A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) afeta uma percentagem significativa da população e, além de suas próprias complicações, está geralmente associada a outros quadros como o infarto do miocárdio e o acidente vascular cerebral. Trata-se de um quadro clínico crônico e que absorve grande parte dos recursos da Saúde, diante disso, o governo cria programas como o HIPERDIA para acompanhar e cadastrar os hipertensos. O tratamento desta doença inclui desde medicamentos a educação do paciente, entretanto prevenir ainda é a melhor estratégia. Neste cenário enquadra-se o profissional farmacêutico seja dispensando medicação ou educando o hipertenso.
INTRODUÇÃO
As doenças cardiovasculares constituem a principal causa de morbimortalidade na população brasileira. Não há uma causa única para essas doenças, mas vários fatores de risco, que aumentam a probabilidade de sua ocorrência. A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) representa juntamente com o Diabetes mellitus, um dos principais fatores de risco, contribuindo decisivamente para o agravamento deste cenário, em nível nacional (1).
Dados de 2002 mostram que a HAS afeta de 11 a 20% da população adulta com mais de 20 anos e, que cerca de 85% dos pacientes com acidente vascular encefálico (AVE) e 40% das vítimas de infarto do miocárdio apresentam hipertensão associada (1). Segundo os especialistas da Escola de Economia de Londres, do Instituto Karolinska (Suécia) e da Universidade do Estado de Nova York, o número de hipertensos nos países em desenvolvimento, como o Brasil, pode aumentar 80% até 2025 (13).
O acompanhamento do paciente e a evidenciação de fatores de risco potenciais são importantes para o sucesso do tratamento e controle da HAS, diante disso, programas como o HIPERDIA e a formação de uma equipe multiprofissional têm sido montados visando reduzir o índice de morbidade desta doença e propiciar melhoria na qualidade de vida e sucesso nos resultados.
HIPERTENSÃO ARTERIAL
Sabe-se que a hipertensão é uma doença crônica, ou seja, não tem cura, mas pode ser controlada com a educação à saúde dos pacientes portadores de tal agravo. É entendida pelo aumento da pressão sanguínea nas paredes das artérias, levando à pressão arterial sistêmica cronicamente aumentada (10).
De acordo com as orientações atuais das grandes Sociedades de Cardiologia de todo o mundo, deve-se diagnosticar hipertensão arterial quando a pressão arterial sistólica ou máxima estiver igual ou superior a 140 mmHg (milímetros de mercúrio) e/ou a pressão diastólica igual ou superior a 90 mmHg (14), quando encontrado em pelo menos duas aferições. Faz-se importante não basear as decisões clínicas em uma única leitura de pressão sanguínea elevada, pois o diagnóstico de hipertensão somente deve ser feito depois de medidas repetidas ao longo de várias semanas (9). Admite-se como pressão arterial ideal, condição em que o indivíduo apresenta o menor risco cardiovascular PAS < 120 mmHg e PAD < 80 mmHg (1).
Diversos estudos demonstram uma prevalência elevada de HA na população brasileira. Alguns mais recentes demonstram uma prevalência de 26% da população geral adulta e, variando conforme o estudo e a localidade pesquisada, de 22,3% até 44% conforme dados da última diretriz de 2006. Os segmentos sociais mais pobres são os que possuem maior prevalência de hipertensão e também de complicações como acidentes vasculares. O índice de prevalência de hipertensão varia numa mesma população de determinada origem conforme ocorrem migrações, portanto o ambiente é um importante fator determinante. A urbanização, os hábitos sociais e a atividade profissional são determinantes maiores (5).
A regulação da PA é uma das funções fisiológicas mais complexas do organismo, que depende de ações integradas dos sistemas cardiovascular, renal, neural e endócrino. A maioria das alterações cardiovasculares provocadas pela Hipertensão é desencadeada por mecanismos compensatórios. A crise hipertensiva designa uma condição de elevação rápida e sintomática da pressão arterial, com risco de deterioração de órgãos-alvo ou da vida em potencial. Constitui-se na emergência clinica mais freqüente nos prontos-socorros e exige ação rápida e com necessidade de internação em terapia intensiva no caso de emergência hipertensiva (12).
A prevenção é a forma mais eficaz, barata e gratificante de tratar as doenças e complicações cardiovasculares. É de suma importância e engloba, além da educação para a saúde, a reorganização das comunidades e da rede básica (1). Distribui-se em 3 etapas de acordo com o grau de exposição aos fatores de risco e de instalação da doença no paciente. São elas: prevenção primária, secundária e terciária.
A prevenção primária consiste na remoção de fatores de risco da HA e deve ser realizada pela equipe de saúde por meio de campanhas educativas periódicas, programas de atividade de lazer individual e comunitário e educação da comunidade acerca destas medidas (1).
A detecção e tratamento precoce da hipertensão estão incluídos na prevenção secundária e destinam-se a indivíduos em que a HA já está instalada. Têm como objetivo alcançar a remissão da HA, quando possível; evitar o aparecimento de complicações e retardar a progressão do quadro clínico. Devem ser programados a partir da identificação de fatores de risco associados, lesões em órgão-alvo e a avaliação de comorbidades (1).
Já a prevenção terciária tem por finalidade prevenir ou retardar o desenvolvimento de complicações agudas e crônicas da HA e também evitar mortes precoces. Visa, ainda, reabilitar os indivíduos já acometidos pelas complicações (1).
A cada ano mais de 2 milhões de mortes em todo o mundo são atribuídas a estes fatores, decorrentes do incremento de enfermidades e incapacidades causadas pelas doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT), como a HA. Esta situação não acarreta somente doenças e sofrimentos pessoais, mas também representa um custo econômico representativo, tanto para os indivíduos como para a sociedade, em vista das seqüelas que causa (1).
A inatividade física é um dos fatores de risco mais importantes para as DCNT, junto à dieta e ao uso do fumo. Mais de 60% dos adultos que vivem em áreas urbanas de países em desenvolvimento mantêm um nível insuficiente de atividade física, com repercussões para a sua saúde. A inatividade física é mais prevalente entre mulheres, idosos, indivíduos de baixo nível socioeconômico e incapacitados. A atividade física também diminui com a idade, cujo declínio começa durante a adolescência e persiste na idade adulta (1).
TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL
O sucesso terapêutico da HA depende do diagnóstico correto. Além da mensuração dos níveis pressóricos, uma propedêutica dirigida deverá estabelecer os fatores de risco, lesões de órgão-alvo, comorbidades e afastar causas secundárias de HA (11).
O objetivo primordial do tratamento da HA é a redução da morbidade e da mortalidade cardiovasculares do paciente hipertenso, aumentadas em decorrência dos altos níveis pressóricos, sendo utilizadas tanto medidas não-medicamentosas isoladas como associadas a medicamentos anti-hipertensivos (4).
O tratamento inclui as seguintes estratégias: educação, medidas de modificação de estilo de vida e, se necessário, medicamentos. Deve ser individualizado, respeitando situações como idade e estado mental do paciente, presença de outras doenças, uso de outras medicações, dependência de álcool ou drogas, cooperação do paciente e restrições financeiras (1).
O controle concomitante de outros fatores de risco cardiovascular é essencial para a redução da mortalidade. O paciente deve ser continuamente estimulado a adotar hábitos saudáveis de vida (manutenção de peso adequado, prática regular de atividade física, suspensão do hábito de fumar, baixo consumo de gorduras saturadas e bebidas alcoólicas). Estimativas nacionais apontam para um alto índice de sedentarismo na população brasileira, mais da metade das pessoas exercem muito pouca ou nenhuma atividade física (1).
A educação é parte essencial do tratamento. Constitui um dever dos responsáveis pela promoção da saúde e deve abranger os seguintes pontos: Informar sobre as conseqüências da HA não controladas; reforçar a importância da alimentação como parte do tratamento; enfatizar os benefícios da atividade física e dos hábitos de vida saudáveis; ressaltar os benefícios da automonitoração e ensinar o paciente e a família a detectar, prevenir e tratar complicações agudas; assim como incentiva-lo a se tornar auto-suficiente no seu controle (1). O processo de educação necessita de avaliação constante, num mecanismo de retroalimentação. A avaliação utiliza parâmetros ligados à aderência, ao controle metabólico, às complicações agudas e crônicas, além da análise da adaptação psicossocial e de mudanças de hábitos.
Ainda que seja adotado e seguido o processo de educação do paciente, é possível decidir-se pelo uso de medicamentos, baseada na estratificação do risco individual associada não somente aos níveis pressóricos, mas também aos fatores de risco e às co-morbidades do indivíduo.
Uma vez decidido o uso de tratamento medicamentoso é importante que este seja sempre iniciado com doses inferiores às preconizadas, a fim de evitar efeitos colaterais e favorecendo associações em baixas doses. Estão disponíveis no SUS seis classes de antihipertensivos: os diuréticos, os inibidores adrenérgicos (os de ação central, os alfa-1 bloqueadores e os betabloqueadores), os vasodilatadores diretos, os inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA), os antagonistas dos canais de cálcio e os antagonistas do receptor da angiotensina II (1).
Mesmo com utilização de drogas, o paciente necessita de acompanhamento profissional para educá-lo acerca da administração de suas medicações e monitoramento da adesão ao tratamento. É importante, ainda, que se incentive a aferição de pressão em domicílio, o que facilita a interação do profissional de saúde com o paciente e propicia, se necessário, intervenções no tratamento para melhor atender ao paciente.
A equipe de saúde é a responsável pela avaliação e acompanhamento do paciente, principalmente aqueles pacientes com a patologia já instalada e os que, embora não aparentem quadro clinico, já manifestam um ou mais fatores de risco para a HA. A educação para a HA deve ser associada à assistência ao paciente, de modo a prover todos os recursos necessários para o tratamento adequado.
CUSTO E EFETIVIDADE DO TRATAMENTO
Na maioria dos países ocidentais, o custo do tratamento da hipertensão absorve grande parte dos recursos da saúde e o tratamento medicamentoso adequado que objetiva reduzir ou normalizar a pressão arterial contribui para redução significativa da morbidade e mortalidade e consequentemente dos gastos associados com estas doenças (15).
No Brasil o cenário não é diferente. As complicações relacionadas à hipertensão são responsáveis por alta freqüência de internações e, apesar do grande impacto econômico que esta condição implica, são raros os estudos de custo/efetividade (C/E) (15).
Um estudo recente avaliou a razão C/E dos seguintes anti-hipertensivos: hidroclorotiazida 25 mg/dia, atenolol 100 mg/dia, captopril 75 mg/dia, anlodipina 10 mg/dia e losartan 50 mg/dia. Neste estudo levou-se em consideração a redução da PA, a incidência de afeitos adversos e o abandono dos medicamentos baseados em estimativas da literatura internacional. Conclui-se que os diuréticos e betabloqueadores mostraram as razões C/E mais baixas para o tratamento da pressão arterial, porém, como citam os próprios autres, há necessidade de confirmação desses resultados com estudos futuros, principalmente em razão dos dados utilizados não representarem a realidade brasileira (15).
A análise de custo representa o numerador da razão C/E e é a primeira parte de uma análise econômica. No tratamento da hipertensão, os custos do tratamento podem ser divididos em diretos (consultas médicas, exames laboratoriais, medicamentos, hospitalizações relacionadas ao medicamento e custo relacionado ao tratamento de efeitos adversos) e indiretos (determinado a partir da quantificação da perda de produtividade devida ao tratamento) (15).
A análise da efetividade do tratamento pode ser determinada pelo valor, em milímetros de mercúrio (mm Hg), da redução que o tratamento medicamentoso associado acarretou na PAS e PAD por paciente e em cada visita médica. Porém, poderia ser mais bem representada se determinasse o quanto a terapia pode diminuir os índices dos desfechos cardiovasculares, como o Acidente Vascular Encefálico e o Infarto Agudo do Miocárdio e o quanto esta redução pode influir nos sistemas de saúde no Brasil, seja ele público ou privado. Entretanto, devido à grande dificuldade de medir com exatidão estes dados a relação custo/redução em mm Hg continua sendo uma importante medida simples, transparente e que incorpora resultados dos ensaios que são baseados na eficácia do tratamento anti-hipertensivo (15).
PROGRAMA HIPERDIA: CONTROLE DA HIPERTENSÃO NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)
No sistema de saúde público brasileiro, as doenças cardiovasculares representam uma fração significativa no número de internações por ano, o que evidencia a identificação precoce dos casos e o estabelecimento do vínculo entre os portadores dessas doenças e as unidades básicas de saúde como elementos imprescindíveis para o sucesso do controle desses agravos. A hipertensão e o diabetes possuem participação significativa neste quadro, e, diante disso, é criado um sistema focado para tais doenças – o HIPERDIA.
O HIPERDIA é um Sistema de Cadastramento e Acompanhamento de Hipertensos e Diabéticos captados no Plano Nacional de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus, em todas as unidades ambulatoriais do Sistema Único de Saúde, gerando informações para os gerentes locais, gestores das secretarias municipais, estaduais e Ministério da Saúde (2).
Em 2002, o Ministério da Saúde criou o Programa Nacional de Assistência Farmacêutica para Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus, parte integrante do HIPERDIA. Esta portaria definiu como responsabilidade do Gestor Federal a aquisição e fornecimento aos municípios dos medicamentos padronizados para tratamento da Hipertensão Arterial e do Diabetes Mellitus de forma a contemplar todos os pacientes cadastrados.
Um dos objetivos da Portaria GM/MS nº 371/02, é o de ofertar de maneira contínua para a rede básica de saúde os medicamentos para hipertensão (hidroclorotiazida 25 mg, propranolol 40 mg e captopril 25 mg) e para diabetes (metformina 850 mg, glibenclamida 5mg e insulina NPH 100u) de acordo com os critérios definidos nos protocolos terapêuticos do Plano Nacional de Reorganização da Atenção Básica de Hipertensão e Diabetes.
Além do cadastro, o Sistema permite o acompanhamento, a garantia do recebimento dos medicamentos prescritos, ao mesmo tempo em que, em médio prazo, poderá ser definido o perfil epidemiológico desta população, e o conseqüente desencadeamento de estratégias de saúde pública que levarão à modificação do quadro atual, a melhoria da qualidade de vida dessas pessoas e a redução do custo social (2).
A definição do perfil da família na população atendida é de suma importância para o acompanhamento dos pacientes hipertensos, visto que fatores, mesmo sócio-econômicos e psíquicos, influenciam na postura do paciente frente ao tratamento, ou seja, a adesão e a progressão.
Para efetivação do programa HIPERDIA, o sistema conta com uma equipe de saúde multiprofissional além da participação de agentes comunitários que apresentam inúmeras atribuições, sendo o principal meio de comunicação entre o paciente e a Unidade Básica de Saúde (UBS), responsável por inserir, identificar e encaminhar indivíduos hipertensos aos cuidados do programa ou simplesmente ao local de tratamento e auxílio adequados, além de permitir maior acompanhamento da terapia e da progressão feita pelo paciente durante seu tratamento.
PAPEL DO FARMACÊUTICO NO SISTEMA DE SAÚDE
Diante da reorientação do papel do farmacêutico no Brasil, como membro da equipe multiprofissional de saúde, no contexto de consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS), tem-se como característica mais marcante sua reaproximação com a farmácia e a atuação na atenção direta aos usuários (6). Nesse contexto, os farmacêuticos assumem atividades relacionadas tanto ao abastecimento como a dispensação de medicamentos e produtos para a saúde (6).
Esses profissionais são singularmente qualificados para exercer tais atividades porque compreendem os princípios de garantia de qualidade aplicados aos medicamentos; apreciam as complexidades da cadeia de distribuição e os princípios de manutenção e renovação dos estoques; estão familiarizados com as estruturas de custos aplicadas aos medicamentos em vigor nos mercados em que operam; detêm um grande volume de informações técnicas sobre os produtos disponíveis no respectivo mercado nacional; podem aconselhar os pacientes com enfermidades leves e, com freqüência, os pacientes com condições crônicas que já estão em terapia de manutenção, com o intuito de promover o uso racional dos medicamentos e favorecer a adesão do paciente ao tratamento (6).
Esse inventário de atividades aponta para a dispensação de medicamentos como responsabilidade central dos serviços de assistência farmacêutica. É, sem dúvida, uma responsabilidade destinada a continuar vigente em todo contexto nacional. Entretanto, os conhecimentos especializados e diversificados do farmacêutico dão, aos membros da profissão, um arcabouço adequado para assumir inúmeras responsabilidades, tanto na administração pública quanto na fabricação e no abastecimento de medicamentos (6).
Os conhecimentos especializados dos farmacêuticos sobre a conduta da terapêutica medicamentosa e as propriedades dos medicamentos, num ambiente de atenção à saúde, os aproxima do prescritor como fonte independente de informações acerca das opções terapêuticas e as conseqüências – tanto positivas como negativas – do tratamento. Também os aproxima dos pacientes na comunidade, como dispensadores acessíveis não apenas de medicamentos, mas também de informações sobre a saúde (6).
Os farmacêuticos comunitários são os profissionais de saúde mais acessíveis à população. Dispensam medicamentos conforme indicado na receita ou, quando legalmente habilitados, os dispensam sem receita. Além de assegurar estoques suficientes dos medicamentos apropriados, as atividades profissionais dos farmacêuticos incluem a verificação da legalidade, segurança e adequação do medicamento prescrito; o aconselhamento dos pacientes no ato de dispensar medicamentos; fornecimento de informações sobre os medicamentos aos profissionais de saúde, aos pacientes e ao público em geral; participação em programas de promoção de saúde; e constante articulação com outros profissionais de atenção primária de saúde (6).
Em 30 de março de 2006 foi publicada a Portaria n°698 do Ministério da Saúde que inclui o farmacêutico na atenção básica, inclusive no PSF. Para a saúde pública, a norma é um avanço. Além de definir o custeio de ações e serviços inerentes à assistência farmacêutica, ela encerra uma década de discussões sobre a necessidade de o farmacêutico atuar na atenção básica (8).
Hoje, no Brasil, apesar de 51% dos brasileiros não terem acesso aos medicamentos, desperdiça-se, anualmente, cerca de 20% desses produtos, tanto no setor público, quanto no privado. E para os 80% dos medicamentos aproveitados, ainda existe o risco de serem mal utilizados, o que pode impedir que o paciente apresente a resposta terapêutica esperada pelo médico (8).
O farmacêutico no PSF tem como atribuições, promover ações educativas, participar da elaboração do diagnóstico epidemiológico e social planejar e realizar visitas domiciliares, prestar assistência aos usuários nos diferentes ciclos de vida, participar da capacitação, educação e formação permanentes das equipes e demais profissionais (3). A inserção do farmacêutico no PSF vai mudar a história do Programa e da atenção básica, vez que levará à adesão ao tratamento, ao uso racional dos medicamentos, ao barateamento dos gastos na aquisição dos produtos e à diminuição das internações hospitalares desnecessárias, dentre outros benefícios (8).
No programa também, esse profissional irá assumir trabalhos que, devido à sua ausência no programa, são realizados por médicos e enfermeiros, como o acompanhamento dos doentes crônicos à luz da atenção farmacêutica. Ao fazer o acompanhamento o farmacêutico atuará, seguindo um protocolo que define as funções de cada profissional na atenção ao paciente crônico (hipertenso) (7).
Desta forma, um grupo de pacientes passará a ficar sob a responsabilidade do farmacêutico, no que diz respeito ao uso do medicamento e também às mudanças sem seus hábitos de vida. Os resultados dessas ações serão a melhoria de sua qualidade de vida e a diminuição das intercorrências e internamentos hospitalares (7). A chegada do farmacêutico na atenção básica, inclusive no PSF, vai aproximá-lo da sociedade e estimulá-lo a atuar dentro da equipe multiprofissional (8).
CUIDADOS FARMACÊUTICOS
De acordo com a definição do dicionário “Aurélio” pode-se dizer que o cuidado está relacionado ao zelo, a atenção. O processo de cuidado engloba a competência técnica do provedor e os aspectos interpessoais e humanísticos da relação provedor-paciente. A competência técnica envolve conhecimentos, habilidades, julgamento e, essencialmente, a ciência do cuidado à saúde. A dimensão humana do cuidado é a “arte” do cuidado, enfatiza integridade e compaixão por parte de quem dá o cuidado, assim como um respeito mútuo entre profissional de saúde e o paciente pela dignidade de ambas as partes.
Na prática, a avaliação do processo de cuidado baseia-se na acurácia de diagnóstico, na adequação do tratamento e condutas, nas relações de comunicação e formas de relacionamento dos profissionais e da organização com os pacientes e suas famílias, na eficiência no fluxo de pacientes e curtos períodos de espera, dentre outros fatores. O resultado disso pode ser definido como o estado ou condição, individual ou de uma população, atribuída ou atribuível aos cuidados de saúde recebidos.
Levando-se em conta todos esses aspectos apresentados, pode-se, no âmbito farmacêutico, conceituar o cuidado farmacêutico como sendo “o cuidado que um determinado paciente necessita e recebe e que assegura o uso seguro e racional dos medicamentos empregados na farmacoterapia”.
No nosso País, a intervenção dos farmacêuticos permitiu desenvolver programas de Cuidados Farmacêuticos nas áreas da hipertensão, asma e diabetes e de seguimento farmacoterapêutico envolvendo centenas de farmacêuticos e que contam, atualmente, com um considerável número de doentes em acompanhamento. Esses programas de Cuidados Farmacêuticos têm por objetivo otimizar a terapêutica com medicamentos, melhorando os seus resultados e evitando os gastos desnecessários associados à incorreta utilização dos medicamentos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi visto que, devido à elevada prevalência da Hipertensão Arterial, há tendência ao uso crescente de medicação e com isso aumenta a incidência de problemas relacionados aos medicamentos (PRM), deixando a população vulnerável aos vários problemas de saúde, contribuindo para o aumento do custo social.
Por isso o aprimoramento do programa HIPERDIA e a criação de novos programas e outros meios que possam beneficiar esses pacientes devem ser sempre cogitados, com a intenção de melhorar a saúde da população, levando informação e educação para as pessoas, e, com isso, diminuir as despesas do Estado com internações e outros custos advindos de uma atenção à saúde de má qualidade.
O profissional farmacêutico tem um papel fundamental e deve atuar neste contexto, sempre buscando aprimorar-se, oferecendo aos pacientes com hipertensão os cuidados, informações e acompanhamento necessários para que eles possam atingir um alto nível de qualidade de vida, com a diminuição do risco de infartos e outros agravos e, também, do número de internações e das despesas, tanto por parte dos pacientes quanto do governo, provenientes do uso indiscriminado de medicamentos.
REFERÊNCIAS
1. Brasil. Ministério da Saúde. Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e Diabetes mellitus. Manual de Hipertensão Arterial e Diabetes mellitus. Brasília (DF), 2002.
2. Brasil. Ministério da Saúde. Programa HIPERDIA – Sistema de Cadastramento e Acompanhamento de Hipertensos e Diabéticos. Brasília (DF).
3. IWAZAWA, Alexandre; et. al. Cartilha de Orientação aos Profissionais Farmacêuticos – Saúde Pública. Publicação do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo, SP, 2007.
4. KOHLMANN, Osvaldo; et. al. III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial. Sociedade Brasileira de Hipertensão e Sociedade Brasileira de Cardiologia, Campos do Jordão, SP, 1998.
5. MANO, Reinaldo. Manuais de Cardiologia. Temas comuns da cardiologia para médicos de todas as especialidades – Hipertensão Arterial Sistêmica. Livro virtual, ano 9. Disponível em http://www.manuaisdecardiologia.med.br.
6. Organização Mundial de Saúde. O Papel do Farmacêutico no Sistema de Atenção à Saúde. Organização Pan-Americana da Saúde e Conselho Federal de Farmácia, Brasília (DF), 2004.
7. SANTOS, Jaldo de Souza. O impacto do farmacêutico no PSF. Conselho Federal de Farmácia. Revista Pharmacia Brasileira – Março/Abril/Maio 2005.
8. SESAP – Secretaria Estadual de Saúde Pública. Farmacêutico vai atuar no PSF. Governo do Estado do Rio Grande do Norte, 2006. Disponível em http://www.saude.rn.gov.br/noticias.asp?idnoticia=7813
9. SILVA, Cátia Andrade, et. al. Hipertensão em uma unidade de saúde do SUS: Orientação para o autocuidado. Revista de Saúde Pública. V.30, n.1. 2006.
10. XIMENES, F.R. Neto; MELO, J.R. Controle da Hipertensão Arterial na Atenção Primária em Saúde – Uma análise das práticas do enfermeiro. Revista Enfermería Global, 2005
11. Protocolos Não-Gerenciais de Condutas na Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) em Geriatria. Residencial Israelita Albert Einstein (RIAE). Versão eletrônica atualizada em 2007. Disponível em http://medicalsuite.einstein.br/diretrizes/doc/PNG/PNG_RIAE_HAS.pdf
12. NOVAIS, Manoel Messias; DANTAS, Daniela Dias; ARAÚJO, Lívio Motta. Estudo sistemático da distribuição dos medicamentos do programa de Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus – Programa Hiperdia – durante os anos de 2002 a 2005. Universidade de Brasília, 2006.
13. BOLETIM CBES. Número de Hipertensos no Brasil deve aumentar 80% até 2025. Site Editoria de Saúde. Maio de 2007.
14. PINHEIRO, Luiz Augusto de Freitas. Hipertensão. Professor Titular de Cardiologia da UFF. Membro Titular da Academia Fluminense de Medicina Centrocardio. Hospital do coração de Niterói. 2007.
15. TSUJI, Rosana Lima Garcia. Análise de custo-efetividade do tratamento medicamentoso em hipertensos. Dissertação (mestrado) – Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Departamento de Clínica Médica. São Paulo, 2007.