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terça-feira, novembro 19, 2024

BULLYING UM OLHAR REFLEXIVO DAS ORGANIZAÇÕES ESCOLARES

FENÔMENO BULLYING UM OLHAR REFLEXIVO DAS ORGANIZAÇÕES ESCOLARES

NATÁLIA CRISTINA DO ROSÁRIO SANTOS
ARARAS/SP
NOVEMBRO/2008

RESUMO

Este trabalho tem como foco analisar a violência dentro das organizações escolares, despertando um olhar reflexivo da comunidade escolar para um novo fenômeno denominado por alguns pesquisadores como fenômeno Bullying. Trata-se de um problema social e mundial, mas que recentemente começou a ser estudado no Brasil. A terminologia Bullying não possui tradução equivalente para a nossa língua, mas se caracteriza por um ato agressivo, intencional e repetitivo provocado por uma ou mais pessoas contra uma mesma vitima, podendo causar sérios danos psicológicos à pessoa alvo deste tipo de violência. É importante lembrar que o fenômeno Bullying não ocorre somente nas organizações escolares, este fenômeno é de caráter interpessoal, podendo ser manifestado em qualquer lugar onde haja pessoas em contato, sendo a escola um local privilegiado na pratica desta violência, uma vez que os alunos tem por costume fazer brincadeiras de mal gosto uns com os outros. Para a realização deste estudo buscaremos subsídios em alguns pesquisadores como FANTE (2005) e NETO (2005), para que através da revisão bibliográfica possamos refletir sobre a origem do problema, para então estudarmos estratégias para a prevenção e o combate deste fenômeno, bem como a identificação e a intervenção de forma eficaz, procuraremos também pesquisar se há programas de prevenção e combate já existentes. Procuraremos elaborar um estudo que envolva toda comunidade escolar, mostrando que tais atos preventivos não cabem somente ao professor dentro da sala de aula, pois o Bullying pode acontecer também na hora do recreio e em outros momentos em que o docente não esteja presente, mostraremos que é necessária uma mobilização social, para a eliminação desta violência e na disseminação de uma cultura pacífica dentro do ambiente escolar.
Palavras – chave: Violência; Escola; Professor.

LISTA DE ABREVIATURAS

ABRAPIA: Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção a Infância e a Adolescência.

SUMÁRIO

RESUMO
LISTA DE ABREVIATURAS
INTRODUÇÃO
OBJETIVOS
Capítulo 1- BULLYING, ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O FENOMENO
1. Violência, Sociedade x Escola
1.1 Fenômeno Bullying e seu conceito
1.2 Histórico do Fenômeno
Capítulo 2-A MANIFESTAÇÃO DO FENOMENO BULLYING
2. Maneiras de se praticar o Bullying e seus protagonistas
2.1 Como identificar os envolvidos
2.2 Agressão, agressividade, violência e indisciplina, quando isso passa
a ser Bullying
Capítulo 3- O FENÔMENO BULLYING NA ESCOLA
3. Manifestações do fenômeno Bullying no ambiente escolar
3.1Agindo contra o fenômeno Bullying
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANEXO- Exemplos de casos

INTRODUÇÃO

Vivemos hoje em uma sociedade marcada fortemente pelo capitalismo e pelas diferenças de poder. Esta desvalorização do ser humano é causada pela busca individual e agressiva por uma estabilidade socioeconômica, que acarreta graves problemas interpessoais, sendo um deles a violência, fato este que vem surgindo em várias áreas de interação social, não ficando ileso o âmbito escolar.
O fato de termos escolhido a escola como ponto de pesquisa, se da aos grandes índices de violências entre crianças e adolescentes; e este ambiente se torna o local privilegiado para estas práticas, pois passamos grande parte do dia com pessoas de diversas idades e perfil.
Uma das violências praticada entre escolares é o fenômeno Bullying, denominado por alguns pesquisadores como FANTE (2005) e NETO (2005) como um ato agressivo, intencional e repetitivo, provocado por uma ou mais pessoas contra uma mesma vítima.
A interação entre vitima e agressor quase sempre é sutil, parecendo até mesmo uma simples brincadeira de criança, passando desapercebido para as pessoas em volta.
Por tanto estamos diante de mais uma problemática educacional, que advém de um sistema tradicional e autoritário que se preocupa com o combate da violência explícita, ficando em segundo plano a violência psicológica.

OBJETIVOS

Refletir acerca deste novo tema dentro das escolas e buscar informações relevantes para o combate deste fenômeno.
Pesquisar o Bullying como fenômeno que tem marcado significativamente as relações interpessoais.
Refletir sobre as conseqüências que esse fenômeno causa na sociedade, em vitimas e agressores.
Analisar a importância deste tema junto aos professores.

Capítulo 1

BULLYING, ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O FENÔMENTO

1. Violência, Sociedade x Escola

Vivemos em uma era em que estão se tornando cada vez mais crescentes os dados estatísticos sobre a violência, mas afinal o que é a violência?
De acordo com o dicionário Aurélio (2001), a palavra violência significa: qualidade de violento, ato violento, ato de violentar, ou ainda:
Como uma das formas que move as relações humanas, não deixa de levar em conta a instabilidade social como parte de tudo aquilo que, ao invés de suprimir os antagonismos, tenta ordená-los. Mafessoli (apud GUIMARÃES, 2005, p. 7)
Segundo Neto (2005), a violência é um problema crescente no mundo, com sérias conseqüências individuais e sociais, particularmente para os jovens, que aparecem nas estatísticas como os que mais morrem e os que mais matam, mas afinal o que leva as pessoas a se tornarem violentas ?
Em nossa história observamos vários momentos de violência, iniciando pelos homens primitivos que sempre utilizavam o ato violento para manter a sua sobrevivência e garantir a continuidade do processo de humanização. Foi por meio dos conflitos, das trocas de agressões em que o movimento de desenvolvimento social foi se constituindo, portanto acabou se tornando imperceptível a relação de dominação que o homem exerce sobre seu próximo.
Nesse sentido Mafessoli (apud Guimarães,2005, p.7), ressalta que a força, como elemento da potência , uma vez sendo reconhecida e simbolicamente integrada, encontra o seu lugar no jogo do dinamismo social.
Portanto, a violência pode ser entendida como uma forma de coação, onde o individuo dominante nega os direitos de escolha de outros indivíduos, e essa dinâmica se estende por toda sociedade, inclusive o ambiente escolar.
O reflexo da violência social dentro das organizações escolares acaba por criar um clima de tensão e de autoproteção, fazendo com que medidas drásticas sejam tomadas.
Diante desse quadro, inúmeras medidas de segurança estão sendo colocadas em pratica em todo mundo, visando prevenir a violência escolar e intervir em determinadas situações. Dessa forma, muros e grades altas, detectores de metais e câmeras de vídeo para o monitoramento dos alunos são instalados e seguranças particulares dentro e fora da escola são disponibilizado. (FANTE, 2005, p 20)
Entretanto a violência em que os profissionais da educação mais se empenham em eliminar é a explicita (agressões entre iguais, assaltos, vandalismo, depredação do prédio, entre outras formas), por apresentar conseqüências mais visíveis e por ser cobrado mais da sociedade, pois a escola tem como função essencial o educar. Não que eliminar a violência explicita não seja pertinente, mas agindo nas entrelinhas há uma outra forma de violência pouco conhecida socialmente, uma violência que ocorre de maneira velada.
Segundo Fante (2005) esta nova faceta da violência se apresenta sob a forma de comportamentos cruéis, intimidadores, repetitivos, e de maneira constante contra uma mesma vítima, cujo poder destrutivo é perigoso tanto à comunidade escolar quanto à sociedade como um todo, pois desenvolve sérios danos ao psiquismo dos envolvidos. Este conjunto de comportamentos se denomina como Fenômeno Bullying.

1.1 Fenômeno Bullying e seu Conceito.

Uma das cenas mais comuns, principalmente no ambiente escolar é uma criança ou adolescente apelidar outros, causarem pequenas discussões, intimidações e até brigas, mas até então tais atos eram vistos com normalidade por pais e educadores, por fazer parte do comportamento de tais indivíduos.
Mas ao contrário do que se pensam, recentes pesquisas apontam que tais atitudes, não são simplesmente brincadeiras de crianças e que o aluno vitimizado pode sofrer por um longo período sem se manifestar e isso pode causar-lhe sérios danos. De acordo com Fante (2005), as implicações para as vítimas desse ato são graves e abrangentes, produzindo no âmbito escolar o desinteresse pela escola, o déficit de concentração e aprendizagem, o baixo rendimento escolar, as faltas às aulas e a evasão escolar. No que se refere à saúde física e emocional, a baixa resistência imunológica e na auto-estima, o estresse, os sintomas psicossomáticos, transtornos psicológicos, a depressão e o suicídio. Tais situações constrangedoras, repetidas diariamente, acabam por criar zonas doentias, que funcionam como vírus psíquico da mente, ou janelas killers, verdadeiro ancoradouro que aprisiona as emoções humanas, impede suas vítimas de adquirirem habilidades de auto defesa e de socialização, além de prejudicar o seu desenvolvimento socioeducacional na medida em que promove seu isolamento.
O termo Bullying é oriundo da língua inglesa, enquanto palavra Bully se traduz como valentão, tirano, bruto e Bullying enquanto verbo se traduz por brutalizar, tiranizar, amedrontar de acordo com Fante (2005). Apesar das traduções encontramos como definição em grande parte da literatura que:
[…] Bullying é um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra outro(s), causando dor, angustia e sofrimento. Insultos, intimidações, apelidos cruéis, gozações que magoam profundamente, acusações injustas, atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos levando-os à exclusão, além de danos físicos, morais e matérias, são algumas das manifestações do comportamento Bullying. (FANTE, 2005,p. 28 e 29)
Em alguns paises, são utilizados termos diferentes para nomear este fenômeno, que apesar de sua origem inglesa, ele ocorre em toda parte do mundo. De acordo com Fante (2005), na Dinamarca e na Noruega o Bullying é denominado por Mobbing, na Suécia e a Finlândia, caracteriza-se como Mobbning, na Itália de Prepotenza, e no Japão de Yjime.
Segundo Fante 2005, não há tradução equivalente para a palavra Bullying em nossa língua, pois nenhum termo é capaz de exemplificar com fidelidade a problemática.
Um estudo realizado em 14 paises diferentes teve como objetivo identificar palavras nativas que se assemelhassem ao conceito de bullying. Desse estudo, baseado em dados coletados em um grupo de alunos com 14 anos, identificaram-se 67 palavras relacionadas aos comportamentos bullying, sem que nenhuma delas abrangesse o significado do termo em inglês.(FANTE, 2005, p. 28)
Desta forma acabamos por adotar este termo para nomear este fenômeno em nosso país.
[…] é um conceito especifico e muito bem definido, uma vez que não se deixa confundir com outras formas de violência. Isto justifica pelo fato de apresentar características próprias, dentre elas, talvez, a mais grave, a propriedade de causar traumas ao psiquismo de suas vitimas. Por fim, o Bullying possui, ainda a propriedade de ser reconhecido em vários contextos: nas escolas, nas famílias, nos condomínios residências, nos clubes, nos locais de trabalho, nos asilos de idosos, nas Forças Armadas, nas prisões, enfim, onde existem relações interpessoais. (FANTE, 2005, p. 30).
A Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção a Infância e a Adolescência (ABRAPIA1), nos apresenta algumas situações que podem estar presentes nesse fenômeno, como, colocar apelidos, ofender, gozar, sacanear, humilhar, aterrorizar, humilhar, tiranizar, fazer sofrer, discriminar, isolar, intimidar, perseguir, amedrontar, agredir, bater, chutar, ferir, roubar, quebrar pertences entre outras ações.

1.2 Histórico do fenômeno .

O fenômeno Bullying é tão antigo quanto a história do surgimento da própria escola, pois se trata de um fenômeno presente nas relações interpessoais e que pode ocorrer fora deste contexto.
De acordo com Fante (2005), o interesse pela pesquisa da relação agressor e vítima, surgiu na Suécia em 1970 e logo se estendeu para outros países. A Noruega também iniciou estudos nessa área, com as pesquisas de Dan Olweus da Universidade de Bergen, mas a comunidade local não apresentou grandes preocupações com os graves efeitos causados pelo fenômeno Bullying, até que em 1982 os jornais locais divulgaram a notícia do suicídio de três crianças com idades entre 10 e 14 anos na qual a principal causa aceita durante a investigação foi a de maus tratos sofridos pelas vitimas na escola. Esse incidente originou grandes preocupações e divulgação na mídia, atingindo a população de maneira geral, fazendo com que o Ministério da Educação da Noruega, em 1983 iniciasse uma campanha contra os problemas entre agressores e vítimas.
Através de seus estudos, Olweus procurou evidenciar maneiras para detectar e combater o fenômeno Bullying dentro das escolas para isso desenvolveu alguns critérios em suas pesquisas, para detectar especificamente o problema, tentando diferenciá-lo de outras interpretações como, por exemplo, gozações e brincadeiras próprias do amadurecimento dos envolvidos.
Desenvolveu os primeiros critérios para detectar o problema de forma específica, permitindo diferenciá-lo de outras possíveis interpretações, como incidentes e gozações ou relações de brincadeiras entre iguais, próprias do processo de amadurecimento dos indivíduos. Olweus pesquisou inicialmente 84 mil estudantes, trezentos a quatrocentos professores e em torno de mil pais, incluindo vários períodos de ensino. Um fator fundamental para a pesquisa foi avaliar a sua natureza e ocorrência. (FANTE, 2005, p.45).
Ao finalizar a pesquisa Olweus observou que na Noruega a cada sete alunos, um estava envolvido em casos de Bullying, e ao consagrar nas escolas o programa antibullying desenvolvido por ele, este índice reduziu para 50%.
O programa de intervenção proposto por Olweus tinha como características: desenvolver regras claras contra o Bullying nas escolas, alcançar um envolvimento ativo por parte dos professores e dos pais, aumentar a conscientização do problema para eliminar mitos sobre o Bullying e prover apoio e proteção as vítimas. (FANTE 2005, p.45).
Segundo Olweus (apud Fante, 2005), os dados de outros paises indicam que as condutas Bullying existem com relevância similar ou superior as da Noruega, como é o caso da Suécia, Finlândia, Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, Paises Baixos, Japão, Irlanda, Espanha e Austrália.
Fante (2005), acrescenta que nos Estados Unidos, o Bullying é tema de grande interesse, pois este comportamento cresceu muito entre os seus alunos e que os pesquisadores já classificam o Bullying como um conflito global, e destacam que diante da permanência deste fenômeno muitos jovens se tornarão adultos abusadores e delinqüentes (p. 46).
Percebemos então que o fenômeno Bullying se faz presente em todas as escolas do mundo, inclusive no Brasil que apesar de apresentar pelo menos 15 anos de atraso em suas pesquisas pode através dos estudos desenvolvidos pela professora Marta Canfield (1997) e seus colaboradores em quatro escolas de ensino público em Santa Maria (RS), e as dos professores Israel Figueira e Carlos Neto (2000 -2001) em duas escolas municipais do Rio de Janeiro, e da Associação Brasileira de Multiprofissional de Proteção a Infância e a Adolescência (ABRAPIA s/d) com 11 escolas também do Rio de Janeiro, contando com, a participação de 5875 alunos de 5º a 8 º série, obter como resultado um índice de 40,5% desses alunos que admitiram estar envolvidos em Bullying, além de ser constatado que nossos índices superam os índices da Europa .

Capítulo 2

A MANIFESTAÇÃO DO FENÔMENO BULLYING

2. Maneiras de se praticar o Bullying e seus protagonistas.

Existem diversas maneiras de se praticar o Bullying, segundo Neto (2005) as agressões se classificam de duas maneiras: Bullying direto e Bullying indireto.
[…] direto, quando as vitimas são atacadas diretamente, ou indireto, quando estão ausentes. São considerados Bullying direto os apelidos, agressões físicas, ameaças, roubos, ofensas verbais, ou expressões e gestos que geram mal estar aos alvos. São atos utilizados com uma freqüência quatro vezes maior entre os meninos. O bullying indireto compreende atitudes de indiferença, isolamento, difamação e negação aos desejos, sendo mais adotados pelas meninas. (NETO, 2005, p. 166)
Podemos observar que este fenômeno ocorre de maneira diferenciada entre os meninos e as meninas. As meninas por serem mais discretas disfarçam tais comportamentos com sua sensibilidade ao demonstrar os seus sentimentos, mas de acordo com Simmons (2004), elas utilizam esta estratégia para se esquivarem da desaprovação social, elas também utilizam olhares dissimulados e bilhetes, manipulam silenciosamente o tempo todo, encurralam-se nos corredores, dão as costas cochicham e sorriem. As meninas apresentam este tipo de comportamento para evitar que sejam desmascaradas e punidas.
As crianças e adolescentes podem se envolver de três maneiras diferentes com o bullying conforme nos aponta Neto (2005), ou seja, como vitimas, agressores ou testemunhas, mas não há evidencias de como identificar antecipadamente em qual papel irão se encaixar, pois os envolvidos poderão trocar de papel conforme as circunstancias.
Entretanto a ABRAPIA propõe uma classificação um pouco diferenciada para nomear as pessoas envolvidas com o fenômeno Bullying. Para evitar que os envolvidos sejam rotulados, a classificação se procede da seguinte maneira:
Alvos de Bullying são os alunos que só sofrem Bullying;
Alvos/Autores de Bullying são os alunos que ora sofrem, ora praticam Bullying;
Autores de Bullying são os alunos que só praticam o Bullying;
Testemunhas de Bullying são os alunos que não sofrem nem praticam Bullying, mas convivem em um ambiente onde isso ocorre.
Podemos observar também as contribuições dos especialistas descritos por Fante (2005, p 71 e 72), para classificar os papeis desempenhados pelos envolvidos com o fenômeno:
Vítima Típica: a vítima típica é um individuo (ou grupo de indivíduos), geralmente pouco sociável, que sofre repetidamente as conseqüências dos comportamentos agressivos de outros e que não dispões de recursos, status, ou habilidades para reagir ou fazer cessar essas condutas prejudiciais.
Vítima Provocadora: aquela que provoca e atrai reações agressivas contra as quais não consegue lidar com eficiência.
Vítima Agressora: a vítima agressora é aquele aluno que, tendo passado por situações de sofrimento na escola, tende a buscar indivíduos mais frágeis que ele para transformá-los em bodes expiatórios, na tentativa de transferir os maus-tratos sofridos.
Agressor: é aquele que pratica o Bullying com as outras pessoas, ele pode ser de ambos sexos, costuma ser um individuo que manifesta pouca empatia, e sente uma necessidade imperiosa de dominar e subjulgar os outros, de se impor mediante o poder e a ameaça e de conseguir aquilo que se propõe.
Espectador: é o aluno que presencia o Bullying, porém não o sofre nem o pratica. Representa a grande maioria dos alunos que convivem com problema e adota a lei do silencio por temer se tornar a próxima vitima.
Conforme a ABRAPIA os estudantes que praticam o Bullying, possuem uma tendência de se tornarem adultos com uma conduta anti-social e/ou violenta, podendo adotar atitudes delinqüentes ou criminosas.
Para Neto (2005, p. 166) alguns aspectos favorecem o desenvolvimento da agressividade nas crianças, sendo eles:
Familiares.
O fato de suas famílias serem desestruturadas;
Relacionamentos afetivos pobres;
Excesso de tolerância ou de permissividade;
Prática de maus-tratos físicos ou explosões emocionais como forma de afirmação de poder dos pais;
Individuais.
Hiperatividade;
Impulsividade;
Distúrbios comportamentais;
Dificuldade de atenção;
Baixa inteligência;
Desempenho escolar deficiente;
O autor de Bullying utiliza tais características como algo positivo, que reforce o seu poder perante as pessoas e faça com que elas se sintam hostilizadas e amedrontadas, ou seja, são características fortemente observáveis.
O autor de Bullying é tipicamente popular; tende a envolver-se em uma variedade de comportamentos anti-sociais; pode mostrar-se agressivo inclusive com os adultos; é impulsivo; vê sua agressividade como qualidade; tem opiniões positivas sobre si mesmo; é geralmente mais forte que seu alvo; sente prazer e satisfação em dominar, controlar e causar danos e sofrimentos a outros. Além disso pode existir um componente benefício em sua conduta, como os ganhos materiais e sociais. (NETO, 2005, p. 167)
Não há dúvidas de que vários são os fatores que contribuem para que o fenômeno Bullying seja praticado, entretanto, não basta punir somente os agressores/autores, é necessário que se tenha uma visão ampla de todo contexto em que esse aluno se inserida, pois um ambiente familiar desestruturado aliado a um ambiente escolar violento irá corroborar para que esse aluno se torne mais agressivo com toda comunidade escolar.

2.1 Como identificar os envolvidos

A maneira mais eficaz de se combater o fenômeno Bullying, é impedindo que ele aconteça, portanto a identificação dos envolvidos, (neste caso iremos dedicar atenção especial às vítimas e agressores), é imprescindível, pois segundo Fante (2005), uma das características desse fenômeno e a maneira oculta como ele se desenvolve, sendo assim tanto a comunidade escolar quanto a própria família deve estar atento a qualquer mudança não habitual no comportamento dos envolvidos, pois:
A maioria das crianças reluta em falar abertamente sobre o assunto. O motivo principal,como já expusemos, é o sentimento de vergonha que a vítima experimenta ao ter que admitir que está apanhando ou sofrendo gozações na escola, ou ainda sofrer represálias do agressor. (FANTE, 2005,p74 )
Para contribuir com o processo de identificação, o pesquisar Dan Olweus apud Fante (2005, p 71 e 72) afirma que é necessário observarmos alguns comportamentos desenvolvidos por vítimas e agressores do fenômeno Bullying.
Vítimas:
Durante o recreio está freqüentemente isolado e separado do grupo, ou procura ficar próximo do professor ou de algum adulto?
Na sala de aula tem dificuldades em falar diante dos demais, mostrando-se inseguro ou ansioso?
Nos jogos em equipe é o ultimo a ser escolhido?
Apresenta-se comumente com aspecto contrariado, triste, deprimido ou aflito ?
Apresenta desleixo gradual nas tarefas escolares?
Apresenta ocasionalmente contusões, feridas, cortes, arranhões ou a roupa rasgada, de forma não-natural?
Falta às aulas com certa freqüência (absentismo)?
Perde constantemente os seus pertences?
Agressores:
Faz brincadeiras ou gozações, além de rir de modo desdenhoso e hostil?
Coloca apelidos ou chama pelo nome ou sobrenome dos colegas de formas malsoantes; insulta, menospreza, ridiculariza, difama?
Faz ameaças, dá ordens, domina e subjuga? Incomoda, intimida, empurra, picha, bate, dá socos, pontapés, beliscões, puxa os cabelos, envolve-se em discussões e desentendimentos?
Pega dos outros colegas materiais escolares, dinheiro, lanches e outros pertences, sem o seu consentimento?
Nesse mesmo sentido a ABRAPIA colabora na identificação dos envolvidos nos evidenciando a necessidade que o agressor tem em buscar uma vítima com capacidades inferiores a ele, ou seja, as vítimas podem apresentar características especificas para justificar as agressões.
Assim, é comum eles abordarem pessoas que apresentem algumas diferenças em relação ao grupo no qual estão inseridos, como por exemplo: obesidade, baixa estatura, deficiência física, ou outros aspectos culturais, étnicos ou religiosos. (ABRAPIA)
Desta forma as crianças com as características descritas acima acabam se transformando em alvos fáceis, e o aluno agressor usa como desculpa a aparente diferença apresentada por tais crianças para se satisfazer agressivamente e envolver-se em ataques do fenômeno Bullying.
A ABRAPIA ainda nos aponta que outro aspecto muito importante é a atenção que devemos ter com as crianças com necessidades educacionais especiais, pois elas também se enquadram como um grupo de risco em virtude da dificuldade em que elas encontram na aprendizagem e no comportamento em sala de aula, entretanto é possível identificar três fatores que as condicionam a se tornarem futuras vitimas:
As características dessas crianças podem ser vistas como um pretexto para os agressores;
As crianças com necessidades educacionais especiais podem não ter tantos amigos como as outras crianças, tendo, então alguma falta de apoio que é assegurado pelos amigos;
Como suas competências sociais são pobres, muitas vezes são vistas como vitimas provocativas. ABRAPIA
Por tanto, pudemos observar que é necessário prestarmos muita atenção ao qualificarmos os envolvidos, pois o Bullying se configura de maneira sutil e muda de papel a todo o momento, sendo ora vítima, ora agressor e que as diferenças se tornam fator reforçador para a criança se tornar alvo do fenômeno Bullying.

2.2 Agressão, agressividade, violência e indisciplina, quando isso passa a ser Bullying

Para compreendermos a dinâmica do fenômeno Bullying, precisamos diferenciar a agressão, os comportamentos agressivos e a violência, para que não seja feita identificação precipitada do fenômeno no interior das organizações escolares.
Os termos agressão e agressividade e violência podem ser traduzidos como:
[..] agressão se define como um comportamento repetitivo e persistente, que, na confrontação com a vítima, viole seus direitos. O termo agressividade é utilizado cotidianamente nas mais diversas partes do mundo, seja para expressar violência, seja para expressar coragem.
Portanto, considerando as diversas definições dadas pelos mais renomados autores, definimos violência como todo ato, praticado de forma consciente ou inconsciente, que fere, magoa, constrange ou causa dano a qualquer membro da espécie humana. ASSOCIAÇÃO NORTE-AMERICANA DE PSIQUIATRIA (apud, FANTE 2005, p. 156,157)
Como podemos observar os termos citados acima possuem uma certa ligação entre si. Para Fante (2005), é muito importante que os profissionais de educação, ao qualificar qualquer aluno como violento ou agressivo, considere os inúmeros fatores que recaem sobre suas relações interpessoais. Assim, Fante (2005), classifica as mais variadas formas de violência presentes no contexto escolar, apesar das semelhanças existentes, a fim de distinguir atos de violência, atos de indisciplina e as más relações escolares.
As más relações são problemas mais generalizados, porém menos intensos, que surgem com a indisciplina ou com o mau comportamento dos alunos. Não deixam de perturbar o bom andamento das atividades escolares, entretanto não podem ser consideradas como violência. Os atos de indisciplina são comportamentos que vão contra as normas da escola e estão previstos no Regimento Interno Escolar [..].Já os atos de violência ou agressividade dos alunos acontecem com grande freqüência, porém nem sempre são identificados pelos professores e podem tomar a forma explícita ou velada. (FANTE, 2005, p. 158 e 159)
A autora salienta que a violência é um fenômeno social que atinge todas as escolas e diretamente os alunos, e que vários são os fatores que influenciam para a consolidação da violência. Portanto os profissionais da educação devem estar preparados para o combate do fenômeno violência, que é o fator inicial para as demais formas de violência.
Entretanto, para que isso aconteça, seus profissionais devem ser capacitados para atuar na melhoria do ambiente escolar e das relações interpessoais, promovendo a solidariedade, a tolerância e o respeito às características individuais, utilizando estratégias adequadas à realidade educacional que envolva toda a comunidade escolar. (FANTE, 2005, p. 169)
Entretanto o educador também deve saber quando a agressividade se torna Bullying, e para isso a ABRAPIA, esclarece que as crianças passam por algumas situações, em que se sentem fragilizadas, tornando-se temporariamente agressivas, porém, após algum tempo essa agressividade tende a desaparecer. Mas, se essa agressividade não for temporária, poderá ser considerada Bullying.

Capítulo 3

O FENÔMENO BULLYING NA ESCOLA

3. Manifestações do fenômeno Bullying no ambiente escolar.

O conceito de escola comumente conhecido é o de responsável pela transmissão dos conhecimentos acumulados pela humanidade. Entretanto Mesquita (2003) nos aponta que a finalidade da educação não é promover a aquisição de notas e diplomas, a conquista de ótimos empregos e o ganho de dinheiro, mas sim formar indivíduos de caráter, éticos e felizes.
Segundo Polato (2007), estamos vivendo atualmente um período de crise da educação, onde o papel da escola não está mais claro. Sua finalidade já não é somente ensinar conteúdos educacionais tradicionais. O espaço escolar vai, além disso, tornando-se um espaço de interação entre os seus participantes, é um lugar onde as crianças e adolescentes aprendem a se relacionar, adquirem valores e crenças, desenvolver senso crítico, auto-estima e segurança.
No entanto, três documentos legais formam a base de entendimento com relação ao desenvolvimento e educação de crianças e adolescentes: a Constituição da República Federativa do Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Convenção dos Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas. Em todos esses documentos, estão previstos os direitos ao respeito e à dignidade, sendo a educação entendida como um meio de prover o pleno desenvolvimento da pessoa e seu preparo para o exercício da cidadania. (NETO, 2005, p. 165).
As crises e as mudanças apresentadas por diversos autores são reflexos de outros segmentos da sociedade que se configuram no espaço escolar, ou seja, desestruturação familiar, desemprego, problemas sociais, tráfico de drogas, roubos, más condições de moradia etc. Toda dinâmica da escola deve ser reavaliada, para que essas questões possam ser abordadas de uma forma que não gerem mais conflitos nesse espaço.
Para Nogueira (2005), a violência no ambiente escolar no Brasil e no mundo deriva tanto da situação de violência social que atinge os estabelecimentos (violência escolar), como pode apresentar modalidades de ação que se originam no ambiente pedagógico, neste caso a violência da escola.
Segundo Martins (2005, apud ANTUNES, 2008), vários são os conceitos existentes que envolvem a violência na escola, além dos citados, tais como conduta anti-social, distúrbio de conduta e Bullying, conceitos estes decorrentes de estudos realizados em diversas partes do mundo, revelando-se uma das grandes preocupações das sociedades industrializadas.
Portanto a violência escolar desenvolve uma gama extensa de fatores, dentre eles o fenômeno Bullying.
De acordo com a ABRAPIA, o Bullying é um problema que atinge o mundo todo, sendo encontrado em toda e qualquer escola, podendo ser ela primaria, secundaria, pública ou particular, rural ou urbana. Porém uma das grandes dificuldades das instituições escolares é admitir que em seu interior haja manifestações do fenômeno Bullying, e essa resistência são apresentadas com mais intensidade pelas instituições particulares.
Outro aspecto muito importante abordado por pela ABRAPIA em suas pesquisas, são as diferentes formas como o Bullying se configura entre as escolas públicas e particulares, sendo que, nas instituições privadas são valorizados bens materiais, ou seja, carro bom, tênis de marca, roupa da moda, celular novo, etc, e o aluno não possuindo algum desses bens, acaba se tornando vítima de preconceito e gozações de seus colegas. Entretanto nas escolas públicas o principal motivo é a realidade vivenciada todos os dias por aquela comunidade.
Para Neto (2005), a prática do Bullying é mais comum entre os alunos com idades entre 11 e 13 anos, sendo menos freqüente na educação infantil e ensino médio. Porém segundo as constatações de Schafer (2007), os agressores podem ser identificados já na educação primária, mesmo apresentando pouca idade, as crianças são capazes de detectar e intimidar suas vítimas. Conforme Cavalcante (2004), uma pesquisa realizada pela ABRAPIA, em onze escolas da cidade do Rio de Janeiro, apontou que 60,2% dos casos de Bullying acontecem dentro das salas de aula.
É comum entre os alunos de uma classe a existência de diversos tipos de conflitos e tensões. Há ainda inúmeras outras interações agressivas, às vezes como diversão ou como forma de auto-afirmação e para se comprovarem as relações de força que os alunos estabelecem entre si. Caso exista na classe um agressor em potencial ou vários deles, seu comportamento agressivo influenciará nas atividades dos alunos, promovendo interações ásperas, veementes e violentas. (FANTE, 2005, p.47)
Porém o Bullying se manifesta dentro da sala de aula com mais intensidade através de xingamentos, apelidos, brincadeiras; e os adultos acabam por não se preocupar com tais brincadeiras por achar que não fazem mal, ou por ser normal da idade. Mas de acordo com Neto (2005), a aparente aceitação dos adultos e a conseqüente sensação de impunidade favorecem a perpetuação do comportamento agressivo.
Entretanto, para Silva (2006), os educadores não conseguem detectar os tais problemas, tanto na sala de aula como em todo espaço escolar, e muitas vezes demonstram desgaste emocional oriundo do seu dia-a-dia, sobrecarregados de trabalho e conflitos em seu próprio ambiente de trabalho. Em razão dessa série de fatores, alguns educadores contribuem com o agravamento do problema, através da rotulação com apelidos pejorativos, ou reagindo de forma agressiva diante o comportamento indisciplinado de seus alunos.
Para Neto (2005), a negação ou indiferença por parte da direção e professores, pode gerar desestimulo e a sensação de que não há preocupação pela segurança dos alunos.
Desta forma, tanto professores quanto as demais pessoas envolvidas no contexto escolar devem estar preparadas para detectar o fenômeno Bullying e conscientes das conseqüências geradas por esse problema. Portanto a luta contra esse mal deve ser de responsabilidade de todos, pois de acordo com Neto (apud CAVALCANTE, 2005), agir contra o Bullying é uma maneira barata e eficaz de diminuir a violência entre os alunos e na sociedade em geral.

3.1 Agindo contra o fenômeno Bullying.

De acordo com Fante (2005), o fenômeno Bullying está se tornando alvo de grande interesse e preocupação no meio educacional, razão pela qual, inúmeras publicações, pesquisas, páginas da web, salas de bate-papo, etc, encontram-se a disposição para o conhecimento de todos, além de linhas telefônicas para esclarecer dúvidas ou receber denúncias.
Existem várias maneiras de se reduzir os índices de violência e conseqüentemente o fenômeno Bullying no ambiente escolar, entretanto:
Todos os programas antibullying devem ver as escolas como sistemas dinâmicos e complexos, não podendo tratá-las de maneira uniforme. Em cada uma delas, as estratégias a serem desenvolvidas devem considerar sempre as características sociais, econômicas e culturais de sua população (NETO, 2005p. 169)
Para Fante (2005), as peculiaridades de cada organização escolar deve ser respeitada e é a partir dessas diferenças que devem ser constituídos os programas de combate ao fenômeno Bullying.
É muito importante a participação de todas as pessoas envolvidas no contexto escolar, principalmente os alunos, pois segundo Neto (2005) as escolas que possibilitaram a contribuição de seus alunos nas decisões e organização desse processo, obtiveram uma diminuição nos níveis de vandalismo e de problemas disciplinares, além da satisfação entre corpo docente e discente com a instituição escolar.
A conscientização sobre o combate do fenômeno Bullying poderá ser feita através de filmes, documentários, teatro, artigos, cartazes, pesquisas, ou da maneira em que a organização escolar julgar necessário.
Essas ações de acordo com Neto (2005) são de baixo custo e devem ser incluídas no cotidiano da escola e poderá ser trabalhado em sala de aula pelo professor através dos temas transversais.
Segundo Silva (2006), os valores humanos devem estar inseridos no cotidiano da escola como ações atitudinais e não somente conceituais. De nada valerá falar da não violência se os professores tratarem seus alunos com atitudes agressivas.
Algumas atitudes preventivas podem e devem ser adotadas com o propósito inibir os agressores, tais como: aumento da supervisão na hora do recreio, evitar em sala de aula o menosprezo, apelidos ou rejeição de estudante por qualquer tipo de razão. Além disso, o professor pode promover debates em sala acerca de temas como respeito, violência, afetividade, sempre englobando as relações humanas.
O Programa Educar para a Paz elaborado por Fante (2005) e descrito em seu livro Fenômeno Bullying, Como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz, nos mostra como é possível realizar ações psicopedagógicas para a prevenção e o combate ao fenômeno Bullying. Os princípios que norteiam o programa são: tolerância, solidariedade e respeito às diversidades. Este programa abrange todos os membros da escolar, pais de alunos e a comunidade onde a instituição está localizada.
Entre as várias estratégias adotadas estão: trabalho individualizado com os indivíduos envolvidos com o bullying, com o objetivo de fortalecer a auto-estima das vítimas e a canalização da agressividade dos autores de Bullying. Nesse programa uma das formas de ação de pais e alunos se dá através da nomeação dos alunos solidários, que atuam como protetores daqueles alunos que demonstram dificuldade de relacionamento, e pais solidários, que intensificam a busca por manifestações do fenômeno bullying na hora do recreio, bem como ajudam nas relações entre os alunos.
A educação emocional é desenvolvida através de grupo-sala, onde semanalmente seus tutores realizam discussões acerca de valores humanistas e de situações problema.
Aqueles alunos cujos comportamentos extrapolam as habilidades psicopedagógicas da equipe responsável pelo desenvolvimento do programa deverão ser encaminhadas a profissionais especializados a fim de que sejam devidamente diagnosticados e tratados. O ideal é que a equipe trabalhe tendo em mente a necessidade de estabelecer parcerias com profissionais das diversas áreas da saúde, encaminhando-lhes alunos todas as vezes que isso se fizer necessário e procurando manter-se informada sobre o andamento de cada caso.(FANTE, 2005, p. 152)
Por fim esta é uma pequena demonstração das várias opções de aplicação que Programa Educar para a Paz traz em seu desenvolvimento. Seja por meio de modelos prontos ou por estratégias próprias, o que importa é o envolvimento e o compromisso de toda organização escolar, em prol de um único objetivo: extinguir todos os tipos de ações violentas do interior das organizações escolares, pois de acordo com Neto (2005, p. 170), enquanto a sociedade não estiver preparada para lidar com o Bullying, serão mínimas as chances de reduzir as outras formas de comportamentos agressivos e destrutivos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo permitiu a partir do referencial teórico utilizado, uma visão histórica sobre a construção da violência em nossa sociedade até o desenvolvimento do fenômeno Bullying nas organizações escolares, como também apresentou formas de combatê-lo.
Historicamente o fenômeno Bullying sempre existiu, uma vez que ele se configura nas relações interpessoais, mas começou a haver interesse pelo desenvolvimento dos estudos a partir dos massacres entre estudantes noticiados pela mídia.
Constatamos também que por ser um assunto ainda pouco conhecido e discutido, há muita dificuldade em assumir este problema com seriedade, uma vez que pode ser interpretado como brincadeiras corriqueiras e sem graves conseqüências, porém os problemas psicológicos se configuram em uma perspectiva oculta até chegar a hora em que a vítima não consegue controlar o seu sofrimento e acaba se manifestando com atitudes vezes violentas e até mortal.
Os exemplos de casos apresentados neste estudo serviram de auxilio para o entendimento efetivo sofre o fenômeno Bullying e suas implicações. Constatamos também que é possível identificar os envolvidos através de características descritas por vários autores e percebemos que as pessoas envolvidas nesse contexto podem mudar de papel, ou seja, ora como vítimas, ora como agressores, assim como o meio em que vive permitirem se comportar.
Pudemos observar também quão importantes são os programas antibullying, e que eles devem se adequar à realidade de cada escola e que a participação de toda comunidade escolar, bem como pais e alunos, contribuem para uma maior efetivação de resultados positivos e a garantia da continuidade desses programas, visto que a escola todo ano recebe alunos novos e que estes também devem ser enquadrados no combate a violência.
Portanto concluímos que luta contra a violência deve ser diária, e a escola deve ser um local em que o aluno se sinta seguro e capaz de se desenvolver de maneira saudável e sem medo. De acordo com Fante (2005), a educação é o caminho que conduz a paz, e que a solidariedade, tolerância e o amor são ingredientes que compõe o antídoto contra a violência e deve ser aplicada diretamente no coração de cada criança, jovem e principalmente no coração daqueles que se dedicam à arte de educar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRAPIA -Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e a
Adolescência. Disponível em:http://www.bullying.com.br/BConceituacao21.htm#Mas. Acesso em: 28 set. de 2008
ANTUNES, Deborah Christina. Do Bullying ao preconceito: os desafios da barbárie à educação. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822008000100004&lng=es&nrm=iso. Acesso em: 21 de out. de 2008.
BALLONE GJ – Maldade da Infância e Adolescência: Bullying – in. Disponível em: www.psiqweb.med.br. Acesso em: 21 out 2008.
CAVALCANTE, Meire. Bullying: Como acabar com brincadeiras que machucam a
alma. Revista Escola. Brasília, v.19, n. 178, p. 58-61, dez. 2004.
CONSTANTINI, Alessandro, 1954. Bullying, como combatê-lo? : prevenir e enfrentar a violência entre jovens. Tradução Eugenio Vinci de Moares. São Paulo: Itália Nova Editora, 2004.
FANTE, Cleo. Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. 2 ed. rev. e ampl. Campinas, SP : Verus Editora, 2005.
MESQUITA, Maria Fernanda Nogueira. Valores Humanos na Educação: uma nova
prática na sala de aula. São Paulo: Gente, 2003.
MIDDELTON-MOZ, Jane- Bullying: estratégias de sobrevivências para crianças e adultos. Tradução Roberto Cataldo Costa. Porto Alegre: Artmed, 2007.
NETO, Aramis A. Lopes. Bullying, comportamento agressivo entre estudantes. Artigo de revisão. Disponível em :http:// www.scielo.br/pdf/jped/v81n5s0/v81n5Sa06.pdf. Acesso em: 25 mar de 2008.
NOGUEIRA, Rosana Mª C. Del Picchia de Araújo. Bullying na Escola e na Vida. Disponível em: http://www.pedagobrasil.com.br/pedagogia/bullyingnaescola.htm . Acesso em: 21 de out de 2008
POLATO. Amanda. Violência é produzida na escola sim.Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/online/redatores/amanda/20070620_posts.shtml.
Acesso em: 21 out 2008
SCHAFER, Mechthild. Abaixo aos Valentões. Disponível em:
http://www.redepsi.com.br/portal/modules/news/makepdf.php?storyid=1823. Acesso
em: 22 de out de 2008.
SILVA, Geane de Jesus. Bullying: quando a escola não é um paraíso. Disponível em: http://www.mundojovem.pucrs.br/bullying.php. Acesso em: 21 de out de 2008
SIMMONS, Rachel. Garota fora do jogo: a cultura oculta da agressão nas meninas.
Rio de Janeiro: Rocco, 2004.

ANEXO

Exemplos de casos:

Os casos aqui descritos são oriundos das pesquisas realizadas por Fante (2005) e seus colaboradores.

Caso 1: João Paulo, um garoto da 5° série, 11 anos, vinha sofrendo perseguições de alguns colegas porque não gostava de jogar futebol. Por ser tímido e sensível, chorava com facilidade e não conseguia responder aos ataques de alguns companheiros de escola, passando a ser rejeitado pelos meninos da turma. Ninguém queria a sua participação nos trabalhos em grupo ou nos jogos em equipe. Não tendo outra saída, aproximou-se de outras meninas e, como resultado, ganhou o apelido de Bicha. Por isso, estava sendo perseguido e humilhado no horário do recreio, como passatempo de vários alunos agressores. João Paulo faltava às aulas com certa freqüência, alegando que estava doente, que tinha muita dor de cabeça e que não dormia direito. Seu aspecto era triste e deprimido. Parecia que estava sempre com medo de que algo ruim lhe acontecesse. Uma colega de classe disse para o professor que o menino estava pensando em mudar-se de escola, mas temia que lá também fosse alvo de gozações. Ele não sabia o que fazer nem como lidar com a questão. O fato é que estava sofrendo muito e queria que o deixassem em paz.
Caso 2: Edimar, um jovem humilde e tímido de 18 anos, foi vítima de seus companheiros de escola durante onze anos. Os companheiros importunavam-no por causa de sua obesidade, colocando apelidos que o constrangiam e incomodavam. Sabedor da principal causa que provocava sua hostilização e o rechaço de seus companheiros, propôs-se a emagrecer. Porém, todos os esforços para perder quase 30 quilos foram em vão. Se não bastasse ser chamado de gordo, mongolóide e elefante cor-de-rosa, ainda adquiriu o apelido de Vinagrão (por ingerir vinagre de maçã todos os dia pela manhã, para ajudar no emagrecimento). Edimar não podia mais resistir. Feriu e feriu-se para sempre, encerrando de forma trágica uma vida repleta de humilhações e sofrimento.
No dia 27 de janeiro de 2003, na pacata cidade de 7 mil habitantes, Taiúva, interior do estado de São Paulo, o jovem, que havia concluído o ensino médio, entrou na sua ex-escola durante o recreio dos alunos que estavam em recuperação, ferindo uma professora, seis alunos e o zelador.
Segundo informações que obtivemos de professores, funcionários e alunos, bem como da própria mãe e, posteriormente, de uma das suas vítimas que ficou paraplégica, Edimar era um garoto passivo, retraído, com poucos amigos e apresentava grandes dificuldades de se impor e de se expor diante o grupo. Durante vários anos, vinha sendo mal tratado por seus colegas de escola por meio de apelidos que o constrangiam e humilhavam, sem nunca ter reagido, revidado ou denunciado seus agressores. Na escola, nunca apresentou nenhum tipo de comportamento agressivo ou violento. Era um aluno considerado normal.
Diante do comportamento e das características que envolve todo o episódio, seguramente podemos afirmar que Edimar era vítima do fenômeno Bullying.
Caso 3: Denilton, um adolescente de 17 anos, tímido, introvertido, foi excluído de seu circulo de amigos na escola. Revoltado com os anos de humilhações a que fora submetido no ambiente escolar, resolveu dar um basta aquela seqüência de sofrimentos. Mobilizados por pensamentos de vingança, dirigiu-se a sua ex-escola, a procura de seus agressores. Não os encontrando, uma vez que as aulas estavam suspensas, foi até a escola onde estava matriculado e novamente se deparou com as portas fechadas. Necessitando a todo custo exteriorizar os sentimentos que em sua alma estavam represados, encaminhou-se a casa de seu agressor principal, um garoto de 13 anos. Lá chegando, chamou pelo nome e o assassinou na porta de sua casa, com um tiro na cabeça. Sem conseguir ordenar seus pensamentos, transtornado, dirigiu-se até a escola de informática onde havia estudado, na tentativa de encontrar aqueles que aos poucos dia após dia, foram lhe roubando a alegria de viver e o direito de aprender e de ser feliz. Na tentativa de barrar que ousasse entrar em seu caminho para impedi-lo de se intento, atirou contra funcionários e alunos, atingindo fatalmente a cabeça da secretária, uma jovem de 23 anos, e ferindo mais três pessoas. Quando tentava recarregar a arma para fazer novas vítimas, foi imobilizado e detido.
Em seu depoimento, o adolescente deixou claro o grau de sofrimento e os traumas que foram criados em seu psiquismo por causa dos anos de humilhações na escola. Sua intenção era cometer uma chacina, tendo planejado matar mais de cem pessoas. Com essa tragédia, diz que ficaria famoso na cidade de Remanso -BA, por cem anos e seria lembrado como o terrorista suicida brasileiro, uma vez que a idéia de suicídio o acompanhava desde os 15 anos.

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