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domingo, novembro 10, 2024

A FAMILIA E A SOCIEDADE

Em sua necessidade de buscar melhorias, desde os primórdios, o homem desenvolve idéias e comportamento para o seu bem-estar.

Assim que o homem compreendeu que ao se agrupar, seria possível melhorar suas condições de vida, começou a estabelecer os primeiros conceitos de sociedade, decidindo e criando regras no lugar em que vivia. Criou então padrão de comportamento, divisão de tarefas, diretrizes de responsabilidades, ordem para conduzir seu crescimento no mundo.

O desenvolvimento obedecia: influência interna (família) sobre a externa (grupos sociais em crescimento) normas de conduta para melhor compreensão do ser, observando aquilo que as famílias estabeleciam como solução para o comportamento geral.

Diante dos diversos assuntos abordados no curso de Bacharel em Teologia, e diante da exigência de trabalhar um desses assuntos na monografia de conclusão de curso, optamos por uma abordagem sobre “A Família e a Sociedade” Ë Possível Gerar Uma Família Estruturada Em Uma Sociedade Sem Estrutura? ”

A importância da família e principalmente de seus adeptos e membros; visando educar e formar cidadãos conscientes de seu papel sociais e coletivo; deixa a mostra o confronto entre desestruturação social ( legalização do aborto, das drogas, casamento gays, mídia em franca corrupção ) e padrão moral ( a família como base ). O contexto da célula familiar define bem a responsabilidade e os limites que essa geração precisa e deve respeitar.

Para trabalhar esse tema, julgamos necessária a compreensão do que vem a ser uma “Sociedade Sem Estrutura”, para isto, abordaremos algumas questões acerca da sociedade contemporânea. Nesta abordagem estaremos desenvolvendo o ciclo evolutivo da sociedade dentro do contexto da relação Estado e Sociedade, Cultura e Sociedade, A Influência da Comunicação, O Homem e a Sociedade. E por fim, A Família, Sua Origem, Estrutura E Função. De posse desses dados podemos identificar a realidade que nos cerca com relação entre fatores originados da estrutura organizacional e da estrutura social e familiar.

O estudo do tema é emergencial, obrigatório e altamente oportuno, pois, precisamos refletir sobre o assunto em pauta. Certamente que, diariamente nos deparamos com as conseqüências desastrosas do comportamento da sociedade, vivemos agora o inverso aos conceitos iniciados e pré-determinados pelo próprio homem. Consequentemente, a família está sofrendo o impacto desse contraditório.

Se compararmos a nossa sociedade a um grande quebra-cabeça, facilmente concluiremos que algumas peças deste quebra-cabeça estão faltando e outras fora do lugar. É isto mesmo que está acontecendo. Vivemos a sociedade da desordem e do caos, porque as peças que a configuram estão faltando ou foram trocadas por outras, que jamais poderão substituir as de origem, do ideal de Deus. Diante desse quadro, surge uma questão: pode a Igreja com a mensagem de o Evangelho modificar o ser humano, através da sua transformação sócio-comportamental?

Ao abordarmos este tema, temos por finalidade demonstrar a possibilidade de se gerar famílias saudáveis em uma sociedade corrompida, tendo por base, a educação cristã como espelho refletindo e apontando para o homem olhar para si, propriamente faze-lo pensar e refletir seu estado de degradação e imoralidade. Famílias centradas no discurso bíblico e principalmente testemunhando a prática do viver para melhorar a si, sua geração, sua comunidade que é o lugar onde vive. Como luzeiros do mundo, ainda que seja um facho de luz no fim do túnel, mas que leva a sociedade refletir a possibilidade de se ter o caos em ordem. Mais do que nunca, a mudança e a transformação passa pelo indivíduo, o ser pessoal, quem o transformará?

As reflexões teológicas que apresentamos nesta obra tem o intuito de confrontar esta temática, para darmos resposta a esta questão que nos incita à reflexão. Abrindo caminho através destas reflexões para um viver melhor, na construção de um mundo mais justo e eqüitativo.

Cremos que os princípios para uma vida plena e estruturada, não se encontra em uma confissão de pensamento positivo ou na meditação transcendental. O segredo está balizado na palavra de Deus. O homem que se debruça sobre esses princípios e os cumpre é bem-sucedido (Josué 1. 8). As Escrituras Sagradas trás princípios de Deus que conduz o homem a uma vida radicalmente diferente.

Os valores de Deus não mudam. Ainda que a sociedade à nossa volta se desfibre e perca o seu referencial de certo e errado, caindo no fosso do relativismo imoral, podemos encontrar valores a ser seguidos nas Escrituras Sagradas. Por isso, devemos edificar as nossas famílias baseados nos valores da Escritura Sagrada desse modo, podem soprar os ventos da modernidade, podem vir as tempestades da loucura deste século, e seremos imbatíveis, porque edificamos nossas famílias sobre a Rocha dos séculos, Jesus Cristo.

Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha. E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não pratica será comparado a um homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou sendo grande a sua ruína.
( Mateus. 7.24-27 )
CAPÍTULO 1

CICLO EVOLUTIVO DA SOCIEDADE

1. 1 A relação Estado e Sociedade:

Por construção política do Estado, entende-se o processo de concepção do Estado, que lhe deu forma, expressão, jeito de agir e de se relacionar, em suma, a forma como ele foi configurado. Nesse sentido, o Estado brasileiro, a grosso modo, passou por duas grandes fases: o Estado imperial, que fundou as primeiras bases políticas, sociais e econômicas da nossa sociedade e o Estado republicano.

O Estado republicano brasileiro, no seu processo de constituição e consolidação não assumiu as diferentes contribuições dos diferentes grupos existentes na sociedade, apenas as elites econômicas (…) foram contempladas nesse processo. E a nascente elite urbana assume o processo de consolidação do Estado, sem, contudo, incorporar novos valores culturais, ao contrario reproduzem com novos padrões a velha cultura política do Estado capturado pelas elites agrárias.

Este processo produziu um misto de cultura política que norteia a relação do Estado com a sociedade civil, e até hoje, essa relação estabelece com base em princípios, que o próprio Estado não tem disposição para romper com os vícios dessa cultura política tradicional.

Ao Estado cabe o dever de assegurar os direitos de forma universal. No entanto, não é bem isto que historicamente acontece: é comum a transgressão aos direitos humanos: milhares de pessoas vivem sem moradia, em baixo de pontes, na rua, nas favelas, nos becos, sem serviços de educação e serviços públicos adequados. São seres humanos que não tem sequer o direito a ter uma vida digna, contribuindo assim para os desajustes familiares e o desequilíbrio social, nos quais todos temos experimentado nessas últimas décadas.

A sociedade civil é uma composição de sujeitos sociais formais e informais, heterogêneos, com diferentes graus de organização, de interesses políticos e objetivos, diferentes das organizações do mercado, dos órgãos públicos de Estado e dos partidos políticos. Nessa concepção, a sociedade civil é bastante abrangente. A sociedade civil se diferencia do mercado pela lógica econômica, financeira e lucrativa deste. Em relação ao Estado, a diferença está no poder que ele tem de estabelecer regras legais, coagir e tutelar os indivíduos na sociedade. E por fim, em relação aos partidos políticos, refere-se ao seu objetivo principal de chegar ao político para exercer o controle do Estado, a assim, o controle da sociedade.

A sociedade civil contemporânea inclui um grande número de sujeitos sociais com práticas, objetivos, modalidades de atuação e projetos diferentes. A sociedade civil a qual nos referimos, é aquela que se constitui por movimentos, cujo elemento característico aglutinador desses sujeitos é exatamente o caráter de intervenção no processo de aumento da democratização do Estado de conquista de direitos políticos, sociais, econômicos, culturais, ambientais direitos humanos numa concepção abrangente, que passa pela capacidade de negociação, diálogo, intercessão mais sem perda de identidade, da autonomia, da capacidade de criticidade, algo que exige uma sociedade civil forte, coesa e destemida.

Pois, um Estado verdadeiramente democrático deve ter uma sociedade fortalecida. Compreendemos assim a relação do Estado com a sociedade, do ponto de vista de uma relação democrática, aberta, transparente e verdadeira. Que de certa forma produzirá, o fortalecimento da sociedade e melhor definição do papel do Estado. Com isso estaremos estabelecendo o equilíbrio social, criando uma sociedade estruturada.

O princípio da justiça social rege a criação de estruturas tais que garantam os cidadãos as condições de realizar sua vida dentro de um parâmetro de igualdade social. Assim como prescreve o próprio princípio, que a primeira riqueza de uma nação é a saúde do seu povo, o alimento, a educação, a moradia digna, participação da vida pública e na repartição dos bens materiais e culturais. Em função desta meta gira a organização econômica e tecnológica.

Portanto, para ser realizado e socialmente feliz o cidadão precisa de estruturas que garantam as condições sociais de crescer conforme seus talentos e elevar ao mais alto grau possível sua realidade histórica. Esta realização é diferente em cada um: não é preciso nivelar todos os cidadãos no mesmo patamar; é preciso sim, que as condições de realização se estendam a todos incondicionalmente. Para que isto aconteça é preciso que a sociedade se liberte e rompa com séculos de injustiça que criaram estruturas de sobrevivência marginal e excluída.

1. 2 Cultura e Sociedade

A sociedade é uma realidade específica e natural, formada de indivíduos. A sociedade não é a mera soma de indivíduos, mas, estes vivendo agregados dão origem a uma realidade específica “a sociedade”. O que há de importante para compreendermos as relações entre indivíduos e sociedade é que um todo não é idêntico a suas partes. É algo cujas propriedades diferem das partes isoladas. Podemos verificar isso pela observação cotidiana: não existem na sociedade dois indivíduos iguais, ainda que criados no mesmo meio e sob influências semelhante.

Segundo Fichter (1981,pg. 166 ) a sociedade consiste em uma “estrutura formada pelos grupos principais, ligados entre si, considerados como uma unidade e participando todos de uma cultura comum. As culturas atendem os problemas da vida do indivíduo ou do grupo, e as sociedades necessitam da cultura para sobreviverem. Ambas estão intimamente relacionadas: não há sociedade sem cultura assim como não há cultura sem sociedade.

A cultura influi no conteúdo da personalidade e, pela ênfase que coloca em determinados interesses e objetivos, influi também em grande parte da organização superficial da personalidade. A personalidade se forma pela integração das experiências às bases constitucionais (natureza biopsíquica) do indivíduo. Embora contínuo, esse processo parece mais intenso na infância. As experiências provêm do meio. Por meio entendemos tudo que influi sobre o indivíduo (meio físico ou social).

A cultura exerce influências gerais (homogeneizando os indivíduos); específicas (diferenciando os indivíduos segundo os grupos a que pertence); alternativas (afetando apenas alguns indivíduos).

Todas as pessoas de nossa cultura estão sujeitas às mesmas influências gerais (língua, padrões familiares, usos e costumes semelhantes). Sob essas influências, todos os indivíduos de uma mesma cultura têm bases comuns. Além dessas, existem influências específicas, como aquelas a que estão sujeitos, na mesma cultura, indivíduos de sexo, idade, classe, ocupações e grupos diferentes.

Os indivíduos também influem sobre a cultura, pois as invenções e descobertas são obras deles. A cultura existe nos indivíduos que são seus portadores, e suas qualidades provêm das personalidades e da interação dos mesmos. A personalidade de cada indivíduo pertencente à sociedade também se desenvolve e funciona em constante relação com sua cultura. Podemos, pois, perceber que, sociedade, personalidade e cultura estão em estreita dependência funcional e são sistemas interdependentes que se influem reciprocamente.

A família exerce influências gerais na personalidade do indivíduo no que ele possui de comum com os outros da cultura em questão, mais cada família tem hábitos e estruturas diferentes e, através deles, exerce influências específicas. Essas influências aumentam a diversidade entre indivíduos de grupos diferentes. Todas as sociedades são bastante inconscientes das influências gerais, sendo mais conscientes das influências específicas que a cultura exerce sobre o indivíduo.

Muitos estudiosos das últimas décadas se dedicaram a estudar e denunciar o problema que recebeu o nome de “massificação”. O problema da massificação se refere a formas de relações sociais onde o indivíduo se perde e se desvaloriza.

Nas fábricas, nas praças diante do demagogo ou sentados em casa ante um aparelho de televisão durante horas a fio, os homens de hoje vão sendo reduzidos cada vez mais a funções simplesmente passivas, vão desaprendendo a arte de falar e de se expressar, vão perdendo sua voz e sua vez. Soma-se a isso, a propagação da surdez, a cegueira endêmica, a desertificação das almas. A barbárie econômica nos arrasta, com todos os nossos direitos, para fora do campo da vida. Eis o retrato de uma experiência humilhante: homens vencidos, fracassados, considerados inúteis e supérfluos.

Assim, hoje em dia, um problema se encontra no seio da “família, sociedade civil e Estado”. A família é um sistema vivo inserido em outros. A sociedade é um supra-sistema, ao se tomar a família como ponto de referência. Em relação à família hoje se colocam de maneira muito aguda as questões das exigências éticas do amor. O relacionamento dos pais com os filhos. As figuras tradicionais, paterna e materna, exigem hoje uma reflexão referente aos direitos e aos deveres dos pais e dos filhos. Como fundamentar, a partir dos progressos das ciências humanas, a questão da clonagem, e o amor livre? O senso moral e a consciência moral referem-se a valores, dizem respeito às relações que mantemos com os outros e, portanto, nascem e existem como parte da nossa vida intersubjetiva.

1. 3 A Influência da Comunicação:

É curioso notar que o verbo comunicar é transitivo direto e indireto: quem comunica, comunica algo a alguém. Nós nos realizamos, à medida que comunicamos algo ao outro. E o clímax da comunicação é a comunicação de nós mesmos.

Na complexa quantidade de meios que o ser humano dispõe para conhecer-se a si mesmo e conhecer o mundo que o cerca, a comunicação tem sido um dos instrumentos mais utilizados para alcançar esses objetivos. Pela própria acepção da palavra “communicare”, esta permite ao homem e à mulher tornar comum, repartilhar, associar, participar e interagir num ato contínuo de pronunciar a sua própria existência enquanto ser social, pois oferece múltiplos e poderosos recursos que podem alterar a qualidade de vida.

Dos tempos mais primitivos aos últimos dias, a comunicação tem atuado como agente de influência, que tem levado indivíduos ou grupos a se afastarem de uma linha de conduta predeterminada, num contexto social e histórico, basicamente porque adentra em três áreas do conhecimento e da vivência humana:

As relações de poder: Presentes desde a gênese sob as mais diferentes formas, com poucas variações de conteúdo.

O relativismo da verdade: Que tem sido usado mais ou menos habilmente pelos indivíduos ou classes dominantes e, também, pelos indivíduos e classe subalternas.

Individualismo e coletivismo: Conceitos e práticas encontradas no cotidiano.

O instrumento comunicação tem favorecido as funções de domínio e direção exercidas por uma classe social dominante, num determinado período histórico, sobre outra classe social, chamada de subalterna. Esse domínio é o acesso ao poder, inclusive com o uso da força ou com ações coercitivas; onde a direção, intelectual e moral, é obtida através da persuasão e adesão por meios ideológicos. Assim, a comunicação permite ao seu manipulador certo grau proeminente nas relações de poder, fato conhecido há milênios, que favoreceu as conquistas bélicas, a formação de grandes impérios e que, hoje, se manifesta nas formas de hegemonia através do poder econômico, repressivo e cultural.

A classe dominante recorre à comunicação e seus avanços tecnológicos, partindo de
técnicas complexas de persuasão e propaganda que levam à formação e mudanças de atitude, bem como à doutrinação em massa. Isso acontece graças ao que se chama senso comum, ainda existente e entranhado cada vez mais na consciência das classes subalternas.

Entretanto, é necessário enfatizar que essa interiorização da ideologia dominante, via recursos comunicacionais, depara-se com o relativismo da verdade. Oceano no qual navega a comunicação, principalmente porque a verdade permeia o campo da sensibilidade moral, espiritual e intelectual do homem, sendo inclusive uma das bases da própria existência humana. Diante dessa evidência, a verdade tem sido explorada mais intensamente nas últimas décadas, quando a tecnologia inserida no sistema capitalista internacional fez acelerar sobre maneira a agilidade do ato de informar.

A verdade, portanto, assume variadas funções dentro do processo de comunicação, porém é difícil definir os seus efeitos ou mesmo saber quando, como e por que ela está agindo e interagindo para o bem estar de uns e não de outros. Isso se reflete, por exemplo, se analisarmos as dificuldades vivenciadas por um determinado grupo social, como a Igreja, que, para continuar existindo, precisa defender suas verdades tantas e quantas vezes ignoradas e combatidas por fatores externos ao grupo.

E ainda, se partirmos da compreensão de que a verdade depende do ponto de vista do observador, verifica-se de imediato que jamais todos os observadores estarão recebendo-a de um mesmo ponto de vista, pois a herança e a formação biológica e cultural não permitem que isto aconteça. Por outro lado, os meios de comunicação de massa têm utilizado a verdade como um elo entre os seres humanos, gerando, com isso, uma consciência de solidariedade quando se participa dos sentimentos e da vida de outros povos diferentes e até distante de nós.

Os meios de comunicação estabelecem a nova moral e determinam as normas do bom e do mal comportamento. Oferecem exemplos que devem ser imitados e que são escolhidos para serem impostos à personalidade. Nesse processo a família perde todas as condições que lhe permitiriam competir. A luta das gerações foi substituída: neste mundo às avessas é o filho quem sabe o que ser, é ele o depositário absoluto dos padrões: os modelos paternos, herdados do passado, são obsoletos e relegados ao depósito de velharias.

Houve a transferência da autoridade paterna, para a sociedade. É esta, alias, que no anonimato monstruoso da aparelhagem da comunicação, que invade as consciências, dita as regras, formula as obrigações, acumula as proibições. A agressividade que antigamente se descarregava natural e gradativamente no interior da família, reabsorvendo-se pouco a pouco à chegada da maturidade, explode agora por toda a sociedade. É por isso que ela atinge as proporções inconcebíveis que lhe conhecemos. É uma agressividade do tamanho do mundo.

Temos uma comunicação planetária, pois, todo o planeta terra se comunica. Esta comunicação tem trazido para os lares informações de todos os Países, mantendo a população bem informada. Mas o ponto negativo é que tem acabado com o diálogo entre a família. Vivemos na era da comunicação, ou melhor, dos meios e da tecnologia de comunicação, mas dentro da família as pessoas cada vez se comunicam menos. A família está fortemente influenciada pelo contexto sócio-cultural do momento. A família como célula primária e vital da sociedade, deve marcar de forma positiva o seu verdadeiro papel, o seu valor e a sua importância para o indivíduo e para a sociedade.

1. 4 O Homem e a Sociedade:

A vida social é, condição de existência e sobrevivência da espécie humana. Todo homem vem ao mundo, em geral, como membro de uma família, de uma cidade de uma nação. Os homens desde os primórdios de seu aparecimento na terra estão divididos em aldeias, tribos, nações, sua própria natureza exige que se agrupem, pois desde o princípio precisam de cuidados.

Quanto à origem, os grupos sociais podem ser espontâneos e contratuais. Espontâneos: são os que surgem sem deliberação prévia, como a cidade, a família, a multidão, etc.

Contratuais: Os que são frutos de deliberação prévia, isto é, há intenção de criá-los: grupos comerciais, bancários, grêmios, etc. A sociedade contemporânea apresenta acentuada tendência para aumentar cada vez mais esses grupos.

Os padrões estabelecidos pelas relações humanas diferem em uma série inumerável de condições internas e externas dos indivíduos, podendo-se conceber que o relacionamento que uma pessoa estabelece com outra varia tanto no tempo quanto no espaço e diverge significativamente de suas relações com as demais pessoas. Não obstante, observa-se uma tendência de cada um agir desde muito cedo de acordo com a sua personalidade nas mais diferentes situações e com as mais variadas pessoas. No espaço que se cria entre esses dois pólos emerge o comportamento humano.

Por esta razão, todas as experiências da vida real, as mais simples, engendram um conflito psíquico determinado por demandas atuais e passadas, internas e externas, que não se pode evitar embora grande parte da energia do indivíduo seja consumida na tentativa de fugir desta realidade. A fantasia inconsciente é a expressão mental dos instintos internos, que são representações intrapsíquicas de aspectos de relações com outras pessoas.

Em todas as sociedades existem diferenças de capacidades e de desejos entre os seus componentes. Para a satisfação de suas necessidades e aspirações os indivíduos ( e também grupos menores integrantes do grupo total ) competem entre si, com maior ou menor energia.

O isolamento da alma humana é a dor mais profunda que o homem pode experimentar. Quando isolado, ele experimenta alienação, que é a dor da morte. O tema morte está em primeiro lugar nos noticiários. O que levou essa geração a tal ponto de desespero?

O homem tem profunda necessidade de comunhão e de união. Quando alguém se vê exposto e desprotegido, é acometido pelo medo e pela ansiedade. Essa ansiedade leva-o a mais isolamento. Com medo do mundo exterior, ele constrói muros de proteção. Esses muros podem ser altos e grossos, difíceis de atravessar. Do lado de dentro está o indivíduo inseguro, alienado da sociedade. Uma vez alienado, ele se torna introvertido e voltado para si mesmo.

Chegando ao ponto de assumir um modo de vida de sobrevivência para o momento, agarrando, segurando e pegando toda e qualquer coisa que sacie a alma humana e satisfaça a carne. A vida então perde todo o propósito e significado. Tornando-se uma experiência vicária dentro de um mundo de entretenimento para preencher o vazio. Ele escolhe o caminho indolor do não-compromisso.

As pessoas têm-se tornado alienadas em sua própria cultura. Problemas de depressão e solidão, um senso de futilidade e vazio têm feito com que muitas pessoas dessa geração se voltem para as drogas e encarem o suicídio como meio de fuga. Muitos se encontram perdidos em isolamento e insignificância. Tornaram-se alienados em sua própria cultura.

Exemplos desses alienados dos nossos dias são as gangues que dominam as periferias das cidades. Eles formam grupos de alienados que atacam e destroem as comunidades. Atribuindo toda sua dor à cultura atual, eles atacam e destroem para serem livres. A violência torna-se uma forma de manifestação. As cidades do interior também estão cheias de drogas e depravação, sendo ambas evidências claras de alienação em nossa própria sociedade.

A alienação não é apenas um problema dos pobres, mas tem atingido as classes mais ricas e abastadas. Com oportunidades que ultrapassam a qualquer outra da história humana, com tecnologia que proporciona todo tipo de entretenimento, conforto e segurança, essa geração abandonou os padrões da vida normal. Abuso no uso de drogas, imoralidade, violência e suicídio indicam que ela perdeu o rumo.

Sendo o homem um ser social, o seu agir humano atinge a sociedade e desdobra-se nas ações políticas. Assim, ética e política são instrumentos pelos quais os homens fazem a sociedade. As questões éticas abrangem largo campo da vida humana. Ela orienta-se pelo desejo de unir o saber ao fazer.

Quando as questões éticas são colocadas pelos indivíduos ou grupos sociais e respondidas apenas por suas consciências ( individual e coletiva ), surgem as normas morais. Por outro lado quando essas questões éticas são colocadas pela sociedade e respondida pelo Estado, surgem as normas jurídicas. Normas morais, são regras éticas que têm como base a consciência moral das pessoas ou de um grupo social. Normas jurídicas, são regras ético-sociais que têm como base o poder do Estado sobre a população que habita seu território.

A consciência é a característica que melhor destingue o homem dos outros animais. A liberdade e a consciência moral estão intimamente relacionadas, porque só tem sentido julgar moralmente a ação de uma pessoa se essa ação foi praticada em liberdade. Pois quando estamos livres para escolher entre esta ou aquela ação, tornamo-nos responsáveis pelo que praticamos. É essa responsabilidade que pode ser julgada pela consciência moral do próprio indivíduo ou do grupo social.

A consciência moral geralmente nos fala como uma voz interior que nos inclina para o caminho da virtude. A palavra virtude deriva do latim “virtus” e significa a qualidade ou a ação digna do homem.

Virtude designa, portanto, a prática constante do bem, correspondendo ao uso da liberdade com responsabilidade moral. O oposto da virtude é o vício, que consiste na prática constante do mal, correspondendo ao uso da liberdade sem responsabilidade moral.

Mas, afinal, o que é essa responsabilidade? O termo vem do latim ” respondere” e significa estar em condições de responder pelos atos praticados, isto é, de justificar as ações. Nesse sentido, a responsabilidade pressupõe uma relação entre a pessoa responsável e “algo” ao qual ou pelo qual ela responde.

Para Erich Fromm, a responsabilidade tem como base, num primeiro momento, a relação do homem com sua própria condição humana, isto é, com a realização de suas potencialidades de vida.

Assim, o bem é a afirmação da vida, o desenvolvimento das capacidades do homem. A virtude consiste em assumir a responsabilidade por sua própria existência. O mal constitui a mutilação das capacidades do homem; o vício reside na irresponsabilidade perante si mesmo. ( Fromm, Erich. Análise do homem, p. 30 )

A matéria-prima com que a humanidade produz suas mais lindas criações é a mesma que utiliza para atacar e destruir, dependendo da combinação de fatores que se encontram relacionados tanto com a carga instintiva do ser humana quanto com suas interações com o ambiente em diferentes momentos do desenvolvimento. Prova disso são os tempos de guerra, em que os homens mobilizam sua genialidade para cometer as piores atrocidades juntamente com as descobertas mais espetaculares da humanidade.

Por esta razão, todas as experiências da vida real, as mais simples, engendram um conflito psíquico determinado por demandas atuais e passadas, internas e externas, que não se pode evitar, embora grande parte da energia do indivíduo seja consumida na tentativa de fugir desta realidade. Dito de outra forma, o funcionamento mental só pode ser concebido a partir do estabelecimento do conflito, responsável pela desgraça e também pela riqueza da raça humana.

A situação conflitiva, inevitavelmente, gera sofrimento para o ser humano e, dependendo de sua capacidade para enfrentá-lo, ele poderá lançar mão de mecanismo de defesa que, ao se combinarem, vão formar os sintomas das neuroses, psicoses, perversões e doenças psicossomáticas. Gerando o recrudescimento dos impulsos e instintos comportamentais, estimulados por determinadas condutas que se modificaram no âmbito familiar e na sociedade como um todo.

A humanidade está ávida por tudo aquilo que lhe possa oferecer esperança. Nesse mundo marcado pela guerra, pela violência e pelo desbarrancamento da virtude, toda mensagem que visa a levantar a cabeça das pessoas, oferecendo-lhes a felicidade e os louros da vitória, é acolhida com aplausos ruidosos e efusivos.

Os homens empregam uma infinidade de métodos e estratégias para tirar as pessoas da mediocridade e leva-las ao podium da coroação. É pena que muitos princípios que se propõem a levar o homem ao sucesso, não passam de laços que o escravizam ainda mais a miséria. ” Há caminho que parece direito ao homem, mas afinal são caminhos de morte ” (Provérbios. 16. 25). Está na moda, hoje, o homem pensar que ele é uma miniatura de Deus, e que todas as leis estão latente no próprio homem.

Segundo Max Scheler, (Opersonalismo ético pg.62), destacaram-se duas correntes, quanto a maneira de se considerar o valor da pessoa. A primeira, representada por Kant e Nietzsche, afirmava o valor em si da pessoa. A Segunda representada pelos socialistas e comunistas, afirmava que o valor da pessoa se mede pela contribuição efetiva que traz a comunidade: desenvolvimento da cultura, da civilização ou Estado.

Do ponto de vista existencial, a motivação básica do homem é encontrar a melhor maneira possível de vida, realizar suas potencialidade, completar-se como ser humano. No entanto, numa época de profunda mudança cultural, as crenças e os costumes tradicionais já não são guias adequados para a vida. Por isso, o homem contemporâneo sente-se confuso e sente uma profunda tensão espiritual e emocional.

Uma característica humana fundamental é o desejo de sentido. Fundamentalmente, isto exige que se encontrem valores satisfatórios e é uma questão muito individual. Os valores que dão sentido a uma vida podem ser muito diferentes dos que dão sentido à vida de outra pessoa. Cada um precisa encontrar seu padrão de valores.

O existencialismo dá grande importância à obrigação do indivíduo com relação aos seus semelhantes. A consideração mais importante não é o que se pode esperar conseguir da vida, mais o que se pode contribuir para ela. A vida de uma pessoa só pode ser satisfatória se incluir escolhas e valores socialmente construtivo.

CAPÍTULO 2

A FAMÍLIA: SUA ORIGEM, ESTRUTURA E FUNÇÃO

A origem da família se perde no tempo e no espaço. Uma coisa é certa: tal como existe hoje, a família é o resultado de um processo histórico. Nem sempre ela foi o que é hoje e, com certeza, não será exatamente a mesma em séculos futuros.

Em todas as sociedades humanas encontra-se uma forma qualquer de família. Sua posição, dentro do sistema mais amplo de parentesco, pode oscilar muito, desde um lugar central dominante ( sociedade ocidental ) até uma situação de reduzida importância ( povos ágrafos ), que dão maior destaque ao grupo de parentesco, mais amplo do que a unidade representada pelo marido, mulher e filhos.

Tipicamente, os estudiosos do assunto falam em três funções básicas da família: biológica, psicológica e social. A função biológica da família se refere, sobretudo, as condições que tornam possível a existência dos seres humanos enquanto seres vivos. É função psicológica da família oferecer aos seus membros um “mundo significativo”, que funciona como ponto de referência de todo seu comportamento perante a vida. No ponto de vista social a família exerce funções sociais de grande relevância. A família é o órgão fundamental de ligação entre o indivíduo e as estruturas da sociedade.

A família, em geral, é considerada o fundamento básico e universal das sociedades, por se encontrar em todos os agrupamentos humanos, embora variem as estruturas e o funcionamento. A forma de família baseada na comunidade de nome compreende os descendentes de um mesmo ancestral, herdando dele o nome.

Se originariamente, a família foi um fenômeno biológico de conservação e produção, transformou-se depois em fenômeno social. Sofreu considerável evolução até regulamentar suas bases conjugais conforme as leis contratuais, normas religiosas e morais.

Quanto à autoridade, a família pode ser: patriarcal, matriarcal, paternal ou igualitária. Patriarcal tem como figura central o pai, que possui autoridade de chefe sobre a mulher e os filhos. Matriarcal em que a figura central é a mãe, havendo, portanto, predominância da autoridade feminina. Paternal ou igualitária onde a autoridade pode ser mais equilibrada entre os cônjuges, dependendo das situações, ações ou questões particulares.

Historicamente, a família é considerada como uma instituição social encarregada de transformar um organismo biológico em ser humano, segundo o sociólogo norte-americano William Good, a família é a única instituição social formalmente desenvolvida em todas as sociedades históricas. A família desempenha a função mediadora, pois é ela que liga o indivíduo à estrutura social. É a família que fornece ao indivíduo as estruturas básicas que determinarão seu comportamento na sociedade.

É, portanto, através da família que a sociedade consegue o desempenho adequado dos seus membros. Como instituição fundamental, portanto, a família é essencial a vida e ao funcionamento da sociedade em geral. Segundo esse mesmo autor na medida que todas as outras instituições sociais dependem da família, ela pode ser considerada a base instrumental mais importante da estrutura social. Por meio do processo de socialização do indivíduo, a família age como adutora ou cabo de transmissão mediante o qual a cultura é mantida viva e comunicada de geração a geração. “Através de todos estes mecanismo, a família constitui um instrumento ou um agente da sociedade mais ampla e, se ela não desempenhar adequadamente este papel, os objetivos da sociedade podem não ser eficazmente atingidos” ( Goode, 1970, p. 17).

Todas as instituições devem ter função e estrutura. Função é a meta ou o propósito do grupo, cujo objetivo seria regular suas necessidades. A estrutura é composta de pessoal (elementos humanos); equipamentos (aparelhamento material ou imaterial); organização (disposição do pessoal e do equipamento, observando-se uma hierarquia-autoridade e subordinação); comportamento (normas que regulam a conduta e a atitude dos indivíduos).

Fichter conceitua instituição como “uma estrutura relativamente permanente de padrões, papeis e relações que os indivíduos realizam segundo determinadas formas sancionadas e unificadas, com o objetivo de satisfazer necessidades sociais básicas”(Fichter 1973, pg. 297).

Toda ciência, na investigação e demonstração da verdade, utiliza-se de um conjunto de processos que chamamos de método, que são planejados cuidadosamente. No estudo da família, não podemos isolar propositalmente uma família para analisar seu comportamento. Além disso, o sociólogo estuda fenômeno dos quais participam intimamente. Todo sociólogo pertence a uma nação, vive em uma família e aprendeu normas de uma sociedade. Se, ao participar do fenômeno que estuda, torna-se mais apto a penetrar em seu íntimo, corre em contrapartida, o risco de não enxergar os fatos com a necessária objetividade, distorcendo a realidade.

ESTRUTURA DAS PRINCIPAIS INSTITUIÇÕES SOCIAIS

O quadro acima representa a estrutura das principais instituições sociais. A própria natureza nos dá exemplos de instituições sociais, tais, como o formigueiro e a colmeia. Diferentemente de outros seres vivos, o ser humano por ser dotado de livre arbítrio pode imigrar para outra sociedade.

Para os indivíduos viverem em grupos são necessárias regras de ação que controlem e norteiem seus comportamentos; sem elas o grupo se auto-destruiria. Como a sociedade não pode viver sem valores, adota um critério de valores organizados num sistema de escala, e assim eles são apresentados a seus membros.

Geralmente o critério de valores está de acordo com suas ideologias, mitos, crenças, bem como a organização e funcionamento da sociedade que os estabelece. Os valores sociais variam, portanto, no tempo e no espaço.

Para cada estágio da vida humana há certas tarefas evolutivas que devem ser incorporadas aos padrões de experiências e de comportamento do indivíduo. Assim como o indivíduo nasce, cresce, amadurece e envelhece, através de um processo de mudanças sucessivas e de reajustamentos, desde a sua formação até sua velhice, não importa quem ele seja, assim também podemos dizer que a família tem um ciclo vital com características identificáveis e com padrões basicamente universais.

O ser humano se desenvolve às custas de sucessivas identificações até adquirir sua própria identidade, o resultado desta mudança de comportamento adulto na sociedade atual é carência de modelos identificatórios inspiradores do amadurecimento. As grandes transformações sociais dos últimos anos também esvaziaram a crença em uma solução propiciada pela sociedade e enfatizaram a individualidade e a subjetividade, levando essas características até as últimas conseqüências.

Além disso, criou-se o culto da rapidez e o indivíduo não tem mais tempo para pensar, transformando-se em um mero repetidor de informações não-processadas. Tudo que surge de novo é imediatamente consumido: passamos a formar uma sociedade de “plugados”. Ao mesmo tempo, a família perdeu suas características tradicionais e se ressente dos valores que proporcionavam uma identidade aos seus integrantes.

Onde, então, estão as causas da violência, da falência da instituição familiar, do fracasso escolar? A resposta é simples, a resposta está na completa ausência da expressão familiar: o respeito aos pais, a valorização da escola, o crescimento acompanhado das crianças, de modo que elas possam viver cada fase de suas vidas, sem pular etapas. Os vínculos familiares tornaram-se simétricos e fraternizados, observa-se um esvaecimento do passado, da cultura e da tradição, resultando em uma falta de perspectivas para o futuro. Por tudo isso, as famílias correm o risco de se tornarem estímulos de um valor qualquer.

Ainda recentemente a família era tudo que havia de mais firme; e eis que de repente os solavancos que abalam até mesmo os alicerces do nosso mundo, também a atingem. Em todas as bocas surge atualmente uma interrogação que preocupa os espíritos que têm a coragem de replanejar os desmoronamentos da civilização que acontecem diante de nós: a família estará no fim? Terá chegado o momento em que as estruturas familiar que fizeram a glória dos últimos séculos e foram cantadas pelos poetas, festejadas pelos moralistas, defendidas com argúcia por todos os juristas, encontram-se em processo de desaparecimento?

Acomodar-se-ão elas ao ímpeto das novas forças que, por natureza são contestatórias e pretendem negar tudo que constitui o patrimônio secular da humanidade da qual nasceram; forças essas que se obstinam com irritante desprezo em rejeitar todos os valores. As transformações que a vida urbana contemporânea impõe à família, são insuperáveis ameaças contra ela, ou são fatores de uma renovação criadora? Como situar-se frente a essas modificações inevitáveis?

Responder a essas perguntas é tentar descrever o que se passa e o que se passará no decorrer dos próximos anos no seio da família. Torna-se necessário lembrar que não é a primeira vez na história que a família troca de pele. E é necessário, sobretudo, sublinhar uma verdade simples mas muito esquecida: a família nunca foi estática. Mesmo sob a aparência de fixidez social ela esteve sempre em movimento.

A fragmentação do modelo casal com filhos e a crescente importância do modelo monoparental (onde predominam mulheres sem cônjuge com filhos) responde pela diversificação dos arranjos familiares. A família passa por uma desinstitucionalização (modelos menos hierárquicos e mais democráticos) interna. O fato de que os indivíduos se tornam mais autônomos, menos dependentes do grupo tem gerado grupos domésticos familiares cada vez menos coesos e integrados. A família está enfraquecida e debilitada para cumprir com muitas de suas tradicionais funções sociais, inclusive com a reprodução de seus membros e a sua própria como grupo.

Percebemos que onde há famílias ajustadas, que tenham como base os valores morais e espirituais, há também uma sociedade ajustada e com elevado padrão moral e, onde há famílias perversas, imorais, incrédulas e desordeiras, há também um povo esfacelado, fadado a ruína e à decadência, visto que a família é decisiva para a estruturação da pessoa e da sociedade.

Se analisarmos o sofrimento das pessoas em nossa sociedade, facilmente descobriremos que um percentual enorme destes sofrimentos está ligado a algum tipo de insucesso na vida familiar, quer como filho, quer como esposo, quer como esposa, quer como pais. Estes insucessos vão refletir nas mais variadas dimensões do ser humano: como um ser social, um ser emocional, um ser espiritual.

A começar da família, precisamos de boas referências que sirvam de parâmetros para bons procedimentos, de boas identificações que resultem em comportamentos mais adequados à vida pessoal e coletiva, e de boas influências capazes de moldar caracteres e a conduta de toda sociedade.

CAPÍTULO 3

A RELIGIÃO E O SEU PAPEL NA FAMÍLIA E NA SOCIEDADE

Toda sociedade humana se baseia num sistema de valores. Este sistema de valores que varia no tempo e no espaço , mas não pode deixar de existir. A adoção de um sistema de valores é condição indispensável ao equilíbrio emocional do ser humano. O homem teme conhecer a si mesmo, é um enigma que se desvenda a cada ação, e que conhece sua capacidade para construir ou destruir.

Religião é inerente ao ser humano. Partindo deste princípio, pretendemos analisar a religião no contexto familiar e sociológico.

É possível analisar a religião de um ângulo sociológico, como fizeram Marx e Feuerbach. A análise sociológica, faz um silêncio total sobre o que ocorre nas profundezas da alma. Para Marx, “a religião é o anseio da criatura abatida pela desgraça, a alma de um mundo sem coração, o espírito de uma época sem espírito. É o ópio do povo”. Para Feuerbach, “um produto dos desejos humanos de felicidade”. Há uma necessidade no homem de criar uma estrutura de poder.

A necessidade de dominar. A sociedade estabelece proibições, leis proibindo o incesto, o furto, a exibição da nudez, atos sexuais em público, a crueldade para com crianças e animais, o assassinato, o homossexualismo, a ofensa a poderes constituídos, são ordens estabelecidas pela sociedade. Se a sociedade estabelece proibições é porque ali o desejo procura se infiltrar.

Segundo Rubem Alves, a psicanálise afirma que, se a essência da sociedade é a repressão do indivíduo, a essência do indivíduo é a repressão de si mesmo. Somos os dois lados do combate. Perseguidor e perseguido, torturador e torturado. Vivemos em guerra permanente conosco mesmo. Não somos o que desejamos ser. Assim dizia a psicanálise “conta-me teus sonhos e decifrarei o teu segredo”.

No campo filosófico podemos entender que a religião, longe de ser uma janela que se abre apenas para panoramas externos, é como um espelho em que nos vemos. Aqui a ciência da religião é ciência de nós mesmo. Como disse Ludwig Feuerbach.

“A consciência de Deus é autoconsciência, o conhecimento de Deus é auto-conhecimento. A religião é o solene desvelar dos tesouros ocultos do homem, a revelação dos seus pensamentos íntimos, a confissão aberta dos seus segredos de amor”.

Para Feurbach (Feurbach, 2ª ed. 1997 pg. 43 ) a religião é o que separa o homem de si mesmo, uma vez que separa o homem de Deus. Deus é, portanto, uma entidade da razão humana.

Religião é definida como, “o conjunto de atitudes e atos pelos quais o homem manifesta sua dependência em relação a potências invisiveis consideradas sobrenaturais”. Também é o modo de atingir o transcendente, sem anular a essência humana, seus desejos, vontades e falhas; sem se transformar numa estrutura alienante; sem também querer ocupar o lugar pertencente a outros ramos de conhecimento; e sem deixar seduzir pelas estruturas de poder ou prestígio.

É o movimento que procura se relacionar de bom grado no nível horizontal e procura transformar e interagir com o mundo e a sociedade. Com a capacidade de ler criticamente o passado e colocar-se atentamente diante dos fenômenos do presente. Capacidade não somente para projetar o futuro, como também projetar-se no futuro. A religião tem o poder, o amor e a dignidade do imaginário.

Mas o sentido da vida não é um fato. Num mundo ainda sob o signo da morte, em que os valores mais altos são crucificados e a brutalidade triunfa, é ilusão proclamar a harmonia com o universo, como realidade presente. A experiência religiosa, assim depende de um futuro. Ela se nutre de horizontes utópicos que os olhos não viram e que só podem ser contemplados pela magia da imaginação. Deus e o sentido da vida são ausências, realidades por que se anseia, dádivas da esperança. De fato, talvez seja esta a grande marca da religião: a esperança. ( Rubem Alves, O que é religião pg. 101 )

Portanto partindo deste princípio, a religião é a inclinação do ser humano para o sagrado. A religião é um fenômeno humano, é algo que é inerente ao homem. Todo fenômeno religioso exprime, portanto, de uma ou outra forma, uma experiência religiosa, a um só tempo individual e coletiva. A sociologia do fenômeno religioso tem, pois, dupla dimensão: individual, na medida em que determinada pessoa participa da vida e do conjunto de atitudes de um grupo religioso e, assim, expressa suas crenças: e social, na medida em que a vida religiosa de determinado grupo participa da interação ou desintegração da sociedade global.

CAPÍTULO 4

REFLETINDO OS VALORES MORAIS

Vivemos momentos de grande contestação dos valores tradicionais da sociedade ocidental. Estamos presenciando mudanças expressivas em quase todas as áreas da existência humana. As bases que serviam de fundamento para a maneira de pensar e agir do século XX estão sendo substituídas por uma nova cosmo-visão e, consequentemente, por uma nova práxis. Esta nova etapa tem apresentado a contestação de valores e conceito que eram majoritariamente aceitos e foram construído desde a modernidade.

Freqüentemente somos confrontados com situações que envolvem a discussão sobre certo ou errado, direito ou dever, justiça ou injustiça, virtude ou vício, bondade ou maldade, acaso ou intencionalidade das ações etc. Tais questões são de caráter prático e dizem respeito aos juízos que emitimos sobre o valor moral de ações, costumes, comportamento e regras de conduta.

A vida humana é organizada a partir de relações fundamentais onde estão presentes o eu, o outro, o mundo e Deus. Ser humano é estar inserido neste complexo de relações que configuram e dão sentido ao nosso mundo vivencial, que é o terreno histórico-cultural onde surgem os comportamentos, os costumes e as regras que constitui a moral. O relacionamento entre as pessoas é um dos aspectos mais problemáticos da história humana.

O termo “alteridade” (do latim, alteritas) designa o outro, e se manifesta no encontro e do diálogo de um eu com um tu. A categoria da alteridade ressalta que no mundo, onde se dá a nossa existência, nunca estamos realmente sós. O outro sempre nos interpela em suas semelhanças e diferenças em relação a nós mesmo.

O mundo é sempre e em toda parte encontro com os outros, um estar com os outros, intensamente praticado nas ocupações, nos discursos do saber, no uso e manuseio dos instrumentos. Ninguém pode fugir desse encontro. O ser um pelo outro, o ser um contra o outro, o descuido mútuo, a indiferença… são um fadigoso estar junto… Todos estamos na partilha um do outro, bem ou mal sucedidos, sorteados ou malogrados, satisfeitos ou insatisfeitos. Na fadiga das ocupações humanas, antes de qualquer vivência, antes das antipatias e simpatias, nos damos conta da presença dos outros. (Buzzi, Filosofia para Principiante. P.41 )

Nessa exposição o homem é chamado a preocupar-se ao invés de apenas se ocupar com os outros. A preocupação revela um acolhimento da presença do outro em nós, e nesse momento é lançado diante de nós o desafio da convivência, que é a renúncia do eu e do seu mundo, a fim de acolher o outro.

Estamos numa época de mudanças aceleradas e, por conseguinte, de verdadeira insegurança em todos os âmbitos da vida humana: valores, religião, ciência, mercado, política, relações, comportamentos etc. A nova política econômica internacional chega a todos os recantos do planeta; nesta “aldeia global”, um mínimo ajuste econômico em qualquer país pode mergulhar a humanidade numa verdadeira crise planetária. As vezes no progresso, na tecnologia e na ânsia desmedida de lucros não encontramos nenhuma ética. Abrimos os olhos e nos percebemos em meio a uma sociedade fragmentada. Numa sociedade fragmentada, não é difícil encontrar também um Deus fragmentado.

A humanidade sempre precisou de Deus. Deus sempre esteve presente na vida cotidiana do ser humano, como critério de ação, de comportamento, enfim como fundamento para a organização humana. A busca de Deus nesta sociedade fragmentada nos leva a refletir sobre a pergunta tema desta obra: “É Possível Gerar Uma Família Estruturada Em Uma Sociedade Sem Estrutura? “

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