I Jornada Universitária da Unidade Acadêmica de Garanhuns
I JUAG
Garanhuns – PE, 29 a 31-10-2007
UM ESTUDO SOBRE O CUIDAR E EDUCAR CRIANÇAS DE ZERO A SEIS ANOS DE IDADES EM UMA CRECHE MUNICIPAL EM SÃO LOURENÇO DA MATA/PE:
SONHO X REALIDADE.
RESUMO:
O debate sobre a educação infantil encontra unanimidade ao considerar os aspectos do cuidar e do educar como dimensões essenciais ao desenvolvimento de crianças pequenas, o que tem gerado uma gama de pesquisas voltadas ao desenvolvimento infantil. Objetivou-se neste trabalho analisar a dicotomia existente entre o cuidar e educar que ainda vigora nas concepções de profissionais que atuam nas creches . enfatiza o cuidar e educar como dimensões essenciais ao desenvolvimento da criança de zero a seis anos de idade, exigindo um trabalho de forma planejada, no sentido de estimular os processos de desenvolvimento infantil (motor, cognitivo, emocional, social). Salienta que a creche deve se configurar como lugar de interação e socialização de crianças, complementar a ação familiar, bem como ressalta a importância de um currículo de atividades bem diversificado que venha proporcionar o desenvolvimento integral da criança.
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PALAVRAS–CHAVE: Creche, Educação Infantil,
INTRODUÇÃO:
De acordo com Rizzo (2003) o trabalho realizado em creches visa à socialização, educação para o exercício da cidadania, promoção da saúde e dietas equilibradas, estimulação sistemática e assistemática e acompanhamento psicopedagógico indispensáveis ao crescimento e desenvolvimento harmonioso das crianças de 0 a 3 anos e 11 meses de idade, complementando à ação da família e da comunidade.
trabalho com crianças de zero a seis anos pressupõe o cuidado e a educação como intrínsecos à relação cotidiana. De um lado, as crianças necessitam dos cuidados essenciais ligados às questões de alimentação, vestuário, saúde, pelos quais todos os seres humanos são subjugados. De outro, necessitam também da interferência imediata, em especial do adulto, para a realização destes cuidados e outras tarefas do dia-a-dia. Essa interferência ocorrerá com maior ou menor intensidade à medida que o grau de autonomia (maturação física, emocional, afetiva) for se ampliando. Fica evidenciado que as atividades ligadas estritamente ao ato do cuidado são de extrema importância e que este ato não pode pretender-se desvincular do processo de desenvolvimento.(OLIVEIRA, 1992) .
Muito se discute em relação à formação de profissionais que atuam com crianças pequenas, na medida em que há premência em integrar a educação e o cuidado, e se depara com um contexto precário de formação e um grande contingente de leigos, como bem salienta Bhering (2004). A própria observação do contexto da educação infantil na atualidade aponta para a necessidade de se investir intensamente na formação destes profissionais. Como bem enfatizam Mantovani e Bondioli (1998), o profissional de creche deve possuir uma consistente formação acerca do processo de desenvolvimento da criança, a fim de que possa selecionar e empreender atividades em função deste desenvolvimento. Para estas autoras, uma tarefa essencial deste profissional é a de especificar os modos e os objetivos de uma programação que leve em conta uma visão integradora do desenvolvimento infantil. Salientam ainda que a criança adquire a consciência dos outros e de si mesma por meio de seu corpo, pela maneira como é tocada e entra em contato com os outros corpos, pela maneira como é contida, limpa, cuidada, tranqüilizada, pelo modo como pode expressar-se. Por estes motivos, a formação do profissional de creche é, sem dúvida alguma, temática de extrema urgência e importância, uma vez que sua atuação interfere diretamente na formação biopsicossocial dos pequenos com os quais atua. Diante deste contexto e considerando que a criança pequena precisa de cuidados e atenção constantemente. Objetivou-se neste trabalho analisar as atividades realizadas e relação dos adultos com as crianças, bem como conhecer a concepção das profissionais que atuam na instituição sobre o cuidar e educar crianças na creche.
MATERIAL E MÉTODOS: Foi desenvolvido observações no local com roteiro pré elaborado, visitas com freqüência nas salas de atividades para conhecer as atividades realizadas com as crianças e a relação dos adultos com as crianças .
Foram aplicados questionários as profissionais da creche ( coordenadora, professoras, auxiliares, cozinheiras e voluntárias), para identificar o perfil sócio demográfico como também averiguar o conhecimento dessas pessoas quanto a importância do cuidar e educar para o desenvolvimento integral das crianças.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Atividades realizadas e relação dos adultos com as crianças.
Tanto os profissionais como as crianças quando chegavam à instituição encontravam uma rotina diária que era comum a todos os grupos.
O que se verificou é que as ações dos adultos (professores e auxiliares) estão subordinadas a esta seqüência hierárquica, cabendo-lhes adequar os diferentes ritmos das crianças ao ritmo único da rotina dessa instituição. m o tempo da creche parece não pertencer aos adultos nem as crianças, mas, a uma rede formalizada de normas, em que o tempo objetivo e linear tenta sobrepor ao subjetivo dos sujeitos envolvidos no ato educativo, adultos e crianças, não importa se as atividades estão sendo significativas, mas sim tentar manter a seqüência para garantir a pontualidade dos horários predeterminados. A rotina da creche dessa forma gera conflitos entre o sonho que insiste na homogeneidade das atitudes e comportamentos e uma realidade que mostra uma heterogeneidade na diversidade das atitudes e do comportamento.
Com relação às atividades pedagógicas estas não eram planejadas pelas educadoras, estas obedeciam a um planejamento estabelecido pela direção. Os conteúdos e ações eram escolarizantes, visando ao preparo destas crianças para o ingresso no ensino fundamental. Não houve um momento durante a permanência nas salas de atividades que pudessem ser observados contos de histórias infantis, músicas e dramatizações. As crianças quando não estavam fazendo colagem, pinturas com lápis ou sendo alfabetizadas ficavam sentadas ou correndo pelas salas sem que lhes fossem oferecidas alternativas de aprendizagens.
Para Lima e Bhering (2006) as atividades deveriam referir-se as áreas do currículo que são descritas no Referencial Curricular para Educação infantil, como desenvolver atividades que possibilitem o desenvolvimento da motricidade fina (atividade física, arte, música e movimento, blocos, dramatizações, areia/água, natureza/ciências, uso de TV, vídeo).
De acordo com a realidade observada quanto à relação do adulto com as crianças, pode-se constatar que as crianças ocupavam um lugar de sujeito passivo, que só se enquadrava no espaço sem muitas possibilidades de reação. Passava a maior parte do tempo esperando e sendo submetidas às exigências dos adultos. A rotina seguida tinha condição única de garantir o funcionamento harmônico da creche negando que a criança fosse sujeito capaz de construir e interagir com o adulto e as outras crianças negando à criança seu jeito de ser e atuar no mundo.
Segundo Angotti (1994), a criança ao nascer já trás consigo um potencial a ser desenvolvido, como uma planta que em sua semente trás dentro de si tudo aquilo que poderá vir a ser. Sendo assim a criança deveria ser cuidada como uma semente para que pudesse crescer forte, descobrir a si própria, suas potencialidades e sua essência.
A tentativa de fazer do espaço, ambiente de possibilidades e não de limites é um objetivo a ser alcançado, reconhecendo que não é a partir de uma intervenção direta e imposta, mas que é uma meta a ser tecida na prática cotidiana.
Concepções sobre o cuidar e educar para as educadoras da creche
De acordo com o questionário aplicado as funcionárias da creche pode-se constatar que nenhuma delas, participaram de curso de treinamento para trabalhar em creche.
Todas apontam como função da creche educar e cuidar apresentando, porém, diferentes ênfases. A coordenadora, a secretária, As professoras, definiram a creche como instituição de educação, conceituando educação como um processo amplo que engloba transmissão de conhecimentos, cultura, valores e regras sociais, para elas tal processo inclui não só atividades educativas como também o cuidado, o qual foi definido como promotor de bem-estar e das interações na creche.
Relato de uma das Professoras – educar para mim é o todo, educar e cuidar é uma coisa só, e o nosso objetivo mesmo é o pedagógico em primeiro lugar.
Relato de uma das Auxiliares de desenvolvimento infantil – o princípio da creche é o bem-estar da criança. Tudo é centralizado na criança, a troca, a alimentação, o sono. Agente dando isso a elas, estar criando um ambiente facilitador, a nossa parte pedagógica é facilitada pelo bem-estar delas, aí então elas estão disponíveis para aprender.
As demais funcionárias apontaram como função da creche educar e cuidar das crianças, definiram educar como ensinar a ler e escrever. E cuidar foi definido como: alimentação, banho, sono. Nesse depoimentos nota-se que há separação das tarefas , ou seja, as auxiliares é quem cuida e as professoras é quem educa..
Conclusão:
Diante dos resultados obtidos podemos concluir que:
referencias bibliograficas:
ANGOTTI, M. O trabalho docente na pré-escola revistando teorias, descortinando práticas. São Paulo. Pioneira, 1994.
BHERING, E. Educação infantil: uma iniciativa produzida pela união de recursos e competências. Contrapontos, v. 4, nº 1, p. 11-21, jan/ abr. 2004.
BONDIOLI, A.; MANTOVANI, S. Manual de educação infantil: de 0 a 3 anos – uma abordagem reflexiva. Porto Alegre: Artmed, p.212-221. 1998.
LIMA, A.B.R.; BHERING, E. Um estudo sobre creches como ambiente de desenvolvimento. . Cadernos de Pesquisa. v. 36, n.129. São Paulo set./dez. 2006.
OLIVEIRA, Z. R. Educação infantil: muitos olhares. Sed- São Paulo: Cortez, 1997.
RIZZO, G. Creche: organização, currículo, montagem e funcionamento. 3º ed. Rio de Janeiro: Berland, 2003.