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sábado, dezembro 21, 2024

Histórias para Desenvolvimento de Roteiros

Você consegue sentir o calor do sol na sua pele, aquele toque gentil que só o sol das 7 horas da manhã possui o mesmo que ao invés de te maltratar com o seu poder onipresente, parece que lhe acalenta levando calor ao seu corpo… Você pode sentir o cheiro do mar? Aquele barulhinho irresistível que te faz refletir sobre a vida. Então você está preparado para ver a menininha das conchinhas.

Jana havia levantado realmente cedo naquela manhã de quarta feira de cinzas. Algo a deixava inquieta, já fazia meses que essa sensação de tormenta tomava conta de seu ser. Algo na casa estava lhe deixando claustrofóbica então se levantou do colchão onde dormia a pouco, com uma incrível vontade de tomar ar, olhou para o lado na esperança de que alguém na casa já estivesse acordado, mas o que viu e ouviu e viu foi somente o ressonar de todos.

-Era de suspeitar que eles estivessem dormindo ainda, ficaram até tarde ontem na praia aproveitando o ultimo dia de carnaval. -Jana murmura para si mesma. -Afinal que horas são?

Ao falar isso ela olha em direção ao relógio que estava na cozinha e marcava pontualmente 6h45 da manhã.

-Está cedo ainda, o pessoal vai demorar a acordar ainda, acho que uma caminhada na praia me fará bem. – Ao dizer isso Jana sai da sala quase atropelando as pessoas que estavam dormindo em colchões pela casa.

Ao sair da casa ela pode sentir o frescor da manhã e se sentiu renovada com o doce toque que o sol fazia sob sua pele. A caminhada até a praia era curta, mas grande o suficiente para ela poder ver as casas ao longo da rua, e todas davam sinais claros de que moradores ainda dormiam dentro de seus lares. Era estranho, mas ver todos dormindo lhe passava uma incrível sensação de segurança. Coisa que ela estava esquecendo o que era ter.

A praia estava deserta a não ser por uma pequena figura peculiar que vinha andando ao longo da praia, horas pulando algumas ondas, horas parecia pegar algo no chão. E até rodopiava na areia quando o que pegava no chão parecia lhe agradar.

Jana sentou-se na areia da praia e ficou observando a curiosa criatura que se aproximava, e conforme a aproximação mais encantada Jana ficava e o que antes era um ser indefinível pela distancia, revelou-se uma pequena menininha…

-Ora essa o que essa pequena está fazendo aqui ah uma hora dessas? Está muito cedo e sozinha! Francamente…

Inconformada com a situação Jana vai até a pequena, a menina vê a sua aproximação e não liga continua com o seu ritual de brincar com as ondas e pegar umas conchinhas no chão. Conforme Jana se aproximava uma incrível sensação de paz passava pelo seu corpo, e seu coração se enchia de ternura pela pequena menina. Quando ficaram de frente uma para a outra que Jana pode ver claramente.

A menina possuía uma fisionomia de tranqüilidade e esboçava um sorriso tranqüilo no rosto. Parecia que ela não era desse mundo.

-Oi. Quem é você, o que faz sozinha na praia há essas horas cadê seus pais? –Jana pergunta intrigada.

-Eu moro logo ali naquela casa verde, vim aqui colher umas conchinhas para a minha vó, ela está de cama doente… E todos os anos desde que eu nasci a gente vem na manhã depois do carnaval bem cedinho, que é quando o mar está acordando e ele dá para a gente as conchinhas mais bonitas! Acho que ele está triste hoje, não achei conchinhas tão bonitas, e eu queria ver a minha vó feliz, faz tempo que ela não sorri, assim como você parece que não sorri, tem os olhos tristes!

Aquilo a desconcertou, Jana sentiu um nó formar em sua garganta, realmente fazia tempo que não sorria, e não sabia o que era ter paz dentro de si, como que uma pequena podia saber tanto de si só com um olhar?

-Bem já que você não está conseguindo achar as conchinhas, eu te ajudo! –Era estranho se sentir assim disposta para fazer algo, mas parecia que ela tinha uma responsabilidade sobre aquela menininha. E que não poderia deixá-la sozinha.

– Você me ajuda? De verdade!

O rosto da menininha se encheu de alegria, o que contagiou ainda mais Jana.

-Claro, afinal quando estamos procurando algo é sempre bom ter uma ajuda!

E passaram boa parte da manhã juntas, caçando conchinhas. Jana perdeu a noção do tempo perto da pequena, que ria e brincava com a água, e vibrava de felicidade com cada conchinha achada.

Até que ambas decidiram parar um pouco para descansar, Jana deitou na areia e a pequena deitou-se do lado dela. Jana estava tão cansada e se sentindo tão plena e feliz que acabou cochilando da areia, quando acordou a menininha não estava mais lá. Só havia as conchinhas que ambas cataram juntas, do lado dela.

-Meu Deus o que será que aconteceu? Será que a mãe dela veio buscá-la? E ela até esqueceu-se das conchinhas. Bem de qualquer forma vou lá levar para ela. Já que as conchinhas eram tão preciosas.

Chegando à casa verde indicada mais cedo pela menina, o portão estava meio aberto, Mas Jana respeitosamente chamou do lado de fora. E uma mulher aparentando meia idade veio recebê-la.

-Eh, com licença, Por acaso tem uma menininha que mora aqui? Ela estava colhendo umas conchinhas mais cedo e eu acabei cochilando na praia ela havia esquecido as conchinhas do meu lado, e vim trazer para ela, afinal parecia ser muito importante.

Um brilho de lagrima passou pelo rosto da mulher que simplesmente lhe sorriu e pediu para entrar.

-Mas o que houve? Por que você está chorando? – Jana não entendia.

– Tenho algo para te mostrar. – Disse à mulher que agora havia parado de chorar e lhe indicava um caminho pela casa.

-Tudo bem.

-É aqui, venha- A mulher indicou um quarto.

Entrando no quarto ela viu uma senhora com uma idade já avançada e aparentava estar muito doente. Jana ainda segurava as conchinhas em mãos como se a paz que ela havia conseguido naquela manhã dependesse delas.

-Vovó, tem uma pessoa que veio aqui te ver – Disse a mulher.

A velhinha abre os olhos que antes estava fixado na janela e volta para Jana. E percebe as conchinhas na mão da mesma, quando seus olhos pousam sobre as conchinhas um sorriso singelo brota-lhe pelos lábios.

-Vem aqui minha filha, você com certeza não está entendendo nada, mas saiba que você hoje me fez muito feliz. E me trouxe a paz novamente. Tenho uma história para te contar.

Jana foi até a mulher, e da mesma forma que seu coração havia enchido de ternura quando olhou a menininha, ele se encheu novamente quando se sentou na beirada da cama da velha senhora.

– Acho que isso pertence à senhora. – Jana falou meia sem jeito e entregou lhe as conchinhas.

Ao sentar a velha senhora lhe contou a história, de que há não muito tempo ela tinha uma netinha, e ela sempre ia com ela nas quarta feiras de cinzas para pegarem conchinhas no mar, para enfeitar o tumulo dos pais da menina e do avô. A menina era a alegria da casa e da vida da velha senhora, já que ambas haviam sido privadas de parte da companhia da família. Mas á pouco tempo a menina havia também morrido por conta de uma saúde frágil. Isso já ia completar 2 anos. E ela continuou colhendo as conchinhas, mas esse ano ela não pode ir devido a doença, o que a fez sofrer. Mas e pelo visto a netinha dela não se esqueceu.

-Nos-s-as. –Jana estava com a voz embargada. A única coisa que ela conseguiu fazer foi dar uma braço apertado na senhora.

-Muito obrigada por ter me dado essa paz, menina!

-A senhora não sabe como isso, é assustador, e como isso me deu nova disposição para viver novamente… Quem tem o que agradecer sou eu, sua neta me fez voltar a ver a simplicidade nas coisas e me sentir completa sem precisar de muito…

Depois disso Jana fez companhia o resto do dia para a senhora, e o por mais estranho que possa parecer, toda a angustia que antes Jana guardava no peito foi-se embora com um passe de mágica… E durante um bom tempo todas as férias que Jana ia para a Praia ela passava para visitar a senhorinha da casa verde. E todas as quarta feiras de cinzas, Jana passou a fazer o papel da neta da senhora, e ir acompanhá-la a catar as conchinhas.

Quando nosso coração abre espaço para as mudanças, elas irão acontecer, nem que para isso seja preciso que a menina das conchinhas apareça para pular umas ondas do nosso coração e achar a mais bela preciosidade do fundo do mar.

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