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domingo, dezembro 22, 2024

CAXUMBA

Terezinha Marta PP Castiñeiras, Luciana GF Pedro & Fernando SV Martins

A caxumba (parodidite*) é uma doença infecciosa imunoprevenível de transmissão respiratória. A infecção é causada pelo vírus da caxumba e, freqüentemente, resulta em manifestações discretas ou é assintomática. A doença geralmente tem evolução benigna e é mais comum em crianças, mas pode ocorrer com maior gravidade em adultos susceptíveis (não imunes). Durante a gravidez a infecção pelo vírus da caxumba pode resultar em aborto espontâneo, porém não existem evidências de que possa causar mal-formações congênitas. Como regra geral, a imunidade é permanente, ou seja, a caxumba comumente ocorre apenas uma vez na vida.

Transmissão
O vírus tem distribuição universal e a doença ocorre mais freqüentemente em regiões com baixa cobertura vacinal. O ser humano é o único hospedeiro natural do vírus da caxumba e a doença geralmente ocorre apenas uma vez na vida. A transmissão para uma pessoa susceptível ocorre através do contato com as secreções respiratórias (gotículas de saliva, espirro, tosse) de um indivíduo infectado, mesmo quando assintomático. O período de transmissibilidade da caxumba começa uma semana antes e vai até nove dias após o aparecimento de inflamação nas glândulas salivares (mais comumente das parótidas).

Após a transmissão, o vírus da caxumba se replica na mucosa da nasofaringe e nos gânglios linfáticos regionais. Entre 12 e 25 dias após a infecção, ocorre disseminação do vírus através da corrente sangüínea (viremia). Durante o período de viremia, que dura de 3 a 5 dias, existe a possibilidade de disseminação para as glândulas salivares, meninges, pâncreas, testículos e ovários. A infecção pelo vírus da caxumba, produzindo ou não manifestações clínicas, geralmente resulta em imunidade permanente. A reinfecção, embora possivel, é muito rara e, em geral, é inteiramente assintomática ou produz manifestações clínicas discretas.

Riscos

A caxumba tem distribuição universal e variação sazonal, com predomínio de casos no inverno e na primavera. Ainda é uma doença comum na maioria dos países em desenvolvimento. Na maior parte do mundo a incidência anual da caxumba varia entre 100 a 1000 casos para cada 100 mil habitantes, com surtos ou epidemias a cada 2 a 5 anos. Entre 2004 e 2007 ocorreram diversos surtos e epidemias de caxumba em países do Continente Americano (Estados Unidos, Brasil, Canadá), Europa Ocidental (Espanha, Reino Unido, Irlanda) e Europa Oriental (Ucrânia). No Brasil (2007) está ocorrendo um surto em Campinas (SP), principalmente entre estudantes universitários. A caxumba não faz parte da lista de doenças de notificação compulsória.

Medidas de proteção individual

A medida se proteção mais importante contra a caxumba é a vacinação, que confere imunidade contra a infecção em mais de 95% das pessoas. A vacina é produzida com vírus atenuados e pode conter exclusivamente o vírus da caxumba ou também incluir o vírus do sarampo e o da rubéola (“tríplice viral”, SRC ou MMR). A vacinação contra caxumba, necessariamente, deve incluir pessoas do sexo masculino, inclusive adultos, para evitar que sirvam de fontes de infecção para outros indivíduos. A realização de testes sorológicos antes da aplicação da vacina contra a caxumba é, geralmente, desnecessária.

A vacina contra a caxumba, como qualquer outra, pode ter contra-indicações e produzir efeitos colaterais, em geral pouco freqüentes e desprovidos de gravidade. Como todas as vacinas produzidas com vírus atenuados, está contra-indicada durante a gestação. Como regra geral, pelo mesmo motivo, também não deve ser utilizada em imunodeficientes, exceto em situações especiais e com avaliação médica. No Brasil, a partir de 1992 com a implementação do Plano de Nacional de Eliminação do Sarampo, a vacinas combinada (MMR) passou a ser utilizadas na Rede Pública, resultando uma redução significativa do número dos casos de caxumba , rubéola e de sarampo.

No Calendário de Vacinação atual está prevista a aplicação da MMR para crianças em duas doses, a primeira aos doze meses e a segunda entre 4 e 6 anos. A vacina também está disponível nos Centros Municipais de Saúde, em dose única, para adolescentes e adultos (mulheres até 49 anos e homens até 39 anos). Embora o risco de teratogênese (mal-formações congênitas) com o vírus vacinal pareça ser pequeno, a gravidez deve ser evitada durante, pelo menos, os 30 dias seguintes à aplicação da vacina. Para reduzir as chances de infecção de pessoas que tenham contra-indicações (como gestantes e imunodeficientes), os contactantes podem e devem ser vacinados, uma vez que os vírus contidos na MMR não são transmissíveis.

Todos os casos com suspeita diagnóstica de caxumba devem ser notificados ao Centro Municipal de Saúde mais próximo, para que possam ser adotadas, em tempo hábil, medidas que diminuam o risco de disseminação da infecção para a população. A MMR pode ser utilizada para bloqueio de surtos ou epidemias de caxumba (ou de sarampo, ou de rubéola), com o objetivo de proteger os indivíduos não imunes, ou seja, os que nunca tiveram caxumba e os que ainda não tenham sido vacinados de forma adequada. A vacinação precoce (feita até 72 horas depois do contato) não é capaz de evitar a caxumba e nem a rubéola, porém pode impedir o desenvolvimento do sarampo. Entretanto, também os contactantes não imunes de pessoas com caxumba ou com rubéola sempre devem ser vacinados o mais precocemente possível, uma vez que a transmissão poderá ainda não ter ocorrido e é prudente evitar a possibilidade de infecções futuras.
A evidência de imunidade contra caxumba é dada pela comprovação sorológica da infecção, pela imunização (MMR) documentada com o Cartão de Vacinação ou quando o diagnóstico é feito por um médico. A história de “caxumba”, quando ocorre parotidite, permite presumir apenas em bases clínicas com um grau de certeza razoável, mesmo sem comprovação sorológica, a existência de imunidade contra a doença. O Cives recomenda que o viajante não vacinado, que não tenha comprovação sorológica de imunidade ou diagnóstico médico, observando-se as contra-indicações, receba a vacina ou, eventualmente, realize exames laboratoriais para verificar a imunidade contra caxumba.

Manifestações

O período de incubação da caxumba é de 12 a 25 dias. A infecção, na maioria das vezes, resulta em manifestações discretas ou é inteiramente assintomática. Quando ocorrem, as manifestações clínicas mais comuns são febre baixa, dor no corpo, perda do apetite, fadiga e dor de cabeça. Cerca de 30 a 40% dos indivíduos infectados apresentam, até o segundo dia de doença, dor e aumento uni ou bilateral das glândulas salivares (mais comumente, das parótidas). A parotidite dura em torno de 7 a 10 dias e tem resolução espontânea.

Em alguns casos a caxumba pode evoluir com comprometimento do sistema nervoso central (meningite e encefalite), surdez, inflamação dos testículos (orquite), dos ovários (ooforite), coração (miocardite) e, mais raramente do pâncreas (pancreatite). Algum grau de inflamação das meninges (meningite), em geral assintomática, pode ocorrer em até de 60% das pessoas com caxumba. A meningite com manifestações clínicas (dor de cabeça intensa, rigidez de nuca) é mais comum em adultos do sexo masculino e pode ser observada em aproximadamente 15% dos casos, em geral com evolução favorável e sem deixar sequelas. A encefalite (inflamação cerebral), que é potencialmente fatal, pode acontecer na proporção de um para cada 50.000 casos. A caxumba pode levar à surdez transitória ou permanente em 1 para 20.000 casos, comumente de início súbito e unilateral em cerca de 80% das vezes. A ooforite, que ocorre em até 5% das mulheres que adquirem caxumba após a fase puberal, não está relacionada à infertilidade. A ooforite, assim como a pancreatite, pode produzir manifestações (dor abdominal) confundíveis com apendicite. A orquite, também após a fase puberal, pode se desenvolver em 20 a 50% dos indivíduos e, ainda que possa resulta em algum grau de atrofia testicular, raramente está associada com infertilidade permanente. A miocardite pode acontecer em até 15% dos casos e, ainda que potencialmente grave, em geral não produz repercussões clínicas e é detectável apenas por alterações eletrocardiográficas.

A caxumba, à semelhança de outras doenças virais (dengue, sarampo, rubéola, varicela etc), pode cursar com alguma redução do número de plaquetas (plaquetopenia), elementos que exercem papel importante na coagulação sanguínea. No entanto, a ocorrência de manifestações hemorrágicas na caxumba é muito rara. Pode ainda ocasionar, o que é extremamente raro, manifestações como dor (artralgia) e inflamação (artrite) nas articulações e processo inflamatório nos glomérulos renais (glomerulonefrite). Durante a gravidez, notadamente no primeiro trimestre, a infecção pelo vírus da caxumba pode resultar em aborto espontâneo, porém não existem evidências claras de que possa causar mal-formações congênitas.

Tratamento
As pessoas com suspeita de caxumba devem procurar um médico para a confirmação do diagnóstico. Não existe tratamento específico. Os antitérmicos e analgésicos, caso necessário, podem ser utilizados para controlar a febre e a dor. Os medicamentos que contenham em sua formulação o ácido acetil-salicílico (AAS®, Aspirina®, Doril®, Melhoral® etc) não devem ser usados, pelo risco de ocorrerem sangramentos (o número de plaquetas pode ficar diminuido em pessoas com caxumba) e, em crianças, também pela possibilidade de Síndrome de Reye. As pessoas com caxumba devem permanecer em repouso até que a febre desapareça e evitar contato (pode levar à disseminação da doença) com outros indivíduos. Compressas frias podem ser úteis para diminuir a dor nas parótidas. Devem ainda procurar ingerir alimentos líquidos e evitar os sólidos (a mastigação pode ser dolorosa) ou os que possam estimular a produção de saliva (frutas e sucos cítricos). A utilização de suporte para os testiculos pode ser útil em casos de orquite. O auxílio médico também deve ser sempre procurado quando a febre for muito elevada, quando ocorrer dor nos testículos (orquite), dor abdominal (ooforite, pancreatite), dor de cabeça intensa (menigite) e surdez.

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