Contos Esquecidos – Machado de Assis
1 — Decadência do Dois Grandes Homens
Argumento
Miranda, que foi ao Rio de Janeiro tratar questões políticas com os ministros, encontrou no
café Carceler (local da burocracia) o velho Jaime. Este chamou a atenção do médico, pois, sendo
um “original”, todos os dias fazia suas refeições no Carceler, seguindo uma rotina: almoçava,
tomava uma chávena de chocolate, acendia um charuto, lia jornais e por fim adormecia por 30
minutos. Miranda tenta infrutiferamente uma aproximação.
Porém, nos idos de março (dia 15), o velho Jaime depois de almoçar não procurou ler os
jornais. Miranda aproximou-se e, depois de apresentarem-se, entregaram-se a uma longa
conversa, Jaime estava inquieto e preocupado, os idos de março atormentavam-no. Ao saírem do
Carceler, encaminharam-se para a casa do velho. Lá foram surpreendidos por um grande gato
negro, chamado Júlio César. A presença do gato atormentou Miranda, mas, em seguida, Jaime
acariciou o gato acalmando-o. Miranda percebe que entre os muitos livros do velho havia um de
Metempsicose.
Assim, em uma conversa, Jaime revela que na realidade era Marco Bruto, o homem que
matou Júlio César, este tinha seu espírito no corpo do gato. Miranda, ao escutar tal história,
resolvo acender o charuto que ganhara, no café, do velho Jaime. Em silêncio, Miranda escutava
atentamente tudo aquilo que Jaime lhe contava. Nos idos de março Júlio César voltaria para
vingar-se de Marco Bruto, seu assassino. Porém, diante de Miranda, Jaime começa a transformarse
em um rato, que foi perseguido pelo gato, Júlio César. Depois que o gato comeu o rato, aquele
transformou-se em uma bola de luz, e de dentro saiu outra. As duas precipitaram-se ao céu. O
telhado da casa havia desaparecido, junto com as bolas de luz Miranda sobe ao céu. De lá, as
bolas seguem seu caminho, o Miranda despenca do céu. Ao cair no chão, reparou que as casas
estavam estranhas. Os telhados estavam no chão e os alicerces nos telhados. Ao acordar na outra
manhã, Miranda teve certeza de que Jaime era um “original” e de que a vingança de Júlio César, o
imperador romano, tinha se concretizado nos idos de março. Miranda resolveu ir até o Carceler
para contar a todos sua aventure e, ao chegar lá, encontrou o velho Jaime sentado à mesma
mesa, este agradeceu-lhe a ajuda e preocupar-se-ia apenas com os idos de março do ano
seguinte, pois agora estava salvo. Miranda questiona Jaime a respeito do que havia ocorrido e este
explica-lhe que tudo fora culpa do charuto opiado que Miranda tinha fumado.
2— Muitos anos depois
Argumento
Padre Flávio, um jovem de 27 anos, fora criado pelo Pe. Vilela. Abandonado pela mãe e
criado por uma madrasta. Esta morreu e deixou o menino Flávio aos cuidados do Pe. Vilela. Por
uma decepção amorosa, Flávio entra para o seminário e toma-se padre. Carismático, Flávio tinha a
atenção de seus paroquianos, assim corno uma vasta biblioteca formada e livros de teologia,
romances e livros profanos. Um dia, chaga à casa dos padres Henrique Aires, amigo de infância do
Pe. Flávio. Muito afoito, Henrique pediu-lhes ajuda e contou que havia fugido com Luisa. Contra a
vontade de seus pais unira-se a uma moça pobre. Os padres celebraram o casamento dos jovens
e reconciliaram o filho com os pais, João e Mariana Aires de Lima. Dona Mariana tolerava a nora,
mas não conseguia esconder seu descontentamento em relação ao casamento do filho. Depois de
um tempo, Henrique deixa a casa paterna. Nas os padres continuaram a visitar o casal Aires de
Lima. Até que um dia Pe. Flávio disse a Pe. Vilela que fora destrato por João Aires de Lima e, por
isso, não freqüentaria mais a casa da família. Pe. Vilela encontra João A. de Lima, então, o pai de
Henrique diz a Pe. Vilela que Pe. Flávio tinha desrespeitado D. Mariana. A fim de desfazer o mal
entendido, os dois homens dirigem-se à residência do casal. Lá, eles vêem D. Mariana de mãos
dadas com o Pe. Flávio. A cena confirmava a desconfiança do marido traído. Porém, chorando, D.
Mariana revela que Pe. Flávio é seu filho. Pe. Flávio tinha uma carta de sua mãe biológica, más
não esperava estar tão próximo dela. O. Mariana recolheu-se ao Convento da Ajuda, onde mais
tarde faleceu. Pe. Flávio faleceu no interior das Minas Gerais, onde fora refletir sobre o erro de uma
pessoa e sobre as conseqüências que trouxe à vida de muitos.
3—A melhor das noivas
Argumento
Não há nada mais bonito que o sorriso de um velho, menos o de João Barbosa em fim de
setembro, de 1868. Seu João Barbosa, um septuagenário muito rico, um dia colocou um anúncio
no jornal, pois precisava de uma mulher. Seus sobrinhos foram contra a idéia, mas seu João não
lhes deu ouvidos. D. Joana atendeu as exigências do patrão. Quando foi trabalhar na casa do
velho, D. Joana pensava que um dia seu esforço seria reconhecido e, assim, ganharia uma parte
da herança do velho. Porém, seu João começou a ficar muito animado acordava cedo, parecia ter
visto passarinho verde. Um dia o velho disse a O. Joana que precisava falar-lhe algo sério. O.
Joana pensou que seria o momento em que o velho reconheceria o trabalho prestado, pois ele
dizia que não queria deixa-la e que ela deveria estar disposta a fazer o mesmo. Assim, D. Joana
pensava no casamento, no testamento e na herança. O velho começou a falar em casamento, e O.
Joana sentia-se casada com ele. Até que o velho revela o nome da amada: D. Lucinda. Foi um
choque, uma decepção, pois O. Joana percebeu que havia uma interesseira rondando a fortuna do
velho João. Tão irritada com a situação ficou O. Joana, que resolveu partir. No entanto, o velho
persuadiu-a a permanecer com ele. A contra gosto D. Joana conhecera D. Lucinda em um jantar,
em um domingo na casa do velho. José, um dos sobrinhos, convidou-se para o jantar a fim de
conhecer a futura tia e mostrou ao tio que ela era apenas uma interesseira. Quando o sobrinho
falou ao tio o que pensava, este ficou irritado. Só que com o tempo João Barbosa percebeu que as
desconfianças do sobrinho tinham fundamento. Um resfriado afasta os enamorados e faz João
Barbosa perceber que aquilo de que precisava estava todo o tempo em sua casa: O. Joana. Esta
tinha-lhe devotado a vida. Seria certo casar com ela. Assim, para a alegria de D. Joana, esta é
pedida em casamento pelo velho.
Juntos faziam planos para construir uma nova casa. D. Joana apressou o casamento e, na
hora deste, ela foi chamar o noivo. Este estava sentado e sorrindo, O. Joana chamou-lhe algumas
vezes até que percebeu que o velho morrera. Tinha para ele, chegado a morte, a melhor das
noivas.
4— Um Esqueleto
Argumento
Em uma praia, 10 ou 12 rapazes estavam reunidos. Conversavam sobre vários assuntos,
até que um deles resolveu elogiar a língua alemã, e outro concordou. Assim, Alberto disse que
aprendera alemão com o Dr. Belém, um homem que escrevera um livro de teologia um romance e
descobrira um planeta. Não encontrou editor para os livros, e a carta enviada para atestar a
descoberta do planeta perdera-se. O narrador obtém a atenção de todos quando prova a
excentricidade do Dr. Belém contando-lhes a história de um esqueleto. Em Minas Gerais, um dia
Alberto conversava com o Dr. Belém, na porta da casa deste. Alberto perguntou se o Dr. Belém já
tinha sido casado e este disse-lhe que fora casado e que casaria novamente daí a três meses. Dr.
Belém convidou Alberto para ir até seu gabinete lá mostrou ao jovem o esqueleto de sua primeira
esposa. Alberto ficou aterrorizado. Porém o jovem deu uma nova idéia ao Dr. Belém: o casamento.
Dr. Belém escolheu a jovem viúva D. Marcelina para ser sua nova esposa. Embora ela tivesse
apenas 26 anos e fosse cortejada pelo tenente Soares, Dr. Belém durante três meses insistiu no
pedido de casamento. D. Marcelina sempre negou. Porém, passados os três meses, D. Marcelina
aceita o pedido de casamento do Dr. Belém. Todos estranharam tal união, não era por dinheiro,
tampouco por amor pensavam os convivas. Dr. Belém tinha 50 anos, mas aparentava 60, vestia-se
de forma estranha e devido à sua aparência física era chamado de defunto ou lobisomem. No
entanto, o casamento aconteceu e Dr. Belém transformou-se. Passou a vestir-se conforme o gosto
da esposa, e sua casa encheu-se de alegria Alberto era o único o freqüentar-lhes a casa, assim
convivia com a alergia daquela morada. Um dia, não podendo ficar para almoçar na casa do casal,
pediu para ficar algum tempo no gabinete para terminar a leitura de um romance. Estranhou o
silêncio do casal e, ao ir despedir-se, viu que, à mesa, sentado com o casal estava o esqueleto.
Horrorizado com aquela cena, decidiu não freqüentar mais aquela casa. Entretanto, um dia Dr.
Belém cobra-lhe a visita e diz-lhe que o amigo deveria fazer-se presente na casa do casal. Alberto
decide ir, pois ele era a única pessoa normal com quem O. Marcelina tinha contato. Além das três
pessoas, durante um jantar, estava à mesa o esqueleto. Alberto percebe o constrangimento de D.
Marcelina e pede ao amigo uma explicação para aquela situação absurda Dr. Belém diz-lhe que
queria que as duas esposas se dessem bem ou que a primeira serviria do exemplo à segunda. Dr.
Belém contou que matou sua primeira esposa com as próprias mãos, pois ela o traíra.
Uma carta anônima tinha denunciado o adultério. Porém, mais tarde, Dr. Belém soube que
fora um engano, uma mentira. Não houve traição, mas a primeira esposa, Luisa, deveria servir
como exemplo à segunda caso esta não cumprisse suas obrigações de esposa. Alberto deixa a
casa do casal disposto a não voltar mais. Não entendeu aos chamados do amigo, mas, em 15
dias, recebeu um bilhete de O. Marcelina, que dizia que ele em a única pessoa normal com quem
tinha contato.
Apiedou-se da jovem senhora e lá foi. Surpreendeu-se com um anúncio e um pedido. Dr.
Belém diz-lhe que fará uma viagem ao interior e pede-lhe para fazer companhia a sua esposa.
Temeroso, Alberto diz não ao pedido, mas não havia outra pessoa. Assim, Alberto faz a irmã e o
cunhado hospedarem a esposa do Dr. Belém. Passados alguns dias, Dr. Belém manda-lhes uma
carta, pedindo que Alberto levasse ao seu encontro D. Marcelina. Mais uma vez, Alberto convence
a irmã e o cunhado a viajarem ao encontro do Dr. Belém. Era indispensável que levassem com
eles o esqueleto. Ao completarem a viagem a esposa e o esqueleto são entregues ao Dr. Belém.
Ao despedirem-se, a fim de voltar a cidade, o Dr. Belém persuade a todos a esperarem por ele. No
outro dia pela manhã, Dr. Belém convida sua esposa e o amigo Alberto para um passeio na
floresta.
Alberto seguia o casal que caminhava em silêncio. Quando chegaram a uma clareira, lá
estava sentado o esqueleto, Dr. Belém tirou uma carta do bolso e disse aos jovens que sabia de
tudo, que eles não o enganariam mais. D. Marcelina começou a chorar e Alberto, em vão, tentava
explicar a situação. Até que Dr. Belém disse que entendia tudo, pois eles eram jovens e amavamse
e por isso deveriam ficar juntos. Dito isso, agarrou-se ao esqueleto e correu pára a mata.
Alberto não o pode perseguir, pois precisou auxiliar D. Marcelina que se desesperava. Dr. Belém
recebera a carta do tenente Soares, porque este estava despeitado devido à escolha da jovem.
Todos os rapazes escutaram a história com a maior atenção e um deles disse a Alberto que o Dr.
Belém era verdadeiramente um doido. Alberto nu e disse-lhe que o Dr. Belém teria sido um doido
se tivesse existido.
5— Lima Loureira
Argumento
Em certa noite de abril de 1860, houve grande agitação na casa do comendador Nicolau
Nunes. Alberto, um jovem de 27 anos, filho de um primo, chegaria para noivar com uma jovem. Ela
chamava-se Luisa, tinha 18 anos, era a filha do meio. Seu irmão mais velho, assim como o pai,
chamava-se Nicolau, tinha 20 anos, e o mais novo Pedro, de 7 anos. Todos eram filhos do
comendador e de sua esposa Feliciana. Esta tinha a obrigação, segundo o mando, de descobrir se
a filha não estava interessada por outro homem, pois a moça não manifestava tais desejos. Então,
D. Feliciana perguntou à filha se esta já tinha se apaixonado, ela respondeu que não sabia. A mãe
perguntou à filha se deveria explicar-lhe o que era o amor. A mãe percebeu que a filha hesitou por
um momento. Assim, Luisa confessou que já tinha sentido amor por um rapaz, que no outro dia lhe
escrevera uma carta. A mãe, indignada perguntou se a filha respondeu a carta. E, para a tristeza
de D. Feliciana, Luiza respondera 25 vezes. Chamando a filha de desgraçada e dizendo-lhe que
seria a vergonha da casa, descobriu que a moça teve outros correspondentes. Para um enviou
quinze e para outro trinta e sete cartas. Escutando as lamentações da mãe, Luisa disse-lhe que
não havia mais nenhum. Era mentira, pois findada a conversa, foi escrever a quinta carta para o
alferes Coutinho. Assim em uma noite de abril de 1860, chegou o pretendente, dono de nariz
romano.
Alberto agradou a todos, menos à Luisa, pois esta não estava acostumada a dividir as
atenções com os outros. Na realidade, Luisa recebia o novo pretendente, mas continuava a
corresponder-se com o alferes e ainda tinha o Antonico. Quando Coutinho soube do novo
pretendente, escreveu uma carta apaixonada à moça. Ao receber a carta pensou que realmente
amava o alferes. Mas a disputa estava longe de terminar. Luíza sentia-se um pouco dividida, O
comendador Nicolau Nunes solicitou do futuro genro uma definição, e este disse-lhe que tudo
estava certo e que já podiam sentir-se como pertencentes da mesma família. Alberto resolve ir
conversar com o Coutinho, a fim de pedir a este que saia do caminho da jovem Luisa. Porém a
resposta do alferes foi negativa, assim ambos disputam o coração da jovem com todos as armas.
Alberto com sua presença e Coutinho com suas cartas. Mas a chagada do primo Gonçalves, o
sonso, faz Luisa preocupar-se, pois ele havia percebido que ela andava de namorico com os dois
rapazes. Luisa ficou furiosa com o primo. No entanto chegou o dia em que os dois pretendentes
não agüentavam mais a longa espera e ambos pediram Luisa em casamento, enviando-lhe cartas.
Coutinho escutou a moça dizer-lhe que lhe responderia mais tarde.
Depois de um tempo Coutinho foi à casa de Alberto para dizer-lhe que achava que era o
vencedor, ambos confessaram ter recebido muitas provas da moça. Coutinho confessou até ter
beijado a mão da moça. Quando, inesperadamente, chegou o comendador Nicolau e confessou
que a filha fugira com o primo.
6 — Brincar com fogo
Argumento
Duas amigas, Lúcia e Mariquinhas (Maria), estavam à janela em. uma tarde,
quando avistaram um jovem garboso a passear. Ele chamava-se João dos
Passos e tinha decidido que naquele dia iria conhecer o bairro Cajueiros.
Trajava um termo novo de riscado e usava um chapéu importado da França.
As moças ficaram ouriçadas ao ver o rapaz desfilando. Disputaram a atenção e o olhar do
jovem. Mariquinhas falava alto para que João a escutasse. Lúcia beliscava a amiga dizendo-lhe
caluda. João caminhou devagar para desfrutar os olhares desejosos das amigas. Passou
novamente por elas. No outro dia elas não se encontraram. Ficaram em suas casa: Mariquinhas,
rua do Príncipe; Lúcia, rua da Princesa. Porém a espera foi em vão, pois João não foi passear em
cajueiros. Passados alguns dias, o rapaz entra na rua de Lúcia, que estava à janela. Ele corteja a
jovem.Apresentando-se, João pede permissão à moça para enviar-lhe cartas, e ela consenti.
Saindo dali dirige-se a rua de Marquinhas e faz o mesmo com ela. As amigas sabiam que ele se
correspondia com ambas. Para elas, isso era motivo de gozação. Riam e debochavam do
pretendente atrapalhado. No entanto, o interesse de ambas pelo jovem cresceu tanto, que
deixaram de contar, uma a outra, os encontros amorosos. João apaixonara-se verdadeiramente
pelas duas.
Decidiu, então, casar. Resolveu escrever uma carta a Lúcia, pedindo-lhe a não em
casamento. Ele dizia-lhe que estava ansioso pelo momento de chamá-la de esposa e que o pai
dela ganharia, assim, um filho. No entanto ele também confessa seu amor a Mariquinhas, através
de um carta, pedindo-a em casamento. João ajoelhar-se-ia diante da mãe de Mariquinhas para
louvar-lhe. Passaria às 7hs pela casa do Lúcia e 8hs pela de Mariquinhas para oficializar o pedido.
As cartas foram entregues a um portador, que confundiu os destinatários, pois entregou a carta de
Lúcia a Mariquinhas e vice-versa. As duas moças recusaram-se a receber outras cartas do jovem
pretendente, que ignorava o acontecido. Posto isso, João decidiu o destino de seu casamento.
Optou por casar-se com urna prima do interior, que possuía um lindo par de olhos e cinco prédios
excelentes. Quanto a Lucia e Mariquinhas, casaram-se mais tarde, mas jamais voltaram a ser
amigos. Para os três jovens, a Páscoa de 1868 foi inesquecível.
7- A última receita
Argumento
A viúva Paula Lemos, em uma noite de setembro, adoecera ao regressar de um baile. Uns
acreditavam que a causa era a saudade, outros, os nervos. Assim, o Dr. Avelar foi chamado para
examiná-la e constatou ser uma constipação grave. Receitou dois ou três remédios, mas apenas
um era eficaz. A viúva “tomou os remédios como quem não queria deixar a vida’. Ela tinha apenas
24 anos, fora casada dois anos e há treze meses era viúva. O casamento fora arranjado pela
família dela e pelo noivo. Ela não tinha por este a menor estima. Devido à moléstia, o médico
passa a freqüentar a casa de D. Paula. Uma tia velha, que morava com a viúva, por ser surda, não
escutava as conversas entre o médico e sua paciente. Mas, não sendo tola, desconfiava que a
viúva nutria um forte interesse pelo médico. Ocorreram muitas visitas e forma trocados muitos
bilhetes. Por três meses a doença não cedeu. Por isso julgaram que o mal de D. Paula era interno,
já que o rosto não manifestava outros sintomas. Assim, Dr. Avelar escreve a O. Paula dizendo-lhe,
que a moléstia que a afligia necessitava da última receita. Então, o médico revela seu intenso amor
por ela, e, em quarenta dias, casam-se.
8—O Passado, passado
Argumento
Na residência do comendador Valadares, o capitão-tenente Luis Pinto — 42
anos, alto, elegante, bem-feito, olhos negros e rasgados, ar de superioridade
e boa moral — encontrou alguém que amava antes de casar-se. Era D.
Madalena Soares — trinta anos, cuja presença era tranqüila e austera — que
trajava uma vestimenta preta devido à recente viuvez. Havia 10 meses que
falecera seu marido, deixando-a com um filho de 6 anos. O tenente também
era viuvo há dez anos, tendo uma filha, que estudava em um colégio interno.
A alegria de rever um amor do passado não foi percebida pelos outros
convidados para o sarau, pois todos deram atenção à jovem. Ao
despedirem-se, Luis Pinto disse que a iria visitar na rua das Mangueira. Dona
Madalena morava com o filho e com uma tia do marido, esta tinha por
ocupação fazer companhia à viúva. Em um encontro Luis indagou se
Madalena lembrava o passado. “O passado de que ele falava, como já a
leitora terá suposto, era um namoro travado entre os dois antes do
casamento de ambos. Não foi namoro ligeiro e sem raízes, antes
passatempo que outra coisa; foi paixão séria e forte”. Assim o capitãotenente
começa a visitar a viúva com urna intenção clara: o casamento.
Apesar de ela estar no “meio-dia da vida” e ele na “tarde da vida”, Luís Pinto
tinha certeza de que ficaria com o amor do passado. Em um jantar na casa
do comendador Valadares, encontraram-se os dois novamente. Quando
conseguiram ficar a sós, o capitão começou, em um diálogo entrecortado,
indagar o que Madalena pensava sobre a possibilidade de um novo
casamento. Porém foram interrompidos, pois Madalena iria cantar para os
convidados do comendador. Ao despedir-se de Luís, disse-lhe um
significativo ‘talvez’. Para ele a resposta fora ‘sim’. Com a certeza de um
vencedor, descuidou-se das visitas à pretendente. Passados dois meses, em
uma conversa com o comendador, Luís descobre que Madalena iria casar-se
com o Dr. Álvares, era esse o comentário atual. Luís resolve perguntar
diretamente à Madalena, a resposta dela foi um silêncio constrangedor. Em
um mês o casamento foi anunciado.
‘Luís Pinto devia, não digo morrer, mas ficar abatido e triste. Nem triste, nem abatido. Não ficou
coisa nenhuma. Deixou de assistir ao casamento, por um simples escrúpulo; e teve pena de não ir
comer os bolinhos das bodas.
Qual era então a moralidade do conto? A moralidade é que não basta amar muito um dia
para amar sempre o mesmo objeto, e que um homem pode fazer sacrifícios por uma fortuna, que
mais tarde verá ir-se-lhe das mão sem mágoas ou ressentimentos.’
9—Dona Mônica
Argumento
O capitão Matias do Nascimento, ao morrer, deixou sua fortuna (300 contos) para seu
sobrinho Gaspar. No entanto, para receber a herança, ele deveria casar-se com D. Mônica, a tia de
seu tio. Senhora de sessenta anos, cuja elegância de 1810 e o sorriso de mais de três dentes
causam temor ao jovem herdeiro. O bacharel Veloso, amigo de Gaspar, em uma conversa diz-lhe
que D. Mônica provavelmente não aceitaria o pedido de casamento, pois cairia no ridículo. E que
havia uma pessoa mais preocupada com a especial cláusula do testamento: o comendador, pai de
Lucinda. Interessava, ao comendador casar a filha com um homem de posses. Porém, Lucinda, de
apenas dezessete anos, estava certa de seu sentimento por Gaspar. D. Mônica, ao tomar
conhecimento da imposição do testamento, demonstrou profundo desagrado. No entanto, ao
refletir melhor pensou que jamais seu sobrinho faria algo para desagradá-la. Gaspar, ao ir ter com
tia-avó, após sair da secretaria, onde trabalhava, estava decidido a abrir mão da fortuna em nome
do amor de Lucinda, enquanto a velha não queria contrariar a vontade do morto. O comendador
Lima, pai da moça, resolve separar os jovens amantes. A desgraça de Gaspar era enorme perdera
sucessivamente o tio, a herança e a amada. O pai de Lucinda faz a moça viajar para fora do Rio de
Janeiro. Mas, na noite em que recebe a recusa de seu futuro sogro, quebra a chave na fechadura
de sua casa. E, sem ter onde dormir, pois a casa do amigo Veloso era muito longe, resolve dirigirse
à rua do Inválidos, onde morava D. Mônica. Acolhido por um escravo, consegue pouso na casa
de O. Mônica.
No outro dia pela manhã, quando soube que Gaspar dormira na casa, sem seu
consentimento, ficou furiosa e fez com que Gaspar ficasse para o almoço O. Mônica fez o almoço
atrasar, pois deveria vestir-se e toucar-se adequadamente. Durante o almoço, o jovem é
persuadido a contar à velha os dilemas de seu coração. No outro dia também faltou ao emprego,
para ir a Niterói. Durante o trajeto, escutou a conversa de dois homens. Eles falavam sobre os
“cem contecos” que o mais velho possuía. Gaspar conversa com o dono da pequena fortuna e este
diz-lhe que trabalhou muito para conseguir a quantia e aconselha ao jovem que case com a tia
para ganhar os 300 contos. No outro dia ao ler o jornal, viu que tinha sido demitido. Resolveu ir
conversar com Lucinda, ela estava fria. Em contra parida D. Mônica mostrava-se acolhedora,
conversaria com o pai da moça e arranjaria um novo emprego para o sobrinho. Depois de perceber
a tristeza da filha, o comendador Lima permite o namoro entre os dois. Contudo, era tarde, Gaspar
opta por casar com D. Mônica, ela era uma boa mulher, e ele, assim, ganharia a herança.
10 – Casa não casa
Argumento
As duas da manhã, do dia 16 de março, Júlio Simões estava acordado, era uma noite
quente. De sua janela, ele vê um vulto de mulher aproximar-se de sua casa. Ele desce as escadas
e abre a porta, então a luz da vela ilumina o rosto de Isabel, que, chorando, entrega a foto de
Luísa. Na mesma noite, novamente chega à sua porta outro vulto de mulher, que ele julgava ser
Isabel, para explicar-lhe o que tudo significava. Mas, para sua surpresa, era Luíza, que, chorando,
lhe entrega a foto de Isabel e parto. Sem sabor o que elas queriam dizer com aquela ação, foi
visitá-las passados 7 dias. Primeiro, Isabel. Esta recebeu-o com frieza e dizia-lhe que pusesse a
mão na consciência. Júlio, um dia, elogiou, através de uma foto, Luísa. Isso foi suficiente para
despertar o ciúme de Isabel. No entanto, ele conseguiu convencer Isabel que tudo foi um mal
entendido. Ao sair da casa de Isabel, foi à de Luísa. A mesma situação repetiu-se. E, ao voltar para
casa, já tinha reconquistado as duas moças. Na verdade, ele não as amava. Mas casar-se-ia com
uma delas, pois ambas eram bonitas. Quando resolvia casar com Isabel, ficava com pena de Luísa
e vice-versa. Porém, um dia, Luísa e sua mãe foram à casa de Isabel. Enquanto as senhoras
conversavam, as duas jovens faziam a mesma coisa. Enquanto falavam de amores, Luísa olhava o
álbum de Isabel. Estranhou aquela que sua foto não se encontrava mais em uma das páginas.
Isabel tratou de explicar-lhe que, mesmo sem saber como, a foto estava em mãos de terceira
pessoa, dizia ter recebido dela em uma madrugada.
Luísa disse a Isabel que o mesmo havia acontecido com ela. Era alguém que queria
zombar de ambas. Até que Isabel diz que Júlio Simões é seu namorado. Ambas julgaram-no um
patife e disseram que chagaram a sonhar com a situação descrita por Júlio. As duas mães
descobrem que as filhas padeciam do mesmo mal: sonambulismo. Daí explicam-se as visitas
noturnas a Júlio. Sabendo que suas namoradas tinham consciência do ocorrido, resolveu não as
encontrar juntas. No dia seguinte, foi ter com Isabel, e ela culpou Luísa pela situação. Júlio foi
perdoado. Saindo da casa de uma, foi à casa da outra. Júlio disse a Luísa que Isabel fora a
culpada e que ele não trocaria aque4a por esta. Júlio foi perdoado. Se uma delas tivesse uma
perna torta ou um olho furado, a escolha seria fácil, mas ambas eram igualmente bonitas. Em três
dias ele deveria fazer a escolha, mas antes disso ele foi surpreendido por uma carta de Fernando,
que comunicava-lhe o casamento com a prima Isabel. Apesar do passo de Isabel simplificar a
escolha, ele ficou aborrecido. Agora Isabel parecia mais bonita que a outra. Decidiu casar-se com
Luísa, mas quando chegou à casa da jovem descobriu que ela iria se casar com o primo Teixeira.
Assim Júlio prometeu nunca se casar, mas casou, teve 5 filhos e morreu.
11— Silvestre
Argumento
José 5. P. Vargas era um dos péssimos procuradores. Só achava coisas para os outros no
foro. Casado e pai de 2 filhos. Silvestre era seu filho mais velho, 15 anos, melancólico, taciturno,
muito amado pela mãe. A irmã, 12 anos, era viva, alegre, vendia saúde, enquanto Silvestre,
parecia sofrer do físico ou da alma. A noite, Silvestre divertia-se olhando um livro, que comprara
em algibebe com dinheiro dado pela mãe. Segundo a irmã, ele divertia-se olhando as figuras. Por
um descuido, o livro foi esquecido sobre a mesa, e seu pai descobriu que o mesmo era de
mulheres nuas. Apesar de todas as lágrimas, o livro foi confiscado. José Vargas fez seu filho
trabalhar no cartório, a fim de que Silvestre se tomasse um escrivão juramentado, um escrivão ou
tabelião. A dinastia dos Vargas manter-se-ia dentro do foro. Silvestre distraia-se no trabalho. Um
dia, ao passar pela Academia de Belas-Artes, entrou para ver alguns quadros e percebeu que sua
vida era a pintura. Silvestre necessitava levar à luz dos homens uma Vênus que ele tinha na
cabeça. O jovem pediu permissão aos pais para abandonar o cartório e entrar para a Academia de
Bela-Artes, mas foi-lhe negada. A desatenção no trabalho chegou a tal ponto, que um amigo do pai
de Silvestre quase perdeu o emprego. Ao relatar o dilema, pelo qual passava o filho, José Vargas
recebeu o apoio do Dr. Luís Borges, que se ofereceu para cuidar do jovem a fim de influenciá-lo a
abandonar as idéias da arte.
A mãe, a irmã e o próprio Silvestre choraram muito ao se despedirem, mas o pai julgava
que aquela atitude era a mais acertada pata o caso do menino. Assim, Silvestre foi para a casa de
seu algoz, Dr. Luís Borges. Foi acomodado em um quarto no 20 andar, que possuía uma grande
janela para o mar. D. Camila, esposa de Dr. Borges, era uma jovem de 25 anos gentilíssima.
Estranhou Silvestre que o seu tutor o incentivasse à carreira artística. Na verdade o Dr. Luís
Borges era um homem sensível e amante da arte. Enfim, Silvestre conseguiu dedicar-se àquela
obra que esta pronta em seu pensamento, uma Vênus que precisava apenas de técnicas para
toma-se uma obra de arte.
O trabalho e a família forma esquecidos. O tempo do menino pertencia à arte. Foi à casa
paterna apenas duas vezes depois da mudança. A primeira porque a mãe e a irmã tinham
saudade, e a segunda, pelo falecimento desta. Dedicou-se à sua obra e não permitia que ninguém
a visse. D. Camila, que se tomara uma companhia agradável, pediu ao jovem para ser a primeira
pessoa a contemplar-lhe a obra. Passado algum tempo D. Camila entra no quarto do menino, este
estava sentado na borda da janela. Então ela reconhece o próprio rosto no quadro, uma
exuberante Vênus, nua. Primeiro ela fica maravilhada com a obra, depois inquieta, pois as pessoas
perceberiam a semelhança entre a pintura e ela. Sem ecitar, Silvestre diz que não há necessidade
de se preocupar, pois ele daria o quadro de presente para o marido dela. D. Camila pede que ele
confesse que ela fora a inspiração dele. Pergunta-lhe se ele casaria com ela. Silvestre não lhe
responde e joga o corpo para trás, caindo pela janela. Silvestre morre, O. Camila enlouquece e os
pais do jovem nunca encontraram o consolo. A culpada por tudo isso foi a arte.
12—A Pianista
Argumento
Malvina, uma jovem morena de 22 anos, era uma modesta professora de piano. Vivia com
sua mãe, a viúva Teresa. Quando o pai de Malvina faleceu, deixou como herança apenas a
honradez de uma vida. Assim as duas mulheres viviam a sina das Danaides. Malvina sempre fora
elogiada por sua educação refinada. A jovem provia o sustento da casa com as aulas que
ministrava. Entre suas alunas estava Elisa, a irmã de Tomás Gonçalves de Valença. A família
Gonçalves de Valença vivia a tradição da fidalguia, o sr. Basílio, avô dos jovens, foi um dos
primeiros a entregar sua casa para a corte da Família Real. O pai dos jovens, sr. Tibério, seguia a
tradição da família, julgava que as pessoas pertenciam a classes diferentes e assim deveriam
permanecer. Porém, o jovem Tomás apaixona-se por Malvina e, contra a vontade do pai, casa-se
com ela. Tibério severamente pune o filho deserdando-a, pois julgava Malvina uma interesseira.
Casados, Malvina e Tomás, viviam modestamente.
No principio de 1851, Tibério Valença adoece, e seu filho vai ao encontro do pai, este
necessitava de muitos cuidados. Assim, Malvina ofereceu-se para ser a enfermeira do sogro. Após
o restabelecimento do sogro, ela volta para casa. Em um primeiro momento, Tibério demonstra
gratidão, mas depois volta a pensar que tudo era parte de um golpe de Malvina para conseguir a
simpatia do sogro. No entanto, ele estava enganado. Após algum tempo ele resolve procurar o filho
e a nora. Descobre, então que havia se enganado a respeito dela. Esquece um pouco o filho e a
nora, pois Elisa regressava ao Rio de Janeiro, acompanhada pelo marido, um senador jovem e
rico. Tibério organiza uma festa para a filha, mas não estava feliz. Assim ele decide ir buscar o filho
e a nora e apresenta-os com arrependimento pois quisera excluir aqueles dois filhos do convívio
familiar.
13—O Machete
Argumento
Inácio Ramas pertencia a uma família de músicos. Seu pai era
concertista da capela imperial. Desde ceda Inácio manifestou sua vocação
musical, assim aprendeu a tocar rabeca, instrumento que rendia-lhe o
sustenta. Porém, seu instrumento do coração era o violoncelo, desde que
vira o concerto de um músico alemão. Casou-se com a jovem Carlotinha,
com quem teve um filho. A moça não entendia nada de música. Um dia ela
pede-lhe que toque alguma canção, pois nunca o vira em atividade. Ele toca
uma canção que fez quando a mãe falecera, mas a esposa demonstra um
entusiasmo falso. Apenas um amigo incentiva Inácio, dizendo-lhe que
deveria tocar em salões. Um dia 2 jovens que passavam pela casa do casal,
escutaram a música de lnácio e romperam aplausos e felicitações ao artista
divino. Eram AmaraI e Barbosa, dois estudantes de Direito, em São Paulo.
Os homens tomam-se conhecidos e, a partir dai, estabelecem uma relação
de amizade. Amarei passa a ser um grande incentivador musical para lnácio.
Barbosa mantinha-se mais distante, pois ele também era musico e apreciava
outro instrumento, o machete. Um dia reuniram-se os dois músicos com
seus instrumentos. lnácio e o violoncelo foram abalados pelo sucesso de
Barbosa e de seu machete. Carlotinha, de índole mundana e jovial, não
disfarçou o interesse pelo novo instrumento. Os estudantes, que estavam no
período de férias, retomaram a São Paulo. Depois de um tempo Barbosa
voltou para fazer uma visita ao casal amigo. Depois foi a vez de Amaral nas
férias seguintes. O rapaz encontrou o amigo, na sala do conceito, tocando
como nunca seu violoncelo, aos pés de lnácio estava seu filho de meses,
que, dominado pela música, via o pai tocar. Quando percebeu a presença do
amigo, abraçou-o Barbosa percebeu a tristeza do amigo. lnácio tomou o filho
nos braços e disse que o menino deveria aprender a tocar machete, pois era
melhor que o violoncelo. Conta, então, ao amigo que Carlotinha havia fugido
com Barbosa, pois preferia o machete ao violoncelo. A alma de lnácio
chorava, mas seus olhos mantiveram-se secos. Enlouqueceu após uma
hora.
14— Vidros Quebrados
Argumento
Venâncio em uma conversa com amigos diz-lhes que os casamentos bons se organizam
no céu e que os maus são obra do diabo. Nos tempo dos bailes do Campestre, Venâncio, com 22
anos, apaixonou-se por Cecília, de 20 anos. Escreveu uma carta à mãe da moça, pedindo-lhe
permissão para namorar a filha. Porém, a viúva negou, argumentando que Cecília era muito jovem
para o casamento. Venâncio escreveu para a própria Cecília. A moça jurou que seria dele.
Venâncio, com a ajuda de uma preta da casa, pulava o muro para ver Cecília, mas um dia um cão
soltou-se, e ele fugiu.
O barulho acordou a viúva, que o viu pular o muro. Desconfiada, fez a escrava confessar e
castigou-a, deixando-a em sangue. Mandou chamar o filho que morava na Tijuca, José Soares
comandante do 60 batalhão da guarda nacional. Ele aconselhou a mãe a encontrar um marido
pare Cecília. Com desculpa de passar 2 semanas na Tijuca, a mãe fez Cecília preparar-se pare
uma viagem. No caminho, revelou à Cecília a verdade. A moça gritou, esbravejou, quebrou os
vidros do carro, esmurrava-se, mas nada adiantou, pois, conforme a vontade da mãe, foi para o
convento. lnácio, desesperado, pensava em qualquer coisa para resgatar sua amada. No entanto,
um desembargador amigo, Dr. João Regadas, orienta-lhe para agir de acordo com a justiça. O
desembargador recebe Cecília como hóspede em sua casa. A mãe da moça ficou furiosa e foi
busca-la na casa do desembargador. A esposa deste sem saber o que dizer foi auxiliada pelos
filhos, ambos advogados, Alberto (casado havia dois meses) e Jaime (viúvo). Os irmãos tentaram
convencer a mãe da moça a aceitar a união entre os jovens, mas ela não fraquejou, manteve-se
contra casamento. lnácio escreveu para seu pai pedindo-lhe a autorização para o casamento. O
pai pediu-lhe que fosse a Santos vê-lo lnácio viajou, mas o casamento 1á tinha data marcada. O
pai pediu que o filho adiasse o casamento por um mês. Venâncio escreveu para a corte e esperou
as quatro semanas mais longas de sua vida. No dia de partir, houve um acidente com a mãe de
Venâncio. Fato que o obrigou a esperar mais um mês até o reestabelecimento da mãe. Quando,
enfim, chegou ao Rio de Janeiro, procurou ir ver a noiva. Contudo, Cecília não o recebeu, pois
estava indisposta. Na segunda visita a moça demonstrava uma grande frieza. Venâncio escreveu
uma carta à noiva perguntando-lhe se estava realmente doente ou se não desejava mais o
casamento. Na verdade, Cecília apaixonou-se por Jaime, e a recíproca era verdadeira. Iriam casarse.
O que explicou a paixão fulminante foi um arranjo de Deus.
15— Vênus! Divina Vênus!
Argumento
Ricardo, um jovem de 20 anos, funcionário do arsenal da guerra, vivia
com sua mãe, Mana dos Anjos. Ambos muito pobres. Ricardo era poeta. Sua
inspiração vinha de uma Vênus de gesso presa à parede. O ano era o de
1859. Moravam no bairro dos Cajueiros. Em um domingo, a mãe ao sair de
casa deixa sobre a mesa uma xícara de café para o filho. Ao retomar da
missa percebeu que a xícara continuava sobre a mesa, o café estava frio.
Ricardo não bebera o café, pois precisava terminar seus versos. Enquanto
escrevia, pensava na jovem Marcela, moça rica, filha do Dr. Viana. O. Maria
dos Anjos pede ao filho que esqueça a jovem rica e pense na prima
Felismina. Para Ricardo, não havia comparação. Enquanto Marcela era linda,
Felismina tinha olhos de peixe podre, nariz comprido, ombros estreitos e
falava como uma pessoa da roça. O rapaz jamais mostrou qualquer poesia
dedicada a amada. Um dia tomou coragem. Havia uma festa na casa do Dr.
Viana muitos convidados. Após desculpar-se e abandonar o jogo de solo,
Ricardo foi à sala onde estava Marcela, esta tocava piano e era
acompanhada por um tenor, um jovem médico baiano. Com o término da
apresentação, Marcela sentou-se entre duas amigas e perguntou a Ricardo:
Pareço-lhe bonita?’. Ele preparava-se para responder “Sois o mais belo, o
mais puro, o mais adorável dos arcanjos, á soberana do meu coração e da
minha vida’, quando a jovem fez a mesma pergunta a Maciel, que lhe
responde com a mesma pergunta. Ela sem constrangimento diz que ele seria
um belo noivo.
Ricardo perdeu seu amor. Contudo passou a concentrar seus esforços
na jovem Virgínia, de 16 anos, filha de um tabelião. Porém, esta também
possuía outro pretendente, o bacharel Vieira. Ricardo teve duas decepções
amorosas. D. Maria dos Anjos convida o filho para ir visitar a prima
Felismina, lá estava o noivo da moça, um rapaz da estrada de ferro. Ricardo
começa a perceber a prima. Ela toma-se Vénus inspiradora. Felismina era a
rima de ouro pois rimava com divina e cristalina. “E tu, criança amada, tão
divinal não és cópia da Vênus celebrada. És antes seu modelo, Felismina.”
Ricardo faz a prima abandonar o noivo e casa-se com ela. E já com cinco
filhos não escrevia mais poesias.
16— A chinela Turca (Primeira Versão)
Argumento
Em 1850, o bacharel Duarte preparava-se para ir a uma festa no Rio Comprido, a soirée da viúva
Meneses. Ele queria encontrar a jovem Cecilia, moça de finos cabelos loiros e pensativos olhos
azuis. Inesperadamente, ele recebe a visita de Lopo Alvos, um amigo da famitia, que já bnha
deixado a esposa e as filhas na festa da viúva. Foi a Catumbi, pedir a opinião do Duarte sobre um
drama que havia escrito, de cento e oitenta páginas. Duarte pensou em ouvir tudo sem
manifestação alguma. Assim, o tempo passaria mais rápido. Duarte preocupava-se, pois com
aquela leitura perderia a festa. Lopo Alvos continuava a ler o drama até que chegou a meia-noite e
o major enfurecido levantou e foi embora. Duarte não entendeu o que havia desagradado ao
amigo, mas achava que ele deveria ter ido embora antes. Um empregado anunciou outra visita.
Era um homem baixo e gordo que dizia ser da polícia. Duarte foi, então, acusado de ter roubado
um par de chinelas turcas, ornadas por diamantes. Relutando, Duarte foi preso. Levaram-no para
um carro, que rapidamente abandonou sua casa. Quando o carro parou, Duarte foi vendado. Na
verdade, aqueles homens não eram policiais. Ele tinha sido seqüestrado. Pensou que podia ser
obra de um rival ao coração de Cecília. Duarte foi levado para uma sala grande e luxuosa. Lá ele
ficou só por algum tempo. De repente uma porta abre-se, e entra um padre, que o cumprimenta.
Depois um homem velho vai conversar com Duarte, diz-lhe que as chinelas turcas não foram
roubadas e que eles não pertenciam à polícia. O velho manda buscar as chinelas que de tão
pequenas, cabiam na palma da Mão. Não eram cravejadas de pedras preciosas, eram bordadas
com um fio de ouro. O velho manda buscar a dona das chinelas, uma jovem loira,
desgrenhadamente penteada. Então, ela foi apresentada a Duarte como sua noiva. Duarte disse
que não quem casar. Porém o velho afirmou que Duarte faria três coisas: casaria, faria seu
testamento e depois tomaria veneno, o passaporte do céu. A jovem desconhecida seria a herdeira
universal do bacharel, este casaria obrigado por uma pistola que lhe era apontada. Com a ajuda do
padre, que na verdade, era um tenente do exército, Duarte conseguiu fugir. Foi perseguido por
algum tempo. Chegou a uma casa, que tinha a porta aberta. Entrou e deixou seu corpo cair em
uma cadeira, diante de um homem que lia o Jornal do Comércio. Aos poucos as formas ficaram
mais nítidas. Duarte fitou os olhos no homem, era o major Lopo Alves, que terminava a leitura do
drama. Eram duas horas da manhã. Duarte despediu-se do amigo e jurou nunca mais assistirá
leitura de melodramas.