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O Brasil tem um mercado potencial enorme e um conjunto de empresas, empresários e pessoas dinâmicas, porém tem leis e procedimentos complicados e não facilita a operação das empresas. Os pontos fortes estão sendo barrados pelo ambiente de negócios ruim, avalia Michael Klein, vice-presidente do Banco Mundial
(Exame, São Paulo: Abril, n. 855, 09 nov. 2005, p. 134).
Os dois grandes desafios do Brasil são:
1) Completar o ajuste macroeconômico (a dívida pública e os juros são muito altos);
Entenda primeiro o que significa Macroeconomia
2) Melhorar o ambiente de negócios por meio das reformas microeconômicas. Se vencer nas duas frentes, a reação será rápida. O País poderá crescer tanto quanto a China.
Aprenda agora o que significa Microeconomia
No mundo todo, a era das reformas macroeconômicas já passou. A inflação foi contida e os governos passaram a gastar com mais responsabilidade.
Agora vem a batalha da microeconomia, a fim de facilitar a vida de quem quer fazer negócios, como a redução da burocracia para abrir ou fechar empresas, pagar impostos, exportar, etc. As regras devem ser as mais simples possíveis (id.).
A melhoria do ambiente de negócios permite o surgimento de novas empresas e empregos; facilita o fechamento de indústrias com fraco desempenho (esse fechamento faz crescer a produtividade da economia); quem está no setor informal é estimulado a transitar para o formal, no qual os direitos são respeitados, há proteção social e acesso ao crédito. Traduzida no fundo pelo império da lei, a melhoria do ambiente de negócios ajuda a combater a pobreza.
O efeito das reformas microeconômicas depende da expectativa dos investidores; se elas forem interpretadas como sinal de mais avanços em outros campos, os resultados serão muito positivos; se elas forem vistas apenas como manobra publicitária do governo, os resultados serão modestos.
Não há dúvida sobre a importância das reformas no ambiente de negócios. Embora não possam ter uma poção mágica, não podem estar completamente erradas, porquanto todos os países ricos têm um ambiente muito melhor que os pobres. Na América Latina, salta aos olhos o exemplo do Chile, onde as reformas macro e micro se combinaram como enorme sucesso. Os países asiáticos também avançaram nessas reformas.
O grau de amadurecimento das instituições de um país é o principal impulsionador ou entrave para o seu desenvolvimento, preconizou Douglass North, Prêmio Nobel de Economia de 1993, autor da Nova Teoria Institucional. Instituições não são somente as regras do jogo, mas também a tradição em respeitá-las.
Conheça a Teoria Institucional de Douglass North
“Ranking”
O Brasil situa-se na 119ª posição, numa lista de 155 países, nas condições oferecidas para o desenvolvimento de negócios, segundo o trabalho “Fazendo negócios: criando empregos” (“Doing business”) realizado pelo Banco Mundial (“Primeira Leitura”, São Paulo: Primeira Leitura, n. 45, nov. 2005, p. 25).
Em cada um dos dez quesitos avaliados pelo “Doing business”, o Brasil obteve a seguinte classificação:
1) abrir uma empresa: 98ª posição (são necessários 152 dias para abrir um negócio contra uma média de 19 dias nos países desenvolvidos);
2) lidar com licenças: 98ª (são necessários 460 dias para obter as licenças para operar);
3) contratar e demitir: 144ª;
4) registrar propriedades: 105ª;
5) conseguir crédito: 80ª;
6) proteção a sócios minoritários: 53ª;
7) pagar impostos: 140ª (as empresas brasileiras gastam 2.600 horas por ano para pagar a carga tributária contra uma média de 529 horas na América Latina e no Caribe);
8) negociar com o exterior: 107ª;
9) garantir os contratos: 70ª;
10) fechar empresas: 141ª (id., 25).
São obstáculos sérios para os negócios, de acordo com as empresas instaladas no Brasil (pesquisa “Investment climate” da “International Finance Corporation – IFC”, dados de 2003):
1) carga tributária (para 84,5% das empresas);
2) custos dos financiamentos (83,2%);
3) incertezas sobre as leis e o futuro da economia (75,9%);
4) instabilidade macroeconômica (74,9%);
5) corrupção (67,2);
6) custo da administração (66,1%);
7) acesso a financiamento (60,5%);
8) regras do mercado de trabalho (56,9%);
9) práticas anticompetitivas (56,4%);
10) crime, desordem e roubos (52,2%).
Parafernália normativa
O Brasil cria, por dia, em média, 36 normas tributárias (4 do governo federal) e 554 normas gerais, de 05 out. 1988 (início da vigência da nova CF) a 05 out. 2005, segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). No total, os governos editaram 225.626 normas tributárias (25.466 federais, 68.230 estaduais e 2.437.253 municipais) e 3.434.805 normas gerais (134.718 federais, 862.834 estaduais e 2.437.253 municipais). Dessa parafernália normativa, vigoram 16,2 mil normas tributárias. No período de 1988 a 2005, a carga tributária aumentou de 20,01% para 37,50% do PIB. As empresas brasileiras estão sujeitas a mais de 60 tributos, dentre impostos, taxas e contribuições. Como comparação, a China tem 25 tributos e carga fiscal na casa de 17% (Folha de S. Paulo, São Paulo, 06 out. 2005, p. B1).
Agenda de medidas microeconômicas do governo Lula
O objetivo da política econômica do governo é criar, num ambiente de estabilidade econômica, condições favoráveis ao aumento da eficiência econômica do setor produtivo, à melhoria do acesso ao crédito e ao aumento da taxa de investimento na economia brasileira, para superar os entraves à retomada do crescimento sustentável da renda “per capita” (“Reformas microeconômicas e crescimento de longo prazo”, Brasília: Ministério da Fazenda, dez. 2004, p. 17). A sustentabilidade das contas públicas é o centro da política macroeconômica (id., 8).
A agenda de medidas microeconômicas divide-se em cinco principais áreas: 1) aperfeiçoamento do mercado de crédito e do sistema financeiro; 2) melhoria da qualidade da tributação; 3) medidas econômicas para inclusão social; 4) redução do custo de resolução de conflitos; 5) melhoria do ambiente de negócios (id., 9 a 15) (Ver “Agenda de medidas microeconômicas do governo Lula” no site ).
Dentre as medidas já implementadas, o Ministério da Fazenda (MF) aponta: Lei nº 10.820, de 2003, sobre as operações de crédito em consignação em folha de pagamento; Lei nº 10.931, de 2004, sobre a Cédula de Crédito Bancário, a Cédula de Crédito Imobiliário e a Letra de Crédito Imobiliário, bem como o regime tributário especial para os patrimônios de afetação e o valor incontroverso; Lei nº 11.076, de 30 dez. 2004, sobre o Certificado de Depósito Agropecuário – CDA, o Warrant Agropecuário – WA, o Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio – CDCA, a Letra de Crédito do Agronegócio – LCA, o Certificado de Recebíveis do Agronegócio – CRA; Lei nº 10.637, de 2002, e Lei nº 10.833, de 2003, sobre o fim da cumulatividade do PIS/PASEP e da COFINS, respectivamente; EC nº 45, de 2004, a reforma do Judiciário; Lei nº 11.101, de 09 fev. 2005, nova Lei de Falências; Lei nº 10.973, de 02 dez. 2004, estabelecedora de medidas de incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, com vistas à capacitação e ao alcance da autonomia tecnológica e ao desenvolvimento industrial do País; Lei nº 11.079, de 30 dez. 2004, instituidora das normas gerais para licitação e contratação de parceria público-privada no âmbito da administração pública.
Mais recentemente, o governo Lula, em continuidade às reformas microeconômicas, encaminhou ao Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 5.870/2005, sobre a regulação dos bancos de dados de proteção ao crédito e de relações comerciais, bem como sua relação com os cadastrados, fontes de informação e consulentes, e nº 5.877/2005, sobre a reestruturação da defesa da concorrência no Brasil, mediante o redesenho institucional do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC), atualmente regulado pela Lei nº 8.884, de 1994.
Um dos principais requisitos para a realização de bons negócios é a existência de informações fidedignas a fim de permitir ao credor ou ao vendedor avaliar a capacidade financeira e o comprometimento do cliente em honrar os compromissos a serem assumidos, ressalta a Exposição de Motivos Interministerial sobre o PL nº 5.870.
Quando os agentes econômicos não conseguem distinguir os bons pagadores dos maus pagadores, ocorre a “assimetria de informações” e o credor eleva as taxas de juros de todos os mutuários para suprir a inadimplência de alguns. A ausência de informações sobre os potenciais clientes tem um papel decisivo no custo do capital.
Reduzir a vulnerabilidade às oscilações cambiais, aumentar a independência do Banco Central, reduzir incertezas jurídicas e entraves legais e definir o papel do setor público no mercado de crédito, essas são as principais propostas do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para o crescimento da carteira de crédito em países latino-americanos. O BID elegeu o crédito, uma questão estrutural, como o tema de seu relatório de 2005, explica Guilhermo Calvo, economista-chefe (Valor, São Paulo, 08 nov. 2005, p. C2).
Pouca competição, rigidez no mercado de trabalho, legado de instabilidade macroeconômica, distorções regulatórias e regras ultrapassadas sobre o direito de propriedade e falência, essas são as razões para os altos “spreads” dos bancos na América Latina, de acordo com estudo do FMI. O “spread” na AL (margem líquida de 6%) é o dobro do cobrado pelos bancos europeus (3%) e o triplo do cobrado pelos bancos asiáticos (2%) (Valor, São Paulo, 08 nov. 2005, p. C2).
Os problemas institucionais são o principal entrave para o desenvolvimento da infra-estrutura no Brasil, de acordo com pesquisa com as maiores empresas de infra-estrutura realizada pela revista Exame (Anuário Exame – 2005-2006, São Paulo: Abril, nov. 2005, p. 17). Os maiores entraves para o desenvolvimento da infra-estrutura são: institucional (para 52% dos executivos); ambiental (44%); financeiro (42%); técnico (4%); outros (13%).