Este trabalho tem como objetivo central analisar e refletir sobre a desmotivação dos alunos como um desafio a ser encarado pelos profissionais da educação. Para compreender o significado da desmotivação na vida escolar dos alunos e as suas implicações na vida dos sujeitos envolvidos, definiu-se como proposta metodológica a pesquisa bibliográfica definida pelo conjunto de matérias escritos e gravados, seja mecânico ou eletrônico que contém informações publicadas por diversos autores relacionadas ao tema.
Após várias leituras verificou-se que a maioria dos alunos se desencanta com escola, à medida que avança nas séries escolares, ou seja, o aprender na escola é cada vez menos apreciado pela maioria dos alunos, à medida que crescem; a desmotivação vem aumentando gradualmente nas escolas de todo o país, pois a incidência de alunos que “não gostam de aprender na escola”, já é uma constante na prática educativa dos professores.
Para minimizar esse quadro sugere-se a troca de experiências, uma assessoria pedagógica e a formação continuada do professor, no sentido de contribuir para possíveis soluções do problema que desafiam os profissionais de educação atualmente. É preciso haver um redimensionamento do verdadeiro sentido do aprender, e, da profissão docente.
INTRODUÇÃO
O último século foi marcado por transformações que tiveram uma significativa repercussão no cenário mundial. No campo educacional, o ensino ficou mais dinamizado, interativo, informatizado, por outro lado, essas mudanças fizeram surgir problemas merecedores de atenção, tais como o alarmante índice de evasão e repetência escolar, a distorção idade série, a violência na escola, à indisciplina, à falta de motivação para o estudo.
Contemporaneamente, várias discussões vêm centrando-se nestes problemas, no sentido de analisá-los atentamente para melhor compreendê-los e, se possível, auxiliar na resolução dos mesmos. Consciente da complexidade de tais problemas e da impossibilidade de estudar todos eles, este trabalho irá se deter na análise de uma problemática que angustia e inquieta os profissionais comprometidos com a causa educativa, que é a desmotivação. Esta problemática vem afetando os alunos das diversas modalidades de ensino, em todo o território nacional.
O interesse e o prazer em aprender demonstrado pelas crianças diminuem consideravelmente à medida que crescem e avançam nos anos escolares. O brilho nos olhos da criança em seus primeiros anos escolares, em sala de aula, reflete o sabor da conquista do novo.
A relação com a escola parece ser interessante e vibrante. Entretanto, com o passar do tempo, esta criança vai desanimando-se, desmotivando-se, desinteressando-se e a emocionante construção de novos conhecimentos parece tornar-se um pesado fardo.
”Nos primeiros anos, a maioria deles aprende com vontade, os poucos aprendizes relutantes destacam-se dos outros. A partir dos graus intermediários e da escola secundária até a universidade, a balança muda.” […] (SIDMAN, 1995, p. 289).
É preciso pensar nos possíveis determinantes deste quadro, e a partir da análise das contingências de reforçamento pode-se remeter a caminhos de possíveis soluções para o velho problema da desmotivação.
Considerando que a motivação pode ser um fator determinante para o bom êxito da aprendizagem, por outro lado, a sua inexistência, pode ser uma das causas da repetência, reprovação e consequentemente do fracasso escolar.
Se a motivação se origina no desejo de se satisfazer uma necessidade, não havendo necessidade, não haverá motivação. Pelo contrário, a reação normal da pessoa, quando compelida a uma atividade não resultante de um desejo de satisfazer uma necessidade, é a desmotivação.
Diante desse exposto indaga-se o que acontece com a falta de encantamento e a magia de aprender na escola? Afinal, qual a relação da desmotivação com o aprender na escola?
Na tentativa de analisar, refletir e proporcionar a compreensão da desmotivação existentes no interior da escola, é que esta pesquisa apresenta esta temática como desafio a ser enfrentado e superado pelos profissionais da educação.
É visível a necessidade de direcionar um trabalho dessa natureza, com o intuito de poder contribuir com aqueles que se encontram preocupados com essa questão. Ao mesmo tempo, mostrar que existem meios capazes de favorecer a minimização de tais problemas educacionais, já que se são poucos os estudos e informações voltadas para realidade que gradativamente, vem se acentuando nas instituições escolares.
Nessa perspectiva, acredita-se que, se o aluno não tem interesse pelos estudos, ou não consegue encontrar um sentido para se dedicar às atividades de sala de aula, logo se distanciara do ambiente escolar e, como conseqüência, poderá ocorrer o baixo rendimento no processo de aprendizagem, isto quando não acarreta a repetência ou a evasão escolar.
Portanto, se faz necessário a reflexão em torno dessa problemática, para que, a partir de esclarecimentos do que vem causando a falta de motivação dos alunos, se possam buscar alternativas que possibilitem a superação ou diminuição do problema.
Este trabalho trata de uma problemática importante para os que atuam na instituição escolar e para todos os que querem participar da luta contra o fracasso escolar. Sua análise está voltada à compreensão das causas da falta de motivação dos alunos, fato que tem provocado uma queda no rendimento escalar, atingindo diretamente a aprendizagem dos alunos. Este é o motivo pelo qual se propõe aqui realizar este estudo com o intuito de ajudar os profissionais da educação para que esses possam ensinar possibilitando a compreensão do verdadeiro sentido do aprender.
Buscando contribuir com a discussão desta relevante temática é que elaboramos este trabalho monográfico. Para alcançar o objetivo proposto lançou-se mão da pesquisa bibliográfica. Esse recurso é defendido por Gil (1994), pois permite ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. Ainda sob a concepção desse autor essa técnica se torna de crucial importância quando o problema da pesquisa “requer dados dispersos no espaço”.
Defini-se como fonte biográfica os livros de leitura, dicionários enciclopédias, anuários; publicações periódicas (jornais, revistas) fitas de vídeo, áudio, páginas de web, relatórios de simpósios e seminários.
Para uma melhor sistematização e compreensão deste trabalho, o mesmo encontra-se organizado em três capítulos descritos a seguir.
No primeiro capitulo será discutido a importância da motivação na sala de aula, os desafios que o professor enfrenta hoje, e como se dá a construção do saber na escola.
O segundo capítulo dessa obra abordará como educar motivando em forma de questionamento, destacando o que o professor deve saber para educar, como o professor contribui para a desmotivação do aluno, e de que forma o ambiente escolar pode prejudicar o bom desempenho do educando, enquanto espaço que pode aproximar ou distanciar o aluno do saber.
O terceiro capítulo trata de uma proposta metodológica através da parceria de uma assessoria pedagógica para subsidiar o trabalho do professor, a realização de um trabalho a partir da troca de experiências entre profissionais e o uso de estratégicas para facilitar o trabalho do professor.
Para tanto, este caminho de análise tem como objetivo ser útil para o levantamento de outros questionamentos no âmbito educacional que mereçam uma atenção, e um estudo mais aprofundado, a fim de que se veja futuramente uma educação que mostre o verdadeiro sentido do saber, conhecer, aprender.
1 A MOTIVAÇÃO EM SALA DE AULA
Numa época de incertezas, perplexidades e transições perdem-se o verdadeiro sentido do ensino. Os alunos não conseguem enxergar o verdadeiro sentido do aprender proporcionado pela escola.
Nesse contexto, Bzuneck (2001, p. 13) diz que:
A motivação tornou-se um problema de ponta em educação, pela simples constatação de que, em paridade de outras condições, sua ausência representa queda de investimento pessoal de qualidade nas tarefas de aprendizagem. Alunos desmotivados estudam muito pouco ou nada e, conseqüentemente aprende muito pouco.
Para que o processo de ensino/aprendizagem se concretize de forma satisfatória, se faz necessário o sentido do existir de ambos para que seja um processo verdadeiramente educativo.
O sucesso destes mecanismos depende, acima de tudo, das funções internas do indivíduo que determinam, subjetivamente, interesses ligados, de alguma forma, à satisfação de suas necessidades pessoais. Entende-se, portanto, pelo direcionamento do ato educativo está essencialmente ligado ao viver com sentido, à impregnação de sentido que direciona o comportamento de cada indivíduo à satisfação dessas necessidades é a motivação, que se configura, como fator determinante para o processo de aprendizagem.
Para Ferrero (1985), o insucesso da alfabetização depende do método de ensino adotado pela escola e o estado de maturidade ou prontidão da criança. No nosso entender, acresce-se a esses fatores a desmotivação dos professores em conseqüência da política econômica aplicada à educação nas últimas décadas e que, somadas às anteriores, contribuem para o fracasso da criança na escola.
Embora esses problemas interfiram no aprendizado, levando o aluno a um baixo rendimento escolar, este não se explica unicamente pelos fatores citados, pois a desmotivação está relacionada a outros fatores de ordem social, emocional e pedagógico necessitando do professor uma reflexão de sua prática e um olhar mais atento para a questão.
A habilidade no planejamento dos antecedentes e conseqüentes de aprender parece ser fundamental no que diz respeito à motivação. A falta deste planejamento adequado de todas estas variáveis e contingências torna inviável instalar repertórios de estudar, em geral emitido pelo aluno só para fugir das punições ou das desvantagens de não estudar.
1.1. A importância da motivação para a vida escolar
A motivação no contexto escolar se configura de forma complexa, pois envolve um conjunto de fatores ativos no âmbito educacional, capaz de alterar as situações de aprendizagem, tanto para melhor, quanto para pior.
O espaço na sala de aula é um local destinado ao desenvolvimento da aprendizagem, onde se apresenta a figura do professor e do aluno. É através da interação entre estes atores que se desenvolve um relacionamento pessoal. Dependendo do nível de qualidade deste relacionamento pode-se ter um fator preponderante e decisivo para o processo motivacional dos alunos, podendo contribuir ou não para a motivação da aprendizagem.
Nesse contexto, Fita e Tapia (2000, p, 8) ressaltam:
A motivação está ligada à interação dinâmica entre as características pessoais e o contexto em que as tarefas escolares se desenvolvem. Isto quer dizer que o desempenho do professor é tão importante quanto o do aluno, para proporcionar a motivação para a aprendizagem.
Na realidade, existe certa dependência nesse processo, pois o professor para motivar o aluno precisa também está motivado para ensinar, ou seja, é necessário que ele encontre satisfação no trabalho que desempenha, para que possa transmitir este sentimento e assim suscitar, no aluno, a mesma satisfação.
Na verdade, para que ocorra a motivação, é necessário que o professor e o aluno possam enxergar o sentido da vida, do conhecimento e o desenrolar de uma cadeia de acontecimentos que proporcionará a ambos, condições de desempenhar seus papéis voltados para um cenário otimista, em função de um projeto de vida e de educação para sua realização pessoal e profissional.
O ser humano é o único ser vivente que se pergunta sobre o sentido de sua vida. Para tanto, educar para sentir e ter sentido, para cuidar e cuidar-se, para viver com sentido constante a cada instante da vida é preciso que tanto o professor quanto o aluno se sinta motivado. Para que isto aconteça é necessário que a família e a escola lhes favoreçam uma realização pessoal, e, consequentemente, o reconhecimento e a valorização sejam do aluno ou do professor.
Quando se fala da motivação do professor, logo se vê que na realidade, dificilmente pode se encontrar um professor motivado, uma vez que se constata um grande mal-estar entre os docentes, misturado a decepções, irritação, impaciência, perplexidade, paradoxalmente, existe ainda muita esperança. Há uma ânsia por entender melhor porque está difícil educar hoje, fazer aprender, ensinar, ânsia para saber o que fazer quando todas as receitas governamentais já não conseguem responder.
Precisa-se levar em conta que a maioria dos docentes, quase totalidade, encontra-se com a diminuição drástica dos salários, com a desvalorização da profissão e a progressiva deterioração das escolas, muitas delas tem cara de presídio. Quais motivos são ofertados a este professor para gerar sua satisfação profissional, a ponto de transmitir para os alunos esta satisfação com sua profissão, Se não existem motivos, não existe satisfação, logo, dificilmente haverá motivação. Como dizem Fita e Tapia (2000, p.88):
Se um professor não está motivado, se não exerce de forma satisfatória sua profissão, é muito difícil que seja capaz de comunicar a seus alunos entusiasmo, interesse pelas tarefas escolares; é definitivamente muito difícil que seja capaz de motivá-los.
Há uma procura cada vez maior por cursos e conferências, para buscar uma resposta, uma vez que, os resultados desta busca não encontram na sua formação inicial e nem na sua prática atual.
Poucas são às vezes em que encontram resposta nesses cursos. Na sua maioria, encontram profissionais que encantam com belas palavras, voltam vazios como entraram, e fazendo a mesma pergunta: “por que não procuro outro trabalho”.
Nessa linha de pensamento Gadotti (2003, p. 29) reforça com a seguinte afirmação: “Perdemos o sentido do que fazemos, lutamos por salário e melhores condições do trabalho sem esclarecer a sociedade sobre a finalidade de nossa profissão, sem justificar porque estamos lutando”.
A partir da busca para resposta dessa problemática, é que este trabalho vem analisar a os fatores que podem desencadear ainda a desmotivação do educando no contexto educacional atual, o que o professor pode fazer, o que ele deve fazer, o que é possível fazer.
Se de um lado, as transformações nas condições objetivas das escolas não dependem apenas da atuação do professor, como profissional da educação, de outro lado, crê que sem uma mudança na própria da profissão, ela não ocorrerá tão cedo.
Gadotti (2003, p. 59) contribui afirmando que “enquanto não construirmos um novo sentido para a educação e o papel do educador, sentido esse que está ligado à própria função da escola na sociedade aprendente, esse vazio, essa crise, deverão continuar”.
A complexidade do processo impõe ao professor o domínio de habilidades psicológicas, sociológicas e filosóficas, que lhe coloca em um ponto de entendimento de que o aluno é o sujeito da sua própria formação, uma vez que ele precisa construir e reconstruir conhecimento a partir do que faz. Fazendo referência a esta questão, Gadotti (2003, p. 56), diz:
Parece-me urgente que o professor busque mais sentido para o que faz e apontar novos sentidos para o que fazer dos seus alunos. Ele deixará de ser um simples professor para ser um organizador do conhecimento e da aprendizagem.
Diante de tais questões, pode-se perguntar até que ponto estas implicações podem interferir na motivação da aprendizagem? Pode-se dizer que em todos os sentidos. Motivar significa predispor o indivíduo para certo comportamento desejável naquele momento e se o professor não tem o domínio do que faz e a consciência necessária para tal, como ele vai encontrar competência para suscitar no aluno a motivação? Nesse sentido, Fita e Tapia (2000, p. 89), reforçam essa questão quando dizem que:
Deveria incluir-se a formação necessária para que o professor seja capaz de motivar seus alunos. Este será um dos principais problemas que deverá enfrentar durante o exercício de sua profissão e, portanto, deveria ser um dos tópicos principais em sua formação.
É notável, que a motivação seja fator primordial para a aprendizagem do aluno, no entanto, tem se apresentado como uma tarefa difícil, para o professor, uma vez que este se depara com uma série de dificuldades na sua profissão.
Além disso, a situação de vida da maioria dos alunos que vivem em uma sociedade que não lhes oferece muitas oportunidades, onde as perspectivas de encontrar trabalho ao sair da escola são mínimas; sem contar que o mercado de trabalho exige profissionais altamente qualificados, coisa que a escola pública não faz. Desiludidos com a sociedade o jovem entra na escola com a alta estima abalada e o quadro que se evidencia no interior da escola não é muito animador.
Acredita-se que, quando o aluno se sentir sujeito no processo de ensino-aprendizagem, com direito à participação efetiva na elaboração dos currículos, opinando e sugerindo, e quando o professor entender que motivar seus alunos é tarefa sua, se ampliarão às chances do aluno recuperar seu interesse em aprender elevando sua auto-estima.
1.2 Ser professor hoje: um desafio
No processo de ensino, as práticas educativas se configuram no trabalho do professor através das representações, pois ser professor hoje, não é mais fácil nem mais difícil do que era há algumas décadas atrás. Diante da velocidade com que as informações chegam e logo se vão, diante de um mundo em constante transformação, o papel do professor vem mudando, se não é na tarefa de educar, é na tarefa de ensinar, de conduzir o saber e, consequentemente, na sua própria formação que se tornou necessária.
De acordo com Gadotti (2003, p. 89):
As novas tecnologias criaram novos espaços do conhecimento. Agora, além da escola, também a empresa, o espaço social tornara-se educativo e estão a cada dia se fortalecendo, não apenas como espaço de trabalho, mas também como espaço de difusão e de reconstrução de conhecimento.
Há a necessidade de uma formação continuada com maior integração entre os espaços sociais, visando preparar o aluno para viver melhor na sociedade do conhecimento. Hoje, a aprendizagem vai além da atualização de conhecimentos e muito mais além da assimilação de conhecimentos. A sociedade do conhecimento é uma sociedade de múltiplas oportunidades de aprendizagem.
Nesse sentido, Gadotti (2003, p. 72) afirma que:
As conseqüências para escola, para o professor e para educação em geral são enormes: Ensinar a pensar, saber comunicar-se; saber pesquisar; ter raciocínio lógico: fazer sínteses e elaborações teóricas; saber organizar o seu próprio trabalho; ter disciplina para o trabalho; ser independente e autônomo, saber articular o conhecimento com a prática; ser aprendiz autônomo, a distância.
Nesse contexto, o professor é muito mais que um mediador do conhecimento, diante do aluno que é o sujeito da sua própria formação. O aluno precisa construir e reconstruir conhecimento a partir do que faz. Para isso o professor também precisa ser curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos sentidos para o que fazer dos seus alunos.
Pode-se dizer que o professor se tornou um aprendiz permanente, um construtor de sentidos. De nada adianta ensinar, se não conseguirem organizar o seu trabalho, ser sujeito ativo da aprendizagem, auto disciplinados, motivados.
Ser professor hoje é viver intensamente o seu tempo com consciência e sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a humanidade sem educadores. Os educadores, numa visão emancipadora, não só transformam a informação em conhecimento e em consciência crítica, mas também formam pessoas.
Para Gadotti (2003, p. 89) “não há civilização sem professores, Não haverá uma nova civilização sem professores, Não haverá uma nova civilização sem uma nova formação dos professores. Não há nação sem professores”.
Escolher a profissão de professor não é escolher uma profissão qualquer. Na maioria das vezes essa escolha se dá por intuição. Muitos professores quando perguntados por que escolheram essa profissão respondem: “porque gosto de criança”. É uma resposta correta e significativa, mas ela não é levada em conta no seu processo de formação, essa motivação é pouco trabalhada.
Gadotti (2003, p. 92) afirma que:
A docência, como aprendizagem da relação, está ligada a um profissional especial, um profissional do sentido, numa era em que aprender é conviver com a incerteza. Daí a necessidade de se refletir hoje sobre o novo papel do professor, as novas exigências da profissão docente, principalmente da formação continuada do professor.
Antes de qualquer coisa, para entender a crise dessa profissão é preciso colocar em evidência alguns aspectos atuais da profissão docente. Como o conhecimento da humanidade que duplica em curto espaço de tempo, a profissão docente obsolete rapidamente, é extremamente mutável. Por isso, hoje não tem mais sentido a existência de um profissional que se limita a reproduzir o conhecimento e a cultura que outros desenvolveram. O professor hoje precisa ser um profissional capaz de criar conhecimento.
Para compreender melhor o papel do professor se faz necessário refletir o processo histórico da evolução da formação docente. Se baseado nas concepções de Chaetier (1990, p. 23), acredita-se que:
[…] A noção de representação pode ser constituída a partir das acepções antigas. Ela é um dos conceitos mais importantes utilizados pelos homens do antigo regime, quando pretende compreender o funcionamento de sua sociedade ou definir as operações intelectuais que lhes permitem apreender o mundo.
A luz desta reflexão reconhece-se que o momento atual, é resultado do que foi sendo construído e modificado ao longo do tempo, portanto, é reportando-se ao princípio que se entende o presente processo. Nesse sentido procura-se reconstituir a historia da formação do professor brasileiro a partir de sua origem para melhor compreender a fazer atual.
No período colonial, inicialmente o trabalho pedagógico era exercido exclusivamente pelos jesuítas, cujo ideal era o da formação humanista cristã. Esta situação compreende o período de 1549, data da chegada dos jesuítas, até 1759 quando os mesmos foram expulsos do país, depois da implantação da chamada reforma pombalina.
As medidas tomadas pelo marquês de Pombal no setor educacional determinavam à extinção do Ration Studiomm plano de estudo dos jesuítas e a implantação das aulas régia. Eram aulas avulsas, que poderiam ser ministradas por professores leigos, uma vez que só fora estabelecido algum critério para o desempenho dessa função, vários anos depois da implantação das aulas régias como mostra Xavier (1994, p. 52) quando chama a atenção à extrema lentidão com que se implantaram essas aulas.
“Há informação de que isso teria levado quarenta anos, até 1799, quando as licenças para docências passaram a ser concedidas pelo vice-rei.” Estas licenças ou autorização para ensinar eram concedidas mediante o preenchimento de alguns requisitos, como idade e comportamento moral.
A criação dessa licença representava o início da profissionalização do trabalho do professor, no entanto não havia preocupação com a formação desses professores, até que em 1827, já no período imperial, por força das reformas constitucionais, foi estabelecida a obrigatoriedade e gratuidade do ensino elementar, denominada escolas de primeiras letras. Vale salientar que a reforma vetava o acesso de escravo ao ensino público.
Esta reformulação no setor educacional do país gerou a expansão deste nível de ensino e conseqüentemente a necessidade de professores para atender a demanda de alunos. Foi no caule desta questão que surgiram as primeiras escolas para formação de professores, que seriam as escolas normais, percebe-se a ligação entre o ensino elementar e a formação dos professores, no entanto estes cursos foram criados em caráter precário e em quantidade extremamente limitada, quase uma década depois da criação das escolas de primeiras letras, já no ano de 1935.
Os cursos, inicialmente apresentavam um programa de disciplinas descritivas, destituídas de qualquer formação para a prática docente. Somente após a reforma de Benjamin Constant, 1890, é que a prática pedagógica disseminada nos cursos de formação para professores da escola normal, passa a ser pedagogia tradicional dos jesuítas, só que, com uma nova roupagem, ou seja, uma vertente leiga. Assim, o ensino humanístico cristão dá lugar ao ensino humanístico de cultura geral, centrado no professor, onde a prática pedagógica não apresenta relação alguma entre teoria e prática, como mostra Veiga (1991, p. 28):
É assim que a didática, no bojo da pedagogia tradicional leiga, está centrado no intelecto, na essência, atribuindo um caráter dogmático aos conteúdos; os métodos são princípios universais e lógicos, o professor se torna o centro do processo de aprendizagem concebendo o aluno como um ser receptivo e passivo. A disciplina é a forma de garantir a atenção, o silêncio e a ordem.
Durante longos anos, as práticas pedagógicas adotadas no Brasil apresentaram essa realidade definida por Veiga (1991, p. 34), pois era resultado dos recursos da formação, até então, só oferecidos pelas escolas normais.
Um século depois da criação das primeiras escolas normais, 1934, é que a universidade de São Paulo cria a primeira faculdade de filosofia, ciências e letras com o objetivo de formar professores em nível superior, pois naquele momento não haveria como importar professores para o Brasil devido à escassez de profissionais capacitados na Europa provocada pelas conseqüências da primeira guerra mundial.
Por outro lado, existia uma forte pressão da sociedade intelectual brasileira defensora da escola nova que, em 1932, havia lançado o manifesto dos primeiros da educação nova no Brasil, onde apresentavam um projeto de reconstrução educacional, no qual tornava explicita a importância da formação para a preparação geral dos princípios pedagógicos. Assim os pioneiros destacam em o manifesto (1932) o valor da formação docente. Ghiraldelli (1992, p, 73) salienta:
A formação universitária do professores não é somente uma necessidade da função educativa, mas o único meio de, elevando-lhes em verticalidade a cultura, e abrindo-lhes a vida sobre todos os horizontes, para a realização da obra educacional uma compreensão recíproca, uma vida sentimental comum e em vigoroso espírito comum nas aspirações e nas idéias. Se o estado cultural dos adultos é que dá as diretrizes à formação da mocidade, não se poderá estabelecer uma função e educação unitária da mocidade, sem que haja unidade cultural naqueles que estão incumbidos de transmiti-la.
Todo esse movimento de reconstrução educacional se dá mediante as transformações que ocorrem no Brasil a partir de 1930, provocados pela crise mundial da economia capitalista, que fez com que, a economia do país passasse de agrário-rural, para a indústria/urbana. Neste processo, a escola é vista como condição de acesso ao mercado de trabalho, no momento industrializado.
Diante de tal fato, os pioneiros da educação que lutavam pela escola pública para todos, desde 1920, pois a maioria das escolas do país era religiosa e particular se engajaram na política de Getúlio Vargas (entre 1930 e 1945) e tomaram algumas medidas para organizar o ensino do país, inclusive criando a lei orgânica do ensino normal evidenciando as idéias pedagógicas dos escolanovistas. Ao contrário da pedagogia tradicional renovada que era centrado no professor, o escolanovismo passa a valorizar mais o aluno e o torna centro do processo.
Mesmo com a expansão dos cursos de formação para profissionais da área, a educação segue seu processo de indefinição nas práticas pedagógica adotadas. O que se pode perceber é que, com tanta modificação nos processos de ensino acabou provocando uma miscigenação das correntes pedagógicas.
Na atual conjuntura brasileira, a educação vem se transformando, passando assim por diversos movimentos e modelos, mas lamentavelmente ela passou a ser um produto do sistema e dentro desse mecanismo o professor representa o operador da máquina que vai fabricar o produto. Para tal lhe são exigidas habilidades para trabalhar, que dependem dos saberes por eles adquiridos, como a sua formação profissional. Além disso, lhes é exigida a qualidade do produto que depende da competência do profissional em operar a máquina.
A intenção deste trabalho, é mostrar que, se é para vivenciar esta realidade, precisa-se que os profissionais da educação, trabalhem com “criticidade”, deixando de ser um mero executor do currículo oficial. A educação já não é mais propriedade da escola, mas de toda comunidade. O professor precisa assumir uma postura mais relacional, dialógica, contextual, comunitária alicerçada na coragem para intervir com consciência, sempre que necessário, na prática diária.
1.3 O saber produzido na escola
Durante séculos, a escola trabalhou a construção do saber como algo que poderia ser transmitido de forma dogmática. Este método de trabalho limitava a aquisição dos conhecimentos impedindo o desenvolvimento da capacidade criativa, habilidade inerente do ser humano.
Esta concepção de construção do conhecimento levou vários estudiosos a questioná-la, pelo fato de que, no mundo, nada é estável. O constante movimento das relações em sociedade produz mudanças contínuas no meio em que se vive e que precisam ser compreendidas. Kuenzer (2002, p. 78) nos mostra que:
Essas mudanças reforçam a necessidade de superação de uma concepção de ciência enquanto um conjunto de verdades ou sistemas ou formas de natureza cumulativa, em nome da compreensão que as teorias científicas que vão se sucedendo ao longo da história são modelos explicativos parciais e provisórios de determinados aspectos da realidade.
A modernização da sociedade contemporânea provocou mudanças de paradigmas nos modelos institucionais preestabelecidos, ocasionados pela evolução dos processos tecnológicos que, ao transformar o sistema de produção, modificaram as relações do homem com o trabalho. Esse processo acarretou a necessidade de rupturas com antigos padrões do conhecimento humano, pois com a unificação da ciência e tecnologia, o saber fragmentado perdeu espaço para o conhecimento da totalidade.
Nesse contexto, a educação que historicamente tem se desenvolvido numa base de conhecimento, pautada em princípios utilizados pelas formas de produção taylorista e fordista, já não atende às exigências do novo modelo de sociedade capitalista, pelo fato desta apresentar um sistema produtivo fragmentado.
Atualmente, a lógica da sociedade capitalista é que a educação deve formar um novo tipo de homem, que seja capaz de comunicar-se adequadamente, trabalhar em equipe, avaliar seu próprio trabalho, adaptar-se a novas situações originais, e ainda ser capaz de educar-se permanentemente.
Essas atribuições que foram delegadas à educação, impõem ao professor novos desafios e o acúmulo de responsabilidades que implicam em uma avaliação de suas práticas.
Como trabalhar nesta perspectiva de formação do homem em sua totalidade, humana e profissional? Que conhecimentos deverão ser utilizados para que se possa trabalhar em nível de ensino, integrando teoria/prática? Como desenvolver situações que conduzam o aluno a situações de aprendizagem que correspondam a sua necessidade pessoal?
Toda essa problemática generalizou as discussões do setor educacional em torno dos saberes e das competências docentes necessárias ao professor que trabalha na era da informática, recurso este que transmite conhecimento ao aluno, antes dele chegar à escola. Este perfil de aluno exige que o professor trabalhe o seu conhecimento prévio e tenha condição de aprofundá-lo. Segundo Perrenoud (2000, p. 08):
Formar para as novas tecnologias é formar o julgamento hipotético e dedutivo, as faculdades de observação e de pesquisa, a imaginação, a capacidade de memorizar e classificar a leitura e a análise de textos e de imagens, de procedimentos e de estratégias de conhecimentos.
Para que o professor possa formar um aluno capaz de assimilar todos estes conceitos, ele precisa dominar saberes amplamente diversificado, que exigem um alto grau de conhecimento teórico e ainda dispor de habilidades práticas para trabalhar estes saberes de maneira prática e eficiente.
Nesse sentido, Freire (2001, p. 73) diz que:
O professor tem o dever de dar suas aulas, de realizar sua tarefa docente. Pra isso precisa de condições favoráveis, higiênicas, espaciais, estéticas, sem as quais se move menos eficazmente no espaço pedagógico. Às vezes, as condições são de tal maneira perversa que nem se move. O desrespeito a este espaço é uma ofensa aos educandos, aos educadores e a prática pedagógica.
É com esta realidade que a maioria dos professores e alunos da sociedade brasileira convive, no entanto, isto não quer dizer que este professor não necessite de determinados saberes para o bom desempenho de suas funções. Ao contrário, são questões desse tipo que requer do professor competência para desenvolver sua prática pedagógica em situações desfavoráveis ao processo de ensino.
O objetivo deste trabalho é mostrar que o neoliberalismo com sua política de mercantilização da educação tornou a profissão do educador descartável. É preciso esclarecer que uma educação de qualidade é inviável e contrária ao projeto político neoliberal capitalista, É preciso fazer a análise crítica, social, econômica, mas tudo isso não basta.
Assim, entende-se que antes de tudo o professor precisa essencialmente definir a postura de sua prática pedagógica, com “criticidade” e estabelecer a que fim ela se destina. Entretanto, para que um professor assuma essa posição, se faz necessária a ampliação dos seus saberes e a consciência de como fazer para que este saber seja transformado em uma prática pedagógica voltada para a dimensão social da formação humana, aplicando assim, no cotidiano escolar o saber da competência profissional.
O que resta aos profissionais comprometidos com a educação do país é assumir o compromisso ético com a profissão, agir em função de um projeto de vida e de escola, de cidadania, de mundo possível, e, a cada dia procurar renovar a prática, despertando nas pessoas a capacidade de engajar-se e mudar.
2 EDUCAR MOTIVANDO: HÁ RECEITA PRONTA?
Num mundo de desencanto e de agressividade crescentes, o professor atualmente tem um papel fundamental. É um promotor da vida, do bem viver, educa para a paz. Santos (1999, p. 26) diz que “o novo profissional da educação é também um profissional que domina a arte de reencantar, motivar e de despertar nas pessoas a capacidade de engajar-se e mudar”.
Assmann (1998) trata com muita propriedade da necessidade de reencantar a educação, cujo significado pressupõe colocar a ênfase numa visão de ação educativa que implique em ensejo e produção de experiências de aprendizagem. Isto pressupõe reencantamento de educadores e educandos.
O ambiente pedagógico tem que ser um lugar de fascinação e inventividade. Não inibir, mas propiciar aquela doce alucinação entusiástica requerida para que o processo de aprendizagem aconteça. Quando esta dimensão está ausente, a aprendizagem vira um processo meramente instrucional (Assmann, 1998, p. 29).
Motivação está diretamente associada à interação organismo – ambiente e isto nos remete à necessidade de prever e planejar situações antecedentes e conseqüentes ao processo de aprender em sala de aula.
Pode-se definir motivação como o conjunto de fatores circunstanciais e dinâmicos que determina a conduta de um indivíduo. Trata-se de uma força interior propulsora, de importância decisiva no desenvolvimento do ser humano, auxiliando na aprendizagem em geral.
A motivação pode ser ativada tanto por fatores internos como externos. A origem da motivação é sempre o desejo de se satisfazer necessidades. O ser humano é um animal social por natureza e, como tal, tem uma necessidade absoluta de se relacionar com os outros de seu ambiente.
Essa tendência integrativa da pessoa é o principal fator interno ativador da motivação para muitos de seus atos. Percebe-se o quanto à motivação pode influenciar no processo de ensino-aprendizagem, pois determina o grau de disposição do indivíduo para realização das tarefas escolares, as quais exigem o auxílio da sua capacidade cognitiva.
Portanto, falar em motivação é abordar a existência de esquemas psicológicos que fazem a ponte entre os fatores de origem interna, que estão intrinsecamente relacionados com as questões subjetivas, individuais do aluno, e as situações externas que ocorreu no seu cotidiano escolar. É a interação destes dois fatores que são responsáveis pela construção do conhecimento dos alunos.
2.1 O que o professor deve saber para ensinar
A modificação da estrutura cultural moderna trouxe para o professor exigências que são verdadeiros desafios para sua profissão. Nessa perspectiva, o perfil do atual professor se enquadra ao perfil dos demais profissionais que trabalham no setor de produção, posto que lhes sejam exigidas competências, produtividade e qualidade no seu campo de trabalho.
Os professores atualmente se encontram impossibilitados de corresponder a estas exigências, mediante a falta de recursos pedagógicos para tornar as aulas mais atrativas; falta de treinamento para os professores; falta de apoio pedagógico; desvalorização do magistério e salário injusto.
Nesse sentido, nota-se que a situação do professor, no Brasil, é preocupante, haja vista todos os percalços que se apresentam na sua área de trabalho. Apesar de tudo isto, os livros de orientação para modelo do novo professor se multiplicam.
Não está se negando nesta análise a necessidade do professor se atualizar, e se aperfeiçoar, mas mostrar também que é importante a manutenção da máquina que será operada pelo novo profissional, não adianta treinar o operador, se a máquina está ultrapassada.
De acordo com Silva (2001, p. 20):
A qualidade já existe; qualidade de vida, qualidade de educação, qualidade de saúde. Mas apenas para alguns. Nesse sentido, qualidade é apenas sinônimo de riqueza e, como riqueza, trata-se de um conceito relacional. Boa e muita qualidade para uns, pouco e má qualidade para outros.
Nesse contexto, o professor acaba sendo sacrificado, por não atender à nova demanda de exigências. A sociedade desconhece os mecanismos da política educacional do país e termina culpando o professor pelo fracasso da escola. Não que o professor esteja ausente da culpa que lhe compete, o que não se pode é exigir que ele assuma essa responsabilidade, sozinho.
Como o professor pode trabalhar sem uma orientação, sem equipe, se ele é apenas uma peça na engrenagem da educação? De acordo com Perrenoud (2000, p. 96):
Os professores não são os únicos atores da educação chamados a construir novas competências. O pessoal administrativo também deve aprender a delegar, pedir contas, conduzir, suscitar e negociar projetos, fazer e interpretar balanços, incitar sem impor, dirigir sem privar.
Essa dependência profissional funciona como uma trava para o professor, que precisa ser removida, pois o professor necessita de uma renovação profissional, educacional, também precisa ser renovada administrativamente.
Não se pode lançar um olhar sobre o desempenho do professor, sem averiguar o desenvolvimento das situações capazes de interferir efetivamente no seu trabalho. Relacionados aos problemas administrativos, focalizam-se também estudos emocionais do professor, que diante de tantas dificuldades, muitas vezes sofre abalos que mexem com a auto-estima do mesmo, ocasionando desmotivação no seu trabalho.
Esta é uma questão bastante delicada que o profissional docente enfrenta, pois depende de fatores externos à sua vontade, sejam eles estruturais ou relacionados aos seus alunos. Bzuneck (2001, p. 28) diz que “em qualquer situação, a motivação dos alunos esbarra na motivação dos seus professores”.
Com este trabalho pretende-se esclarecer que muitas vezes, o sucesso, ou insucesso do trabalho do professor depende muito do desempenho dos seus alunos, daí a importância da interação entre professor/aluno no processo de ensino-aprendizagem. De acordo com Fita e Tapia (2000, p. 90):
Os processos de ensino-aprendizagem são satisfatórios quando se estabelece uma conexão, uma sintonia entre professores e alunos, uma cumplicidade. Isto acontece quando os objetivos do professor e dos alunos são os mesmos.
A propósito, o professor precisa adotar uma nova concepção do trabalho docente, capaz de romper com o ideário de aula padrão limitado ao repasse dos conteúdos entre as quatro paredes da sala de aula. É preciso ver o mundo lá fora e voltar sua prática para a análise das questões sociais.
2.2 Como a escola contribui para a desmotivação do aluno
Enquanto a sociedade atual exige a formação de cidadãos críticos, reflexivos, com desenvolvimento intelectual e raciocínio rápido, a escola continua preparando um aluno apático, limitado em seus conhecimentos e sem objetivos definidos acerca de seu futuro na sociedade.
Essa realidade repercute no tipo de comportamento que os alunos apresentam em sala de aula. Nota-se que há muito tempo eles vêm demonstrando uma falta de interesse e rejeição pelos estudos.
A validação dessa afirmação pode ser constatada num estudo realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), quando mostra que mais de 80% dos jovens que deixaram a escola o fizeram por algum tipo de conflito e rejeição referidos à escola, como: necessidade de trabalhar 18,7%; a falta de interesse dos alunos 15,6%; problemas com professores 9,7%, a falta de interesse dos responsáveis 9,7%; expulsão da escola 6,4%. Além desses, tem-se falta de documentos, problemas de saúde, a não aceitação pela escola e, muitos não sabem os motivos. Esse conjunto chega a 22% do total. (FELIZARDO apud MADEIRA, 1993).
Em decorrência deste desinteresse, os professores deparam-se com situações extremamente desagradáveis em sala de aula, são alunos que não gostam de estudar e se utilizam disso para transformar o ambiente escolar em um espaço conflitante, onde a figura do aluno está se sobrepondo a do professor, como se este fosse antagônico a ele, o que não é diferente quando se trata do setor administrativo da escola. Não se está aqui crucificando o aluno. Entende-se, ser ele mais uma vítima do sistema.
De acordo com Bzuneck (2001, p. 13):
Em alguns casos, observa-se que alunos oriundos das classes menos favorecidas da sociedade sofrem de desmotivação, por conhecerem de perto as mazelas sociais, outros sentem na pele os efeitos nocivos da mesma, como: O desemprego, a discriminação social, a falta de assistência médica, a fome, dentre outros fatores.
Nessa perspectiva, nota-se que ao chegar à escola estes alunos se deparam com uma instituição decadente, que não lhe oferece a menor condição de obter uma aprendizagem satisfatória.
Bzuneck (2001, p. 18), diz ainda que:
O ambiente escolar e a figura do professor são fatores determinantes no processo de ensino-aprendizagem. Se o aluno não dispõe de uma coisa, nem de outra, dificilmente ele desenvolverá de forma satisfatória sua capacidade intelectual, tendo como resultado uma aprendizagem deficitária.
Como se constata, situações como essas podem causar no aluno um sentimento de desilusão para com a escola que provoca a perda da motivação para aprender, podendo desencadear uma série de fatores negativos para a formação deste aluno.
De acordo com Bzuneck (2001, p, 26):
Alunos desmotivados estudam muito pouco, ou nada e, conseqüentemente aprendem muito pouco. Em última instância, ai se configura uma situação educacional que impede a formação de indivíduos mais competentes para exercerem a cidadania e se realizarem como pessoas, além de se capacitarem a aprender pela vida a fora. Considere-se ainda que o próprio desenvolvimento do potencial de cada um depende consideravelmente das aprendizagens escolares. Portanto, sem aprendizagem na escola, que depende de motivação, praticamente não há futuro para ninguém.
À luz dessa reflexão, percebe-se que o aluno encontra muitas dificuldades, de um lado a falta de estrutura das escolas, do outro os métodos de ensino que ainda baseiam-se no treino e na cópia, em detrimento do conhecimento. Soma-se a tudo isso o despreparo do professor, que é visível, por ser este também mais uma vítima do sistema dualista da sociedade capitalista que, para minoria da população, reserva todos os privilégios: As melhores escolas, os melhores professores enquanto que, para a maioria, quando tem, são escolas decadentes.
É preciso reverter esta situação, começando pela melhor formação dos alunos. Mesmo que para isso tenha que lutar contra uma estrutura montada e consolidada. A verdade é que tanto o aluno, quanto o professor estão vivendo em um cerco que há muito vem e fechando, lhes impossibilitando de caminhar ao encontro do novo tempo.
Referente a essa questão Werneck (1995, p, 17), adverte:
O jovem brasileiro só estará realmente integrado na sociedade, assumindo seu papel de sujeito da história, quando esta, literalmente, estiver trabalhando de acordo com sua legislação, pondo em prática as suas propostas pedagógicas contidas nos documentos, em tempo real.
Enquanto não for garantido ao aluno o direito de exercer sua cidadania com dignidade, não se construirá jovens reflexivos, formadores de opiniões, capazes de questionar as verdades que lhes são impostas a ponto de intervir quando necessário, assegurando assim, sua autonomia pessoal.
2.3 Como o ambiente escolar pode prejudicar o bom desempenho do aluno
O ambiente escolar se apresenta como o espaço destinado á realização do processo de ensino-aprendizagem e como universo particular de professores e alunos que, através de uma relação interativa, buscam a construção de um conhecimento sistematizado concretizando a ação do aprender e do ensinar.
No entanto, este espaço definido como escolar, pode se tornar complexo, mediante sua problemática, que vai desde a estrutura física; ás características individuais, sociais e culturais dos sujeitos que estão inseridos ativamente no seu cotidiano, influenciados pelas circunstâncias de um determinado momento.
Para Certeau (1994, p 202):
O espaço é um cruzamento de móveis. É de certo modo animado pelo conjunto dos movimentos que aí se desdobram. Espaço é o efeito produzido pelas operações que o orientam, o circunstanciam, o temporalizam e o levam a funcionar em unidade.
Partindo desse pressuposto, percebe-se que o ambiente escolar, apesar de ter como ideal a produção do saber, dependendo da sua realidade, pode não corresponder a este ideal e se tornar obsoleto, frente ás necessidades cotidianas que se modificam com a ação do tempo.
Bzuneck (2001, p. 11) diz que:
A motivação do aluno, portanto, está relacionada com o trabalho mental, situado no contexto específico das salas de aula, considerando que é no espaço da sala de aula que o aluno irá desenvolver tarefas de natureza cognitiva, que lhe exige capacidade de concentração, raciocínio, análise, dentre outras atividades que só ele pode realizar.
Nesse contexto, o trabalho do professor assume uma posição de destaque dentro do espaço escolar, pois sua prática pode ser determinante na construção de um ambiente escolar igualitário, mesmo com as diferenças dos alunos.
Apesar da sala de aula ser um espaço pequeno, o grau de complexidade que ela apresenta é bastante preocupante, pois para seu funcionamento seja que o possibilitado pelo professor se faz necessário o desempenho de habilidades que depende de conhecimentos muitas vezes de áreas afins.
Passos (1999, p. 110), diz que:
A prática de sala de aula nos coloca diante de um cenário no qual ritmos de aprendizagem são diferentes, experiências de vida são distintas, perfis cognitivos e conhecimentos são diversos. A proximidade de todos os profissionais da escola com esse cenário complexo pode possibilitar envolvimento e colaboração da equipe na direção de uma postura mais reflexiva sobre a prática de cada um.
Com base nessa reflexão, que situa o ambiente escolar num espaço em movimento, onde se praticam atividades cognitivas produtoras de conhecimento, ao mesmo tempo em que se apresentam o mesmo como sendo complexo, temporal e conflitante, acredita-se que o ambiente escolar tanto pode aproximar, quanto distanciar o aluno do saber.
Tudo depende de como este está sendo utilizado, de quais os recursos que lhes são disponíveis, quais operações estão sendo programadas e quais estratégias envolvem o processo que se desencadeia no seu interior. São estes fatores que determinam o resultado das práticas desenvolvidas nas salas de aula. O desencantamento com o aprender na escola pode ser atribuído a vários fatores, destacando-se: o relacionamento entre professores e alunos e a utilização do sistema aversivo na escola.
3 FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO
A formação do profissional da educação está diretamente relacionada com o enfoque, a perspectiva, a concepção mesma que se tem da sua formação e de suas funções atuais. A formação continuada do professor deve ser concebida como reflexão, pesquisa, ação, descoberta, organização, fundamentação, revisão e construção teórica e não como mera aprendizagem de novas técnicas, atualização em novas receitas pedagógicas ou aprendizagem das últimas inovações tecnológicas.
Se a formação continuada oferece possibilidade de mudança na prática de quem necessita, por outro lado ela oportuniza também o aprimoramento da prática dos que já desenvolvem um bom trabalho. O aperfeiçoamento profissional, em qualquer área de trabalho, se faz necessário quando se busca melhor resultado do produto.
No processo educacional, o aprimoramento profissional é indispensável, haja vista realidade se apresentar complexa por tratar de uma profissão que lida com os sujeitos históricos, ainda vivendo um processo de formação de suas personalidades. Soma-se a isso, o fato de que, estes sujeitos, são substituídos ao término de cada ano, modificando-se assim a realidade do campo profissional. Em contrapartida, existem as sucessivas mudanças na sociedade que refletem, mesmo que indiretamente, na vida dos sujeitos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.
3.1 A importância da troca de experiências
A formação permanente inicia-se pela reflexão crítica sobre a prática, e, a partir dessa reflexão abre-se um caminho para realçar a importância da troca de experiências entre pares, que através de relatos de experiências, oficinas, grupos de trabalho os professores encontram espaço aberto para aprenderem juntos, cada um pode aprender com o outro. Isso os leva a compartilhar evidências, informação e a buscar soluções. A partir daqui os problemas importantes da escola começam a ser enfrentados com a colaboração entre todos.
Outro eixo importante é a discussão do projeto político-pedagógico da escola, a elaboração de projetos comuns de trabalho de cada área de interesse do professor, frente a desafios, problemas e necessidades de sua prática. Nessa linha de pensamento Imbernon (2000, p. 29) afirma que: “a colaboração, a troca de experiências, mais que uma estratégia de gestão, é uma filosofia de trabalho”. Os sistemas de ensino investem na formação individual e competitiva do professor, quando o mais importante é a formação para um projeto comum de trabalho.
Nesse sentido, o professor pode contar com várias estratégias de trabalho, uma vez que, no processo educacional, as estratégias representam à arte de o professor colocar em prática, seu plano de trabalho, com vistas ao alcance de seus objetivos.
Considerando que o espaço da sala de aula se revela complexo por desencadear relações pessoais, com interesses muitas vezes antagônicos, (dada à heterogeneidade das turmas de alunos), se faz necessário um professor habilidoso, capaz de lidar com situações muitas vezes desafiadoras. Nessa perspectiva, sua prática pedagógica reveste-se de intenções, cujo significado é vencer os desafios impostos pela ação do cotidiano. Para isso, é imprescindível uma preparação prévia das ferramentas que irão ser utilizadas para a concretização das suas intenções.
Esta problematização da ação da prática pedagógica refere-se às estratégias de ensino que o professor utiliza para conseguir resultados positivos em seu trabalho. Segundo Libâneo (2001, p. 35): “Estratégias de aprendizagem são, pois, a estruturação de funções e recursos cognitivos, afetivos ou psicomotores que o indivíduo leva a cabo nos processos de cumprimento de objetivos de aprendizagem”.
Entretanto, a troca de experiências varia apenas das estratégias de ensino que, por sua vez, corresponderá de acordo com a especificidade de cada turma ou de cada aluno podendo se voltar para as questões de aprendizagem, comportamentais, motivacionais e até para fatores de origem pessoal.
A partir dessa reflexão, esse trabalho proporciona estratégias motivacionais como o uso de dinâmicas em sala de aula pelo professor, por ser elas um excelente recurso pedagógico que além de motivar, dar um impulso, que faz com que a aula se torne um pouco mais alegre e mais atrativa.
O professor ao parar para pensar e olhar a dinâmica como uma maneira de motivar seu aluno, está procurando uma forma de isolar sua falta de motivação, para, através do poder de autoridade que exerce na sala de aula, fazer uso de instrumentos que lhe são disponíveis para a efetivação de sua prática.
De acordo com Guimarães (2001, p. 85):
Em sala de aula, o professor pode optar por conduzir as atividades de diferentes formas, que revelam sua concepção ou estilo de lidar com a autoridade. A cada forma corresponde um estilo motivacional ligado à crença e confiança do professor em determinadas estratégias de ensino e motivação.
O professor pode utilizar outros meios para motivar seus alunos a estudar, como tentar conscientizar os alunos a partir de uma conversa franca e aberta, mesmo que este se diferencie das dinâmicas pode surtir um efeito satisfatório, pois como afirma Fita e Tapia (2000, p. 104): “Pode-se definir uma estratégia de aprendizagem como um ato cognitivo, intencional e otimizador, que implica uma seleção de procedimentos de aprendizagem baseados numa situação instrucional concreta.”
Nessa perspectiva, este trabalho mostra de forma clara e acessível que em toda prática deve contar com a colaboração e troca de experiências entre professores e, se necessário, outros profissionais que possam dar sua parcela de contribuição. Uma vez que pode e deve existir a participação, inserção de outros profissionais e de estratégias, que muitas vezes se ocultam através da metodologia aplicada pelo professor, independentemente dele seguir uma linha pedagógica tradicional, renovada, diferenciada ou construtivista.
A propósito, dependendo da situação, o professor pode utilizar mais de um tipo de estratégia para uma mesma ocasião. Isso vai depender da sua competência profissional, no momento da preparação de suas estratégias como, por exemplo: O professor pode buscar no dia-a-dia deles, como também despertar um pouco de curiosidades neles com determinados assuntos. Faz-se necessário acrescentar que o professor deve tomar alguns cuidados no uso destas tentativas, para que ele não caia no espontaneísmo e passe a adotar a prática do vale tudo.
Bzuneck (2001, p. 30), assevera que:
Para ter êxito na tarefa de motivar adequadamente sua classe, todo professor deve dominar uma grande variedade de técnicas e saber usá-las com flexibilidade e criatividade. A complexidade e o caráter imprevisível da situação em sala de aula tornam insuficientes qualquer receita pronta.
Nessa perspectiva, se faz necessário que o professor procure refletir sobre a necessidade dos seus alunos, fazendo uma análise do seu potencial intelectual para que ele possa trabalhar no nível da turma, ou aluno, tendo como base um planejamento de ensino organizado.
3.2 A importância de uma assessoria pedagógica
Muito sofrimento do professor poderia ser evitado se a formação inicial e continuada fosse outra, se aprendesse menos técnicas e mais atitudes, hábitos, valores. Muita dor poderia ser evitada se o professor aprendesse a organizar melhor o seu trabalho e o de seus alunos, se aprendessem a sistematizar e avaliar mais dialogicamente se tivesse aprendido a aprender de forma cooperativa. No entanto, o individualismo da profissão mata a ansiedade e a angústia, leva ao sofrimento e até ao martírio do professor compromissado e à desistência daquele que perdeu a esperança.
Para que isso deixe de acontecer se faz necessário que os sistemas escolares e as escolas recebam a ajuda de uma assessoria pedagógica, não para fazer o trabalho do professor, mas para ajudar a escola a inovar. Nessa linha de pensamento Ibernón (2000, p. 37) diz que “não devemos implantar inovações de fora, por melhores e mais bem intencionadas que sejam. A escola é que deve ser protagonista e não os assessores”.
Uma assessoria pode propor uma colaboração na identificação das necessidades e construir, com os professores as respostas às necessidades. Para isso, precisa-se dispor de estratégias que envolva a comunidade interna e externa da escola, uma vez que esse envolvimento é essencial para qualquer inovação.
A proposta ideal é que o agente protagonista seja o profissional da escola, o assessor deve ser guia e mediador, intervindo a partir das demandas dos professores e da instituição educacional com o objetivo de auxiliar no processo de resolver os problemas ou situações problemáticas profissionais que lhes são próprios. Por isso o conhecimento da prática, a capacidade de negociação, o favorecimento da tomada de decisões oferece ao assessor uma maior possibilidade de contribuir de forma significativa para a resolução de problemas que muitas vezes dificulta o dia-a-dia do professor.
De maneira geral, a colaboração e participação do assessor representa uma maneira do aluno, do professor e da própria escola sair-se bem em qualquer situação, uma vez que exige, de quem a pratica, cumplicidade na resolução de uma questão.
O professor pode contar também com o uso de estratégias que facilitará o bom procedimento dos seus trabalhos. No âmbito educacional, as estratégias representam a capacidade de o professor lidar com situações problemas em tempo real, ou seja, independente da estratégia de trabalho que ele tem em mente.
Se ele entra na sala de aula e se depara com uma situação inusitada provocada pelos alunos, para a qual ele não estava preparado, mesmo assim, por ele ser habilidoso, contorna aquela situação, e ainda consegue um saldo positivo dela. Feito isso com certeza, ele utilizou alguma estratégia para conseguir o resultado, tendo sido provocada pelos alunos, o professor não tinha poder sobre ela.
Nesse sentido, este trabalho traz como proposta o uso de estratégias pelo fato de que atualmente, no cotidiano das salas de aula, cada vez mais é exigido que o professor se utilize de novas metodologias, pois o perfil do aluno atual apresenta uma enorme quantidade de informações amplamente diversificadas, fruto da modernização.
A capacidade de improvisação que o professor deve possuir está diretamente relacionada ao uso de estratégias. Certeau (1994, p. 102) afirma que: “as estratégias apontam para uma hábil utilização do tempo, das ocasiões que apresentam e também dos jogos que introduz nas fundações de um poder”.
Este trabalho evidencia que a colaboração de uma assessoria escolar juntamente com as estratégias utilizadas pelo professor para conseguir bons resultados faz uma grande diferença no desempenho da aprendizagem do aluno, por exemplo, muitas vezes a forma como o professor tenta transpor seus saberes não vai de encontro à maturação da capacidade cognoscitiva do aluno. Nesse sentido, quando se faz o uso de estratégias, se procura imediatamente uma maneira diferente, ou mais simplificada de explicar o conteúdo.
Para Perrenoud (2000, p. 48):
Escolher e modular as atividades de aprendizagem é uma competência profissional essencial, que supõe não apenas um bom conhecimento dos mecanismos gerais de desenvolvimento e de aprendizagem, mas também um domínio das táticas das disciplinas.
Entende-se que a mediação de um assessor escolar em parceria com as estratégias do professor no processo educacional se apresenta como fatores favoráveis ao trabalho pedagógico, que visa considerar as representações sociais dos alunos como instrumento de conhecimento e busca a contextualização destes conhecimentos prévios do aluno com a teoria aplicada na aula.
Nessa perspectiva, mais uma vez reconhece-se que o uso de estratégias também tem sua importância no processo de ensino-aprendizagem. Entretanto, o profissional docente precisa ser preparado para essa realidade, isto é, o próprio professor é responsável pela busca de condições, para tornar possível seu trabalho fazendo uso de estratégias, já que no processo educacional elas são incorporadas como procedimentos de ensino, por sinal, muito bem definidos por Certeau (1994, p. 102):
As estratégias são procedimentos que valem pela pertinência que dão ao tempo, às circunstâncias que o instante preciso de uma intervenção transforma em situação favorável, à rapidez de movimento que mudam a organização do espaço.
Nesse contexto, acredita-se que para um docente fazer uso de qualquer procedimento de trabalho, sejam estratégias se faz necessário que este saiba transformar, em prática, a sua teoria, como nos mostra Freire (2001, 52), “não posso apenas falar bonito sobre as razões antológicas, epistemológicas e políticas da teoria. O meu discurso sobre teoria deve ser o exemplo concreto da teoria.”
Para o docente trabalhar nessa perspectiva, é preciso que o mesmo tenha como suporte o saber fazer, adquiridos através de uma formação com vistas a esse propósito. Além disso, é fundamental o compromisso ético do profissional com sua prática. Portanto, uma formação profissional de qualidade, compromisso e ética profissional, são efetivamente, o que promove o uso de estratégias ou de quaisquer procedimentos de trabalho pedagógico.
3.3 A importância da formação continuada do professor
A sociedade contemporânea está marcada pela questão do conhecimento. Pois ele tornou-se peça chave para entender a própria evolução das estruturas sociais, políticas e econômicas de hoje.
O constante processo de transformação por que passa a sociedade contemporânea, em seu sistema de produção e técnicas de trabalho, exige dos trabalhadores uma visão sistêmica de mundo, que é determinada pela globalização econômica do modelo neoliberal da economia capitalista. Neste contexto universal, o conhecimento sistemático se torna obsoleto rapidamente devido à aceleração da produção científico-tecnológica.
Nessa perspectiva, a educação, que se apresenta na sociedade como produtora do conhecimento, é convocada a acompanhar esse processo evolutivo da sociedade atual no sentido de possibilitar aos cidadãos, a aquisição dessa sistêmica de mundo. Para isso, é necessário que os profissionais da educação estejam à frente do seu tempo para preparar a sociedade que vive essa realidade.
Entender os movimentos sociais, suas transformações e atuar sobre eles exigem contínuo aprendizado, profunda reflexão e capacidade de análise crítica do mundo, de maneira global. No entanto, entende-se que para um profissional alcançar esse estágio de consciência, se faz necessário que o mesmo obtenha uma formação voltada para este fim e que este processo formador acompanhe o mesmo ritmo evolutivo social, já que estará contribuindo com a formação de outro ser.
Nota-se que, a formação continuada surge como uma obrigação primordial para quem atua na educação, uma vez que está fazendo uma ligação direta com o desenvolvimento profissional do docente, pois assim como nas outras áreas das ciências, ocorrem mudanças teóricas e metodológicas, que interferem nas práticas dos profissionais da educação.
Pode-se observar que, ao longo do tempo, as diversas transformações porque passou a educação em seus pressupostos teóricos e metodológico foram determinadas pelas legislações educacionais, originadas das mudanças sofridas pela sociedade em cada período da história.
No entanto, percebe-se que as práticas pedagógicas de sala de aula, nem sempre acompanharam efetivamente tais mudanças, por isso, não basta só à atualização, é preciso que, acima de tudo, se busque uma atuação reflexiva sobre a teoria e a prática, como mostra Freire (2001, p. 43-44) “Na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de, ontem que se pode melhorar a próxima prática.”
Entretanto, a formação em serviço só possibilita ao professor essa reflexão sobre a prática, se ela tiver como eixo central a análise e o questionamento das políticas educacionais, e suas implicações na prática cotidiana.
Nesse sentido, Imbernòm (2000, p. 55) esclarece que:
Uma formação deve propor um processo que confira aos docentes conhecimentos, habilidades e atitudes para criar profissionais reflexivos ou investigadores. O eixo fundamental do currículo de formação do professor é o desenvolvimento de instrumentos intelectuais para facilitar as capacidades reflexivas sobre a própria prática docente, cuja mete principal é aprendera interpretar, compreender e refletir sobre a educação e a realidade social de forma comunitária.
O ideal seria que a formação inicial já oferecesse esse suporte ao professor, como isto ainda não acontece nos cursos de formação, espera-se que a seqüência do mesmo possibilite este ajuste intelectual, tão necessário a prática docente.
Segundo Luckesi (1999, p. 28):
Formar o educador, a meu ver, seria criar condições para que o sujeito se prepare filosófica, científica, técnica e efetivamente para o tipo de ação que vai exercer. Para tanto, serão necessárias não só aprendizagens cognitivas sobre os diversos tipos de conhecimentos que auxiliem no desempenho de seu papel, mas, especialmente o desenvolvimento de uma atitude dialeticamente crítica sobre o mundo e sua prática educacional.
Esse perfil de educador delineado por Luckesi retrata exatamente as exigências que a sociedade moderna impõe ao profissional atual, haja vista o grande volume de informações proporcionado pela mídia, à rapidez como está sendo superado no campo da ciência e da tecnologia. Todo esse alargamento cultural da sociedade esbarra nas atribuições do professor que, obrigatoriamente, tem de lidar com essas questões no dia-a-dia da sala de aula, expressas pelas representações dos alunos.
Para o enfrentamento de tais questões, muitas vezes mostram-se desafiadoras, este trabalho propõe que é preciso consciência da necessidade de renovação profissional, que tem como caminho, essencialmente a formação continuada que tanto lhe oferece uma oportunidade de modificar sua prática pedagógica, quanto lhe permite a possibilidade de aprimorá-la.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A educação é necessária para a sobrevivência do ser humano. Para que ele não precise inventar tudo de novo, necessita apropriar-se da cultura, do que a humanidade já produziu. Aprender a educar motivando é aproximar o aluno do que a humanidade produziu. Se isso era importante no passado, hoje é ainda mais decisivo numa sociedade baseada no conhecimento.
Observando o caminho porque passa o processo de ensino-aprendizagem, analisando os aspectos metodológicos inseridos neste processo e avaliando suas implicações conclui-se que, o professor precisa saber, contudo, que é difícil para o aluno perceber essa relação entre o que ele está aprendendo e o legado da humanidade.
O aluno que não percebe essa relação não ver sentido naquilo que está aprendendo e não aprenderá, resistirá à aprendizagem, será indiferente ao que o professor estiver ensinando. Ele só aprende quando quer aprender e só quer aprender quando vê na aprendizagem algum sentido. Portanto, para que se obtenha êxito na busca deste sentido, se faz necessário à definição de um objetivo ou motivo de se estar buscando, que dá significado à ação docente.
No entanto, é preciso que haja consciência por parte dos profissionais da área educacional, de que o processo de sua formação é continuo, porém este precisa de colaboradores para que possa mostrar de forma eficaz que o aprender tem um significado.
Compreende-se ainda que, as estratégias utilizadas pelo professor são muito significativas para os sujeitos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, pode-se medir o grau de motivação desses sujeitos, que são refletidos no seu dia a dia e que se concretizam com o resultado da ação por eles praticada.
Como pode se observar ao longo deste trabalho, a instituição de ensino precisa ressignificar o verdadeiro sentido do aprender. O professor, por sua vez, precisa saber o que é ensinar, o que é aprender e, sobretudo como motivar o aluno.
Chegando ao campo do conhecimento, é a vez do professor usar toda sua competência profissional para organizar, dirigir e facilitar as situações de aprendizagens de seus alunos. Para isto, deverão contar com o apoio e colaboração de uma assessoria escolar, fazer uso de estratégias de ensino e trocar experiências com os demais profissionais para conseguir trabalhar a partir das representações sociais dos mesmos.
Acredita-se que uma das razões do estado de desanimo do professor seja a desvalorização de sua profissão, que o deixa insatisfeito no seu trabalho, tornando o improdutivo. Aliados a tais questões estão: A falta de motivação, de incentivos financeiros, de preparo profissional ocasionado pela ausência de uma política de formação continuada, algo que se considera fundamental frente às mudanças sociais que ocorrem constantemente.
Quanto aos alunos, questiona se a qualidade dos serviços oferecidos a eles, uma vez que dependem do trabalho do professor que, por sua vez, encontra se inserido em um contexto capaz de produzir tantos problemas quanto os que vivenciam. Pois mesmo que venham de diferentes realidades sociais, ambos desenvolvem relações sociais complexas, que são por eles mentalmente absolvidas, mas, nem sempre assimiladas.
São vidas opostas, realidades diferentes que se cruzam no ambiente escolar, mas que existe um que depende do outro e espera que este lhe conduza ao caminho do conhecimento. Partindo desse enfoque, reconhece-se a importância do conhecimento dessa realidade para que se possa lutar contra todas as medidas que retira do ser humano sua autonomia e dignidade necessária ao exercício da cidadania, como a única arma capaz de mudar uma realidade que é a consciência política do homem, só formada a partir de um processo educacional também político.
Finalmente, é importante ressaltar que este trabalho não tem a pretensão de encerrar os estudos em torno da problemática aqui abordada. Espera-se, que este sirva para desencadear uma série de outros estudos que visem o seu aprofundamento, dando continuidade ao ciclo de debates que ora se inicia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSMANN, H. Reencantar a educação. Rio de Janeiro: Vozes, 1998.
BZUNECK, José Aloyseo. BORUCCHOVITCH, Evely (Orgs). A motivação do aluno: Contribuições da psicologia contemporânea. Petrópolis: Vozes, 2001.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: Arte de fazer. Petrópolis: Vozes, 1994.
CHARTIER, Roger. A história cultural: Entre práticas e representações. Lisboa: DIFEL, 1990.
FITA, Enrique Cártula; TAPIA, Jesus Alonso. A motivação em sala de aula: O que é e como se faz. 3 ed. São Paulo: Loiola, 2000.
FERREIRO, R. Reflexões sobre alfabetização. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1985.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 20 ed. São Paulo, paz e terra, 2001.
GHIRALDELLI, Júnior, Paulo. História da educação. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1992. (coleção magistério. 2ª grau. Série formação do professor).
GUIMARÃES, Sueli Edi Rufini. Motivação intrínseca e o uso de recompensas em sala de aula. In: BORUCHOVITCH, Evely e BZUNECK, José Aloyso (orgs). A motivação do aluno. Contribuições da psicologia contemporânea. Petrópolis: Vozes, 2001.
Gadotti, Moacir. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre: Artmed, 2003.
IMBERNOM, Francisco. Formação docente e profissional: Formar-se para a mudança e a incerteza. São Paulo: Cortez, 2000.
KUENZER, Acácia. Ensino Médio e profissional: As políticas do estado neoliberal. 3 ed. São Paulo: Papirus, 2001.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1992. (coleção magistério. 2ªgrau. Série formação do professor).
LUCKESI, Cipriano Carlos. O papel da didática na formação do educador. In: CANDAU, Ver Maria (Org). A didática na formação do educador. 17 ed. Petrópolis: Vozes, 1999.
MADEIRA, Felícia Reicher. (Org.) Quem mandou nascer mulher? Estudo sobre adolescentes pobres no Brasil. Rio de Janeiro: UNICEF, 1997.
PASSOS, Laurizete Ferragut. O projeto pedagógico e as práticas diferenciadas: O sentido da troca e da colaboração. In: André, Marli (Org) A pedagogia das diferenças na sala de aula. Campinas: Papiros, 1999.
PERRENOUD, Phillippe. 10 novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artemed, 2000.
SIDMAN, M. Coerção e suas implicações. São Paulo: Editorial Psy, 1995.
SILVA, Tomaz Tadeu. A nova direita e as transformações na pedagogia da política e na política da pedagogia. In: GENTILLI, Pablo A. A. (Org). Neoliberalismo, qualidade total e educação. 9 ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
Santos, Milton. O professor como intelectual na sociedade contemporânea. São Paulo: Cortez,1999.
VEIGA, Ilma. Passos Alencastro (Coord). Repensando a didática. 5 ed. Campinas: Papirus, 1991.
WERNECK, H. Se você finge que ensina, eu finjo que aprendo. Petrópolis: Vozes, 1995.
XAVIER, Maria Elizabete S. Prado. História da Educação: A escola no Brasil. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1994.