As abelhas brasileiras sem ferrão (meliponíneos) são responsáveis, conforme o ecossistema, por 40 a 90% da polinização das árvores nativas. Estão amplamente distribuídas pelas regiões brasileiras devido à abrangência do clima tropical. Sua presença, inclusive até em áreas de pequeno porte, permeiam as condições de sobrevivência de vários seres vivos. A redução dos diversos habitats está diretamente interligada a extinção dos meliponíneos. É imprescindível, então a elaboração de programas de conservação e de educação ambiental, junto aos órgãos públicos e privados, a fim de usufruir dos benefícios presentes nos ambientes naturais, disseminando a idéia de preservação dos meliponíneos.
INTRODUÇÃO
Conhecidas popularmente como abelhas sem ferrão, abelhas nativas ou indígenas, essas abelhas (meliponíneos), possuem ferrão atrofiado e estão amplamente distribuídas pelas regiões tropicais e subtropicais do planeta, nas Américas do Sul e Central, Malásia, Índia, Indonésia, África e Austrália (WILLE, 1979). Segundo VELTHUIS (1997) foram descritas aproximadamente 400 espécies, porém, de acordo com MICHENER (2000) esta pode ser uma subestimativa devido ao grande número de espécies crípticas (espécies morfologicamente semelhantes). Algumas espécies são pouco agressivas, adaptam-se bem a colméias racionais e ao manejo e produzem um mel saboroso e apreciado.
No Brasil, distribuídas em vários ecossistemas, devem existir aproximadamente 300 espécies de meliponíneos, que apresentam grande heterogeneidade na cor, tamanho, forma, hábitos de nidificação e população dos ninhos, mantendo uma estreita relação com a natureza onde vivem. Sendo o Brasil um país de dimensões tropicais com natureza e condições climáticas amplamente diversificadas, a dispersão dessas abelhas está bastante regionalizada, onde espécies de abelhas de uma região podem não ser encontradas em outras. Contudo, a maior parte da população humana não possui conhecimento sobre esta grande diversidade.
Algumas abelhas são bem ornamentadas com listas e manchas pelo corpo, e outras possuem cores lisas ou brilhantes de várias tonalidades entre negro e amarelo. Existem abelhas que chegam a medir mais de 5 centímetros e outras muito pequenas com pouco mais de 2 milímetros, que geralmente também são confundidas com outros grupos de insetos.
Segundo levantamentos feitos em diferentes regiões do Brasil, há uma ampla diversidade de formas, tamanhos e cores, que caracterizam a nossa apifauna. Existem espécies com tons verdes, azuis e roxos metálicas, que geralmente são confundidas com moscas varejeiras ou outros insetos (NOGUEIRA-NETO, 1997).
A criação de abelhas indígenas sem ferrão em cabaças, cortiços e caixas rústicas constitui uma atividade tradicional em quase todas as regiões do Brasil. Essa atividade, conhecida como meliponicultura, foi inicialmente desenvolvida pelos índios, que revelaram um conhecimento assombroso da anatomia e comportamento das espécies das quais ainda aproveitam seus produtos há muito tempo, mantendo colônias junto a suas moradias para extração de mel, pólen e as larvas para alimentação; a cera o cerúmen e as resinas para confecção de artefatos (inclusive flechas), e misturas de abelhas e partes do ninho na medicina – além de mitologicamente se espelharem nestes animais para entender a origem e organização da tribo. Ao longo dos anos, a meliponicultura vem sendo praticada por pequenos e médios produtores, assim como por produtores de base familiar.
A importância das abelhas para o ecossistema vai além da produção do mel. Elas são responsáveis por 40 a 90% do processo de polinização que resulta na produção de frutos de plantas floríferas dos diferentes biomas brasileiros (KERR, CARVALHO & NASCIMENTO, 1996). As abelhas são seres fundamentais para a manutenção da vegetação natural e cultivada, pois contribuem para a perpetuação de muitas espécies nativas e de culturas agrícolas. Sua preservação é importante devido ao papel fundamental que desempenham na cadeia biológica: fazer a polinização e garantir, dessa forma, a continuidade das espécies de flores de onde insetos e outros animais retiram seu alimento.
No entanto, as agressões que o homem tem imposto ao meio ambiente, tais como, poluição, desmatamento, incêndios florestais, uso de agrotóxicos, acrescentado às mudanças climáticas, têm resultado num desequilíbrio ambiental sem precedentes. Todos esses fatores acabam alterando as atividades das abelhas, que por sua vez colocam em risco não só a produção de alimentos, mas também a preservação das matas e sua biodiversidade. Assim, para um desenvolvimento sustentável é necessário antes de tudo, a educação ambiental.
Apis mellifera X Meliponíneos
A literatura relata que foi o padre português Antônio C. Aureliano quem, em 1839, introduziu no Brasil as primeiras abelhas européias Apis mellifera. A partir daí, diversas raças de abelhas européias do gênero Apis foram trazidas para o Brasil por diferentes imigrantes. Na década de 1950 foram trazidas para pesquisa algumas espécies de abelhas africanas, que escaparam acidentalmente, e rapidamente se miscigenaram com as européias aqui existentes, resultando assim nas Apis mellifera “africanizadas”. Muito mais agressivas, elas criaram grandes problemas na época para a apicultura brasileira. As abelhas do gênero Apis constituem hoje em dia um material de trabalho para os apicultores brasileiros, gerando assim uma atividade sustentável, pois apesar de sua maior agressividade, elas começam a produzir mais cedo, param mais tarde e não apresentam o instinto de hibernação comum às raças européias. Seu mel e outros produtos são amplamente comercializados em todo o mundo e suas picadas são famosas. Muitos aspectos da
sua biologia foram minuciosamente estudados – até Aristóteles já escreveu sobre elas.
O mesmo não ocorre com as abelhas sem ferrão: como são quase uma exclusividade dos trópicos, não chegaram ao conhecimento ocidental até que os naturalistas se aventuraram nas expedições ultramarinas nos últimos séculos. Desta maneira, as abelhas nativas, sem ferrão, destacam-se pela sua importância para a manutenção de áreas naturais. Elas estão diretamente ligadas à biodiversidade das reservas ecológicas, pois passam boa parte de suas vidas voando de flor em flor, à procura de néctar, fonte de açúcares, e de pólen, fonte de proteínas, que levam ao ninho. A flor por sua vez, recebe grãos de pólen de outras plantas da mesma espécie, garantindo assim a sua variabilidade genética.
Do ponto de vista biológico, Kerr, Carvalho & Nascimento (1996, p. 71-72) afirmam que “o interesse pelas abelhas sem ferrão é justificado na maioria dos casos pelo uso nutricional e terapêutico do mel e pelo fato da sua comercialização promover um aumento da renda familiar, além da atividade servir como fonte de lazer”.
Devido a essa diversidade, é fundamental realizar pesquisas sobre comportamento e reprodução específicas para cada espécie de meliponíneos; adaptar técnicas de manejo e equipamentos; analisar e caracterizar os produtos fornecidos e estudar formas de conservação destas abelhas, inclusive discutir a importância dos meliponíneos no ambiente escolar.
O QUE É POLINIZAÇÃO?
Aprendemos desde cedo, nas aulas de Ciências a importância das abelhas como agentes polinizadores das plantas. Mas será que compreendemos o significado científico do que é a polinização e quais as suas implicações? Em linguagem simples, a polinização é definida como a transferência de grãos de pólen das anteras de uma flor para o estigma da mesma flor ou de uma outra flor da mesma espécie (CAMARGO et al., 1992). Porém, essa simples deposição de grãos de pólen no estigma da flor não é suficiente para que haja a formação de sementes e frutos. É preciso que após a polinização propriamente dita, alguns desses grãos de pólen depositado no estigma venham a germinar e fertilizar o(s) óvulo(s) presente(s) no ovário da flor, em um processo chamado de fertilização. Quanto mais eficiente for o processo de polinização, ou seja, quanto maior for o número de grãos de pólen viáveis e compatíveis no estigma, maior será a competição entre eles para fecundar os óvulos e maior será a percentagem de fertilização (FREITAS, 2004).
Como bem sabemos, as plantas dependem de agentes polinizadores, principalmente as abelhas, para realizarem a transferência de pólen das anteras para os estigmas. No entanto, a eficiência polinizadora de qualquer visitante floral está relacionada à estrutura e morfologia da sua flor; o volume, concentração e conteúdo de açúcar total do seu néctar; horário e padrão de secreção do néctar ou liberação de pólen; viabilidade e longevidade do pólen; autocompatibilidade ou incompatibilidade do pólen da mesma planta, variedade ou cultivar; período de receptividade do estigma; e vida útil dos óvulos (CAMARGO et al., 1992).
Por outro lado, para que uma espécie animal qualquer, incluindo as abelhas, possa ser classificada como polinizadora de uma certa cultura agrícola, é preciso que o potencial polinizador seja atraído pelas flores da cultura; que apresente fidelidade àquela espécie; que possua tamanho e comportamento adequados para remover pólen dos estames e depositá-los nos estigmas; que transporte em seu corpo grandes quantidades de pólen viável e compatível; que visite as flores quando os estigmas ainda apresentam boa receptividade e antes do início da degeneração dos óvulos (KERR, CARVALHO & NASCIMENTO, 1996).
A IMPORTÂNCIA DOS MELIPONÍNEOS
As abelhas sem ferrão são, sem dúvida, os principais agentes polinizadores de várias plantas nativas. Preservar essas abelhas contribui, portanto, para conservar os mais diversos tipos de vegetação. Há muitos agricultores utilizando as abelhas sem ferrão na polinização de culturas agrícolas tais como urucum, chuchu, carambola, coco-da-bahia e manga. Essa prática, amplamente usada com as abelhas do gênero Apis (conhecidas como abelhas africanizadas ou abelhas africanas) e Bombus (as mamangavas), vêm sendo utilizada até mesmo para cultivar morangos dentro de estufas (SÁ & PRATO, 2007). A polinização, portanto, é outro produto importante fornecido pelos meliponíneos. Uma vez que não possuem o ferrão, as abelhas nativas podem ser usadas com segurança na polinização de espécies vegetais cultivadas no ambiente fechado da casa de vegetação.
Durante suas visitas às flores, as abelhas transferem o pólen de uma flor para outra, promovendo o que chamamos de polinização cruzada, ou seja, neste momento ocorre à troca de gametas entre as plantas. Uma boa polinização garante a variabilidade genética dos vegetais e a formação de bons frutos. Deste modo, as abelhas também são importantes para as plantas cultivadas que dependem de agentes polinizadores. Portanto, as abelhas são indiretamente responsáveis pela produção de alimentos: frutas, legumes e grãos. O principal interesse pela criação de abelhas sem ferrão está no prazer que o manejo diário proporciona ao homem e sua família, uma vez que esta atividade não representa qualquer risco de acidentes com enxames. É a natureza, e indiretamente o homem, os que mais lucram com os efeitos da criação e preservação destas abelhas, devido aos serviços de coleta de pólen das flores prestados pelas campeiras.
O trabalho de dispersão de sementes é importante tanto para as plantas quanto para as abelhas (CAMARGO et al., 1992). O benefício é mútuo. Para a abelha porque visitando a planta consegue o seu recurso floral e para a planta que por meio deste agente polinizador estará, conseqüentemente, frutificando e perpetuando a sua espécie.
Além do mel, essas abelhas podem fornecer, para exploração comercial, pólen, cerume, geoprópolis e os próprios enxames. Segundo NOGUEIRA-NETO, 1997, o mel produzido pelas abelhas sem ferrão contém os nutrientes básicos necessários à saúde, como açúcares, proteínas, vitaminas e gordura. Esse mel possui, também, uma elevada atividade antibacteriana e é tradicionalmente usado contra doenças pulmonares, resfriado, gripe, fraqueza e infecções de olhos em várias regiões do país.
No entanto, diante da aptidão natural que os meliponíneos apresentam em relacionar-se com o meio, existem outras formas de exploração sustentável, as quais destacam-se: educação ambiental, turismo ecológico e paisagismo. Além de fonte de alimento e remédio, o mel produzido pelas abelhas sem ferrão representa, em algumas regiões, uma importante fonte de renda. São, de um modo geral, abelhas bastante dóceis e de fácil manejo. A docilidade da maioria das espécies e seu comportamento fascinante as tornam um excelente material lúdico para os adultos e um instrumento de educação ambiental para as crianças.
Outra forma de exploração visa promover a preservação e retratar o aspecto de ambientação do meio, ou seja, promover a integração no jardim, focada no paisagismo. Dando aspectos de ruralidade/ecológica às residências. Isso pode ser feito utilizando colméias de barro ou pedra, onde as abelhas são mantidas em locais que permitam a reprodução natural e enxameação da espécie sem interferência do homem, constituindo também um lazer contemplativo e cultural. Alguns cuidados devem ser tomados quando da aplicação de agrotóxicos, como a aplicação de inseticida contra o mosquito causador da dengue, que podem causar a mortalidade de colônias.
O fator mais forte a ser evidenciado deve ser a educação ambiental, que rege o conhecimento sobre a biologia, produtos e importância das abelhas para o meio ambiente, que tende a torna-se mais objetiva, através do planejamento e instalação de meliponários em áreas de escolas, parques, reservas e hortos, localizados em ambientes urbanizados de grande fluxo de pessoas que geralmente tem um certo temor desses insetos e são potencialmente favoráveis ao acontecimento de acidentes.
A abrangência do turismo também é indiscutível, pois os turistas freqüentam várias regiões d Brasil, desejando conhecer a natureza e o que ela oferece de produtos. Uma característica das abelhas sem ferrão é que podem ser utilizadas como atrativo turístico para regiões secas ou úmidas além de favorecendo o aumento do consumo do mel. A instalação de meliponários onde o visitante possa provar os potes de mel e observar os diversos tipos de abrigos das abelhas permite um aumento de renda e ao mesmo tempo preservação das espécies. Além disso, as atividades de lazer propiciam a muitas pessoas acometidas de cansaço e outros males da vida moderna, um espaço contemplativo. Utilizar as abelhas como terapia para a diminuição da carga de stress do dia a dia, instalando meliponários para observação das atividades das abelhas, também é uma opção para estimular o tratamento de malefícios da alma.
Nesta linha de raciocínio ocorre também a inserção do poder econômico, o qual constitui uma atividade alternativa que possa gerar renda para manutenção da propriedade (chácaras) através da venda de seus produtos.
A meliponicultura é, portanto, uma atividade de baixo impacto ambiental, que produz um alimento de elevado nível nutricional, e de retorno financeiro garantido. Se bem planejada, a criação de abelhas sem ferrão tem efeito em promover o uso racional dos recursos da floresta, equilibrando interesses ambientais, com interesses sociais de melhoria de qualidade de vida das populações que residem na região.
A EXTINÇÃO DOS MELIPONÍNEOS
A falta de conhecimento sobre os meliponíneos é fator preponderante na extinção destes animais. Muitas contribuições são ainda necessárias para compreendermos melhor a relação entre as abelhas e o meio natural. Entretanto, muitos produtores em busca de enxames para povoarem os meliponários, acabam atuando como verdadeiros predadores, derrubando árvores para retirada das colônias, que, muitas vezes, acabam morrendo devido à falta de cuidado durante o translado e ao manejo inadequado.
Outra causa da morte das colônias é a criação de espécies não adaptadas à sua região natural. É relativamente comum que produtores iniciantes ou experientes das regiões Sul e Sudeste do Brasil queiram criar abelhas nativas adaptadas às regiões Norte e Nordeste, e vice-versa. A falta de adaptação dessas abelhas às condições ambientais da região em que são colocadas acabam por matar as colônias, podendo contribuir para a extinção das mesmas.
Kerr, Carvalho & Nascimento (1996, p. 14-15) afirmam que:
As inúmeras espécies de abelhas sem ferrão brasileiras diminuem em taxa mais rápida que a destruição das florestas devido à retirada de seus ninhos, derrubada das árvores para a retirada do mel, fragmentação de áreas que prejudicam a variação genética dos grupos de abelhas, a incrementação de meliponários particulares que afetam o enxameamento natural, as ações das serrarias que destroem grandes áreas de mata primária e o uso acentuado de pesticidas, especialmente nas proximidades de plantações de grande interesse humano.
A extinção dessas espécies causará um problema ecológico de enormes proporções, uma vez que as mesmas são responsáveis, dependendo do bioma, pela polinização de 80 a 90% das plantas nativas no Brasil. Assim, o desaparecimento das abelhas causaria a extinção de boa parte da flora brasileira e de toda a fauna que dependa dessas espécies vegetais para alimentação ou nidificação. Este problema de ordem pública fez com que o governo brasileiro, por meio do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), publicasse, no Diário Oficial da União em 17 de agosto de 2004 a RESOLUÇÃO Nº 346 DE 06 DE JULHO DE 2004, que disciplina a utilização de abelhas silvestres nativas. A destruição acelerada dos ecossistemas naturais está condenando várias espécies a uma existência limitada às gavetas dos museus. O Projeto de Lei 1634/07 prevê proteção especial às espécies de abelhas polinizadoras com foco especial na monocultura, o uso intensivo de agrotóxicos, o desmatamento e as queimadas, a urbanização inadequada e o lixo irregular.
Mesmo onde ainda há matas em bom estado – o único ambiente possível para muitas espécies – é comum a destruição dos ninhos para a coleta predatória do mel. As espécies que conseguem sobreviver em ambientes modificados pelo homem também enfrentam sérios problemas: é fácil imaginar qual é o impacto nos polinizadores da própria lavoura com uso irresponsável de inseticidas. Neste último caso o efeito econômico não se faz esperar, pois com menos polinizadores a produção agrícola tende a cair.
Além disso, as abelhas sem ferrão correm o risco de desaparecer nos ambientes alterados pela atividade humana devido à derrubada das florestas e o surgimento de pequenas ilhas de mata (fragmentação), que fazem com que diminuía o número de colônias de muitas abelhas nesses ambientes, favorecendo o processo de endogamia, ou seja, o cruzamento entre indivíduos aparentados (KERR, CARVALHO & NASCIMENTO, 1996).
A endogamia pode levar a morte da população em algumas gerações, resultando também no desaparecimento de algumas espécies vegetais visitadas por essas abelhas, desestabilizando toda a rede de inter-relações existente nos ecossistemas e afetando o próprio homem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos supor que o mundo era bem diferente quando os dinossauros ainda dominavam a paisagem e os antepassados do homem eram uns pequenos insetívoros que habitavam a noite da floresta. Mas nessa época, há 80 milhões de anos, as abelhas sem ferrão já estavam lá e cumpriam seu papel de polinizadores ao visitar as flores que recentemente tinham feito sua aparição na paisagem. Para que estes seres tão benéficos para os ecossistemas tropicais e para o próprio homem continuem existindo temos que tomar medidas, que, aliás, são as que todos já conhecemos, e que não só ajudam às abelhas, mas a muitas outras espécies – inclusive ao homem. Essas medidas são a proteção dos ecossistemas, o uso sustentado dos recursos naturais, o respeito às leis ambientais vigentes e a implementação da educação ambiental desde a escola.
Se considerarmos que no território que o nosso país ocupa se encontra nada menos que mais da metade das 400 espécies de abelhas sem ferrão, percebemos que também neste caso, além de privilegiados donos de um enorme potencial natural a ser explorado, também somos depositários de uma responsabilidade extraordinária frente à presente e às futuras gerações.
No entanto, apesar desse papel como elemento fundamental a sustentabilidade das áreas com vegetação natural, a maioria da população desconhece a existência e a importância das nossas abelhas nativas.
Uma atenção toda especial deve ser dada ao plantio das árvores e arbustos que lhes sejam úteis como pasto e abrigo. Finalmente, há necessidade de termos campanhas de educação ambiental, sobre as nossas abelhas, ressaltando que elas não representam perigo algum para as pessoas e delas depende a polinização de muitas plantas e conseqüentemente a produção de fruto que alimentam a fauna e de sementes que garantem a perpetuação da floresta.
A idéia é fazer com que a comunidade conhecesse as espécies existentes na área e aprendesse sobre a importância de sua preservação. Com a redução das colônias de abelhas podem ocorrer diversos prejuízos para a biodiversidade e também para a agricultura, indústria e comércio de produtos derivados do pólen e do mel, além dos derivados obtidos das plantas que se reproduzem pelo processo de dispersão de sementes realizado pelo inseto. Estudos referentes à associação inseto-planta, especificamente entre meliponíneos e vegetais nativos da região (SÁ & PRATO, 2007).
As abelhas podem ainda ser vistas sob o ponto de vista econômico, como produtoras de mel e outros produtos com valor alimentício, farmacêutico etc. Inclusive podem ser criadas e manejadas muito facilmente no Brasil, tornando-se uma fonte de renda. Assim sendo, toda e qualquer possibilidade de desenvolver projetos destinados à divulgação do conhecimento sobre os meliponíneos, contribuirá para o entendimento sobre a interação desses grupos com as comunidades naturais, estimulando a idéia de preservação e conservação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAMARGO, J.M.F. et al. O conhecimento dos Kayapó sobre as abelhas sociais sem ferrão (Meliponidae, Apidae, Hymenoptera): notas adicionais. Revista de Zoologia. São Paulo, 1990. v. 6 (1): 17-22
FREITAS, G. S. Meliponicultura: Biologia e manejo de abelhas sem ferrão. Ribeirão Preto, 2004. 35 p.
MICHENER, C.D. Whats was the protobee? Anais do IV Encontro sobre Abelhas. Ribeirão Preto – São Paulo, 2000. p. 2-7.
NOGUEIRA-NETO, Paulo. Vida e criação de abelhas indígenas sem ferrão. São Paulo: Nogueirapis, 1997. 445 p.
SÁ, Natália de Paula; PRATO, Mauro. Conhecendo as abelhas: um projeto de ensino. Uberlândia, v. 23, Suplemento 1, p. 107- 110, Nov. 2007 108.
KERR, Warwick Estevam; CARVALHO, Gisele Almeida; NASCIMENTO, Vania Alves. Abelha uruçu: biologia, manejo e conservação. Paracatu: Ed. Fundação Acangaú, 1996. 144 p.
VELTHUIS, H.W. The biology of stingless bees. Universidade São Paulo. São Paulo, 1997.
WILLE, A. Phylogeny and relationships among the genera and subgenera of the stingless bees (Meliponinae) of the world. Revista de Biologia Tropical 27: 241