Em “Linguagem e escola – Uma perspectiva social”, Magda Soares deixa claro o objetivo do seu trabalho, que pretende analisar e criticar as relações entre linguagem e escola, tendo como principal foco de interesse a compreensão do problema do ensino da língua materna aos alunos pertencentes às camadas populares. O livro contém um vocabulário crítico e bibliografia comentada.
CAPÍTULO II:
Seguindo este objetivo, a autora apresenta três explicações para o fracasso escolar; a saber: a ideologia do dom, a ideologia da deficiência cultural e a ideologia das diferenças culturais, abordando o papel que a linguagem desempenha nessas explicações e nessas ideologias nos capítulos seguintes.
CAPÍTULO III:
Ela exemplifica e discute o conceito de “deficiência lingüística”; mostrando sua origem e seus efeitos sobre a educação e a escola, e a involuntária contribuição do sociólogo inglês, Basil Bernstein, nesta teoria. “Segundo a lógica da teoria da deficiência cultural, o déficit lingüístico é atribuído à pobreza do contexto lingüístico em que vive a criança, particularmente no ambiente familiar”. (p. 21) “Em síntese: para a teoria da carência cultural, crianças das camadas populares, ao contrário das classes favorecidas, apresentam um déficit lingüístico, resultado da privação lingüística de que são vítimas no contexto cultural que vivem (…)” (p. 21)
CAPÍTULO IV:
Há a contestação desse conceito, com base nos estudos e pesquisas de Sociolingüísticas, onde Labov teve uma contribuição decisiva na desmistificação dessa teoria, que comprovam a existência de variáveis lingüísticas, mas negam a deficiência ou inferioridade de uma variável em relação a outras.
CAPÍTULO V:
Os conceitos de “deficiência lingüística” e de “diferenças lingüísticas” são apresentados na perspectiva de uma Sociedade da Linguagem, que aponta a sociedade capitalista como responsável pela transformação de diferenças em deficiências, na escola, por razões político-ideólogicas. “Segundo Bourdieu e Passeron (…) a função da escola tem sido precisamente esta: manter e perpetuar a estrutura social, suas desigualdades e os privilégios que confere a uns em prejuízo de outros, e não, como se apregoa promover a igualdade social e a superação das discriminações e da marginalização.” (p. 54).
CAPÍTULO VI:
Finalizando, retoma e critica as funções que têm sido atribuídas à escola no quadro dos conceitos de “deficiência” e de “diferenças”, e procura apontar caminhos para que possam ser encontradas respostas às perguntas: Como podem ser trabalhadas as relações entre linguagem, educação e classe social, numa escola que pretenda estar realmente a serviço das camadas populares? Que papel têm essas relações na definição de metodologias adequadas ao ensino da língua materna?
COMENTÁRIO:
A leitura desse livro é fácil e fundamental para todos os estudantes e mesmo professores que trabalham com a língua materna. Ele desnuda a verdadeira função da escola como organismo de manutenção da hegemonia das classes dominantes e propõe uma práxis comprometida com a transformação social com vistas à sistematização da cultura das classes dominadas.
BIBLIOGRAFIA:
SOARES, Magda. Linguagem e escola – uma perspectiva social. 17ª edição.