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segunda-feira, dezembro 30, 2024

CARL ROGERS E A ABORDAGEM HUMANISTA

Destacado pioneiro no desenvolvimento da chamada Psicologia Humanista, ou Terceira Força em Psicologia, Carl R. Rogers (1902-1987) foi um dos principais responsáveis pelo acesso e reconhecimento dos psicólogos ao universo clínico. Sua postura enquanto terapeuta sempre esteve apoiada em sólidas pesquisas e observações clínicas, podendo-se, sem sombra de dúvida, dizer que o campo de pesquisas objetivas voltadas para o referencial teórico da Abordagem Centrada na Pessoa é formado por um número considerável de trabalhos.

Em suas primeiras experiências clínicas, calcadas na tradição behaviorista e, ainda mais, psicanalista, Rogers sentiu a forte ruptura entre o pensamento especulativo freudiano e o mecanicismo medidor e estatístico do behaviorismo.

É extremamente interessante que Rogers se refira à lógica do organismo como um todo, intuindo um tipo de racionalidade orgânica que é muito mais sutil e mais profunda que o tipo de racionalidade intelectual e linear que ordinariamente se põe como a única coisa digna deste termo, racionalidade, e que, via de regra, se resume à capacidade de reter algumas informações ou habilidades técnicas, adestradas a partir da educação formal. Nisto, podemos lembrar a célebre citação de Pascal de que “O Coração possui razões que a própria razão desconhece”.

É este tipo de sabedoria interna ao organismo que se expressa no equilíbrio ecológico de todo o sistema vital do planeta. Assim como no amplo espectro do leque natural, a mesma racionalidade implícita à vida se expressa no homem, como tendência à auto-atualização, que é a tendência natural do organismo para atingir um grau de maior harmonia dinâmica interna e externa, exercitando suas potencialidades adaptativas de acordo com o seu desenvolvimento global junto ao meio em que vive.

Diz Rogers: “É este impulso que é evidente em toda vida humana e orgânica – expandir-se, estender-se, tornar-se autônomo, desenvolver-se, amadurecer – a tendência a expressar e ativar todas as capacidades do organismo na medida em que tal ativação valoriza o organismo ou o self”.

Desta forma, Rogers e sua teoria estão indo muito além do reducionismo simplista do Behaviorismo, ou do determinismo mecanicista da psicanálise e seu modelo hidráulico da psique humana, ainda muito aceita e comentado devido à mística da abordagem mecanicista na cultura acadêmica, sempre a última a se abrir aos avanços do pensamento humano. Assim mesmo, convém lembrar que Rogers sempre concordou com muitos pontos importantes destas duas escolas, e via em Freud um grande teórico.

Os humanistas também se recusam a aceitar a visão do behaviorismo radical de Skinner, que identifica o homem ao robô ou marionete do meio, cuja natureza comportamental é moldada, manipulada e controlada pelo condicionamento ambiental (idéia cara ao capitalismo e à propaganda).

Seria um grave erro, segundo os humanistas, a tendência exagerada a generalizar conclusões obtidas a partir de experimentos – muitos deles cruéis e extremamente artificiais – realizados com animais; ou mesmo quando, ao se fazer experimentos com pessoas, ao fato de se reduzir a aspectos fisiológicos ou outros mecanicistas, perdendo a dimensão psicológica propriamente dita.

Os psicólogos humanistas preferem o estudo do homem em seu potencial mais positivo e a abordar a Psicologia a partir do prisma da saúde e do crescimento psicológico.

O sistema educacional é provavelmente a mais influente de todas as instituições – superando em alcance a família, a Igreja, a política e o governo – ao modelar a política interpessoal da pessoal em crescimento.

Relacionamos a seguir as condições fundamentais que podem ser observadas, quando a aprendizagem centrada na pessoa se desenvolve na escola:

– A pessoa facilitadora compartilha com os outros alunos e possivelmente também com os pais, ou membros da comunidade, a responsabilidade pelo processo da aprendizagem.

– O facilitador proporciona os recursos de aprendizagem de dentro de si mesmo e de sua própria experiência, de livros, materiais ou de experiências da comunidade.

– O aluno desenvolve seu próprio programa de aprendizagem, sozinho ou em cooperação com outros.

– Proporciona-se um clima facilitador de aprendizagem.

– O enfoque reside principalmente em desenvolver o processo contínuo de aprendizagem. O conteúdo da aprendizagem, embora significativo, fica em segundo plano. Deste modo, um curso é considerado bem-sucedido não quando o aluno “prendeu tudo o que ele precisa aprender”, mas quando realiza um progresso significativo ao aprender como aprender o que ele quer saber.

– A disciplina necessária para alcançar os objetivos dos alunos é a autodisciplina, que será reconhecida e aceita pelo estudante como sendo de sua própria responsabilidade.

– A avaliação da extensão e significado da aprendizagem de cada aluno é feita primeiramente pelo próprio estudante, embora sua auto-avaliação possa ser influenciada e enriquecida por meio de feedback cuidadoso de outros membros do grupo e do facilitador.

Neste clima que promove o crescimento, a aprendizagem é mais profunda e se desenvolve num ritmo mais rápido, sendo mais útil para a vida e para o comportamento do aluno, do que a aprendizagem adquirida na sala de aula tradicional. Isto acontece porque a direção é auto-escolhida, a aprendizagem é autoditada e a pessoa como um todo, com sentimentos e paixões tanto quanto com o intelecto, é envolvida no processo.

As implicações políticas da educação centrada na pessoa são claras: o estudante detém seu próprio poder e controle sobre si mesmo; ele compartilha de escolhas e decisões responsáveis; o facilitador proporciona o clima propício a estes objetivos. A pessoa que está se desenvolvendo e busca o conhecimento é a força politicamente poderosa. Este processo de aprendizagem representa a reviravolta revolucionária na política da educação tradicional.

Bibliografia

– Sobre o poder pessoal / Carl Rogers.

4ª edição – São Paulo: Martins Fontes, 2001 ( psicologia e pedagogia).

– A pessoa como centro [por] Carl R. Rogers [e] Rachel L. Rosemberg.

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