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domingo, dezembro 22, 2024

FEBRE AFTOSA

A febre aftosa é causada por sete tipos diferentes de vírus altamente contagiosos e pode dizimar criações inteiras de bovinos, suínos, ovinos e caprinos. Um dos menores vírus encontrados na natureza, o aftovírus, permanece ativo na medula óssea do animal, mesmo depois de morto. Raramente atinge o homem, que tem defesas contra o vírus. A doença causa febre alta, muita salivação e vesículas nos lábios, gengiva, língua, mamas e patas, sintomas que podem durar 10 dias. A doença impossibilita os animais de pastar, causando perda de peso e diminuição da produção de leite.

A Febre Aftosa (FA, nome em latim Aphtae epizooticae) é uma doença viral altamente contagiosa que afeta gado bovino, búfalos, caprinos, ovinos, cervídeos, suínos e outros animais que possuem cascos fendidos. Também afeta elefantes, camelos, lhamas, ratos e capivaras. Não afeta eqüídeos (cavalos, asnos, mulas e bardotos). Os seres humanos raramente são infectados pelo vírus.

A febre aftosa é um problema mundial, afetando todos os continentes, menos a Antártica. À nível local, a doença reduz o lucro dos fazendeiros e a disponibilidade de carne para o consumo. À nível nacional, a febre aftosa reduz o crescimento econômico da pecuária e limita o acesso ao mercado internacional. É então compreensível porque muitos países tentam erradicar a doença. A erradicação da febre aftosa à nível mundial é difícil porque nem todos os países tem condições financeiras para isso ou não dependem muito da pecuária. O controle da febre aftosa é extremamente importante nas Américas devido á alta produção bovina e suína para o abastecimento mundial.

O vírus se espalha através do contato entre os animais, além da contaminação do solo e da água. O vento pode transportar o vírus até 90 quilômetros. O rebanho contaminado não afeta a saúde do homem, mas atinge o bolso do criador e provoca desastres econômicos: o gado contaminado emagrece, produz menos leite e o animal fica proibido de ir para o abate. Animais não vacinados podem até morrer.

A febre é uma barreira sanitária à exportação da carne brasileira para mercados como Estados Unidos e União Européia, que têm regras rígidas quanto à qualidade dos produtos comprados.

No momento encontram-se livres da doença a América Central e do Norte, a Europa Ocidental, Japão, Nova Zelândia, Austrália, Argentina, Uruguai e Chile. O estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina formavam uma área livre de febre aftosa até as ocorrências de agosto de 2000. Os estados foram declarados, em maio de 1998, como áreas livres de febre aftosa, com vacinação, pela Assembléia Geral da Organização Internacional de Epizootias (OIE), integrada por 154 países, inclusive o Brasil. Desde 1993, esses estados não registram nenhum foco de febre aftosa, graças às campanhas de vacinação que se iniciaram na década de 1960. No RS, que tem um rebanho bovino de aproximadamente 12,5 milhões de cabeças, o trabalho começou em 1963. Três anos depois começava em SC a campanha para vacinar o rebanho estimado em 2,5 milhões de cabeças. No próximo ano, os dois estados estão aptos a obter da OIE o reconhecimento de área livre de febre aftosa, sem vacinação.

O sul do Brasil estava lutando para permanecer livre da febre aftosa, o que manteria o mercado internacional aberto para produção de carne. Após um surto da doença no Mato Grosso do Sul em 1999, pensou-se que a doença estava erradicada. Então, em agosto de 2000, a doença ressurgiu no município de Jóia, Rio Grande do Sul. A ocorrência da febre aftosa prejudicou todos os planos de negócios internacionais e causou enorme perda econômica (milhões de dólares), além dos custos para para o abate, desinfecção e controle do surto.

Num país como o Brasil, com o maior rebanho bovino mundial (170 milhões de cabeças), com o terceiro maior mercado de produção de suínos e em sexto lugar na produção de leite, a ocorrência da doença é devastadora.

Recentemente, foi criado um fundo de reserva para combate a focos eventuais da doença. O fundo é uma exigência da OIE, que determina a constituição de uma reserva financeira para indenização de criadores eventualmente prejudicados pelo abate compulsório de animais atingidos por aftosa ou outras doenças.

O ministro concedeu, em dezembro do ano passado, o status de zona livre de febre aftosa, com vacinação, ao Circuito Pecuário Centro-Oeste, formado pelo Distrito Federal, Goiás, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso. A região tem um rebanho bovino de 70 milhões de animais, que somado aos dos estados de SC e RS (15 milhões) elevam o potencial exportador do Brasil para 85 milhões de cabeças. Para proteger sanitariamente a zona livre, a portaria também definiu a criação de zona tampão, (espécie de cinturão de proteção da área livre) incluindo o Estado do Mato Grosso do Sul e partes de São Paulo, Goiás e Mato Grosso. Em janeiro deste ano, a Comissão Técnica Veterinária da OIE deu parecer favorável ao relatório técnico encaminhado pelo Ministério da Agricultura declarando esse circuito como zona livre de febre aftosa com vacinação. Neste mês de maio, a OIE reúne-se em assembléia, em Paris, e esse reconhecimento técnico deve ser oficializado.


Campanha de Vacinação

Zona-Tampão é uma área que serve de proteção para a zona livre. Essa área dispõe de uma estrutura veterinária adequada, pois nela existe um sistema de vigilância eficiente e um trabalho de vacinação que obedece aos padrões desejados. A zona tampão difere da zona livre porque não foi demonstrada ainda, em seu território, a ausência de atividade viral. Os animais da zona tampão só podem entrar na área livre depois de 30 dias de quarentena e dois exames soroepidemiológicos, enquanto a carne in natura deve estar desossada e resfriada para ser comercializada na zona livre.

Zona de Risco é a zona que não foi reconhecida como livre, pois não reúne ainda todas as condições sanitárias adequadas e exigidas para essa declaração. Compreende todos os estados do Nordeste e Norte do país, mais os Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Essa área é isolada da zona livre pela zona-tampão.

História

O vírus causador da febre aftosa foi a primeira espécie de vírus a ser descoberta. Em 1897 Friedrich Loeffler conseguiu passar soro sanguíneo de animais doentes de febre aftosa através de filtros de porcelana com poros de tamanho nanométrico. Sabia-se que esses filtros barravam todos os menores agentes de doença até então conhecidos: as bactérias. No entanto, Loeffler inoculou experimentalmente o filtrado do sangue dos animais com febre aftosa em outros animais susce(p)tíveis sadios e conseguiu reproduzir a doença, cumprindo os postulados de Koch.

Epidemiologia

A Febre Aftosa é uma doença presente na Europa, Ásia, América do Sul e África. América do Norte, América Central e Oceania estão livres da doença. Os EUA estão livres desde 1922. A Grã-Bretanha foi afetada por uma epidemia entre Março e Outubro de 2001 e teve que sacrificar cerca de 7 milhões de bovinos, caprinos e ovinos ao custo de cerca de 8000 milhões de libras esterlinas (15000 milhões de dólares americanos).

Etiologia

O vírus da FA pertence ao gênero Aphtovirus da família Picornaviridae. Seu diâmetro varia de 25 a 30 nm aproximadamente e está entre os menores vírus conhecidos. Os vírions apresentam capsídeo de simetria icosaédrica, não envelopados e seu genoma é um RNA de fita única. Quando o vírus se liga a um receptor presente naturalmente na membrana de uma célula de um hospedeiro suscetível, ocorre um invaginamento nessa região e ele é colocado dentro da célula. Sua estrutura protéica desaparece liberando o material genético no citoplasma celular. Os genes do vírus tomam conta da maquinaria metabólica de produção de proteínas da célula e passam a sintetizar as proteínas e os genes. Os genes também codificam a montagem de enormes quantidades de novos vírions e a célula eventualmente morre e se rompe. Isto libera novos vírus que infectam novas células e reiniciam o ciclo. O animal hospedeiro passa a apresentar sinais clínicos da doença e a disseminar novos vírions também para o ambiente.

Tipos

Existem sete diferentes sorotipos de vírus da Febre Aftosa: O (o mais comum), A, C, SAT (South African Territory)-1, SAT-2, SAT-3 e Ásia–1. Os quatro últimos são considerados exóticos no Brasil. os que tem mais influência na América Latina são os O, A e C, sendo que os últimos isolamentos no Brasil demonstraram a presença do tipo O.

Sinais Clinicos

Em geral, os sinais clínicos são severos em bovinos e suínos. Ovelhas e cabras geralmente desenvolvem infecções subclínicas. Animais selvagens podem tanto desenvolver a doença severa e até morrer, como ter infecções subclínicas ou inaparentes. Animais infectados normalmente se recuperam.

Sintomas

O animal afetado apresenta uma febre alta que diminui após dois a três dias. Em seguida aparecem pequenas vesículas na mucosa da boca, laringe e narinas e na pele que circunda os cascos (e que dão o nome da doença em inglês). Essas vesículas são pequenas bolhas resultantes de células afetadas pela multiplicação dos vírus que se coalesceram. Essas vesículas se rompem e o tecido conjuntivo de sustentação fica à mostra, na forma de ferimentos. O líquido celular rico em novas unidades de vírus é liberado no ambiente quando essas vesículas se rompem. O animal passa a salivar, deixando cair fios de saliva (um quadro comum) e a mancar, em função dos ferimentos associados às vesículas. O animal deixa de andar e de comer e emagrece rapidamente. As capacidades fisiológicas de crescimento e engorda, e de produção de leite, são prejudicadas por várias semanas a meses. Animais novos, especialmente bezerros, podem morrer de forma aguda com miocardite derivada da infecção do músculo cardíaco pelo vírus da FA.ê Para um animal com FA, sua recuperação é o evento mais provável. Isto é, a taxa de letalidade da FA é extremamente baixa. Já a taxa de morbilidade é extremamente alta. Isto é, praticamente todos os animais (de espécie de animais suscetíveis) presentes em um rebanho exposto ao vírus serão infectados e mostrarão sinais da FA.

Os animais que se curam tornam-se portadores convalescentes assintomáticos e colocam em risco novamente o rebanho após a perda da imunidade do rebanho (seja derivada da doença ou de vacinação) por nascimento ou por compra de animais suscetíveis.

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