacionais, a linha didática e os recursos pedagógicos utilizados. São importantes os trabalhos individuais e os coletivos.
Ao referir-se ao método natural de leitura, a autora ressalta que este deve ser baseado na vivência das crianças e se inscrever numa perspectiva de educação global.
Assim, com a prática da atividade lingüística e a observação do funcionamento da língua em diferentes situações de uso, efetiva-se a aprendizagem da língua falada ou escrita.
Em seguida, o livro destaca, primeiramente, que é preciso preocupar-se com as necessidades que as pessoas têm de expressar-se, comunicar-se, criar, agir, conhecer, organizar-se e avaliar-se. Em segundo lugar, que tanto a postura autoritária do professor como a daquele que não intervém são prejudiciais à aprendizagem.Ordem e disciplina são importantes. Em seguida, a importância da infra-estrutura: a sala de aula precisa constituir um meio estimulante e rico para o desenvolvimento da aprendizagem.
Por fim, aparecem dispostos os acontecimentos e momentos significativos da pedagogia Freinet no Brasil. Merece destaque a chegada de Michel Launay, em 1972, ao Departamento de Letras da USP, onde iniciou a prática da pedagogia Freinet no ensino superior.
O livro de Santos é interessante aos educadores em geral que estão cansados da pedagogia do giz e da saliva. Além disso, a obra é leitura obrigatória aos interessados no método Freinet de aprendizagem.
SANTOS, Maria Lucia dos. A expressão livre no aprendizado da Língua Portuguesa. Scipione, 1991.