A forma de escrever um texto literário não possuiu regras fixas, o autor escreve as palavras de um modo em que explore o pensamento dos leitores, que fazem diferentes interpretações, dependendo de seu conhecimento. Dependendo de seu tipo de texto, o escritor pode variar o gênero. Esses gêneros também se subdividem em três, dependendo também de seu texto: dramático, lírico e narrativo.
Gênero Dramático
É a encenação de um texto; o autor escreve em prosa ou verso acontecimentos do momento ou comportamentos sociais para que o público / espectador seja sensibilizado e reflita. Os atores apresentam pessoas comuns ou heróis e seus feitos, cenários e sons. Subdivide-se em três modalidades:
TRAGÉDIA
Gênero teatral em que se expressa o conflito entre a vontade humana, por um lado, e os desígnios inelutáveis do destino, por outro. A rigor, o termo só se aplica à tragédia grega ou clássica, cuja origem se confunde com a do próprio teatro, mas por analogia é tradicionalmente estendido à literatura dramática de várias épocas, em que conflitos semelhantes são tratados. A tragédia surgiu na Grécia no final do século VI a.C. e esgotou-se em seu sentido genuíno em menos de cem anos. Assim, quando no século IV Aristóteles formulou, na Poética, sua teoria da tragédia, o pensamento filosófico estava plenamente estabelecido e a tragédia não tinha mais lugar. Sucedeu historicamente à epopéia e à poesia lírica e se extinguiu com o advento da filosofia.
O momento histórico da tragédia corresponde a um estado particular de articulação entre o mito e a razão, em que essas categorias entram em conflito e preparam a vitória final do pensamento. Marca a transição do homem trágico, sujeito aos caprichos dos deuses, o homem descrito na mitologia e na poesia de Homero, para o homem dramático (“drama” deriva de uma palavra grega que significa “ação”) ou homem de ação, cidadão político, descrito por Aristóteles como senhor de sua vontade e responsável por seus atos. As tragédias eram apresentadas ao público nas grandes dionisíacas, festivais realizados em Atenas a partir do século VI a.C. por iniciativa do tirano Pisístrato. A sobriedade e a grandeza das tragédias de Ésquilo e Sófocles foram atenuadas na obra de Eurípides, o terceiro dos grandes trágicos clássicos, em favor da maior humanização dos personagens. O gênero trágico ressurgiu na Inglaterra nos séculos XVI e XVII, com autores como Christopher Marlowe, que conferiu caráter heróico aos personagens, e Shakespeare, que expressou de forma inigualável sua visão da capacidade humana de enfrentar as forças do destino em situações extremas, embora se afastasse dos parâmetros clássicos.
Uma nova espécie de tragédia surgiu no norte da Europa no século XIX com Ibsen, Strindberg e Tchekhov. Ao contrário das anteriores, as peças foram escritas em prosa e os temas adaptados às inquietações contemporâneas.
A despeito dos horrores da segunda guerra mundial, que poderiam ter inspirado o drama trágico, e das obras comoventes sobre a solidão e a desolação do ser humano no teatro do pós-guerra, a tendência no final do século XX era considerar o gênero ultrapassado.
COMÉDIA
Gênero teatral que se liga às noções de comicidade, humor, riso, sátira e leveza. Surgiu em pleno classicismo grego, por volta de 500 a.C., e atingiu durante seu primeiro século de vida um dos momentos de plenitude. Na chamada comédia antiga de Atenas, a inspiração mística dos ritos de fertilidade misturou-se com a influência popular dos bufões primitivos, dando como resultado textos que conferiram ao gênero autêntica dimensão estética. A comédia foi incluída nas festividades gregas que homenageavam o deus Dioniso, ao lado da tragédia, em 486 a.C. Os principais comediógrafos antigos foram Aristófanes, de quem se conhecem 11 das 44 comédias que escreveu, Cratino e Êupolis. Por volta de 320 a.C., a força ritual da comédia se achava atenuada, a crítica social e o debate dos temas de atualidade eram menos veementes e o aspecto romântico da comédia tornava-se predominante. Os elementos cômicos existentes nos mistérios e moralidades medievais não autorizam considerá-los como comédias. As farsas medievais tornaram-se populares também na Inglaterra, país em que floresceu outro gênero com ingredientes cômicos, o interlúdio moral. Rompendo com a inspiração popular da Idade Média, o teatro renascentista retomou os modelos da antiguidade clássica e se transformou em divertimento da corte e dos intelectuais.
Maquiavel escreveu A Mandrágora, obra-prima da comédia italiana em que a inspiração clássica se funde com o espírito cínico e amoral da época Bastam as peças cômicas de Shakespeare para consagrar a comédia elisabetana como um dos momentos altos do gênero O período clássico, cujos limites cronológicos coincidem com a segunda metade do século XVII, presenciou o florescimento da comédia francesa. Molière criou algumas das mais importantes comédias de todos os tempos, apesar de sujeito à rigidez formal que caracterizou o gênero na França. Na Itália, Goldoni aproveitou as principais convenções da commedia dell’arte para criar uma fina comédia burguesa que renovou o teatro italiano, criticando a sociedade de seu tempo. Na Alemanha, Lessing tornou-se o primeiro grande dramaturgo. Obras de comediógrafos como Oscar Wilde, Bernard Shaw, Tchekhov e Pirandello são tidas como básica para a comédia contemporânea. Talvez nenhum dramaturgo tenha explorado com tanta lucidez o potencial didático da comédia e o valor crítico do humor como Brecht, na denúncia das desigualdades sociais. Samuel Beckett, o maior dos dramaturgos do absurdo, contribuiu para apagar a fronteira entre a comédia e o drama com personagens quase circenses condenados a uma existência vegetativa num universo hostil e árido.
TRAGICOMÉDIA
Poema dramático que combina os traços próprios dos gêneros trágico e cômico. Surgiu em Roma e mais tarde foi introduzida em narrativas que não se destinavam à representação.
Gênero Lírico
Neste tipo de gênero vigora a exaltação do “eu”, onde o autor fala do amor, da saudade, da morte, da solidão, despertando o lado emocional do leitor. Este gênero manifesta-se através da poesia (ou poema) e da prosa. Subdivide-se em: ode, soneto, lira, balada, rondó, ditirambo e canção.
ODE
Ode (que em grego antigo quer dizer “canto”) é uma composição poética de estrofes simétricas e de caráter lírico. Na Grécia antiga apresentava-se sob duas formas: monódica, quando cantada pelo próprio autor; e coral, quando a obra era transformada em canto coletivo. A ode coral era parte integrante da tragédia grega, utilizada não apenas para dividir a ação, mas também para comentar os episódios da trama. O gênero veio a exigir um poeta “profissional”, que se encarregava da letra, da música e da dança para cada ocasião. Nos tempos modernos, os teóricos dividiram as odes de diversos modos, um dos quais as situa conforme o tema: abrangem-se, assim, a ode sagrada, a filosófica ou moral, a heróica e a anacreôntica Desde os clássicos gregos e latinos, diversos tipos de ode foram cultivados pelos poetas, até o início do século XIX. Os escritores realistas, como Eça de Queirós, já se referem à ode com sarcasmo, como sinônimo de má poesia, mas na poesia moderna o gênero ressurgiu na obra de Fernando Pessoa, ou melhor, de seu heterônimo horaciano, Ricardo Reis.
SONETO
Soneto é uma composição poética de 14 versos, em geral rimados e dispostos em quatro estrofes, duas de quatro e duas de três versos. Admite número restrito de variações quanto à forma e segue normas rigorosas quanto ao conteúdo e desenvolvimento do tema. Ao que tudo indica, o soneto foi criado na Sicília, onde era cantado na corte de Frederico II da mesma forma que as tradicionais baladas provençais. Na primeira metade do século XIII, porém, Giacomo da Lentino inventou o soneto como espécie de canção ou de letra escrita para música. Tinha um princípio par, o da oitava, seguido por um princípio ímpar, o dos tercetos, devido à mudança da melodia na segunda parte. No fim do século XIII, sua forma foi sistematizada por Guittone d’Arezzo e experimentada por Dante e Guido Cavalcanti. Foi Petrarca, contudo, quem difundiu o soneto em toda a Europa.
Essa composição poética aderiu, nos séculos seguintes, ao humanismo e também à devoção barroca. O Brasil teve sonetistas de primeira linha em Manuel Botelho de Oliveira, no século XVII, Cláudio Manuel da Costa, no XVIII, e Alphonsus de Guimaraens e Cruz e Sousa, no XIX. Modernistas como Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade também demonstraram algumas vezes maestria no soneto. O soneto voltou a aparecer em obras de Vinícius de Morais, Jorge de Lima e Mário Faustino. Escreveram sonetos alguns dos criadores das grandes literaturas do Ocidente, que com suas obras determinaram a consolidação das línguas vernáculas e o início da modernidade literária. Dante, Camões e Shakespeare, para só citar os maiores, foram mestres dessa forma que sobrevive quase sem alterações há 700 anos.
LIRA
Instrumento musical de cordas para dedilhar. Era empregado na Grécia antiga. Apresentava-se com a forma de “U” cortado. É um dos mais antigos instrumentos musicais. Os povos fenícios e gregos já conheciam. Compunha-se de duas hastes recurvadas, sendo uma transversal de onde partiam as cordas. Uniam-se na caixa de ressonância. As cordas que no início eram apenas três, aos poucos alcançaram o número de dez ou doze. Ela deu origem ao bandolim e a guitarra.
BALADA
São conhecidos como balada diversos gêneros poéticos e musicais de origem popular e, inicialmente, ligados ao canto e à dança. É como se apresentam, em meados do século XIII, na Provença e na península itálica, já ostentando várias formas. No século seguinte, ao musicá-las, o poeta e compositor Guillaume de Machaut regularizou o gênero em três quadras, cada uma com seu estribilho, para o canto em três ou quatro vozes. No século XV, apareceram baladas literárias sem qualquer vinculação com a música, como as de François Villon, em oitavas, de características totalmente originais.
No século XIX, o gênero, já em decadência, ainda contou com importantes contribuições de poetas escandinavos e de outras línguas, como o tcheco, o húngaro e o finlandês, enquanto apareciam na França as Odes et ballades (1828), de Victor Hugo, e muito mais tarde as Ballades françaises, de Paul Fort. Foi dentro desse contexto que alguns compositores românticos, especialmente Chopin e Brahms, numa alusão subjetiva ao gênero literário, deram a peças suas o nome de balada. As do primeiro foram publicadas entre 1836 e 1842, e as do último em 1856. Existem obras literárias com o nome de balada desde o final da Idade Média. Entre as que ficaram célebres, incluem-se algumas de François Villon, William Wordsworth e Samuel Coleridge.
RONDÓ
O rondó, forma musical instrumental derivada do rondel em verso, caracteriza-se pela freqüente repetição do tema principal, intercalado com episódios que podem ser transições ou expansões melódicas do tema. A forma mais simples é a-b-a-c-a. O refrão é às vezes chamado de ritornelo. Antes do desenvolvimento de suas formas instrumentais, o rondó manteve conexão com o verso. Como dança cantada, nos séculos XVI e XVII, compunha-se de refrão, entoado em coro pelos dançarinos, e de estrofes para solistas. O período clássico do rondó vai de 1775 a 1825, quando se encontram exemplos perfeitos da forma musical em obras de Haydn, Mozart, Beethoven, Clementi, Field, Hummel e Weber. No mesmo período, alguns compositores fizeram do rondó uma peça isolada, como é o caso de Beethoven, com seu Rondo a capriccio, Opus 129.
Em meados do século XIX o rondó caiu em desuso, mas encontram-se ainda exemplos notáveis nas obras de Mendelssohn, Brahms e Richard Strauss. As peças de rondó jocosas e grotescas compostas por Stravinski e Hindemith — da escola neoclássica moderna — contrastam com a expressão tradicional, isenta de oposições violentas e acentos dramáticos. De origem francesa, o rondó surgiu como peça para cantar e dançar. Como obra instrumental, foi extremamente popular na segunda metade do século XVIII e início do XIX, quando freqüentemente formava os movimentos finais de sonatas, sinfonias, concertos e outras obras de câmara.
DITIRAMBO
Canto coral constituído por um poema lírico de versos e estrofes irregulares, que exprimem entusiasmo, sensualidade e paixão. Composto inicialmente para os cultos em honra ao deus Dioniso, está na origem da tragédia grega.
CANÇÃO
Conjunto de poemas épicos que floresceu entre os séculos XII e XIII, a designação canções de gesta, traduzida do francês chansons de geste, originou-se da palavra latina gesta, “ações”, “façanhas”, usada no título das crônicas medievais de aventura ou feitos guerreiros. Com extensão que varia entre mil e duas mil linhas, estruturadas em estrofes com número irregular de versos, em geral decassílabos ou alexandrinos, assonantes e de rima única, as canções de gesta eram recitadas por jograis e menestréis, com acompanhamento instrumental, nos castelos, mosteiros e praças, com grande receptividade do público.
Baseavam-se em fatos históricos ocorridos vários séculos antes, o que dificulta a determinação de sua origem. As sucessivas improvisações e modificações impostas aos intérpretes pelo gosto da audiência, ao longo do tempo, deformaram a exatidão factual dos relatos e lhes conferiram cunho lendário. As canções de gesta, que começaram a desaparecer em meados do século XIII, tornaram-se fonte de baladas, novelas e dramas e também de romances em que se destacou a literatura da península ibérica. Em outros países, assinalam-se como gestas os ciclos do rei Artur, na Inglaterra, e dos nibelungos, na Alemanha.
Quadro Comparativo dos Gêneros Literários
Gênero Narrativo
Neste tipo de literatura o autor pode ser um simples narrador da história ou um narrador-personagem. Neste gênero o escritor conta uma história de ficção que atuam em local e tempo determinados. Subdivide-se em: epopéia, romance, conto, crônica, fábula e novela.
EPOPÉIA
O termo epopéia designa um poema heróico, protagonizado por um ou vários personagens, caracterizados por suas ações titânicas, muitas vezes frente a obstáculos sobrenaturais ou maravilhosos, e por seus elevados ideais. A epopéia em geral celebra os feitos mais representativos de um povo ou nação e por isso manifesta um profundo espírito de exaltação nacional. Na conceituação clássica, epopéia constitui um dos três grandes gêneros em que se divide teoricamente a poesia: o épico, em que predomina a objetividade; o lírico, no qual prevalecem os acentos subjetivos; e o dramático, que os entrelaça. Na maioria das antigas civilizações produziu-se, em determinado momento, a compilação e a fusão das tradições nacionais orais num poema épico. Os exemplos mais antigos que se conhecem, ambos de origem mesopotâmica.
As epopéias têm em comum, na origem, o caráter espontâneo, popular e coletivo. Constituíam o modo pelo qual as lendas eram normalmente transmitidas, obedecendo ao imemorial impulso humano de contar histórias. O estilo característico da epopéia, nobre e grandiloqüente, se prestava à exaltação dos fatos narrados, desenrolados em cenários freqüentemente monumentais. Batalhas heróicas, viagens prolongadas e exóticas e a presença constante, na ação, de seres sobrenaturais são elementos básicos do poema épico, assim como a evocação à musa, que acontece logo no início da história.
As epopéias gregas e romanas foram as de maior influência na cultura ocidental e criaram os modelos estilísticos e argumentativos que se tornariam os paradigmas do gênero. Presente na Mesopotâmia e na Índia, cristalizada como gênero literário na Grécia, com a Ilíada e a Odisséia, e revitalizada na cultura latina na Eneida, a epopéia eternizou lendas seculares e tradições ancestrais, preservadas ao longo dos séculos pela transmissão oral. As epopéias nacionais medievais, produtos anônimos do espírito popular e coletivo, foram as primeiras grandes obras escritas em língua vulgar e lançaram as bases da unidade européia medieval. Verdadeira antítese da epopéia heróica dos séculos XVI e XVII, da qual é contemporânea, a epopéia herói-cômica ridiculariza os enredos patéticos e os personagens da ação heróica. Utiliza, quase sempre, o recurso de celebrar acontecimentos insignificantes com elevado tom épico. No final do século XVII, a epopéia era um gênero literário em franca decadência. Com a consolidação política das nações européias, a afirmação dos caracteres nacionais perdia um pouco sua razão de ser, e o romance ocupou, pouco a pouco, o lugar do gênero épico na literatura. As epopéias clássicas, contudo, são de fundamental importância para o conhecimento da trajetória histórica dos valores sociais, éticos e políticos da humanidade.
ROMANCE
Romance é um gênero da literatura que transpõe para a ficção a experiência humana, em geral por meio de uma seqüência de eventos que envolvem um grupo de pessoas em um cenário específico. A diferença entre romance e novela é flutuante; uma das distinções possíveis seria definir o romance como uma narração extensa em prosa, e a novela como uma mais breve, intermediária entre o romance e o conto. Um romancista clássico, como Charles Dickens, não deixava fios soltos na trama. Prestava contas ao fim de todos os personagens, mesmo os mais obscuros. Já o romancista moderno acompanha mais de perto o curso da vida, que é muitas vezes gratuita, sem sentido e inacabada. Pode-se ainda distinguir o romance da novela definindo esta como exposição de uma situação conflituosa, em que causas e efeitos são apresentados resumidamente, ao passo que no romance inclui a evolução e o desfecho de todos os acontecimentos, com o panorama social ou histórico. Os elementos fundamentais do romance são o enredo, a caracterização dos personagens e o narrador. Exigia-se coerência do caráter do personagem principal, chamado então de “herói”. Só no século XX que aparece o anti-herói, com o primeiro plano da narrativa ocupado por forças sociais ou outras que o dominam.
O terceiro elemento constitutivo do romance é o narrador. O romance moderno prefere a narração na terceira pessoa. Mas enquanto em grande parte dos romances oitocentistas o narrador intervém na ação A importância relativa do enredo e dos personagens e o papel do narrador determinam a forma do romance, da qual depende a maior ou menor importância do diálogo na narração. Para classificar os vários subgêneros do romance é necessário considerar não apenas a forma de tratamento dos materiais, mas os próprios materiais do enredo. São classificados em: romance de cavalaria, romance galante, romance sentimental, romance gótico, romance histórico, romance urbano, romance realista, romance psicológico, romance policial e romance de ficção científica. O fim do romance já foi proclamado várias vezes, sobretudo na década de 1970. Ulisses (1922), de James Joyce, teria sido o último romance e seria impossível prosseguir a linha alegórico-metafísica, de Franz Kafka. O gênero teria como única saída viável o romance-documento, baseado em fatos. Entretanto, a produção de romances, em estilo tradicional ou em estilo vanguardista, jamais cessou.
CONTO
Conto é uma breve narrativa ficcional, geralmente em prosa. Em relação aos gêneros literários mais próximos, a novela e o romance, pode ser abordado do ponto de vista quantitativo ou do estrutural. No primeiro caso, o conto é uma narrativa mais breve que a novela, esta já mais breve que o romance. Há quem fixe seu limite de extensão em cinqüenta páginas.
Quanto à estrutura, o conto trata basicamente de um único tema, enquanto os outros gêneros apresentam derivações e tramas paralelas. Para as antigas civilizações, o conto era uma narrativa de cunho fabuloso e fantástico, inspirada na mitologia e transmitida oralmente de uma geração a outra. A literatura ocidental, em diferentes momentos, reelaborou e recriou contos, mitos e lendas orientais, que chegaram à Europa medieval por assimilação ao patrimônio cultural greco-romano ou transmitidos diretamente pela civilização árabe da Espanha, como é o caso de As mil e uma noites. Na segunda metade do século XIX, o conto atingiu o auge de seu prestígio com o realismo.
Tchekhov, é considerado um dos mestres do conto no século XIX. No século XX, o conto procura novas formas. Na linha realista, dois grandes nomes são os dos americanos William Faulkner e Ernest Hemingway. Em Panorama do conto brasileiro (1959-1961), Barbosa Lima Sobrinho aponta como precursores do conto no Brasil os autores de folhetins românticos publicados a partir de 1826. A figura máxima do conto brasileiro, nos moldes clássicos, é Machado de Assis, que em 1862 publicou O alienista, uma de suas obras-primas. Mário de Andrade, que se projetou no cenário intelectual brasileiro como um dos líderes da revolução modernista de 1922, é autor de Belazarte (1934) e Contos novos (1947). Guimarães Rosa foi também um inovador da linguagem em seus romances e nos contos de Sagarana (1946) e Corpo de baile (1956). A melhor prosa de Clarice Lispector se encontra provavelmente nas coletâneas de contos, como A legião estrangeira (1964) e Laços de família (1972). Outros renovadores do gênero foram Dalton Trevisan, Rubem Fonseca e Luís Vilela.
CRÔNICA
Crônica é um gênero literário de assunto livre, mas geralmente voltado para os pequenos fatos do cotidiano, que se publica em jornal. Ao invés de descrever ou comentar acontecimentos do dia, apresenta reflexões sobre arte, política, acidentes, crimes e processos, valorizando os fatos do dia-a-dia. Embora tenda a prender-se à atualidade, não ignora o passado e o prognóstico do futuro. Sentimental ou humorística, pode ser tendenciosamente crítica, mas em geral não comunica agressividade. A crônica é cultivada por tão grande número de escritores que sua história completa equivaleria a um corte transversal ao longo das literaturas ocidentais dos séculos XIX e XX. Seus primeiros cultores podem ser considerados os escritores ingleses Joseph Addison e Richard Steele, que fundaram em 1709 o semanário The Tatler (O conversador), publicado até 1711, cujos pequenos textos e artigos literários ou políticos, com reflexões morais ao gosto do novo público burguês, são crônicas típicas. Depois de Paris, o gênero encontrou outro centro importante em Viena. O gênero foi muito contemplado pelos escritores brasileiros, de Olavo Bilac a Manuel Bandeira. Machado de Assis escreveu crônicas durante toda a vida. As de seus últimos anos, postumamente reunidas no volume A semana (1914), estão entre seus mais belos escritos. Ao longo do século XX, o Brasil consagrou excelentes cronistas como o poeta Carlos Drummond de Andrade, autor de Fala, amendoeira (1957), A bolsa & a vida (1962) e Cadeira de balanço (1966).
Especialista no gênero foi Rubem Braga, que escreveu exclusivamente crônicas. Foi considerado pela crítica um dos melhores escritores brasileiros da segunda metade do século XX, dando assim mais uma prova de que a crônica se firmou como gênero literário. Distinguiram-se ainda Sérgio Porto e Antônio Maria.
FÁBULA
Fábula é uma narrativa alegórica em prosa ou verso, cujos personagens são geralmente animais, que conclui com uma lição moral. Sua peculiaridade reside fundamentalmente na apresentação direta das virtudes e defeitos do caráter humano, ilustrados pelo comportamento antropomórfico dos animais. O espírito é realista e irônico e a temática é variada: a vitória da bondade sobre a astúcia e da inteligência sobre a força, a derrota dos presunçosos, sabichões e orgulhosos etc. A fábula comporta duas partes: a narrativa e a moralidade. A primeira trabalha as imagens, que constituem a forma sensível, o corpo dinâmico e figurativo da ação. A outra opera com conceitos ou noções gerais, que pretendem ser a verdade “falando” aos homens. Cabe salientar que o elemento dominante, para o gosto moderno, costuma ser a narrativa. A moralidade ou significação alegórica, ainda que anime o todo, jaz de preferência nas entrelinhas, de maneira velada. Explicitada no começo ou no fim, ou implícita no corpo da narrativa, é a moralidade que diferencia a fábula das formas narrativas próximas, como o mito, a lenda e o canto popular.
Situada por alguns entre o poema e o provérbio, a fábula estaria a meio caminho na viagem do concreto para o abstrato. A afinidade com o provérbio encontra-se no nível mediano – lugares-comuns proverbiais – a que geralmente se reduz a lição extraída da narrativa. Sob esse aspecto, a fábula também se distingue da parábola, que procura maior elevação no plano ético, além de lidar com situações humanas mais reais. A glória de melhor fabulista do século XIX pertence ao russo Ivan Krilov, que soube adaptar o gênero a seu gênio de poeta original. O homem rústico é seu herói favorito. Krilov usou da fábula como meio de protesto contra a rigidez das coerções do estado. No Brasil, as melhores realizações inspiraram-se no folclore e na literatura oral. Como exemplos, há as Fábulas de Luís de Vasconcelos, as Fábulas e alegorias de Catulo da Paixão Cearense e as Fábulas brasileiras de Antônio Sales. Cabe mencionar também Monteiro Lobato, Câmara Cascudo, José Oiticica e o Marquês de Maricá.
NOVELA
Narrativa em prosa que se distingue do romance e do conto por situar-se no meio-termo entre os dois, tanto em complexidade quanto em extensão.
Bibliografia
http://www.saladacultural.com
http://www.ficharionline.com
http://www.cnpq.br
http://www.ufrgs.br