Autor: Evelise Aline Soares
Características Físicas e Eletroacústicas dos Aparelhos de Amplificação Sonora Individual (AASIs)
1 – INTRODUÇÃO
O órgão vestíbulococlear é o receptor das ondas sonoras e o transformador destas ondas mecânicas em impulsos elétrico (nervosos) transmitidas para os centros corticais relacionados com a audição e também será responsável pelo sentido de equilíbrio. É dividido em três orelhas, que é a nova nomenclatura que deixou de lado o termo ouvido : (1) orelha externa; (2) orelha média e (3) orelha interna (LARTARJET & LIARD, 1996).
Dessas partes a mais importante é o ouvido interno, pois sua porção anterior, a cóclea, abriga o órgão de Corti, que é uma estrutura mecano-receptora essencial à audição (COSTA, CRUZ & OLIVEIRA, 1994).
Segundo BRAGA, MORAES & VASCONCELOS (1998), desde o século XVIII, o homem utiliza-se de instrumentos na tentativa de suprir suas dificuldades auditivas, iniciando com objetos de natureza mecânica, como as trombetas, até os dias de hoje, com o surgimento da Era Digital.
A deficiência auditiva atinge milhões de pessoas devido a uma série de fatores, tais como: hereditariedade, acidentes, traumas, doenças, envelhecimento do organismo, etc. Da mesma forma que a deficiência visual, a deficiência auditiva também apresenta graus e tipos de perda que irão caracterizar individualmente o modo de tratamento.
É muito importante observarmos que a prevenção contra a perda auditiva é um comportamento que devemos praticar em nosso cotidiano para chegarmos a uma idade avançada com o mínimo de perda auditiva. A não exposição constante a ruídos muito intensos e o cuidado com a ingestão de drogas (remédios) que podem provocar deficiência auditiva é de extrema importância para garantirmos a perfeita audição ao longo do tempo.
Normalmente a deficiência auditiva não é do tipo “tudo ou nada”, de modo que o indivíduo escuta de acordo com o seu resíduo auditivo. Os graus de perda variam desde uma perda suave até uma perda profunda, passando por perdas moderadas e severas. Para cada tipo e grau de perda dispomos atualmente de aparelhos de amplificação sonora que auxiliam cada indivíduo de forma muito significativa, pois os aparelhos auditivos são selecionados e adaptados sob medida de acordo com o tipo e grau de perda apresentada pelo deficiente auditivo.
Os aparelhos auditivos constituem-se em sofisticados instrumentos eletrônicos miniaturizados e alimentados por uma pequena pilha. Eles amplificam o som ambiental e os sons da fala, aumentando o volume desses sons e permitindo, dessa forma, que o usuário do aparelho escute mais e compreenda melhor. Para o uso de aparelhos de amplificação sonora existe a necessidade de um exame auditivo minucioso (exame audiométrico) que irá possibilitar a indicação mais adequada.
OBJETIVOS
O objetivo do presente trabalho é esclarecer quais são as características físicas e eletroacústicas dos Aparelhos de Amplificação Sonora Individual (AASIs).
2 – REVISÃO DE LITERATURA
2.1 – CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DOS AASIS
Uma prótese auditiva é um sistema que capta o som do meio ambiente, aumenta sua intensidade e o fornece, amplificado, ao usuário (ALMEIDA & IORIO,1996).
As próteses são compostas de diversas partes e possuem vários controles que permitem ajustar os parâmetros de amplificação (ou características eletroacústicas) para que o usuário receba o som da forma mais adequada possível (CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
Segundo ALMEIDA & IORIO (1996), as próteses são basicamente compostas por um microfone, um amplificador, receptor e as pilhas que garante o funcionamento do aparelho.
A primeira parte importante da prótese auditiva é o microfone, que capta o som do ambiente e o transforma em um sinal elétrico equivalente. A seguir, este sinal elétrico é enviado a um sistema de amplificação, onde é aumentado e modificado conforme o necessário. Finalmente o sinal elétrico é enviado ao receptor, que retransforma o sinal elétrico em acústico e o envia ao usuário. Assim funcionam as próteses auditivas analógicas ou tradicionais (CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
2.1.1 – TIPOS DE APARELHOS DE AASIS
Podemos encontrar tipos de AASI diferente para diferentes classificações, sendo assim encontraremos classificações quanto o local de uso e quanto o tipo de condução do som. Sendo assim teremos:
De acordo com o local de uso – Em 1940, surgiram as primeiras próteses auditivas portáteis de caixa, seguindo-se as retro-auriculares (adaptadas atrás do pavilhão auricular) e as intra-aurais (adaptadas dentro da concha e do meato acústico externo).
Deste último grupo fazem parte as próteses intra-canais e micro-canais (C. I. C. – completamente dentro do canal).
A diferença entre eles está no posicionamento dentro do meato acústico externo e na distância até a membrana timpânica, com conseqüentes diferenças quanto ao nível de amplificação sonora (BRAGA, MORAES & VASCONCELOS, 1998).
De acordo com o local de uso teremos:
I – Haste de óculos – Junto a haste do óculos são moldados os componentes do AASI que comunicam-se com um molde auricular.
II – AASI convencional ou de caixinha – Possui o microfone e o amplificador localizados em uma caixinha que pode ser presa a roupa do usuário. Esta caixinha através de um fio conecta-se a um receptor externo que esta acoplado ao molde direto. Estes AASIs são pouco utilizados e possuem a transmissão do som por via aérea e óssea.
III – Retro auricular – Todos os componentes estão localizados dentro de um compartimento que se adapta ao pavilhão, o seu microfone localiza-se na porção superior . É um aparelho que chega a dar ganhos para as perdas profundas possuindo boa aceitação estética e também pode ser encontrado em número menor onde terá o nome de mini-retro.
IV – Intra auricular – menor que o retro e ocupa a concha e o meato acústico externo, é mais caro que o retro devido a redução de seus componentes.
V – Intra canal – menor que o intra auricular e localizado no meato acústico externo no seu interior, porém é mais caro que os demais mas trará ao paciente maior estética.
VI – Micro canal – menor e mais caro que os demais estando localizado na parte profunda do meato acústico externo, sendo montado no próprio molde.
De acordo com a condução – De acordo com a condução – teremos:
I – Condução por via aérea – fornece o som amplificado ao usuário pelo receptor através de uma onda mecânica .
II – Condução óssea – o aparelho amplifica o som e o passa para o usuário por vibração óssea posicionado na mastóide.
2.1.2 – COMPONENTES INTERNOS DOS AASIS
As partes internas principais do AASIs são o microfone, o sistema de amplificação e o receptor, embora a pilha e os sistemas de entrada alternativos.
A – MICROFONE – O microfone, que converte o sinal acústico do ambiente em um sinal elétrico equivalente, é portanto denominado transdutor de entrada da prótese auditiva. Existem vários materiais possíveis para a confecção de microfones (carbono, cristal, cerâmica) e vários deles foram utilizados em aparelhos auditivos. Atualmente, entretanto, praticamente só é utilizado o microfone de eletreto, um material sintético com propriedades elétricas especiais (CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
Os microfones podem apresentar características especiais no que diz respeito à sensibilidade à direção da fonte sonora e a resposta de freqüências transmitida. Quanto à sensibilidade à direção da fonte sonora, os microfones podem ser omnidirecionais ou direcionais (CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
Os microfones omnidirecionais captam da mesma forma os sons vindos de qualquer direção, sendo atualmente os mais utilizados. Podem ser reconhecidos pela existência de uma única abertura para a entrada do som (CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
Os microfones direcionais captam melhor os sons frontais até um ângulo de 450 e, em função de suas características, atenuam a resposta de baixa freqüência da prótese auditiva. Este tipo de microfone pode ser reconhecido por suas duas entradas de som: a dianteira, comum, e uma segunda abertura na parte de trás da prótese (CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
Segundo ALMEIDA & IORIO (1996), ele é chamado de gradiente de pressão porque seu funcionamento baseia-se na diferença de pressão sonora.
Além dos microfones direcionais, algumas outras construções especiais de microfones permitem que os mesmos sejam mais sensíveis a determinada região de freqüências. Com isto, os microfones podem alterar de forma efetiva a resposta de freqüências da prótese. Assim os microfones podem ter uma resposta semelhante para todas as freqüências, sendo chamados de microfones de resposta plana. Se, por outro lado, apresentarem uma sensibilidade menor para as baixas freqüências, têm-se os microfones em rampa ou meia-rampa. (CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
B – AMPLIFICADOR – é o sistema que tem a função de aumentar a intensidade do sinal elétrico gerado pelo microfone. E o principal responsável pelas características de ganho da prótese auditiva (CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
Segundo ALMEIDA & IORIO (1996), o amplificador possui uma capacidade de amplificação própria (denominada ganho), que é função de suas características de construção.
Uma prótese auditiva normalmente não possui apenas um amplificador, mas vários estágios de amplificação (na realidade uma seqüência de amplificadores). O tipo do último amplificador do conjunto (STAAB & LYBARGER, 1994, citado por CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997), identifica algumas características da prótese auditiva. Os amplificadores usados em próteses auditivas dividem-se em :
O amplificador Classe A é normalmente usado em próteses auditivas de pequeno ganho e saída máxima reduzida. Apresenta um nível importante de distorção quando usado em altas intensidades de sarda e possui um consumo de pilha bastante grande.
O amplificador Classe B— push-pull, por sua vez, é caracterizado pela baixa distorção, sendo capaz de fornecer um maior ganho, melhor resposta de freqüências e maior saída máxima, com menor consumo de pilha, do que o amplificador Classe A. Sua grande desvantagem é o espaço necessário na prótese para sua construção.
Os amplificadores Classe O e Classe H (KRAUSS, BOSTIAN & RAAB, 1980 citados por CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997), são amplificadores de alta eficiência que também fornecem uma melhor resposta de freqüências, maior ganho e maior saída máxima, com menor consumo de pilha, do que o amplificador Classe A. Sua principal vantagem em relação ao Classe B — push-pull é, porém, o fato de serem pequenos o suficiente para permitir que próteses como as intracanais incorporem os benefícios anteriormente descritos.
3 – RECEPTOR – Segundo ALMEIDA & IORIO (1996), a função do receptor é oposta ao do microfone, pois transforma o sinal eletrico em mecânico.
O receptor é o componente da prótese auditiva que tem a função de retransformar o sinal elétrico amplificado em sinal acústico. Sendo assim, tal qual o microfone, é um transdutor, no caso o transdutor de saída, da prótese auditiva. Todos os receptores utilizados em próteses auditivas são magnéticos, embora o tipo varie conforme seja um receptor interno (em próteses retroauriculares e intra-aurais) ou externo (em próteses auditivas convencionais) (CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
De acordo com ALNMEIDA & IORIO (1996), teremos os tipos: armadura balanceada e tipo telefone.
C – PILHA – A pilha não é exatamente um componente da prótese auditiva, mas a fonte de energia necessária para o sistema funcionar. Uma pilha é, conceitualmente, um reservatório de energia química que pode ser convertida em energia elétrica quando desejado. Normalmente, a pilha é constituída por dois metais diferentes (eletrodos) imersos em um meio químico (eletrólito) (CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
Os diferentes tipos de próteses auditivas utilizam tipos diferentes de pilhas. Normalmente, as próteses auditivas convencionais utilizam pilhas alcalinas comuns do tipo AA ou AAA. Já as próteses retroauriculares e intra-aurais necessitam de pilhas especiais.
A grande vantagem das pilhas especiais usadas em próteses auditivas é o fato de elas manterem uma tensão (entre 1,3V e 1,5V) praticamente constante durante toda sua vida útil. Isto evita que a saída e o ganho da prótese diminuam progressivamente, conforme a pilha se desgasta.
A duração das pilhas de prótese auditiva varia conforme o tipo de amplificador usado. Já foi comentado que o amplificador Classe A tem um consumo relativamente alto em relação aos demais tipos de amplificadores. Isto acontece porque, neste tipo de amplificador, o consumo é constante, não importando se há ou não som entrando na prótese. Os amplificadores Classe 8— push pull, Classe De Classe H, por sua vez, não consomem em locais silenciosos, sendo o Classe D ainda mais econômico, neste aspecto, do que o Classe B — push-pull (KILLION, 1993, citado por CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
2.1.3 – TIPOS DE MOLDES AURICULARES
A seleção do estilo e características do molde auricular dependerá do tipo de prótese auditiva a ser utilizado, das modificações acústicas necessárias a cada caso e do conforto do usuário.
Teremos os seguintes tipos:
O molde direto que é utilizado com prótese de caixa ou convencional. Possui uma arruela, que permite o encaixe do receptor externo ao molde. Quando usado por crianças, deve ter a área da hélix, pois ajuda manter o molde no lugar (ALMEIDA & IIORIO, 1996).
O Molde Invisível que são molde padrão utilizado com as próteses retroauriculares e embutidas em hastes de óculos. Aceita facilmente todas as modificações acústicas possíveis
O molde canal é auto-explicativo. Geralmente, indicado para atender necessidades estéticas, deve ser bastante longo para evitar problemas de deslocamento e microfonia durante a mastigação ou fala. De forma geral, quanto mais potente for a prótese auditiva, maior será o risco de ocorrência de realimentação acústica ou microfonia (ALMEIDA & IIORIO, 1996).
Uma versão mais teve do molde concha, pode ser feita removendo-se grande parte do material e deixando a área da concha escavada. Este estilo de molde é indicado, especialmente, para crianças usuárias de prótese auditiva potentes, sendo aconselhável a manutenção da porção (ALMEIDA & IIORIO, 1996).
Os moldas para próteses auditivas intra-aurliculares, variam bastante, uma vez que as caixas deste tipo de aparelho são individualizadas e o estilo do molde dependente da forma e do tamanho do medo acústico externo e da concha do paciente. Para obtermos uma adaptação perfeita, vedação acústica e boa fixação à orelha do usuário, é fundamental uma impressão precisa (ALMEIDA & IIORIO, 1996).
Além dos tipos de moldes temos que dominar as modificações acústicas que os mesmo devem ou não apresentar, que são as seguintes: ventilação, efeito corneto, danper, reverse horn e filtro. Onde cada um quadrará nas características apresentadas pelo paciente.
2.1.3.1 – MATERIAIS DOS MOLDES
Quanto o material para a fabricação dos moldes teremos dois tipos o de acrílico e o de silicone, sendo que o de silicone é o mais indicado.
2.2 – TIPOS DE TECNOLOGIA DOS AASIs
Segundo WIESELBERG (1999), por décadas, as indústrias de aparelhos auditivos têm tentado resolver os problemas acima de diferentes formas, mas com limitado sucesso.
O grande avanço só aconteceu recentemente, quando o processamento de sinal dos aparelhos auditivos passou da tecnologia analógica para a digital. A tecnologia digital torna possível obter processamento de sinal que se adapta automática e continuamente à variação acústica do ambiente, assim como é possível programar os dados da perda auditiva do paciente no aparelho (WIESELBERG, 1999).
2.2.1 – PRÓTESES AUDITIVAS ANALÓGICAS
Chamamos o aparelho de analógico devido ao fato da onda elétrica dentro do circuito de amplificação ser equivalente em aparência à onda sonora captada pelo microfone do aparelho. Este sinal elétrico é amplificado e filtrado, sendo posteriormente reconvertido pelo receptor em onda sonora.
Segundo ALMEIDA & IORIO (1996), as vantagens da utilização da tecnologia convencional analógica são o baixo custo e a miniaturização de seus componentes, a familiaridade existente com a tecnologia e o baixo consumo de energia. Suas limitações são: menor versatilidade dos circuitos, o que torna a adaptação individual mais difícil e restrições quanto ao processamento de sinal, que podem ser realizadas por seus circuitos miniaturizados.
2.2.2 – PRÓTESES AUDITIVAS DIGITAIS
Os avanços tecnológicos permitiram o desenvolvimento do processamento do sinal eletrônico, proporcionando uma qualidade sonora muito além do que se obtinha anos atrás. Enquanto as próteses auditivas analógicas amplificam a onda sonora de forma análoga à original, as digitais processam a amplificação de forma computadorizada, garantindo maior qualidade de som e fidedignidade à onda sonora que está sendo amplificada (LINHARES, YOSHIDA, BRAGA, 1997).
CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols (1997), referem que as próteses auditivas totalmente digitais têm um sistema diferente, onde o som é primeiramente convertido em um sinal elétrico, que por sua vez é convertido em um sinal digital. Este sinal digital passa por um processamento, onde são feitas as alterações desejadas, e é então reconvertido em sinal elétrico. Por último, o sinal elétrico é reconvertido em som e fornecido ao usuário. Nestas próteses, existe um microprocessador com um programa que realiza e controla as alterações necessárias no sinal digital. Um aparelho digital não consiste apenas dos seus circuitos eletrônicos e transdutores, mas também de uma programação para controlar tais circuitos. Tanto o processamento do sinal sonoro, quanto o controle deste processamento são feitos através de meios digitais.
De acordo com ALMEIDA & IORIO (1996), o sistema contém um microfone que capta a onda sonora e a transforma em elétrica, exatamente como na prótese auditiva analógica. Antes do sinal ser enviado para o amplificador convencional, passa por um mecanismo chamado de conversor analógico/digital (A/D). Este conversor transforma o sinal elétrico em uma seqüência de dígitos, os quais são então enviados para um microprocessador que efetuará as filtragens e a amplificação necessárias.
O microprocessador é a alma deste sistema, no qual o sinal digital será processado pelo programa, de acordo com um ou mais algoritimos. Se o microprocessador, por exemplo, estiver programado para multiplicar cada número que chega por mil, uma sequência numérica muito maior representará o mesmo sinal de entrada, porém “amplificado”. Uma vez que o sinal é uma seqüência de números, muitas modificações adicionais podem ser realizadas, algumas das quais não poderiam ser efetuadas por intermédio da eletrônica convencional analógica. Através de programas de computador, que realizam várias computações na seqüência numérica, muitas características específicas podem ser implementadas, tais como: filtragens múltiplas do sinal, amplificadores multicanal, ajustes seletivos dos níveis de saída máxima, controle automático do ganho, dependendo da estrutura do sinal e do ambiente acústico, sistemas de compressão refinados e uma ampla variedade de efeitos (ALMEIDA & IORIO, 1996).
A seqüência numérica “amplificada” é, então, enviada para um conversor de sinais digital/analógico (D/A), que é essencialmente o inverso do processo de conversão analógico/digital, e é transformada em sinal elétrico que possa ser enviado ao receptor que, por sua vez, o reproduzirá amplificado e reconvertido em onda sonora (ALMEIDA & IORIO, 1996).
Um aparelho é considerado completamente digital quando possui um conversor analógico/ digital, o qual converte o sinal de fala em dígitos para poderem ser processados. O consumo de energia e a velocidade necessária para executar todos os algoritimos, ainda hoje, são as principais limitações do processamento digital de sinal. Além disso, é necessário para acomodar circuitos adicionais, baterias e programas (ALMEIDA & IORIO, 1996).
2.2.3 – PRÓTESES AUDITIVAS HÍBRIDAS
Segundo ALMEIDA & IORIO (1996), o termo híbrido indica a combinação de dois tipos diferentes de tecnologia e dá a idéia de que a prótese auditiva não é completamente analógica ou digital, mas parte de cada um deles . Essencialmente, é um aparelho analógico que possui um ou mais componentes digitais. Este tipo de combinação utiliza o melhor do circuito analógico e o aprimora, incorporando os benefícios da eletrônica digital. Nesse caso, o sinal sonoro nunca é convertido em dígitos; porém, internamente no aparelho, existe um chip que controla ou altera o modo como o som ser amplificado.
Neste tipo de prótese, cada vez mais popular, todo o processamento do sinal pela prótese é feito de forma analógica, exatamente como nas próteses analógicas comuns. Entretanto, existe a possibilidade de programar os parâmetros de amplificação através de um sistema digital, onde os ajustes mais adequados a um determinado indivíduo são armazenados na memória do aparelho, bastando alterar a programação para redefini-los (CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
A resposta de freqüência, o ganho acústico, a saída máxima, a compressão e outros parâmetros são ajustados através de uma conexão com uma unidade externa de programação. Possui um chip de memória, no qual os ajustes selecionados são estocados e podem ser reprogramados sempre que necessário. Alguns aparelhos programáveis possuem apenas uma memória; outros duas, três ou até quatro (ALMEIDA & IORIO, 1996).
2.3 – CARACTERÍSTICAS ELETROACÚSTICAS DOS APARELHOS AUDITIVOS
As próteses auditivas são instrumentos que amplificam e modificam os sinais sonoros do ambiente para adptar-lós a um indivíduo deficiente auditivo. Possuem características eletroacústicas, que desempenham operacional quando processa um sinal sonoro (ALMEIDA & IORIO, 1996).
As características eletroacústicas de uma prótese auditiva são a descrição de seu desempenho operacional quando processam o sinal sonoro. Ou, em outras palavras, correspondem à descrição de o quê a prótese auditiva ‘faz”(CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
As principais características eletroacústicas das próteses auditivas estão em correlação direta às características de uma audição deficiente. Elas são basicamente: o ganho acústico, relacionado ao grau de perda auditiva, a resposta de freqüências, relacionada à configuração do audiograma do indivíduo, e a saída máxima, relacionada ao nível de desconforto para sons intensos apresentado pelo mesmo “(CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
O processo de adaptação de próteses auditivas em crianças inclui também, além da seleção e acompanhamento do fonoaudiólogo, a orientação familiar, terapia de fala e linguagem, bem como o encaminhamento escolar adequado, sempre que necessário (LICHTING & CARVALHO, 1996).
Algumas outras características de funcionamento além do ganho, resposta de freqüências e saída máxima, podem ser importantes no manejo das próteses auditivas. Entre elas, destacam-se a distorção e a realimentação acústica.
Saída máxima
A saída máxima de um aparelho é o maior nível de pressão sonora que ele é capaz de produzir, sendo normalmente uma função do amplificador e, principalmente do receptor da prótese (ALMEIDA & IORIO, 1996).
Nos indivíduos com perdas auditivas, particularmente aqueles com perdas neurossensoriais, o nível de desconforto não se altera na mesma proporção que o limiar de audibilidade, fazendo com que os sons muito intensos sejam tão desconfortáveis para os mesmos quanto são para indivíduos normais (em um fenômeno conhecido como recrutamento). Assim, uma prótese auditiva não pode amplificar indefinidamente os sons, sob pena de estes sons se tornarem insuportáveis. Do mesmo modo, todos os aparelhos sonoros possuem limitações inerentes à sua construção que limitam a intensidade máxima que os mesmos conseguem reproduzir (CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
Novamente, a saída máxima é um dado que costuma ser fornecido em uma freqüência em particular ou através de um gráfico em função da freqüência nas fichas técnicas. Se a saída máxima de uma prótese auditiva não for adequada, pode impedir a utilização da prótese ou, ainda, gerar um deslocamento temporário ou mesmo permanente, dos limiares de audibilidade.
Um fato importante na análise da saída máxima é o fato de o nível de pressão sonora gerado em uma cavidade (como o formado entre a ponta do molde auricular e a membrana timpânica) ser dependente do tamanho desta cavidade (CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
Ganho acústico
Um indivíduo que tem dificuldade em escutar sons de baixa intensidade precisa que estes sons sejam amplificados, conforme já foi dito. Quanto maior a perda de audição, maior será a amplificação necessária. A quantidade de amplificação fornecida por uma prótese auditiva é o seu ganho acústico “(CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
Para ALMEIDA & IORIO (1996), o ganho acústico é a diferença em decibeis entre o som que sai e o som que entra na prótese auditiva. Desta forma, para uma prótese auditiva com 40 dB de ganho, um som ambiente de 60 dB será fornecido ao usuário com uma intensidade de 100 dB. O ganho acústico deve ser sempre expresso em decibeis.
O ganho de uma prótese deve ser fornecido pelo fabricante na ficha técnica que acompanha a mesma. Entretanto, nenhuma prótese auditiva tem um ganho acústico perfeitamente igual em todas as freqüências e existem controles que permitem modificar este ganho. Assim, o ganho pode vir descrito como um valor único, representando toda a faixa de freqüências através de uma média ou de uma única freqüência considerada representativa. ldealmente, porém, o ganho deve ser analisado através de um gráfico, onde o valor de ganho em cada freqüência possa ser verificado (CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
O ganho acústico fornecido por uma prótese auditiva para um determinado indivíduo também pode ser verificado diretamente através de medidas específicas. Quando o ganho de uma prótese é definido em termos da diferença dos limiares de audibilidade em campo livre com e sem a prótese auditiva, dá-se a este valor o nome de ganho funcional (COSTA e cols., 1993, citado por CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
Por outro lado, determinados equipamentos permitem verificar qual a pressão sonora que está sendo liberada pela prótese no meato acústico externo do indivíduo. Quando o ganho acústico da prótese é definido em termos da pressão sonora em um ponto da orelha do usuário com a prótese e o nível de pressão sonora neste mesmo ponto sem a prótese, dá-se a este valor o nome de ganho de inserção (CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
Segundo ALMEIDA & IORIO (19960, o ganho funcional é a diferença entre os limiares de audibilidade em campo livre com e sem o AASI.
Resposta de freqüências
A resposta de freqüências de uma prótese auditiva é, portanto, a relação de amplificação existente entre as diversas freqüências. Este dado é sempre fornecido na ficha técnica da prótese através de um gráfico, com as diferentes freqüências no eixo horizontal e valores de ganho acústico no eixo vertical (ALMEIDA & IORIO, 1996 ; CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
Variações na resposta de freqüências das próteses auditivas permitem fornecer uma ênfase nos sons graves ou agudos, através do destaque das baixas ou altas freqüências em relação ao todo do sinal complexo do ambiente. Esta resposta também pode ser alterada em algumas próteses auditivas, conforme o necessário, através de sistemas específicos ou através de modificações acústicas nos moldes auriculares (CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
A resposta de freqüências também pode ser representada, de forma simplificada, através da faixa de freqüências, onde dois números referem os limites menor e maior da faixa de freqüências utilizável da prótese auditiva.
Distorção
Distorção é uma falha do sistema de amplificação em transmitir ou reproduzir um determinado som. A distorção pode ou não interferir na inteligibilidade de fala, porém ela é responsável pelo julgamento de qualidade do parelho (ALMEIDA & IORIO, 1996).
Esta alteração pode ser desejada, como no caso das variações na resposta de freqüências importantes para a adaptação da prótese, mas também pode ser indesejada, como quando a onda é modificada de uma forma desnecessária ou prejudicial. Normalmente, as distorções não desejadas geram uma diminuição na qualidade de som do aparelho, sendo que as distorções mais graves podem até mesmo afetar a inteligibilidade. Em algum grau, toda prótese auditiva tem distorção, mas quanto menor esta for, mais “limpo” será o som da prótese (CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
Realimentação acústica
A realimentação acústica é um processo que ocorre quando o som liberado pelo receptor é captado novamente pelo microfone da prótese auditiva, gerando um “apito” audível tanto para o usuário da prótese (em alguns casos) como para aqueles que estão ao seu redor. Este mesmo fenômeno é conhecido popularmente como “microfonia” (CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
Este problema é especialmente grave para aqueles indivíduos com perdas auditivas importantes, que necessitam de grandes valores de ganho e, normalmente, os maiores problemas com realimentação acústica ocorrem com próteses auditivas com ênfase nas altas freqüências (POLLACK, 1988). Entretanto, com técnicas adequadas, estes problemas podem ser resolvidos na maior parte dos casos.
A realimentação acústica também se inicia freqüentemente por deterioração do molde auricular ou, no caso das crianças, pelo crescimento da orelha externa. Nestes casos, a dificuldade pode ser facilmente solucionada com a troca do molde por um novo (CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
2.4 – FICHAS TÉCNICAS
Um ponto importante na análise das características eletroacústicas de uma prótese auditiva é saber como os dados constantes nas fichas técnicas foram obtidos. Existem vários modos de se verificar estas características e várias normas que regulam a construção das fichas técnicas. Todas as características eletroacústicas de uma prótese auditiva podem ser medidas da mesma forma: com os controles adequadamente ajustados, um sinal acústico é aplicado ao microfone da prótese auditiva e a saída do receptor é analisada após passar por um dispositivo padronizado, dentro de uma câmara anecóica (CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
Estes dispositivos padronizados podem ser peças de metal, denominados acopla dores, ou sistemas mais aperfeiçoados, como um manequim, o KEMAR (BURKHARD & SACHS, 1975), que simula as características acústicas de um ser humano adulto normal.
Os acopladores são os sistemas normalmente utilizados para a confecção das fichas técnicas e são basicamente de dois tipos: o acoplador de 2,0 ml e o simulador de ouvido. O acoplador de 2,0 ml é um cilindro simples de metal com 2,0 ml de volume na sua cavidade interna. Como é possível imaginar, os resultados de medidas das características eletroacústicas obtidos com este acoplador diferem bastante dos resultados obtidos em um indivíduo (CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
Assim, em 1974 (KASTEN & FRANKS, 1986; POLLACK, 1988; LIBBY & WESTERMANN, 1988; STAAB & LYBARGER, 1994) foi introduzido o simulador de ouvido, com uma cavidade de 1,2 ml (valor bem mais próximo do real nas orelhas adultas) e uma série de outros dispositivos destinados a simular as características acústicas de uma orelha (CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
Apesar disso, nenhum dos sistemas consegue fazer uma previsão exata dos resultados obtidos com a prótese auditiva em um determinado indivíduo, pois inúmeros fatores interferem nesta reposta. De uma forma geral, pode-se dizer que a interação entre cada prótese e cada indivíduo é única, e leva a resultados únicos.
Para que as fichas técnicas das próteses auditivas possam ser comparadas, é preciso que as mesmas tenham sido confeccionadas de um modo padronizado. Assim, as fichas técnicas são construídas de acordo com normas nacionais ou internacionais que padronizam as medidas a serem apresentadas e o modo de realizá-las(CAMPIOTTO, LEVY, HOLZHEIN, e cols, 1997).
Hoje em dia, há basicamente dois grandes grupos de normas técnicas, embora alguns outros países tenham normas próprias: as normas internacionais do International Electrotechnical Commission (1 EC) e as normas americanas do American National Standards Institute (ANSI). Como o próprio nome diz, a norma ANSI é adotada nos EUA e a norma IEC, internacionalmente. O Brasil não adota oficialmente nenhuma norma, mas existe a preferência de uso pelas normas internacionais. Entretanto, boa parte da bibliografia sobre aparelhos auditivos, por ser oriunda dos EUA, faz referência às normas ANSI.
As normas ainda apresentam diferenças no tipo de medidas realizadas e outros detalhes, o que faz com que os dados fornecidos nas fichas construídas de acordo com a norma americana sejam bastante diferentes dos dados fornecidos nas fichas de acordo com a norma internacional. Uma discussão mais detalhada sobre as normas existentes e as diferenças e particularidades de cada uma pode ser encontrada em MENEGOTTO, ALMEIDA & IORIO, 1996.
3 – Conclusão
O deficiente auditivo contar com o trabalho de profissionais da área (médicos otorrinos e fonoaudiólogas) que farão os testes necessários para o diagnóstico do problema auditivo e a seleção do aparelho que apresentará o melhor resultado. Ressaltamos que será indicado um modelo específico de aparelho auditivo para cada tipo e grau de perda e que o aparelho é adaptado ao ouvido deficiente através de um molde plástico construído sob medida. Esta adaptação é, portanto, personalizada e confortável, permitindo que o paciente tenha um bom e completo aproveitamento do aparelho.
Os aparelhos auditivos podem ser comparados a óculos para os ouvidos pois, de forma análoga a um par de óculos ajustando a luz, o aparelho auditivo ajusta os sons de modo a compensar eventual deficiência auditiva.
Esses profissionais estão em condições de fornecer os esclarecimentos necessários para auxiliá-lo quanto à sua deficiência auditiva e orientá-lo, se este for o caso, quanto à aquisição e uso de um aparelho auditivo.
Os modelos de aparelhos auditivos mais conhecidos são o intracanal (usado dentro do conduto auditivo) e o retro-auricular (usado atrás da orelha) e, em grande parte, são fabricados no Canadá, nos Estados Unidos e também em alguns países da Europa. Normalmente são aparelhos de alta qualidade e dotados dos mais recentes avanços tecnológicos para amplificação de som, capazes de ajudar a resolver a grande maioria das perdas auditivas. Eles são importados e estão disponíveis aqui no Brasil por preços equivalentes aos praticados em todo o mundo.
O não conhecimento do aparelho e suas características pode levar o profissional a realizar regulagem não compatíveis as características necessárias pelo paciente, o que pode gerar desconforto e até mesmo desinteresse pelo paciente em utilizar o aparelho.
4 – Referencias bibliográficas
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