Autoria: Tiago Ferreira de Souza
Ciclo Haplodiplobionte : Todos os vegetais intermediários e superiores, todas as rodófitas, certas feófitas, como a Laminaria, e certas clorófitas, como a Ulva, possuem o ciclo haplodiplobionte. Neste ciclo ocorre uma alternância de gerações, onde há um adulto haplóide (n) e um adulto diplóide (2n). O adulto haplóide produz gametas (n) por mitose, por isso chamado de gametófito (produtor de gametas). Já o adulto diplóide produz esporos (n) por meiose, sendo denominado esporófito (produtor de esporos). Por essa razão, a meiose é classificada como espórica, ou ainda intermediária, pois ocorre no meio do ciclo de vida. A diferença básica entre gametas e esporos é que os primeiros são células sexuais, enquanto que os esporos são assexuados.
Ciclo Haplobionte: Algumas algas verdes, como a Ulothrix, possuem ciclo de vida haplobionte, ou seja, há apenas indivíduos haplóides (n). O zigoto, ou célula ovo, formado por fecundação, logo sofre meiose, por isso denominada meiose zigótica. É interessante notar que o zigoto é a única célula diplóide do ciclo. A meiose também pode ser denominada inicial, pois ocorre no início do ciclo de vida.
Ciclo Diplobionte : É o ciclo de vida característico dos animais, porém algumas clorófitas, como a Bryopsis, e certas feófitas, como Sargassum e Fucus, também o apresentam. O indivíduo adulto é diplóide (2n), sendo que a única célula haplóide do ciclo é o gameta. A meiose ocorre na formação dos gametas, por isso denominada meiose gamética. Como ocorre no final do ciclo, também chamada meiose final.
O ciclo de vida das gimnospermas é haplodiplobionte. O vegetal duradouro é o esporófito (2n) e os transitórios são os gametófitos . O gametófito masculino jovem é o grão de pólen * que se desenvolve originando o tubo polínico (gametófito masculino maduro ou microprotalo). O gametófito feminino ou megaprótalo é o saco embrionário que fica no interior do óvulo. O gameta masculino haplóide (n) é o núcleo espermático (ou gamético) e o gameta feminino haplóide (n) é a oosfera.
Muitas gimnospermas, como as coníferas, não precisam de água para a fecundação, que se dá por sifonogamia, com formação de tubo polínico. Mas algumas gimnospermas primitivas, consideradas por alguns autores como verdadeiros fósseis vivos (Cycas revoluta, por exemplo) ainda dependem da água para a fecundação produzindo anterozóides que nadam em direção à oosfera.
Polêmica em vestibular é esclarecida nos livros de Amabis e Martho
O vestibular de Biologia de 1999 da Universidade Federal da Paraíba trouxe uma questão sobre ciclos de vida, cuja resposta foi contestada com base em alguns livros didáticos destinados ao ensino médio. Os livros de Amabis e Martho, todavia, concordavam com a resposta oficial do vestibular. Face a essa discrepância, apresentamos a seguir a questão que provocou a polêmica, e um comentário assinado pelos autores José Mariano Amabis e Gilberto Martho.
Questão 36
Sobre as plantas e as algas, afirma-se que
I.são assexuadas porque não fazem sexo como os animais.
II.as algas verdes (Chlorophyta), as vermelhas (Rhodophyta) e as pardas (Phaeophyta) possuem clorofila do tipo a.
III.as briófitas e as pteridófitas apresentam ciclo de vida diplobionte, com alternância de gerações haplóides e diplóides.
IV.as criptógamas possuem estruturas reprodutoras bem visíveis e as fanerógamas têm essas estruturas pouco evidentes (escondidas).
V.as gimnospermas e as angiospermas são, basicamente, organismos diplóides e apresentam estruturas reprodutoras denominadas, respectivamente, estróbilos e flores.
Estão corretas apenas
a)I, III e IV.
b)I, II e V.
c)II, III e V.
d)III e IV.
e)II, III e IV
A resposta é c), pois são corretas as afirmações II, III e V. Alguns professores questionaram a validade da afirmação III, com base em livros didáticos de ensino médio que chamam o ciclo das briófitas e das pteridófitas de haplodiplobionte, em vez de diplobionte.
A nomenclatura dos ciclos de vida surgiu nas décadas de 1920 e 1930. Svedelius, em 1931, foi o primeiro a empregar o termo “haplobionte” para designar o ciclo de vida de certas algas. Posteriormente, essa nomenclatura foi generalizada, passando também a ser usada para ciclos de vida de outros organismos.
De acordo com a nomenclatura originalmente proposta, há dois tipos básicos de ciclo vital: haplobionte e diplobionte.
No primeiro tipo de ciclo — haplobionte (do grego haplo, simples, único, e bionte, organismo) — há apenas um tipo de organismo adulto, que pode ser haplóide ou diplóide. Se a forma adulta é haplóide (n), o ciclo é denominado haplobionte haplonte e representado pela sigla H, h. Se a forma adulta é diplóide (2n), o ciclo é denominado haplobionte diplonte e representado pela sigla H, d.
No ciclo haplobionte haplonte (H, h), os adultos (n) produzem gametas (n), que se unem e dão origem ao zigoto (2n). Este sofre meiose, originando esporos (n), que se desenvolvem em formas adultas (n), fechando o ciclo. Como a meiose ocorre no zigoto, fala-se em meiose zigótica.
No ciclo haplobionte diplonte, a meiose ocorre nos adultos (2n), levando à formação de gametas (n). Estes se unem e originam o zigoto (2n), que se desenvolve em formas adultas (2n). Como a meiose leva à formação de gametas, fala-se em meiose gamética.
O segundo tipo de ciclo de vida — diplobionte (do grego diplo, duplo, dois), representado pela sigla D, h+d — caracteriza-se por apresentar dois tipos de forma adulta, uma delas haplóide, denominada gametófito, e outra diplóide, denominada esporófito. A meiose ocorre no esporófito (2n), levando à formação de esporos (n), que germinam e originam gametófitos sexuados (n). Estes, por sua vez, formam gametas (n), que se unem e originam o zigoto (2n). O desenvolvimento do zigoto no esporófito (2n) fecha o ciclo. Como a meiose ocorre na formação de esporos, fala-se em meiose espórica. No ciclo diplobionte ocorre, portanto, alternância de gerações haplóide e diplóide.
Alguns livros didáticos destinados ao ensino médio trazem nomenclatura diferente da apresentada anteriormente, que foi a adotada em nossas obras. O ciclo que denominamos haplobionte haplonte (H, h) tem sido chamado “haplobionte”; o ciclo haplobionte diplonte (H, d) tem sido chamado “diplobionte”; e o ciclo diplobionte (D, h+d) tem sido chamado “haplodiplobionte”. Essas denominações, porém, não correspondem às usadas em bibliografias especializadas, como no tradicional compêndio de Botânica Introduction to the algae, de H. C. Bold e M. J. Wynne (Prentice Hall, Inc., New Jersey, 1978), e no Glossário Ilustrado de Botânica, de M. G. Ferri, N. L. de Menezes e W. R. Monteiro-Scanavacca (Ed. Nobel, São Paulo, 1981).
Pesquisando a possível origem dessas diferentes nomenclaturas, verificamos que o conjunto de termos “haplobionte, diplobionte e haplodiplobionte” foi usado pelo fundador do Departamento de Botânica da Universidade de São Paulo, Prof. Felix Rawitscher, no livro Elementos Básicos de Botânica. Muitos biólogos, porém, julgaram equivocada a terminologia empregada pelo Prof. Rawitscher, tanto assim que professores de seu próprio departamento têm usado a nomenclatura original, como pode ser visto nos livros Glossário Ilustrado de Botânica, de M. G. Ferri, N. L. de Menezes e W. R. Monteiro-Scanavacca (Ed. Nobel, São Paulo, 1981) e Botânica, de L. M. Coutinho (Ed. Cultrix, São Paulo, 1973).