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terça-feira, novembro 19, 2024

ANOREXIA

O termo anorexia vem do grego, significando falta de apetite. O termo, na verdade , é errôneo, já que a falta de apetite é rara, pois o indivíduo muitas vezes sentem fome, mas procuram negá-la.

A síndrome foi identificada como entidade clínica em 1868, por Gull e Lasígue, apesar de Ter sido descrita em 1694 por Richard Morton, que relatava um emagrecimento auto-induzido em decorrência de um medo mórbido de ganhar peso.

As características essenciais da anorexia nervosa são: recusa do indivíduo de manter um peso corporal na faixa normal mínima associado à um temor intenso de ganhar peso. Esse distúrbio é caracterizado por distúrbios severos no comportamento alimentar, que merecem análise cuidadosa no que diz respeito aos aspectos e cuidados nutricionais.

A comunidade científica trata a (AN) como sintomas do inconsciente da cultura contemporânea.

Na realidade, trata-se de uma perturbação significativa na percepção do esquema corporal, ou seja, da auto-percepção da forma e ou do tamanho do corpo.

Parece ter tornado-se do senso comum que tais transtornos são muito mais predominantes nas sociedades industrializadas, nas quais há abundância de comida e onde, especialmente para as mulheres, é considerada atraente a pessoa que é magra. Contraditoriamente, em algumas culturas, a percepção distorcida do corpo pode não ser proeminente, e a motivação expressa para a restrição alimentar poderia Ter um conteúdo diferente, como o desconforto espigástrico.

A anorexia nervosa tem fatores psicológicos, biológicos e sociais.

Epidemiologia

A taxa de prevalência de indivíduos com Anorexia é de 1% e desses cerca de 90% dos casos de Anorexia Nervosa são em mulheres. Os casos acontecem com mais freqüência em classes sociais mais elevadas. Em 45% dos casos, a Anorexia acontece após uma dieta de emagrecimento. Em 40% acontece por competição, como por exemplo pessoas que sua profissão exige magreza como modelos e bailarinas.

Nas últimas décadas, tem crescido o número de relatos em meninas pré- púberes e em homens. As idades mais comuns de início ocorre na adolescência, mas até 5% dos pacientes com Anorexia Nervosa tem início logo após os 20 anos.

Etiologia

Não se conhecem as causas fundamentais da Anorexia Nervosa. Há autores que evidenciam como causa a interação sociocultural mal adaptada, fatores biológicos, mecanismos psicológicos menos específicos e especial vulnerabilidade de personalidade.

Fatores biológicos: Incluem as alterações hormonais que ocorrem durante a puberdade e as disfunções de neuro- transmissores cerebrais (disfunção cerebral ao nível do hipotálomo, que comandam os estímulos da fome, da sede e amadurecimento sexual) tais como a dopamina, a serotonina, noradrenalina e dos pepitídeos opióides.

Vários trabalhos apontam para uma pré- disposição genética para o desenvolvimento da Anorexia. Estudos demonstram uma taxa se concordância muito maior em gêmeos monozigóticos em comparação com gêmeos dizigóticos (56% contra 5%). Parentes de primeiro graus de pacientes com Anorexia exibe um risco de aproximadamente 8 vezes maior de apresentar a doença do que a população geral.

Fatores psicológicos: Muitas anoréxicas pertencem a famílias rígidas e fechadas sobre elas próprias, e geralmente tem um relacionamento patológico com a mãe. As anoréxicas são freqüentemente pessoas dependentes mas atuando de uma forma de perfeita independência, extremamente carente de afeto, quase obsessiva tendência para o perfeccionismo intelectual, que as leva quase incurável racionalização.

Há como que uma recusa inconsciente de crescer, tentando conservar as formas de infância. A tentativa de controle do corpo surge assim como uma forma inconsciente de compensação de um sentimento generalizado de incapacidade, de dependência e de dificuldade de autonomia.

Fatores socioculturais: Os aspectos socioculturais dos transtornos alimentares têm sido amplamente estudados e já foram objeto de inúmeros trabalhos médicos, antropológicos, sociológicos e históricos. O interesse pelo tema decorre de observações, encontradas já nas primeiras descrições contemporâneas destes transtornos, de que a extrema valorização da magreza nas sociedades ocidentais desenvolvidas estaria fortemente associada à ocorrência de anorexia nervosa.

Os dados revelam também que anorexia nervosa pareça ser mais prevalente em países ocidentais e são claramente mais freqüentes entre as mulheres jovens, especialmente aquelas pertencentes aos estratos sociais mais elevados destas sociedades, o que fortalece sua conexão com fatores socioculturais.

A pressão cultural para emagrecer é considerada um elemento fundamental da etiologia dos transtornos alimentares, que interage com fatores biológicos, psicológicos e familiares para gerar a preocupação excessiva com o corpo e o pavor doentio de engordar, característicos da anorexia nervosa. A influência dos aspectos socioculturais é marcante.

Os transtornos alimentares, na forma como se apresentam hoje em dia, emergem das pesquisas epidemiológicas como doenças relativamente modernas e predominantemente ocidentais. Segundo DiNicola (1990), a concepção de um modelo de compreensão dos transtornos alimentares que explique os dados sobre sua ocorrência e distribuição deve incluir necessariamente a abordagem do contexto sociocultural onde ocorrem.

Nas sociedades afluentes, ao mesmo tempo em que observamos uma oferta abundante de alimentos de alto teor calórico e de rápido consumo, e a vida cotidiana se torna cada vez mais sedentária, as modelos e atrizes de sucesso, representantes dos padrões ideais de beleza feminina, são extremamente magras e muitas vezes apresentam um corpo de pré- adolescente, com formas pouco definidas.

Assim, as sociedades ocidentais contemporâneas vivem atualmente sob o ideal da magreza e da boa forma física. Este padrão se impõe especialmente para asa mulheres, nas quais a aparência física representa uma importante medida de valor pessoal. Proliferam novas e miraculosas dietas para emagrecimento.

Apesar na falta de informação com sólida base empírica e das limitações metodológicas de algumas pesquisas sobre transtornos alimentares em países não europeus ou norte-americanos, a descrição crescente da ocorrência da anorexia nervosa em outras sociedades tem oferecido dados para a argumentação contrária à visão dos transtornos alimentares como síndrome restrita à cultura ocidental.

O processo de aculturação parece também ter alguma influência na ocorrência dos transtornos alimentares entre imigrantes residindo em países ocidentais de primeiro mundo e nas minorias étnicas destes países.

Segundo autores, a razão para este aumento se deve a melhores métodos de detecção de caso, maior acesso ao sistema de saúde, mudanças nos padrões sócio-econômicos e mais ampla adoção do padrão de magreza.

Quais as teorias psicológicas que tentam explicar o que acontece com alguém com transtorno alimentar?

As teorias psicológicas tentam discutir e compreender como se dá a relação do ser humano com o alimento e a forma corporal, bem como de que forma isso poderia se relacionar com o modo pelo as anoréxicas pensam, sentem e se comportam.

De modo bem simples, poderíamos destacar a visão psicanalítica e a visão cognitivista a respeito dos transtornos alimentares, porque são as formas de psicoterapia maios utilizadas no tratamento individual ou em grupo dessas pacientes.

A visão psicanalítica se formou, a partir dos estudos e teorias de Sigmund Freud, o criador da Psicanálise, no início de século. Entre outras idéias, formulou que a causa da maioria dos problemas e sofrimentos psicológicos são conflitos, em geral entre os desejos do próprio indivíduo e os limites do ambiente e da sociedade. Anoréxicas e bulímicas passam, ao longo da vida, por diversas experiências de conflito e sofrimento psíquico, seja em aceitar a si próprias e às suas necessidades básicas (por exemplo, a de precisar de alimento), seja em relação às expectativas de outras pessoas, as quais buscam atender ( por exemplo, familiares). Contudo, para explicar por que problemas emocionais vão se refletir na alimentação, é preciso recordar outra das teorias de Freud, a respeito do desenvolvimento afetivos e sexual, que se inicia na infância. Ele dividiu em diversas etapas ou fases este desenvolvimento, no qual a criança vai descobrindo, em si mesma, fontes de sentimentos prazerosos e desprazerosos. A primeira dessas etapas é justamente a chamada fase oral, na qual a criança, a partir do contato com o seio materno, associa a obtenção de alimento com o contato afetivo e o prazer. Obviamente, outros estudiosos modificam e ampliaram essas teorias. AO se entrar em contato com uma paciente anoréxica ou bulímica, percebe-se que o mais importante é que ela descubra qual é o significado (muitas vezes inconsciente e desconhecido para ela) do seu sintoma e como isso pode ser integrado e vivido de forma menos angustiante.

A visão cognitivista se baseia em uma outra teoria, a de que as cognições ou idéias do indivíduo influenciam a sua afetividade. No caso da Anorexia Nervosa e da bulimia nervosa, pessoas com esses tipos de problema teriam originalmente experiências que as fizeram pensar que somente se sentiriam melhor ou mais valorizadas se tivessem determinada aparência, não fossem obesas e para tanto tivessem que praticar dietas e comportamentos purgativos. Ademais, teriam erros de raciocínio ou “distorções cognitivas” que justificariam continuar mantendo esses comportamentos, como, por exemplo, “sou magra e estou bem”, “aquela comida vai me engordar, por isso nunca mais vou comê-la”, sem argumentos lógicos que justifiquem tais idéias.

Diagnósticos e características clínicas

O aparecimento da Anorexia Nervosa ocorre entre os 10 e 30 anos de idade. Os pacientes fora desta faixa etária não representam casos típicos e, portanto, seus diagnósticos devem ser questionados. Após os 13 anos de idade, a freqüência do aparecimento da condição aumenta rapidamente, sendo máxima aos 17 ou 18 anos de idade. Em cerca de 85% de todos os pacientes com Anorexia Nervosa o surgimento da doença dá- se entre os 13 e 20 anos, alguns, antes dos 10 anos, eram “enjoados” para comer ou tinham freqüentes problemas digestivos.

Os critérios de diagnóstico do DSM-IV para Anorexia Nervosa são estes:

Recusas a manter o peso corporal em um nível igual ou acima do mínimo normal adequado a idade e a altura (por exemplo, perda de peso e levando a manutenção do peso corporal abaixo de 85% do esperado; o fracasso é inteiro ganho de peso esperado durante o período de crescimento, levando a um peso corporal menor que 85% do esperado).

Medo intenso de ganhar peso ou de se tornar gordo, mesmo estando com peso abaixo do normal.

Perturbação no modo de vivenciar o peso ou a forma do corpo, influencia indevida do peso ou da forma do corpo sobre a auto- avaliação, ou negação do baixo peso corporal atual.

Nas mulheres pós- menarca, amenorréia, isto é, ausência de pelo menos 3 ciclos menstruais consecutivos. (Considera-se que uma mulher tenha amenorréia se seus períodos ocorrem apenas após a administração de hormônio, por exemplo estrógeno).

Características físicas:

Os pacientes geralmente chegam ao médico quando a perda de peso se torna aparente, o peso cai assustadoramente. Anoréxicas com 42 kg são consideradas de peso bom. Freqüentemente o peso chega a 36, 32, 28 kg ou menos.

A medida que a perda ponderal se aprofunda aparecem sinais físicos como hipotermia (temperatura abaixo de 35 C), edema (inchaço), bradicardia (coração bate mais lentamente), hipotensão (pressão arterial abaixo do normal), lanugo (pelos finos que recobrem a pele do rosto e outras partes do corpo), pele seca, intolerância ao frio, queda de cabelo, olhos fundos, envelhecimento precoce e outras alterações metabólicas.

Algumas pacientes chegam a atenção médica por causa da amenorréia que freqüentemente aparece antes de sua perda de peso ser perceptível.

Outras complicações médicas desse transtorno alimentar serão citadas logo abaixo:

Relacionadas a perda de peso:
Caquexia: Perda de gordura, massa muscular, metabolismo tireoídeo reduzido, dificuldades para manter a temperatura corporal básica.

Cardíaca: Perda do músculo cardíaco, coração pequeno, arritmia cardíaca, parada cardíaca.

Digestivos gastrintestinais: Inchação, constipação (queixas de intestino preso), dor abdominal .

Reprodutivas: Baixos níveis de hormônios luteinizante (LH) e hormônio folículo- estimulante (FSH).

Hematológicas: leucopenia (diminuição do número de leucócitos: diminuição da defesa do organismo a infecções).

Neuropsiquiátricas: Sentido de paladar anormal

Esqueléticas: Osteoporose (Conseqüência do baixo consumo e absorção de cálcio).

Endócrinas: Hipotireoidismo

Relacionadas a purgação (vômitos e uso de laxantes)

Digestivas- gastrintestinais: Inflamação e aumento das glândulas salivares e pancreáticas e aumento da amilase sérica, erosão esofágica e gástrica.

Dentárias: Erosão do esmalte dentário

Neuropsiquiátricas: Convulsões, fadiga e fraqueza.

Características psicológicas:
Surgimento da doença dá-se entre os 13 e 20 anos.

Meninas inteligentes, bonitas, perfeccionistas e espertas.

Existe uma preocupação em comer em público.

Enquanto fazem uma refeição tentam livrar-se do alimento colocando-o no guardanapo ou escondendo-o nos bolsos.

Cortam a carne em pedaços muito pequenos e levam muito tempo mexendo com a comida no prato.

Sentimento de inutilidade

Pensamento inflexível

Isolamento social (até mesmo namoro)

Expressão emocional demasiadamente refreadas

Sua auto- estima está associada ao grau de sua forma e peso corporais

A perda de peso é vista como uma conquista, é um sinal de auto- disciplina

E o ganho de peso é visto como um fracasso

Os indivíduos com estes transtornos até reconhecem que estão magros, mas negam as implicações de seu estado de desnutrição, ou até mesmo a morte.

A indução de vômitos, onde uma simples escova de dentes ou cabo de uma colher se tornam ótimos instrumentos para induzir o vômito (se não vomitarem se sentem sujas).

Abuso de laxantes e diuréticos que conduzem ao mórbido emagrecimento desejado.

Irritabilidade (pouco conversam)

Agressividade

Choro

Adoram cozinhar e servir comida para os outros, mas elas mesmas fazem exercícios físicos exageradamente

Acham que o tratamento é totalmente desnecessário

Transtornos mentais associados:
Transtornos depressivos tais como: humor deprimido, retraimento social, irritabilidade, insônia e interesse diminuído por sexo. Esses pacientes podem ter um quadro clínico e sintomático que satisfaz os critérios para um transtorno depressivo maior. Estes sintomas de perturbação de humor deve portanto ser reavaliados após uma reavaliação completa ou parcial do peso.

A depressão também é muito freqüente entre indivíduos com AN.

Transtornos Obsessivos Compulsivos: Pessoas com TOC sente-se aprisionadas por

pensamentos e comportamentos que se repetem e que o próprio indivíduo considera absurdos, desagradáveis e impossíveis de fazer cessar.

Quando os indivíduos com AN apresentam obsessões e compulsões não relacionadas a alimentos, forma corporal ou peso, podem haver um diagnóstico conjunto e concomitante de transtornos obsessivo compulsivo que são relacionados quando não são relacionados com comida.

Tipos de Anorexia

Os seguintes subtipos podem ser usados para a especificação da presença ou ausência de compulsões periódicas ou purgações regulares durante o episódio atual de Anorexia Nervosa.

Anorexia Nervosa do tipo restritivo

Neste tipo a perda de peso é conseguida pelo fato da pessoa limitar suas opções alimentares através de dietas, jejuns ou exercícios excessivos, consumindo o mínimo possível de calorias. Durante o episódio atual, esses pacientes não desenvolveram compulsões periódicas ou purgações.

Anorexia Nervosa do tipo compulsão periódica/purgativo

O tipo compulsão periódica/purgativo se desenvolve em até 50% das pessoas com Anorexia Nervosa. Os indivíduos do tipo compulsão periódica/purgativo tendem a ter famílias nas quais alguns membros são obesos, e elas próprias tem histórias de maior peso corporal antes do transtorno que as pessoas restritas, é quando o paciente se envolve regularmente em compulsões de comer seguidas de purgações durante o episódio atual de Anorexia. A maioria dos pacientes com Anorexia Nervosa que comem compulsivamente também fazem purgações mediante vômitos auto- induzidos ou uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas. Algumas pessoas com Anorexia Nervosa são do tipo purgativo, porém sem compulsão periódica, ou seja, fazem purgações regularmente mesmo após o consumo de pequenas quantidades de alimentos. Aparentemente, a maior parte dos pacientes com o tipo compulsão periódica/purgativo dedica-se a esses comportamentos pelo menos uma vez por semana.

Cada um dos dois tipos parece ter características históricas e clínicas distintas. Compartilha muitas das características dos que tem bulimia nervosa, mas não Anorexia Nervosa. Comparados os dois grupos, os pacientes com Anorexia Nervosa, tipo restrito são menos graves e tem melhor prognóstico que aqueles com o tipo compulsão periódica/purgativo. Ambos os tipos podem ter sintomas de transtorno depressivo e interesse sexual diminuído, mas os indivíduos que tem Anorexia Nervosa com o tipo compulsão periódica/purgativo estão mais propensos a ter outros problemas como o de controle dos impulsos, abuso de álcool ou outras drogas, e exibirem maior instabilidade do humor.

Características comuns nas famílias dos indivíduos com Anorexia Nervosa

Estrutura familiar parecidas.

1- Perfeccionismo: é muito comum que o bom comportamento e uma conduta social extremamente adequada seja algo que as famílias valorizem muito. É comum ouvir: “Ela sempre foi uma menina modelo, nunca deu trabalho, sempre foi estudiosa e obediente”.

Trata-se de famílias preocupadas em se ajustar demais no modelo social, no qual o ideal familiar é pais e filhos perfeitos tendo como guia para realização deste desejo as convenções sociais mais rígidas.

Esse perfeccionismo dos pais leva freqüentemente a um hipercontrole dos filhos e o que muitas vezes resulta na sua infantilização.

2- Superproteção: Na maioria das famílias de indivíduos anoréxicos pode se encontrar uma extrema preocupação pelo bem estar dos seus membros.

Esse exagero na proteção em geral conduz a um atraso de desenvolvimento da autonomia pessoal e consequentemente, a uma ligação muito forte com os pais, em especial com a mãe.

“Ela não precisa trabalhar, acho ela muito criança”, “ainda é cedo para namorar…” são frases que mostram as dificuldades das famílias em aceitar o crescimento dos filhos e a tendência em mante-los o máximo tempo possível ao lado dos pais.

3- Aglutinação: Algumas famílias permanecem tão unidas que os papeis se confundem, filhos assumem o papel dos pais.

4- Repressão das emoções: Um controle restrito sobre as emoções que podem se originar de uma hipermoralidade do sistema familiar que faz com que os sentimentos de raiva e ciúmes, etc não possam ser expressados e onde qualquer conduta considerada agressiva é vivenciada com extrema angústia pela família.

5- Preocupação com peso e com regimes: Alguém da família faz dieta e há um temor exagerado de engordar encontrado predominantemente no casal de pais. Também é comum a idealização do magro como algo bom e o culto ao corpo está supervalorizado.

6- Confronto entre o casal de pais e sensação de fracasso na família: No início da doença a família anda em círculos e tenta achar um culpado, nisso o tempo vai passando.

No quadro geral o conflito profundo e reprimido da família.

Tratamento

Uma das primeiras dificuldades é a que diz respeito à aderir o paciente ao tratamento, pois a negação da doença é muitas vezes parte integrante do quadro. As pacientes com anorexia nervosa em geral desconfiam dos médicos, os quais elas percebem como inimigos e interessados apenas em realimentá-las, em fazê-las perder a vontade de controlar seus pesos.

O tratamento tem que começar rápido, com muita firmeza, sem deixar absolutamente nenhuma alternativa para o paciente, de modo que fiquei claro para ela que não pode vomitar e que tem que ganhar peso.

O objetivo do tratamento é a recuperação do estado nutricional do paciente debilitado pelo estado de semi-inonição.

O modelo de tratamento com uma equipe multiprofissional é o melhor aceito atualmente. O ideal é que a equipe de tratamento inclua um clínico, um nutricionista, um psicoterapeuta individual, um psicoterapeuta de grupo familiar e um psicofarmacologista.

Durante todo o processo de recuperação, o nutricionista deve relacionar aspectos psicológicos e nutricionais dos transtornos alimentares, visando estabelecer padrões nutricionais adequados. A mudança em atitudes alimentares é uma medida importante do resultado geral nestes pacientes. Para isso, é fundamental criar um vínculo terapêutico como o paciente e colocar-se como aliado no tratamento, oferecendo ajuda, apoio e orientação. No entanto, o nutricionista não pode esquecer que a terapia para os transtornos alimentares é um processo integrado, no qual ele e a equipe trabalham juntos para modificar os comportamentos relacionados ao peso e à alimentação do paciente.

Cabe ao nutricionista, como provedor de informação sobre alimentos, nutrição e saúde, identificar o problema e informar outros profissionais da área de saúde e o poder público sobre o perigo das dietas de emagrecimento e uso inadequado de produtos dietéticos e orientar a população a manter padrões saudáveis de peso e métodos adequados para estabilização de peso.

É importante orientar a família. A reeducação nutricional deve ser oferecida juntamente com a terapia, cautelosamente. O nutricionista pode auxiliar a diminuir suas frustrações no horário das refeições, por aliviar a família da responsabilidade de monitorar o consumo alimentar ou mudar hábitos alimentares do paciente.

É muito importante, embora geralmente as pacientes só vão ao terapeuta para que a família as deixe em paz. Esse é um dos motivos pelos quais a psicoterapia não se aprofunda, fica arrastada, e parece que é castigo semanal para a paciente. A forma de psicoterapia mais eficaz é a Cognitiva- Comportamental, que encoraja a adoção de atitudes mais sadias por parte da paciente, que é recompensada com elogios e diminuição de sua mobilidade. A psicoterapia individual é indicada visando a modificação do comportamento, das crenças e dos esquemas falhos de pensamento.

É difícil tratar a anoréxica com psicoterapia, pois as jovens, falam muito pouco, e há uma recusa de falar de si próprias. Há psicoterapias adequadas, e só assim, aliando-se aos antidepressivos convencionais poderá ser melhorado um terço.

A psicofarmacoterapia é indispensável e, normalmente, se faz às custas de antidepressivos, notadamente com tricíclicos que tenham como efeito colateral também o estímulo do apetite e o ganho do peso, como é o caso da maprotilina, amitriptilina ou clomipramina. Havendo necessidade de sedação (quase sempre há), recomenda-se que seja feita com neurolépticos e, preferentemente, com aqueles que também aumentam o apetite, como é o caso da levomepromazina.

Se receita antidepressivos porque quase sempre a Anorexia é acompanhada de um estado depressivo, porque eles diminuem o caráter Obsessivo-compulsivo dos vômitos e da distorção da auto- imagem e finalmente porque eles agem no Sistema de Neurotransmissores que estão alterados nessa doença.

O tempo de espera para começar o efeito é de várias semanas; além disso a paciente não aceita estar doente e não quer tomar remédios (a não ser aqueles que a façam perder peso).

Além disso, existem muitos Antidepressivos diferentes e pode ser que as primeiras tentativas não tenham um resultado bom. Nesse caso, é preciso Ter paciência para uma tentativa com outro Antidepressivo que também precisará de algumas semanas para ser avaliado.

Dependendo das condições clínicas da paciente, é necessário, muitas vezes em função de uma caquexia, proceder a internação da paciente para restabelecimento de sua saúde em ambiente hospitalar.

Internação hospitalar se dá em algumas semanas. Atenção: hospitalização não é castigo. Ela deve ser encarada da seguinte maneira: o tratamento da Anorexia é como se fosse uma corrida. De um lado está a paciente, seu tratamento medicamentoso e psicológico. De outro lado está a natureza da doença, que freqüentemente é fatal. Chega uma hora em que a paciente e seus terapeutas começam a perder a corrida. Isto quer dizer que o estado de emagrecimento chegou num ponto em que a paciente começa a correr riscos para sua saúde física. Nessa hora entra a hospitalização.

Os principais objetivos são:

Ganhar peso.

Tratar intercorrências orgânicas da desnutrição.

Deixar claro para a paciente que trata-se de salvar sua vida, quer ela queria ou não.

Embora seja muito pouco aceita pela família (pela paciente nem se fala), uma internação hospitalar no início de um tratamento proporciona os melhores resultados.

Mesmo após a melhora é bom ter em mente que as recaídas são freqüentes. No caso da internação, a taxa de recidiva imediata é superior a 25%. Portanto o acompanhamento destas pacientes deve-se fazer por anos.

Quando curada a paciente deve ser capaz de separar comportamentos relacionados com alimento e com o peso, de sentimentos e questões psicológicas; normalizar seu consumo alimentar; manter um peso adequado e ser capaz de lidar com o alimento em situações sociais.

O papel da família

Na maioria das vezes, porém, a família demora a perceber a evolução dos distúrbios alimentares, provavelmente pelo desconhecimento das síndromes, despreparo médico em diagnosticar as mesmas e escassez de serviços que oferecem tratamento especializado. O sentimento de culpa e vergonha aliados a idéia de que este não seja um problema médico, também adiam o diagnóstico.

O papel da família tem um grande peso na cura. A família também precisa de auxilio, devendo os médicos muito bem preparados sobre a síndrome, explicar o porquê da recusa de alimentos, que poderá ser para chamar-lhes atenção ou uma mera afirmação pessoal. Eles deverão tentar compreender a situação e lutar em conjunto contra a doença, criando um ambiente agradável perto dela.

A família também deverá ter um apoio com psicólogos e nutricionistas, porque a família deverá ser totalmente reestruturada, tendo também novos hábitos como: reunir a família em volta da mesa para o almoço e para o jantar.

O apoio psicológico ajudará a família a se preparar para uma luta diária que deverá durar até mesmo anos, geralmente a família sofre porque não consegue ajudar e sobrecarrega o indivíduo porque ele não quer ser ajudado.

Por mais que os pais e médicos achem que estão controlando a situação, as anoréxicas são sempre mais espertas… pelo menos no começo…

Curso e Prognóstico

O curso da Anorexia Nervosa varia imensamente- recuperação espontânea sem tratamento, recuperação após uma variedade de tratamentos, curso flutuante de ganhos de peso seguidos de recaídas e um curso de deterioração gradual resultando em morte causada por complicações da inanição. Em geral, o prognóstico não é bom. Naqueles que recuperaram peso suficiente, a preocupação com alimentos e peso corporal freqüentemente continua, os relacionamentos sociais geralmente são pobres, e muitos são deprimidos. A resposta dos pacientes a curto prazo a praticamente qualquer programa de tratamento hospitalar é boa. Há estudos mostrando taxa de mortalidade que vão de 5% a 18%.

Indicadores de um resultado favorável são a admissão da fome menos negação, menos imaturidade e melhora na auto- estima. Fatores como neurose infantil, conflito entre os pais, bulimia, vômitos, abuso de laxantes e várias manifestações comportamentais (por ex: sintomas obsessivos- compulsivos, histéricos, depressivos, psicossomáticos, neuróticos e de negação) tem sido relacionados a fracos resultados em alguns estudos, mas não afetam significativamente o resultado em outros.

30% a 50% dos pacientes anoréxicos tem os sintomas de bulimia nervosa, e, geralmente, estes ocorrem dentro de 1 a 1/2 anos após o início da Anorexia Nervosa. Às vezes, os sintomas bulímicos precedem a Anorexia Nervosa.

Conclusão

O conhecimento geral sobre transtornos alimentares no Brasil, sua incidência e características- principalmente sobre aspectos da alimentação e nutrição desses pacientes é limitado.

Os profissionais que trabalham com transtornos alimentares devem intensificar seus trabalhos de pesquisa, para que, munidos de melhores dados, possam ser implantada uma estratégia preventiva conjunta de atuação com a comunidade.

É necessário, para se compreender e fazer calar a etiologia desses distúrbios, desenvolver um modo novo de ouvir que conduza a uma forma delicada de tratar.

Apesar de poucos recursos bibliográficos disponíveis, principalmente no que diz respeito aos padrões alimentares desses pacientes, é importante que se dê uma maior importância a Anorexia Nervosa e a bulimia nervosa pois estes transtornos alimentares vem aumentando gradativamente.

Relato de uma anoréxica

Vou contar uma parte do meu caso, digo uma parte porque existem muitos detalhes que terão que ficar de fora, e espero poder ajudar quem está passando por isso, é difícil, eu ainda não estou curada, mas vale a pena!

Quando era pequena, até uns 12 anos, eu era muito magra, muito mesmo, comia e não engordava. Com 13 comecei a comer mais, porque achava que eu nunca iria engordar, eu nem sabia o que era isso. Foi na mesma época em que eu cresci e o meu corpo começou a se desenvolver. Acabei confundindo formas com gordura, não era mais um palito, mas nem cheguei perto de ser gorda.

Passei um tempo assim, sem fazer dieta, comendo muita “porcaria”, e sem o meu peso mudar muito. Só que eu sempre achei lindo o corpo de modelo, reto feito uma tábua, corpo de anoréxica, como dizem, mas eu ainda não sabia como era essa doença.

Em Outubro de 99, com 15 anos, resolvi perder peso pela primeira vez, mas não queria que acontecesse comigo o famoso efeito sanfona (emagrece- engorda), e decidi nunca mais comer o que comia.

Não contei pra ninguém o que pretendia, porque sabia que iriam dizer: “Pra que, você não precisa!”. Mentira, eu pensava, eu tô uma baleia!!! Cortei tudo que podia cortar, só almoçava, muito pouco, e jantava um pão integral com uma folha de alface, quando jantava, o que resultava em menos de 500 calorias por dia.

Não fazia exercícios porque nunca gostei de fazer, queria passar o dia normalmente, só queria ver quanto tempo eu aguentava ficar sem comer. Eu me sentia muito bem quando ia dormir e sentia meu estômago vazio, era uma vitória, mais um dia tinha se passado.

Em dois meses perdi 6 quilos, e já estava muito fraca, sendo que antes já estava com peso normal. Sentia dores no corpo, minhas mãos e unhas ficaram roxas, tinha os olhos fundos, estava completamente enfraquecida.

Tive sorte, pois a minha mãe logo percebeu o problema e me levou a vários médicos, desde esse dia passei a freqüentá-los. A doença foi diagnosticada e eu comecei um tratamento com um grupo de médicas, uma nutricionista, uma psicóloga e uma clínica geral.

No começo eu dava gargalhada quando diziam que eu estava doente, achava que elas estavam loucas, e em uma semana eu seria dispensada. Com o tempo entendi que não era assim.

Aos poucos foram incluídos os alimentos no meu esquema alimentar, para que eu aumentasse de 500 a 800g por semana. Perdi mais 3 quilos antes de começar a repor peso. Foi difícil, tenho que comer tudo, era vigiada 24 horas pela minha mãe, ela me servia, cuidava de mim como um bebê. Era assim que eu estava. Me irritava, chorava, esperneava, mas ela não dava bola e eu me sentia incompreendida, estava sendo envenenada pela minha família.

Mas desde o começo vi que não podia enganar a minha família, nem minha médica, deixando de comer ou fazendo exercícios, que são proibidos, por isso nunca os fiz. Chorava muito, todos os dias, me sentia sozinha lutando contra todos, e ainda tendo que esconder das minha amigas, porque aquilo não parecia ser real.

Apesar de não querer comer, queria cozinhar, fazer banquetes, doces, “engordar os outros também”. Via programas de receitas, colecionava livros de comida, decorei as calorias de tudo, não pensava em outra coisa. Só me dei conta de como estava o meu corpo quando vi uma foto no meu aniversário, em novembro, que eu estava parecendo morta, sem exageros! Imagino o que os outros achavam de mim!

Bom, agora aumentei 3 quilos, com custo, e ainda faltam alguns. Mas já tenho alguma liberdade, faço algumas refeições sozinha, e atividades normais, se não for exercício, claro! Mas mesmo assim, ainda hoje eu penso que quando eu estiver “livre” vou fazer tudo de novo, vou ficar um palito, mas bem longe daqui, onde ninguém possa me impedir. Acho que só assim posso ser como quero. É bobagem, mas…

Bibliografia

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