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quarta-feira, novembro 20, 2024

A Importância do Lúdico na Organização do Trabalho Pedagógico da Educação Infantil

Estudar o fenômeno lúdico, numa primeira instância, pode parecer uma tarefa fácil. Talvez porque a maior parte da população que se dedica a pensar sobre ele encare-o simplesmente como diversão e entretenimento, ou como uma atividade banal, desprovida de utilidade para a produção material dessa sociedade.
A atividade lúdica não possui uma seriedade com caráter propedêutico, isto é, como uma preparação para a vida adulta, pois sabe-se que a infância tem uma vida própria.
Conceituar ludicidade é difícil diante das diversas interpretações a ela destinadas a partir de variadas fontes. É comum associá-la a uma manifestação exclusiva da infância. Muitas vezes, tratam-na como uma estratégia utilitária para atender ao princípio do fazer, como por exemplo, os “jogos lúdicos”. Entretanto, estudos recentes vêm oferecendo subsídios para o esclarecimento deste fenômeno, que poderíamos chamar de “um estado de potência da condição humana que resiste a toda espécie de interpretação ordenada típica da racionalidade instrumental”. Vale salientar que a ludicidade não se restringe apenas a um jogo ou à brincadeira, implica uma maior amplitude, o envolvimento mais profundo do sujeito, um encontro com ele mesmo. Segundo Luckesi (2000. 21), a atividade lúdica propicia a “plenitude da experiência”, quando nos entregamos a ela, nos envolvemos por completo, estamos inteiros, plenos, flexíveis, alegres, saudáveis. Brincar, jogar, agir ludicamente, exige uma entrega total do ser humano, corpo e mente ao mesmo tempo. O referido autor considera a ludicidade como um estado inteiro do sujeito que age e/ou vivencia situações lúdicas é aquela que relaxa os terminais nervosos, permite uma experiência integral, cria, corporalmente, um campo de reconhecimento de que isso é possível.
Assim considera-se que a ludicidade é uma ação vivida e sentida, não definível pelas palavras e sim, compreendida pela fruição. Os atos lúdicos são povoados pela fantasia, pela imaginação e pelos sonhos que se constroem como labirinto de teias urdidas com materiais simbólicos.
Huizinga (1996) propõe a expressão homo ludens para ressaltar que o lúdico é considerado uma das necessidades básicas do ser humano, o que significa dizer que a vivência do lúdico é significativa independente da idade. Entretanto, as exigências e transformações das sociedades modernas vão progressivamente, afastando os indivíduos das atividades lúdicas, criando formas de lazer estereotipadas, como as oferecidas pela televisão e pelo computador, que os colocam em uma postura passiva, solitária, alienada, repetitiva e inexpressiva. 
Segundo RCNs:

Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da autonomia. O fato de a criança, desde muito cedo, poder se comunicar por meio de gestos, sons e mais tarde representar determinado papel na brincadeira faz com que ela desenvolva sua imaginação. Nas brincadeiras as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação. Amadurecem também algumas capacidades de socialização, por meio da interação e da utilização e experimentação de regras e papeis sociais. (BRASIL, 1998, p. 22).

Brincar hoje nas escolas está longe de uma proposta pedagógica que incorpore o lúdico como eixo do trabalho infantil. É rara a escola que invista neste aprendizado. A escola simplesmente esqueceu a brincadeira, na sala de aula ou ela é utilizada com um papel didático, ou é considerada uma perda de tempo. E até no recreio, a criança precisa conviver com um monte de proibições, como também ocorre nos prédios, nos clubes etc.
Em qualquer época da vida das crianças, as brincadeiras devem estar presentes. Brincar não é coisa apenas de crianças pequenas, erre a escola ao subsidiar sua ação, dividindo o mundo em lados opostos: de um lado o jogo da brincadeira, do sonho, da fantasia e do outro: o mundo sério do trabalho e do estudo. A capacidade de brincar abre uma possibilidade de decifrar enigmas que os rodeiam. A brincadeira é o momento sobre si mesmo e sobre o mundo, dentro de um contexto de faz–de–conta.
Infelizmente observa-se que na escola não há lugar para o desenvolvimento global e harmonioso em brincadeiras, jogos e outras atividades lúdicas. Ao chegar à escola a criança é impedida de assumir sua corporiedade, passando a ser submissa através de horas que fica imobilizada na sala de aula. Sendo assim, para o aluno se auto-realizar é quando ele atinge seus objetivos preestabelecidos com o máximo de rendimento e o mínimo de investimento de energia. Então o conceito de auto-realização tem a ver com a eficácia pessoal.
Quando o professor organizar suas atividades de aula, deve selecionar aquelas mais significativas para seus alunos criando condições para que essas atividades sejam realizadas.
Atualmente percebe-se que a brincadeira e aprendizagem são consideradas ações com finalidades bastante diferentes e não podem habitar o mesmo espaço e tempo. O professor é quem cria oportunidades para que o brincar aconteça, sem atrapalhar as aulas. São os recreios, os momentos livres ou nas horas de descanso. No entanto constata-se que é através das brincadeiras que a criança representa o discurso externo e o interioriza, construindo seu próprio pensamento.
Muito pode ser trabalhado a partir de jogos e brincadeiras. Contar, ouvir histórias, dramatizar, jogar com regras, desenhar entre outras atividades, constituem meios prazerosos de aprendizagem.
Para Santa Marli Pires dos Santos (1997) brincar é a forma mais perfeita para perceber a criança e estimular o que ela precisa aprender e se desenvolver.
Se a escola não atua positivamente, garantindo possibilidades para o desenvolvimento da brincadeira, ela ao contrário, age negativamente impedindo que esta aconteça. Diante desta realidade, faz se necessário apontar para o papel do professor na garantia e enriquecimento da brincadeira como atividade social da infância. Considerando que a brincadeira deva ocupar um espaço central na educação, o professor é a figura fundamental para que isso aconteça, criando os espaços, oferecendo material e partilhando brincadeiras.
Agindo assim, o professor estará possibilitando às crianças uma forma de assimilar à cultura, modos de vida adultos, de forma criativa, social e partilhada além de estar transmitindo valores e uma imagem da cultura como produção e não apenas consumo.
É preciso ter espírito aberto para o lúdico, reconhecer a sua importância enquanto fator de desenvolvimento da criança. A tensão entre o desejo da criança e a realidade objetiva é que dá origem ao lúdico acionado pela imaginação. Assim pode-se afirmar que a brincadeira, por abrir espaços para o jogo da linguagem com a imaginação, se configura como possibilidade da criança forjar novas formas de conceber a realidade social e cultural em que vive, além de servir como base para a construção de conhecimentos e valores. Isto faz com que o brincar seja uma grande fonte de aprendizagem e desenvolvimento.

REFERÊNCIAS

BENJAMIN, Walter. Reflexões: A criança, o brinquedo, a educação. São Paulo, Summus, 1984.
BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a educação infantil. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1998.
KISHIMOTO, M. Tizuko. O brincar e suas teorias. São Paulo, Pioneira, 1998.
LUCRESI, Cipriano Carlos. Ludicidade e atividades lúdicas. Ensaios 2: Educação e Ludicidade. Salvador – BA. UFBA/FACED. Programa de pós-graduação em educação.
OLIVEIRA, Washington Carlos. Percebendo a Ludicidade na Educação. Ensaios 2: Educação e Ludicidade. Salvador – BA. UFBA/FACED. Programa de pós-graduação em educação.
PEREIRA, Lúcia Helena Pena. Ludicidade algumas reflexões. Ensaios 2: Educação e Ludicidade. Salvador – BA. UFBA/ACED. Programa de pós-graduação em educação.
SANTOS, Marli, dos Pires, Santa – (org.) Brinquedoteca, o lúdico em diferentes contextos. Petrópolis, Rio de Janeiro, Vozes, 1997. 

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