UFRB – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
CCS – Centro de Ciências da Saúde
Disciplina – Psicologia do Desenvolvimento
A Teoria do Desenvolvimento Psicossocial de Erik Erikson
Erik Homburger Erikson nasceu na Alemanha em 1902, mudou-se para os Estados Unidos em 1933 por causa da ameaça do Nazismo e veio a falecer em 1994.Teve seus estudos sempre focados na teoria da psicanálise e foi o 1º Psicanalista infantil nos Estados Unidos.No ciclo de vida definido por Erikson, cada fase influencia a outra.
Em meados do século XX, Erikson começa a construir sua teoria psicossocial do desenvolvimento humano, repensando vários conceitos de Freud, sempre considerando o ser humano como um ser social, antes de tudo, um ser que vive em grupo e sofre a pressão e a influência deste, (RABELLO & PASSOS. 2001)
Para Erkson o meio não é só a família mas agentes externos, tais como, o meio sócio-cultural, os grupos e as sociedades, sendo que o desenvolvimento tem de ser enquadrado na relatividade cultural.
Em cada estágio o ego passa por uma crise (que dá nome ao estágio). Esta crise pode ter um desfecho positivo (ritualização) ou negativo (ritualismo), sendo que da solução positiva, da crise, surge um ego mais rico e forte; da solução negativa temos um ego mais fragilizado.
Nesse sentido Erikson desenvolve a teoria Psicossocial que abrange 8 estágios durante o ciclo vital sendo que cada estágio envolve uma crise, sendo elas: confiança x desenvolvimento, autonomia x vergonha e dúvida, iniciativa x culpa, trabalho x inferioridade, identidade x confusão de papeis, intimidade x isolamento, geratividade x estagnação e integridade x desespero. O presente estudo, por se tratar de trabalho de disciplina de desenvolvimento I, terá como objetivo enfatizar apenas as três primeiras crises, já que essas fazem parte da primeira infância.
Confiança x Desconfiança
Nesta primeira fase da infância à atenção do bebê se volta à pessoa que propõe seu conforto, que satisfaz suas necessidades, o que a capacita em desenvolver a confiança básica, segurança e o otimismo. Nesses primeiros meses, os bebês desenvolvem um sentimento do quão confiável são as pessoas e objetos de seu ambiente.
Como ela depende dos pais para tudo (alimentação, afeto e proteção), ela precisa confiar inteiramente neles. Por isso, é necessário que os pais, principalmente as mães tratem o bebê com muito carinho e atenção, porque se este for privado poderá desenvolver uma criança desconfiada e insegura em relação com os outros.
O desenvolvimento da confiança é dado principalmente na fase oral da amamentação em que a criança pode se satisfeita (alimentada) ou não satisfeita (não alimentada) quando deseja o seio da mãe. O bebê precisa ter a certeza interior com uma previsão de que pode deixar a mãe de lado sem demasiada ansiedade ou raiva, pois o ego depende do reconhecimento de sensações e imagens lembradas e antecipadas que estão associadas ao exterior das coisas e pessoas.
Mas elas também precisam adquirir certa desconfiança para se proteger do perigo. O êxito da resolução da crise é a predominância da confiança o que ocasiona o desenvolvimento de uma determinada virtude ou força, que é neste caso a esperança, que é a crença de satisfazer seus desejos. Quando predomina a desconfiança, as crianças verão o mundo hostil e imprevisível. O bebê espera que sua mãe lhe dê conforto, segurança, carinho e atenção. Ele precisa desenvolver um equilíbrio entre confiança, para fazer relacionamentos íntimos e desconfiança, para se proteger.
Autonomia x Vergonha e Dúvida
Este estágio é muito importante para o desenvolvimento da personalidade, pois é marcado pela transição do controle externo para o autocontrole. Tendo desenvolvido em seu primeiro ano de vida um senso de confiança básica no mundo e com o despertar da autoconsciência, as crianças começam a substituir o julgamento de seus cuidadores pelo seu. A virtude que surge durante esse estágio é a vontade.
As crianças por necessitarem testar seu controle e capacidades, são impulsionadas a exercitar suas preferências e tomar decisões próprias. Esse impulso geralmente se manifesta na forma de negativismo (a tendência de exclamar “Não!” apenas para se opor a autoridade). A aceitação do controle social pela criança implica no aprendizado do que se espera dela, de quais são seus privilégios, obrigações e limitações. Deste aprendizado surge também a noção de capacidade e as atitudes judiciosas, ou seja, o poder de julgamento da criança, devido esta conseguir discriminar algumas regras.
Segundo Erikson liberdade ilimitada não é segura nem saudável, o que torna necessário a regulação exercida por vergonha e dúvida, mas o equilíbrio adequado é crucial. A dúvida funciona por vezes como um “limitador interno”, pois a criança reconhece o que ainda não está pronta para realizar, já a vergonha tem a função de “limitador externo” quando diz respeito a convivência com regras sensatas (sociais), mas esse é um quadro dinâmico.
Um exemplo comum e muito explorado, inclusive por Freud, é o uso de regras que os pais fazem para ensinar as crianças irem ao banheiro, utilizando a vergonha e ao mesmo tempo do encorajamento para dar certo nível de autonomia. Porém, a exposição da criança à vergonha de forma constante, pode estimular na verdade o descaramento e a dissimulação como reação de defesa, ou o sentimento permanente de vergonha e dúvida de suas capacidades e potencialidades. Assim como sentimento de autocontrole sem perda de auto-estima, resulta o sentimento de orgulho e boa vontade, já de um sentimento de supercontrole exterior resulta uma propensão duradoura para a dúvida e a vergonha.
Neste estágio os pais devem exercer um controle de forma que não prejudiquem o senso de autonomia da criança. Se ela for exigida demais ou pouco amparada, verá que não consegue dar conta das expectativas e sua auto-estima vai baixar. Se ela é pouco exigida ou protegida demais, ela tem a sensação de abandono e de dúvida de suas capacidades ou torna-se frágil, insegura e envergonhada. Encarando expressões de vontade própria da criança como um esforço normal e saudável por independência, e não como teimosia, os pais e outros cuidadores podem ajudá-las a adquirir autocontrole, contribuindo para que a mesma desenvolva seu senso de competência e evite conflitos excessivos.
Iniciativa x Culpa
O terceiro estágio estipulado por Erikson, equivale ao estágio psicossexual genital-locomotor, é o da iniciativa. Uma era de crescente destreza e responsabilidade.
Nesta fase a criança encontra-se nitidamente mais avançada e mais organizada tanto a nível físico como mental. É a capacidade de planejar as suas tarefas e metas a atingir que a define como autónoma e por consequência a introduz nesta etapa.
Ela encontra-se num estado de ansiedade porque quer aprender bem e a partir daqui amplia o seu sentido de obrigação e desempenho. A sua principal atividade é o brincar e o propósito é a virtude que surge neste estágio de desenvolvimento. Este chamado propósito define-se como o resultado do seu brincar, das suas tentativas e dos seus fracassos.
Para além dos jogos físicos com os seus brinquedos ela constrói também os chamados jogos mentais tentando imitar os adultos e entrando no mundo do faz de conta. O objetivo deste jogo é tentar perceber até que ponto ela pode ser como eles.
A iniciativa surge para atingir metas que, muitas vezes, tornam-se fixação. Na Teoria de Freud a principal fixação ocorre neste período. É o Complexo de Édipo, caracterizado pela fixação genital pelo progenitor do sexo oposto. Assim, meninos nutrem verdadeira paixão por suas mães enquanto as meninas identificam-se mais com seus pais. Para Erikson, assim como para Freud, as metas elaboradas são impossíveis. Então toda a energia despendida em busca de algo socialmente inalcançável é revertida para outras atividades. É nesse período que as crianças ampliam seus contatos, fazem mais amigos, aprendem a ler e escrever, fruto da energia proveniente da iniciativa.
O senso de responsabilidade também pode ser desenvolvido durante esta terceira crise do ego. Nela, a criança sente a necessidade de realizar tarefas e cumprir papéis. Os pais devem dar oportunidade aos filhos para que eles realizem tarefas condizentes com seu nível motor e intelectual. É necessário que a tarefa seja possível de ser cumprida. Outras, como desafio, podem ser mais complexas, porém devem ser realizadas como apoio de alguém.
Referência:
O estudo do desenvolvimento humano. In: Papalia, D. E; OLDS, S. W. Desenvolvimento humano. 8º. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.
RABELLO, E. T. e PASSOS, J. S. Erikson e a teoria psicossocial do desenvolvimento. Disponível em no dia 29 de abril de 2010.