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sexta-feira, novembro 8, 2024

LITERATURA DE INFORMAÇÃO

LITERATURA DE INFORMAÇÃO

O Quinhentismo ou Literatura de Informação corresponde ao estilo literário que abrange todas as manifestações literárias produzidas no Brasil à época de seu descobrimento, durante o século XVI. É um movimento paralelo ao Classicismo português e possui idéias relacionadas ao Renascimento, que vivia o seu auge na Europa.

A literatura de Informação tem como tema central os próprios objetivos da expansão marítima: a conquista material, na forma da literatura informativa das Grandes Navegações, e a conquista espiritual, resultante da política portuguesa da Contra-Reforma e representada pela literatura jesuítica da Companhia de Jesus.

A literatura informativa, também chamada de literatura dos viajantes ou dos cronistas, consiste em relatórios, documentos e cartas que empenham-se em levantar a fauna, flora e habitantes da nova terra, com o objetivo principal de encontrar riquezas, daí o fato de ser uma literatura meramente descritiva e de pouco valor literário.

A exaltação da terra exótica e exuberante seria sua principal característica, marcada pelos adjetivos, quase sempre empregados no superlativo. Esse ufanismo e exaltação do Brasil seria a principal semente do sentimento nativista, que ganharia força no século XVII. durante as primeiras manifestações contra a Metrópole

A Carta de Pero Vaz de Caminha

A Carta a el-rei D. Manuel sobre o achamento do Brasil, popularmente conhecida como Carta de Pero Vaz de Caminha, é o documento no qual Pero Vaz de Caminha registrou as suas impressões sobre a terra que posteriormente viria a ser chamada de Brasil. É o primeiro documento escrito da história do Brasil sendo, portanto, considerado o marco inicial da obra literária no país.

Escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral, Caminha redigiu a carta para o rei D. Manuel I (1495-1521) para comunicar-lhe o descobrimento das novas terras. Datada de Porto Seguro, no dia 1 de Maio de 1500, foi levada a Lisboa por Gaspar de Lemos, comandante do navio de mantimentos da frota.

Trechos Comentados da Carta de Pero Vaz de Caminha

Essa carta foi escrita na forma de um relato da viagem do descobrimento do Brasil.
No texto abaixo, cópia fiel da carta de Caminha, são apontados e comentados (em letra de tipo, tamanho e cor diferentes da carta) alguns trechos em que o narrador fala da viagem, da terra, suas riquezas, seu povo …. Vale a pena verificar como foi descrito o Brasil no momento da descoberta. É importante pensar sobre o que mudou desde então.

Posto que o Capitão-mor dessa Vossa Frota, assim como os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento dessa Vossa terra nova que agora nesta navegação se achou, não deixarei de também dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que – para o bem contar e falar – o saiba fazer pior que todos.

Entretanto, tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade, a qual bem certo creia que, para aformosear nem afear, aqui não se há de pôr mais do que aquilo que vi e me pareceu. Nestes 2 primeiros parágrafos de sua carta Caminha explica seu objetivo com ela: dar conta ao rei do ocorrido, sendo fiel aos fatos, sem acrescentar ou tirar nada.

Da marinhagem e das singraduras do caminho não darei aqui conta a Vossa Majestade – porque não saberei fazer e os pilotos devem ter este cuidado – e portanto, Senhor, do que hei de falar começo e digo. Que a partida de Belém foi como Vossa Alteza sabe, segunda- feira, 9 de março. E sábado, 14 do dito mês, entre as 8 e 9 horas, nos achamos entre as Canárias, mais perto da grande Canária. E ali andamos todo aquele dia em calma, à vista delas, cerca de 3 ou 4 léguas.

E domingo, 22 do dito mês, às 10 horas pouco mais ou menos, houvemos vista das ilhas de Cabo Verde, ou melhor, da ilha de São Nicolau, segundo o dito de Pero Escolar, piloto. Na noite seguinte, à segunda-feira, quando amanheceu, se perdeu da frota Vasco de Ataíde com sua nau, sem haver tempo forte ou contrário para isso poder acontecer. Fez o Capitão suas diligências para o achar, em umas e outras partes, mas ele não apareceu mais. Nos 3 parágrafos seguintes (acima) Caminha relata brevemente o desenrolar da viagem até que, a partir do parágrafo 6 começà o relato do descobrimento e exploração do Brasil.

A intenção de explorar as riquezas materiais da terra.

Viu um deles umas contas de rosário brancas; acenou que lhes dessem, e folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço; e depois tirou-as e enrolou-as no braço e acenou para a terra e de novo para as contas e para o colar do Capitão, como que dariam ouro por aquilo. Isto tomávamos nós nesse sentido, por assim o desejarmos. Mas se ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar, isto não queríamos nós entender porque não lho havíamos de dar.

Estes 2 parágrafos que vêm a seguir tratam dos primeiros sinais de terra e da primeira vista de terra que tiveram: o Monte Pascoal.
E assim seguimos nosso caminho por este mar de longo, até que, terça-feira das Oitavas de Páscoa que foram 21 dias de abril, topamos alguns sinais de terra sendo da dita ilha distante, segundo os pilotos diziam, obra de 660 a 670 léguas, os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho e assim outros a que também chamam de rabo-de-asno.

E na quarta-feira seguinte, pela manhã (22 de abril de 1500), topamos aves a que chamam fura-buchos e, neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra. A saber, primeiramente, de um grande monte, muito alto e redondo e de outras serras mais baixas ao sul dele e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o Capitão pôs o nome de Monte Pascoal e, à terra, Terra de Vera Cruz.

Mandou lançar o prumo e acharam 25 braças e ao sol-posto, a cerca de seis léguas da terra, lançamos âncora em 19 braças – ancoragem limpa. Ali ficamos ancorados toda aquela noite. E à quinta-feira [23 de abril], pela manhã, fizemos vela e seguimos direitos à terra, os navios pequenos adiante indo por 17, 16, 15, 14, 13, 12, 10 e 9 braças até meia légua da terra, onde todos lançamos âncora em frente à boca de um rio. E chegaríamos a esta ancoragem às dez horas pouco mais ou menos e dali avistamos homens que andavam pela praia, cerca de sete ou oito, segundo os navios pequenos disseram, por chegarem primeiro.

Ali lançamos fora os batéis e esquifes. E vieram logo todos os Capitães das naus a esta nau do Capitão-mor e ali conversaram. E o Capitão mandou no batel em terra a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E assim que ele começou a ir para lá, acudiram pela praia homens, aos dois ou aos três, de maneira que quando o batel chegou à boca do rio, já havia ali 18 ou 20 homens. Neste ponto Caminha começa a descrever a população local, os índios, e seus primeiros contatos com os portugueses. Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas, traziam arcos nas mãos e suas setas.

Vinham todos rijos em direção ao batel e Nicolau Coelho fez sinal para que pousassem os arcos, e eles pousaram. Ali não pode deles haver fala nem entendimento que aproveitasse, por o mar quebrar na costa. Somente lhes deu um barrete e uma carapuça de linho que levava na cabeça e um sombreiro preto. E um deles lhe deu um sombreiro de penas de aves, compridas, com uma copazinha pequena de penas vermelhas e pardas como de papagaio, e outro lhe deu um ramal grande de continhas brancas, miúdas, que querem parecer de algaveira, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza.

E com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles mais falas por causa do mar. A noite seguinte ventou tanto sueste com aguaceiros que fez caçar as naus e especialmente a capitânia. E sexta pela manhã [24 de abril], às oito horas, pouco mais ou menos, por conselho dos pilotos, mandou o Capitão levantar âncoras e fazer vela.

E fomos ao longo da costa, com os batéis e esquifes amarrados pela popa, em direção ao norte, para ver se achávamos alguma abrigada e bom pouso onde ficássemos para tomar água e lenha.Não por nos já minguar mas por nos acertarmos aqui. E quando fizemos vela, seriam já na praia, assentados perto do rio, cerca de 60 ou 70 homens que se juntaram ali pouco a pouco.

Fomos de longo, e mandou o Capitão aos navios pequenos que fossem mais chegados à terra e que achassem pouso seguro para as naus, que amainassem. Aqui Caminha conta um pouco das primeiras explorações da terra recém descoberta. E velejando nós pela costa, cerca de 10 léguas donde tínhamos levantado ferro, acharam os ditos navios pequenos um recife com um porto dentro, muito bom e muito seguro, com uma mui larga entrada.

E meteram-se dentro e amainaram. E as naus arribaram sobre eles e um pouco antes do sol posto, amainaram cerca de uma légua do recife e ancoraram em 11 braças. E estando Afonso Lopes, nosso piloto, em um daqueles navios pequenos, por mandado do Capitão, por ser homem vivo e destro para isso, meteu-se logo no esquife a sondar o porto dentro.

E tomou em uma almadia dois daqueles homens da terra – mancebos e de bons corpos – e um deles trazia um arco e seis ou sete setas. E na praia andavam muitos com seus arcos e flechas, mas não os aproveitaram. Trouxe-os logo, já de noite, ao Capitão, em cuja nau foram recebidos com muito prazer e festa.

Nestes 2 próximos parágrafos os índios são descritos com mais detalhes. A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus sem nenhuma cobertura. Não fazem caso de cobrir ou mostrar suas vergonhas. E o fazem com tanta inocência como mostram o rosto.

Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos por eles ossos brancos verdadeiros do comprimento de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, agudo na ponta como um furador. Metem-nos pela parte de dentro do beiço e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feito como roque-de-xadrez. E de tal maneira o trazem ali encaixado que não magoa nem lhes estorva a fala, nem comer, nem beber.

Os seus cabelos são corredios e andavam tosquiados, de tosquia alta mais do que sobre-pente, de boa grandura e rapados até para cima das orelhas. E um deles trazia por baixo da solapa, de fonte
a fonte, para detrás, numa maneira de cabeleira de penas de ave amarela que seria do comprimento de um coto, mui basta e mui cerrada, que lhe cobria o toutiço e as orelhas. E andava pegada aos cabelos, pena por pena, com uma confeição branda como cera, mas não era cera, de maneira que andava a cabeleira mui redonda e mui basta e mui igual e não fazia míngua mas lavagem para a levantar.

Os próximos parágrafos falam sobre o comportamento dos nativos quando do contato com os brancos.O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, e uma alcatifa aos pés por estrado; e bem vestido, com um colar de ouro mui grande ao pescoço. E Sancho de Tovar e Simão de Miranda e Nicolau Coelho e Aires Correia e nós outros que aqui na nau com ele íamos, assentados no chão, nessa alcatifa. Acenderam tochas e eles entraram e não fizeram nenhuma menção de cortesia, nem de falar ao Capitão nem a ninguém. Porém um deles pôs olho no colar do Capitão a acenar com a mão para a terra, e depois para o colar, como que nos dizendo que havia em terra ouro.

E também viu um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e então para o castiçal como que havia lá também prata. Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo. Tomaram-no logo nas mãos e acenaram para a terra como que dizendo haver deles ali. Mostraram-lhes um carneiro e não fizeram caso dele. Mostraram-lhes uma galinha, quase tiveram medo dela e não lhe queriam por a mão, depois a tomaram mas como espantados.

Nos 3 próximos parágrafos Caminha faz uma conclusão bem otimista da carta

“… dar-se-á nela tudo, …” Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que mais vimos contra o sul, até outra ponta que vem contra o norte, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas por costa. Traz ao longo do mar, em algumas partes grandes barreiras, delas vermelhas e delas brancas, e a terra por cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos, de ponta a ponta é toda praia plana muito chã e muito formosa. Sobre o sertão, nos parece, do mar, muito grande porque, a estender olhos, não podíamos ver senão terra e arvoredo, que nos parecia mui longa terra.

Nela, até agora, não podemos saber que haja ouro, nem prata, nem nenhuma coisa de metal, nem ferro lho vimos. Mas, a terra em si, é de muitos bons ares, frios e temperados como os de Entre-Doiro e Minho, porque neste tempo de agora, assim os achávamos, como os de lá. Águas são muitas, infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. Mas, o melhor fruto que nela se pode fazer, me parece, que será salvar esta gente, e esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar.
A intenção de aculturar os indios para a fé católica

(…)Acabada a missa, desvestiu-se o padre e pôs-se em uma cadeira alta e nós todos, lançados por essa areia, e pregou uma solene e proveitosa pregação da história do Evangelho e, ao fim dela, tratou da nossa vinda e do achamento desta terra, conformando-se com o sinal da cruz, sob cuja obediência viemos e que veio muito a propósito e fez muita devoção.
(….)

E segundo o que a mim e a todos pareceu, esta gente não lhe falece outra coisa para ser cristã, senão entenderem-nos, porque assim tomavam aquilo que nos viam fazer como nós mesmo, por onde pareceu a todos que nenhuma idolatria nem adoração têm. E bem creio que, se Vossa Alteza aqui mandar quem mais entre eles devagar ande, que todos seriam tornados ao desejo de Vossa Alteza. E, para isso, se alguém vier, não deixe logo de virem cléricos para os batizar porque já então terão mais conhecimento de nossa fé pelos dois degredados que aqui entre eles ficam, os quais, ambos, hoje também comungaram.

Entre todos estes que hoje vieram, não veio mais que uma mulher moça, a qual esteve sempre à missa, a quem deram um pano com que se cobrisse e puseram-lho ao redor de si. Mas ao assentar não fazia memória de o muito entender para se cobrir. Assim, Senhor, que a inocência desta gente é tal que a de Adão não seria mais, quanto à vergonha. Ora veja Vossa Alteza, quem em tal inocência vive, ensinando-lhes o que para sua salvação pertence, se se converterão ou não?

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