Auguste Conte
Os estados teóricos de nossas especulações são: teológico, metafísico e positivo. Para Conte a mudança dos estados teológico e metafísico era certa.
Em seu primeiro impulso, necessariamente teológico, todas as nossas especulações manifestam espontaneamente uma predileção característica por questões mais insolúveis; baseia-se em conhecimentos absolutos e é indispensável, a esse respeito, ter uma visão verdadeiramente filosófica sobre o conjunto de sua marcha natural, a fim de apreciar sua identidade fundamental sob as três formas principais que sucessivamente lhe são próprias, sendo elas: fetichismo, onde todos os corpos exteriores têm vida essencialmente análoga à nossa; politeísmo, onde a preponderância especulativa da imaginação, a vida transportada misteriosamente dos objetos materiais para fictícios diversos, habitualmente invisíveis; e monoteísmo, que caracteriza o declínio da filosofia inicial, a razão cada vez mais restringindo o domínio anterior da imaginação, o desenvolvimento gradual do sentimento universal da sujeição necessária de todos os fenômenos naturais à leis invariáveis.
I
O espírito teológico foi por muito tempo indispensável a combinação direta das idéias morais e políticas.
II
Estado metafísico ou ontológico – filosofia intermediária entre o estado teológico e o positivo. Se aproxima muito mais do estado teológico do que do positivo. Tenta explicar a natureza íntima dos seres, a origem e o destino de todas as coisas. O meio de produção essencial de todos os fenômenos. Substitui os agentes sobrenaturais progressivamente por “entidades” ou abstrações personificadas, designadas, muitas vezes de “ontologia”; não é mais a pura imaginação que domina. Adquire muita extensão e se prepara para o exercício verdadeiramente científico. A parte especulativa é primeiramente muito exagerada (é característica sua argumentar em lugar e observar). Não é, no fundo, mais do que uma espécie de teologia gradualmente inervada por significações dissolventes, que lhe tiram espontaneamente o poder direto de impedir o crescimento especial das concepções positivas, conservando-lhe, entretanto, a aptidão provisória de manter certo exercício indispensável para o espírito da generalização, até que ele possa enfim receber melhor alimento. Considera-se o estado metafísico como uma espécie de doença crônica, naturalmente inerente à nossa evolução mental, individual ou coletiva, entre a infância e a virilidade. Sua natureza é essencialmente dissolvente.
III
Essa longa sucessão de preâmbulos necessários conduz, enfim, nossa inteligência, gradualmente emancipada, a seu estado definitivo de positividade racional. Reconhecemos de agora em diante, como “regra fundamental”, que toda proposição que não seja estritamente redutível ao simples enunciado de um fato não pode oferecer nenhum sentido real e inteligível. Tem princípios dos fatos verdadeiros. Seja qual for o modo de proceder à sua descoberta, é sempre de sua conformidade com os fenômenos observados que resulta exclusivamente sua eficácia cientifica; perde sua supremacia mental da imaginação e sua subordinação necessariamente à observação (estado lógico plenamente normal).
Revolução fundamental: substituição da determinação das causas pela simples pesquisa das “leis” (relação entre os fenômenos observados). Conhece-se as ligações mutuas próprias à realização, mas nunca a produção. Apreciação sistemática daquilo que é. Conhecimento relativo à nossa organização e à nossa situação. O conjunto de nossas condições próprias, exteriores ou interiores, afetam inevitavelmente cada um de nossos estudos positivos.
Os fenômenos humanos são individuais, mas também são sobretudo sociais.
A lei geral do movimento fundamental da Humanidade consiste em que nossas teorias tendem, cada vez mais, a representar exatamente os assuntos exteriores de nossas constantes investigações, sem que entretanto a verdadeira constituição de cada um deles possa, em caso algum, ser plenamente apreciado. Cada mudança sucessiva conserva uma aptidão indefinida para representar fenômenos que lhes serviram de base, ao menos enquanto não se deva ultrapassar o grau primitivo de precisão efetiva.
Importa sentir que o verdadeiro espírito positivo não está menos afastado do empirismo do que do misticismo. Nas leis dos fenômenos consiste realmente a “ciência”, à qual os fatos propriamente ditos, em que pese a sua exatidão e o seu numero, não fornecem mais do que os materiais indispensáveis. A verdadeira ciência tende sempre a dispensar, quando possível, a exploração direta, substituindo-a por essa previsão racional que constitui o principal caráter do espírito positivo. Desconhecemos a fonte deste conhecimento. Depois de ter considerado o espírito positivo relativamente aos objetos exteriores de nossas especulações, é preciso terminar de caracteriza-lo, apreciando também sua destinação interior, para a satisfação contínua de nossas próprias necessidades, quer digam respeito à vida contemplativa, quer a vida ativa.
IV
É incontestável a existência direta e permanente das necessidades mentais em todas as inteligências; constituem o primeiro estimulo indispensável a nossos diversos esforços filosóficos, atribuídos demasiadamente sobretudo aos impulsos práticos que não seriam capazes de faze-los nascer.
As exigências intelectuais reclamam sempre uma feliz combinação de estabilidade e de atividade, em outras palavras as necessidades de “ordem e de progresso”. Somente as concepções teológico-metafísica poderiam fazer provisoriamente a essa dupla condição fundamental, embora de uma maneira extremamente imperfeita.
*Por progresso Comte entendia o melhoramento continuo de nossa condição e, sobretudo, de nossa natureza. Destinação constante entre a mais nobre “humanidade” da simples animalidade.
Com o amadurecimento da razão humana, surgem a “similitude” e a “filiação”, destes resulta uma diferença fundamental entre apreciação “estática” e apreciação “dinâmica” de um assunto qualquer. Os dois gêneros de relações contribuem igualmente para explicar os fenômenos e, paralelamente, conduzem à sua previsão.
Tudo sempre se reduz em ligar, o que permite ao mesmo tempo explicar e prevê-los um depois do outro. Todas as nossas verdadeiras necessidades lógicas convergem à consolidar a unidade espontânea do nosso entendimento, constituindo a continuidade e a homogeneidade de nossas diversas concepções, de maneira a satisfazer igualmente as exigências simultâneas da ordem e do progresso, fazendo com que reencontremos a constância no meio da variedade.
Se essa constância efetiva das ligações naturais é a única que verdadeiramente apreciamos, ela também satisfaz as nossas verdadeiras necessidades de contemplação ou de direção.
No regime positivo a harmonia de nossas concepções se encontra necessariamente limitada, em certo grau, pela obrigação fundamental de sua “realidade”, duma suficiente conformidade a tipos independentes de nós. Uma multidão de acontecimentos ocorre simultaneamente sem verdadeira dependência mutua.
Comte fala sobre os pontos de vista propostos por Kant, que são: objetivo e subjetivo.
Deve-se conceber todas as nossas especulações como produtos de nossa inteligência, destinados a satisfazer as nossas diversas necessidades essenciais, nunca se apartando do homem, a não ser para voltar a ele.
O individuo, para Comte, não se desenvolve isolado, mas coletivamente, seja do ponto de vista social e da influência capital da inteligência. No principio essa função coletiva era feita pela filosofia teológica, passando em seguida essa função ao espírito positivo (grande comunhão intelectual).
O espírito positivo está apto para constituir a “harmonia mental”.
V
Nesta fase a aptidão fundamental do espírito positivo está suficientemente caracterizada em relação a vida especulativa. Resta-nos apenas aprecia-la em relação a vida ativa. É como base racional da ação da Humanidade sobre o mundo exterior que o estudo positivo da natureza começa hoje (no século XIX) a ser universalmente estimado.
“A pura erudição (…) não poderia evidentemente bastar para dirigir nossa atividade”. Os fatos são a base desse conhecimento e não as leis. É resultante da relação entre a ciência e a arte, na insuficiência de apreciação de uma ou de outra.”
A tendência de construir (espontânea) diretamente uma inteira harmonia entre a vida especulativa e a vida ativa deve ser finalmente olhada como o privilégio mais feliz do espírito positivo.
A respeito da íntima harmonia entre ciência e arte, importa enfim observar especialmente a feliz tendência para desenvolver e consolidar a ascendência social da sã filosofia, graças a uma série espontânea de preponderância crescente que obtém a vida industrial em nossa civilização moderna. A filosofia teológica não poderia realmente convir a não ser a esses tempos necessários de sociabilidade preliminar.
O politeísmo se adaptava sobretudo ao sistema de conquista da antiguidade, e o monoteísmo à organização defensiva da Idade Média. Prevalecendo cada vez mais a vida industrial, a sociabilidade moderna (século XIX) deve, pois, poderosamente secundar a grande revolução mental que hoje eleva definitivamente na inteligência do regime teológico ao regime positivo. Oposição à filosofia teológica, pela vida industrial.
VI
Existe uma incompatibilidade final com das concepções positivas com todas as opiniões teológicas, tanto nos métodos como na doutrina.
No inicio a ciência e a teologia, por não se oporem às mesmas questões, não se encontram em oposição aberta. Por muito tempo floresceu parcialmente o espírito positivo, apesar da ascendência geral do espírito teológico e, até mesmo, debaixo de sua tutela prévia.
Com as humildes investigações matemáticas, que a teologia tinha desprezado especialmente, começou a estender-se ao estudo direto da natureza (astronomia), tornou-se inevitável a colisão, embora latente. Diversos são os fatores de diversidade, no entanto, é sobretudo por meio das doutrinas que a incompatibilidade das suas filosofias deve manifestar-se para a maior parte das inteligências, muito pouco atingidas ordinariamente por simples dissidências de método, embora essas sejam no fundo as mais graves, como sendo a fonte necessária de todas as outras.
Existe oposição entre vontades diretoras e leis invariáveis.
A medida que as leis físicas se tornaram conhecidas, o império das vontades sobrenaturais se estreitou cada vez mais, exceto nos fenômenos cujas leis permaneciam ignoradas.
Não há possibilidade de conciliação entre o espírito teológico e o positivo.
O espírito positivo, em conseqüência da falta de generalidade, não podia convenientemente formular suas próprias tendências filosóficas, que se tornaram apenas sensíveis diretamente durante os últimos séculos, o que fazia necessária a intervenção da metafísica, afim de sozinha sistematizar convenientemente a oposição da ciência à antiga teologia.
O sistema monotéico, que era à muito favorável ao florescimento primitivo dos conhecimentos reais, entrava profundamente a marcha sistemática que eles deveriam tomar impedindo o sentimento fundamental da invariabilidade das leis físicas de adquirir sua indispensável plenitude filosófica.
VII
Qualificação dos caracteres distintivos do espírito positivo: realidade, utilidade, certeza, precisão, aptidão orgânica e relatividade. Todas essas diversas significações convêm igualmente à nova filosofia geral, indicando-lhe alternativamente diferentes propriedades características.
O único caracter essencial do novo espírito filosófico consiste em sua tendência necessária a substituir, em todos os lugares, o absoluto pelo “relativo”.
VIII
Quando se busca a origem fundamental dessa maneira de filosofar, vê-se que todos os atributos principais são, no fundo, os mesmos que os do bom senso universal.
A ciência e o prolongamento metódico da sabedoria universal. O espírito filosófico tende a apreciar muito mais a generalidade e a ligação.
Sob o aspecto histórico, esta íntima solidariedade natural entre o gênio próprio da verdadeira filosofia e o simples bom senso universal mostra a origem espontânea do espírito positivo, resultante, em toda parte, duma reação especial da razão prática sobre a razão teórica, cujo caráter inicial se modificou assim sempre progressivamente.
O conjunto de nossa evolução mental, e sobretudo o grande movimento realizado na Europa Ocidental, desde Descartes e Bacon, não deixa, pois, a partir de agora, outra saída possível a não ser constituir enfim, depois de tantos preâmbulos necessários, o estado verdadeiramente normal da razão humana.
SEGUNDA PARTE
O ESPÍRITO POSITIVO É MAIS APTO QUE O ESPÍRITO TEOLÓGICO-METAFÍSICO PARA ORGANIZAR A SOCIEDADE E SISTEMATIZAR A MORAL.
IV
Universidades e corporações de legistas promoveram a decomposição radical da filosofia teológica.
A grande crise começou quando essa decadência comum chegou, enfim, ao ponto de tornar universalmente irrecusável a impossibilidade de conservar o antigo regime e a necessidade crescente duma ordem nova.
Mas a transformação decisiva teve de permanecer até então essencialmente impossível, por falta de uma filosofia verdadeiramente adequada para fornecer-lhe base intelectual indispensável.
X
A razão pública deve encontrar-se disposta a acolher atualmente o espírito positivo como a única base possível para uma verdadeira resolução da profunda anarquia intelectual e moral, que caracteriza sobremaneira a grande crise moderna do século XIX.
Para a nova filosofia, a ordem constitui sem cessar a condição fundamental do progresso e, reciprocamente, o progresso vem a ser a meta necessária da ordem; como no mecanismo animal, o equilíbrio e a progressão são mutuamente indispensáveis, a titulo de fundamento ou destinação.
O sentimento elementar da ordem é, numa palavra, naturalmente inseparável de todas as especulações positivas, constantemente dirigidas para a descoberta dos meios de ligação entre as observações, cujo principal valor resulta de sua sistematização.
Isto é mais evidente no que concerne ao progresso que, a despeito de vãs pretensões ontológicas, encontra hoje, no conjunto dos estudos científicos, sua mais incontestável manifestação.
A primeira noção racional de progresso humano foi inspirada no século XVII, na célebre fórmula filosófica de Pascal, estranha a toda filosofia antiga.
A reorganização total, a única capaz de terminar a grande crise moderna, consiste, com efeito, em constituir uma teoria sociológica apropriada a explicar convenientemente o conjunto do passado humano, o que foram capazes de fazer as demais escolas absolutistas do passado. O espírito positivo, com sua natureza relativa, é o único a poder representar convenientemente todas as “grandes épocas históricas”. Como tantas fases determinadas de uma mesma evolução fundamental, onde cada uma resulta da precedente e prepara a seguinte, segundo leis invariáveis que fixam sua participação especial na progressão comum, de maneira a sempre permitir, sem maior inconseqüência da parcialidade, fazer exata justiça filosófica a qualquer sorte de cooperação.
XI
No organismo político da Antiguidade, a moral, radicalmente subordinada a política, nunca podia adquirir nem a dignidade nem a universalidade convenientes à sua natureza.
Com o monoteísmo, a princípio isso pareceu possível, mas suas profundas imperfeições alteraram muito sua eficácia, chegando a comprometer grandemente sua estabilidade, logo suscitando fatal conflito entre o florescimento intelectual e o desenvolvimento moral.
Com a metafísica a moral teórica sofreu assaltos. Se a ascendência necessária do espírito positivo não vinha, enfim, pôr termo a essas anárquicas divagações, por certo imprimia mortal flutuação a todas as noções um pouco delicadas da moral usual, deixando por toda parte subsistir apenas as regras relativas aos casos mais grosseiros, que a apreciação vulgar poderia diretamente garantir.
XII
Além dessa importância crescente em proteger as regras morais, o espírito teológico também lhes foi frequentemente nocivo duma maneira ativa, por causa das divagações que suscitou, desde que deixou de ser disciplinável, sob a inevitável florescência do livre exame individual. Inspirou ou secundou muitas aberrações anti-sociais.
Não existe nenhuma alternativa duradoura entre fundar a moral sobre o conhecimento positivo da Humanidade e deixa-la repousar sobre injunções sobrenaturais (exemplo do Protestantismo do século XIX).
XIII
Segundo Comte, existe a necessidade de um novo poder espiritual, nesse caso, em especial, o espírito positivo. Ele fala sobre os princípios ontológicos (metafísicos) ligados à Astronomia e o caso da ligação da química à antiga Alquimia, ligações estas que absorveram seus princípios básicos, acrescentando à eles os novos.
XIV
Deve-se estimular e consolidar o sentimento de dever, o que é tendência do Positivismo. Esse novo regime mental dissipa espontaneamente a fatal oposição que existe cada vez mais entre as necessidades intelectuais e as necessidades morais.
O sentimento social é a base necessária de toda moral sadia.
O princípio lógico da filosofia teológica metafísica é essencialmente reduzido à “intuição”, que não comporta qualquer aplicação coletiva. Seu pensamento dominante é o “eu”; tem concepção negativa e seu vago conjunto constitui o “não-eu”, não comportando a noção de “nós”.
XV
O espírito positivo é diretamente social. Para ele o homem propriamente não existe, existindo apenas a Humanidade.
TERCEIRA PARTE
CONDIÇÕES DO ESTABELECIMENTO DO REGIME POSITIVO
XVI
As idéias positivistas, em uma apreciação mais madura mostra que deve encontrar enérgicas resistências em quase todos os espíritos atualmente ativos, em virtude da difícil renovação que exigiria deles (os povos), afim de associa-los diretamente à sua principal elaboração.
O espírito é uma filosofia e não uma ciência.
Assim, a nova filosofia, a única nascente do desenvolvimento social, encontrará necessariamente uma íntima antipatia, ao mesmo tempo ativa e passiva, nos preconceitos e paixões da única classe que poderia diretamente oferecer-lhe um ponto de apoio especulativo, e da qual ela só pode esperar por muito tempo colisões puramente individuais, talvez mais raras aí do que em outras partes: são estes os próprios estudiosos do positivismo.
XVII
O público que não quer vir a ser nem geômetra, nem astrônomo, nem químico, etc., sempre carece simultaneamente de todas as ciências fundamentais, cada uma reduzida a suas noções essenciais. Precisa, como dizia Molière, de “clareza de tudo”.
Muito importa, pois, que, desde sua origem, a nova escola filosófica desenvolva, tanto quanto possível, este grande caráter elementar de universalidade social que, finalmente, no que respeita à sua principal destinação, constituirá hoje sua maior força contra as diversas resistências que deve encontrar.
XVIII
A instrução puramente teológica foi substituída provisoriamente, apenas para os letrados, por uma certa instrução metafísica, mas não pode ser um equivalente parecido para a massa popular.
Deve haver um contato espiritual entre a nova escola filosófica e os proletários. Os proletários necessitaram outrora estar sob o domínio profundo da teologia, notadamente católica. Durante sua emancipação mental, a metafísica apenas pôde infiltrar-se neles, por não encontrar uma cultura especial em que repousasse. Somente a filosofia positiva poderá de novo tomá-los radicalmente.
É entre os proletários que deverá melhor realizar-se a universal propagação da instituição positiva; condição indispensável para o cumprimento gradual da renovação filosófica.
Não foi possível, até agora, uma política especialmente popular, só a nova filosofia pode constituí-la.
XIX
O povo está naturalmente disposto a desejar que a vã e tempestuosa discussão dos direitos seja enfim substituída por uma fecunda e salutar apreciação dos diversos deveres essenciais, quer gerais, quer especiais.
Trata-se de assegurar convenientemente a todos, primeiro, uma educação normal, depois o trabalho regular. O verdadeiro “Programa Social dos Proletários”.
XX
Comte tinha profunda aversão à anárquica influência exercida por sofistas e professores de retórica.
Não devemos esperar deles (governantes) uma cooperação verdadeiramente ativa nesta grande preparação racional, que por muito tempo deve resultar sobretudo de um zelo livre e privado, inspirado e sustentado por verdadeiras convicções filosóficas. A escola positiva, terá que pedir-lhes, afim de que possa cumprir convenientemente seu grande oficio social, apenas a liberdade plena de exposição e de discussão, equivalente àquela de que já gozam plenamente as escolas teológicas e metafísicas. Pedindo-lhes asilo regular nos locais municipais.
As necessidades essenciais da escola positiva, juntar-se-ão diretamente com os deveres naturais do governo.
XXI
Pelo conceito de “Ordem Fundamental” as condições essenciais, dogmática e histórica, sendo preciso de inicio reconhecer a convergência necessária. 1° – Ordenar as ciências segundo sua dependência sucessiva; 2° – Sua disposição conforme a marcha de sua formação efetiva. O equivalente dessas duas vias enciclopédicas provêm em geral da identidade fundamental que existe inevitavelmente entre a evolução coletiva, as quais, tendo origem parecida, semelhante destino e um mesmo agente, devem sempre oferecer fases correspondentes, salvo as únicas diferenças de duração, intensidade, velocidade, inerentes à desigualdade dos organismos.
XXII
Da filosofia natural, dividindo-a, prepara-se a filosofia social, em dois grandes ramos: um orgânico e outro inorgânico.
A filosofia natural compreende sucessivamente as três grandes ciências do século XIX: a astronomia, a química e a biologia. Mas, para completar a formula fundamental, basta, em primeiro lugar, inserir entre a astronomia e a química a física, que assumiu existência distinta com Galileu; em segundo lugar, colocar no inicio deste vasto conjunto a ciência matemática, o único berço necessário da positividade racional, que pode ser decomposta em seus três grandes ramos: cálculo, geometria e mecânica. Com isso determina-se, enfim, a última precisão filosófica, a verdadeira origem de todo sistema cientifico.
Portanto as seis ciências fundamentais apresentadas por Comte são: matemática, astronomia, física, química, biologia e sociologia (esta última meta essencial de toda filosofia positiva). Com isso temos o Ensino Enciclopédico.
XXIII
Cada ciência não pode chegar a uma verdadeira positividade a não ser que a originalidade de seu próprio caráter seja plenamente consolidada.
XXIV
Para cada rápida iniciação individual, como para uma lenta iniciação coletiva, permanecerá sempre indispensável que o espírito positivo, desenvolvendo seu regime na medida em que amplia seu domínio, eleve-se pouco a pouco do estado matemático inicial para o estado sociológico, afinal, percorrendo os quatro graus intermediários (astronômico, físico, químico e biológico).
Nesse movimento, existe uma dependência sobretudo, dos estudos astronômicos, que por sua natureza, oferecem necessariamente a plena manifestação do verdadeiro espírito matemático, de que constituem, no fundo, a principal destinação.
Enfim, o florescimento sistemático da positividade moderna, tendendo abertamente a um novo regime filosófico, resultou essencialmente da grande renovação astronômica iniciada por Copérnico, Kepler e Galileu.