MATA ATLANTICA
ÍNDICE
APRESENTAÇÃO
1.INTRODUÇÃO
2.CARACTERIZAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA
3.ECOSSISTEMAS DA MATA ATLÂNTICA
4.INTERAÇÃO DOS ANIMAIS COM A FLORESTA
5.AÇÕES DO HOMEM CONTRA A MATA ATLÂNTICA
6.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
APRESENTAÇÃO
Deparamo-nos hoje com uma crise que ameaça a todas as formas de vida. O homem vem provocando o esgotamento dos recursos naturais e deteriorando as últimas áreas preservadas, o que torna a vida na Terra insuportável. A Mata Atlântica vem sendo destruída de maneira acelerada nos últimos 50 anos para dar lugar à expansão da agricultura, reflorestamentos, agropecuária e exploração imobiliária. Mananciais hídricos estão sendo degradados por esgotos, agrotóxicos, resíduos domésticos e industriais. Tudo em busca do lucro fácil, sem compreender que a conta que ficará para as gerações futuras.
O ser humano ainda resiste a toda essa destruição, porém já possível perceber sinais de enfraquecimento. O sofrimento das populações afetadas pela falta d’água em períodos de estiagem é apenas um exemplo da fragilidade do ser humano e demonstra claramente que nossa geração já está pagando um preço muito alto pelos erros cometidos no passado. Mas há uma diferença: no passado, não tínhamos tanta noção das conseqüências da devastação como temos hoje.
É preciso parar e refletir sobre todas essas ações. O que pretendemos deixar para as futuras gerações? Estamos sendo éticos ao destruir tudo, não deixando nada para elas? Temos o direito de negar a vida a toda essa fantástica biodiversidade do mundo tropical? Temos o direito de deixar para as gerações futuras um planeta arrasado? Está em nossas mãos não apenas a conservação das últimas áreas da mais exuberante floresta tropical do planeta, mas o destino de nossa própria espécie.
Esta cartilha tem como objetivo principal informar à comunidade sobre a importância de conhecer a Mata Atlântica da região, seus ecossistemas e toda sua biodiversidade para aprender a valorizar esse admirável patrimônio, essencial para a vida de todos.
As fotos aqui apresentadas foram feitas na região, recentemente. Algumas imagens são belas, mas outras, nem tanto. É muito triste constatar que estas imagens de cenários de destruição foram as mais fáceis de se obter.
1 -INTRODUÇÃO
A Mata Atlântica corresponde a uma estreita faixa de florestas ao longo da costa brasileira, estende-se desde o Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul.
Considerada um dos mais importantes ecossistemas do mundo, a Mata Atlântica protege e regula o fluxo dos mananciais hídricos que abastecem as principais metrópoles do País e centenas de cidades, controla o clima local, garante a fertilidade do solo e a extraordinária beleza de suas paisagens, sobretudo nas regiões da serra do Mar, é um forte atrativo para atividades de ecoturismo.
Suas florestas exibem uma grande diversidade de espécies vegetais e animais, muitos deles endêmicos, isto é, que existem apenas neste ecossistema. Infelizmente estas espécies da flora e fauna encontram-se sob constante ameaça de extinção.
Conhecido nacional e internacionalmente por suas belíssimas paisagens e pela rica biodiversidade, este ecossistema é considerado, hoje, um dos mais ameaçados.
Sua área original, antes grandiosa, encontra-se restrita a alguns remanescentes já bastante fragmentados, vestígios do ecossistema original, que embora aparentemente protegidos pela topografia acidentada da serra do Mar, continuam sendo destruídos para reflorestamento de espécies exóticas (pinus e eucalipto), atacados pela extração ilegal de palmitos e sua fauna vem sendo dizimada por caçadores, o que em curto espaço de tempo, pode levar a seu completo desaparecimento.
O futuro da mata Atlântica depende da preservação dessas áreas remanescentes, permitindo assim a manutenção da qualidade da vida humana.
Figura 1.1 Mata Atlântica – Restam apenas fragmentos, vestígios do que foi esta majestosa floresta tropical, em áreas de difícil acesso. Estas barreiras naturais salvaram, por enquanto, essas áreas da ação predatória do homem como mostra esta imagem da serra do Mar, em Corupá (SC). Contudo, essas barreiras naturais não impedem a ação criminosa de caçadores e palmiteiros.
2 – CARACTERIZAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA
Pode-se imaginar a Mata Atlântica como sendo estruturada em camadas. Cada uma destas camadas pode ser um habitat específico para determinadas plantas e animais.
Figura 2.1 Estrutura da floresta: dossel (copada).
O tronco das árvores, normalmente liso, só se ramifica bem no alto para formar a copa, que nas árvores mais altas tocam-se umas nas outras, formando uma massa de folhas e galhos. Esta parte vem a ser o camada superior, conhecida também como dossel. O bugio e o tucano são exemplos de animais que ocupam essa camada. A maioria das espécies de bromélias e orquídeas que necessitam de uma maior quantidade de luz também ocupam essa camada.
Figura 2.2 Saí-verde (Chlorophanes S. Spiza): uma das aves que preferem ocupar a camada do dossel da floresta Atlântica.
Figura 2.3 A maioria das espécies de bromélias ocupa a copa das árvores para receber mais luz do sol.
Em uma parte mais baixa, nascem e crescem arbustos e pequenas árvores tais como bambus, samambaias gigantes (xaxins), líquens e outras espécies, que toleram menos quantidade de luz. Esta parte constitui-se no que se chama de sub-bosque. A maioria das espécies de aves ocupa essa camada da floresta.
Figura 2.4 Sub-bosque: constituído por um grande número de espécies de plantas de pequeno porte, que são adaptadas para viver em ambientes que recebem pouca luz solar.
Figura 2.5 Casca-de-anta ou baga-de-tangará: planta (arbusto) típica do sub-bosque.
É importante ressaltar que tanto nas árvores mais altas como nas mais baixas, encontram-se várias outras espécies de plantas, tais como cipós, bromélias e orquídeas.
As folhas que caem das árvores, bem como os galhos secos que se desprendem e os troncos das árvores que morrem vão se acumulando no chão da floresta e criam um ambiente muito especial, que se constitui no habitat para muitos animais e micro-organismos, como fungos e bactérias, que são os principais responsáveis pelo processo de decomposição de toda esta matéria morta, que são transformados em nutrientes para manter o vigor e crescimento das árvores e outras plantas. Esta camada de materiais em decomposição recebe o nome de serapilheira.
A serapilheira tem também uma importante função de proteger o solo da floresta: evita a erosão e mantém a umidade. O solo úmido absorve melhor a água das chuvas, o que torna possível a recarga do lençol freático, evitando que as nascentes sequem.
Certas espécies de répteis e anfíbios têm uma adaptação especial para ocupar esta camada da floresta: apresentam uma coloração que se confunde com o ambiente das folhas secas, tornando-se assim “invisíveis”. É uma estratégia de defesa contra ação de predadores.
Figura 2.6 Serapilheira: camada de folhas, galhos e troncos no chão da floresta, em decomposição, o “adubo” da floresta. É o habitat de muitas espécies da fauna como o sapo-boi-da-serra-do-mar (Proceratophrys subguttata) que possui uma adaptação especial para viver neste ambiente sem ser facilmente notado por predadores: a coloração de sua pele se confunde muito com as folhas secas.
3. ECOSSISTEMAS DA MATA ATLÂNTICA
A temperatura, a freqüência das chuvas, a altitude, a proximidade do oceano e a composição do solo determinam as variações de vegetação que definem os diferentes ecossistemas que constituem a Mata Atlântica.
Certos animais têm adaptações para viverem em apenas um desses ecossistemas, isto é, num ambiente com determinadas características. A diversidade biológica (biodiversidade) de todos os ecossistemas ou em apenas um deles é considerável.
Esses ecossistemas recebem denominações como: Floresta Ombrófila Densa, Floresta de Araucária ou Ombrófila mista, Campos de Altitude, Restingas e Manguezais. Na região norte de Santa Catarina ocorrem todos estes ecossistemas. Como há vários tipos de ecossistemas e subdivisões desses, as denominações podem variar de um texto para outro.
3.1 FLORESTA OMBRÓFILA DENSA
Floresta grandiosa e heterogênea, de solo bem drenado e com grande fertilidade, é caracterizada por apresentar árvores de folhas largas, sempre-verdes, de longa duração e mecanismos adaptados para resistir tanto a períodos de calor extremo quanto de muita umidade. Sua vegetação apresenta altura média de 15 metros, mas as grandes árvores chegam a atingir até 40 metros. O grande número de cipós, bromélias, orquídeas e outras epífitas (plantas aéreas) que se hospedam nas imponentes árvores dão a esta floresta um caráter tipicamente tropical.
Figura 3.1 Figueira: uma imponente árvore típica da Floresta Ombrófila Densa. Grande quantidade de bromélias, orquídeas, cipós e outras epífitas se hospedam em seus galhos, em busca de maior quantidade de luz.
Uma grande diversidade de espécies de plantas é encontrada na Floresta Ombrófila Densa, entre elas destacam-se as canelas, o palmiteiro, as figueiras, o coqueiro-jerivá etc.
Diversas espécies de invertebrados, anfíbios, répteis, aves e mamíferos são encontrados neste ecossistema.
A principal ameaça da Floresta Ombrófila Densa é o desmatamento que visa transformar as áreas remanescentes em espaço para a agricultura, a agropecuária, reflorestamentos e loteamentos.
Figura 3.2 Desmatamento criminoso nas últimas áreas de Mata Atlântica.
3.2 FLORESTA OMBRÓFILA MISTA OU MATA DE ARAUCÁRIA
Outra formação florestal da Mata Atlântica é a Floresta Ombrófila Mista ou Mata de Araucária, localizada principalmente na região Sul. O clima é subtropical, com chuvas regulares o ano todo, e temperaturas relativamente baixas.
Figura 3.3 Paisagem típica da Floresta Ombrófila Mista ou Mata de Araucária.
Nesta floresta predomina uma espécie de árvore, o pinheiro-do-Paraná (Araucária angustifólio), conhecida também por araucária, que pode atingir até 50 metros de altura. Outros exemplos de árvores que ocorrem neste ecossistema são: imbuia, erva-mate, bracatinga, gavirova (ou gabirova), tarumã, pessegueiro-bravo, cedro, vassourão e a canela-sassafrás.
Figura 3.4 Araucária ou pinheiro-do-Paraná, árvore típica do ecossistema da Mata Atlântica que lhe empresta seu nome: Floresta de Araucária.
Quanto a fauna da Floresta Ombrófila Mista, podem ser encontrados roedores (ratos, cutias e pacas), aves ameaçadas de extinção como a gralha-azul e o papagaio-de-peito-rocho, além de inúmeros insetos. A semente da araucária, o pinhão, é muito apreciada pela fauna em geral e se constitui numa fonte de alimento essencial para o seu sustento.
A ameaça de extinção de algumas espécies desse ecossistema, como a gralha-azul e o papagaio-de-peito-rocho, pode ser atribuída à escassez do pinhão. Para agravar a situação, as pessoas vêm coletando o pinhão para comércio, já que é muito apreciado também pelos humanos. Quando as pinhas – que agregam os pinhões, que são os fruto da araucária – estão ainda verdes são furtadas das áreas de preservação, não deixando nada para a fauna que acaba perecendo de fome.
Figura 3.5 Papagaio-de-peito-rocho (Amazona vinacea): ave que está sendo exterminada devido à destruição das Florestas de Araucárias. Foto tirada no Zôo de Pomerode (SC) em jan/04. Exemplar apreendido do tráfico de animais silvestres e que não pode mais voltar para a natureza.
Figura 3.6 Gralha-azul (Cyanocorax caeruleus): ave símbolo da Floresta de Araucária que está desaparecendo devido à destruição deste ecossistema. Foto tirada no Zôo de Pomerode (SC) em jan/04. Exemplar apreendido do tráfico de animais silvestres e que não pode mais voltar para a natureza.
Infelizmente, esse ecossistema está ameaçado de extinção, devido à exploração da madeira e pela substituição de sua área de domínio pela agricultura e reflorestamentos de pinus e eucalipto. Em Santa Catarina, restam menos de 1% do ecossistema original e a destruição continua intensa.
Figura 3.7 Destruição criminosa das últimas áreas de Floresta de Araucárias. Foto tirada em 01/11/2004 em Itaiópolis (SC), trevo BR-116.
Figura 3.8 Destruição criminosa das últimas áreas de Floresta de Araucárias. Foto tirada em 25/07/2004 em Itaiópolis (SC), Distrito de Itaió.
Já a araucária é ainda bastante comum de ser observada nas propriedades, devido ao fato das pessoas gostarem muito do pinhão. A abundância das sementes produzidas que germinam facilmente, colabora muito para a perpetuação da espécie. Além disso, em área aberta, num solo de boa fertilidade, em apenas 13 anos uma araucária já produz sementes (pinhões).
A araucária é uma árvore que só se desenvolve bem em áreas abertas, ou seja, é uma espécie pioneira (isto é, a primeira a desenvolver em áreas desmatadas). Por isso, é difícil sua regeneração numa floresta onde ocorreu sua extração nas últimas décadas, o que causa um grave impacto na fauna, pois a oferta de pinhão durante um certo período do ano é crucial para a sobrevivência de muitas espécies. Os pinhões cobrem uma lacuna na oferta de alimento na floresta. Evidentemente, outras espécies de árvores são igualmente importantes.
Figura 3.9 Cenário de destruição muito comum de ser observado nas propriedades rurais: toda a vegetação do ecossistema é destruída e apenas as araucárias poupadas, por causa do pinhão, muito apreciado pelas pessoas.
O fato de ser uma árvore apreciada pelo homem, este acaba provocando seu adensamento (artificial) em certas regiões, o que acaba não contribuindo muito para a conservação da biodiversidade, para a qual seria necessária uma floresta com uma maior diversidade de espécies de árvores, arbustos, cipós etc. É muito comum os proprietários suprimir todas as outras espécies de árvores de grande porte e as espécies de vegetação do sub-bosque, o que aniquila com quase toda a fauna.
Figura 3.10 Araucárias adensadas (“monocultura”) pela interferência do homem. Situação que não traz grandes benefícios para a conservação da biodiversidade, que necessita da integridade do ecossistema, ou seja, de uma grande diversidade de árvores, arbustos, cipós etc.para que haja oferta de alimento para a fauna o ano todo, como era antes da agressão do homem.
3.3 CAMPOS DE ALTITUDE
No alto de serras, em geral acima de 900m, ocorrem formações conhecidas como Campos de Altitude. Na serra do Mar da região norte de Santa Catarina, no município de Garuva principalmente, temos a ocorrência deste ecossistema.
Figura 3.11 Paisagens típicas dos Campos de Altitude – Imagem superior mostra a vegetação rasteira e a imagem inferior mostra a extensão desses campos naturais.
A camada do solo é bastante rasa e pedregosa de modo que somente plantas de pequeno porte conseguem se desenvolver, vegetação rasteira em geral, predominando as gramíneas, formando extensos campos naturais. Já entre as montanhas, onde a camada de solo é mais espessa e mais úmida devido ao acúmulo das águas das chuvas que escoa das partes mais altas (formando as nascentes), ocorrem áreas com floresta constituída por árvores de grande porte. Essa mata recebe o nome de floresta de galeria. Esses locais oferecem condições para abrigar uma diversificada fauna de mamíferos e aves. Nascentes de rios importantes, como o rio Quiriri (afluente do rio Cubatão) que abastece Joinville, localizam-se nos Campos de Altitude.
Figura 3.12 Floresta de Galeria nos Campos de Altitude. Foto tirada em 11/01/2006 – Alto Quiriri – Garuva, SC.
Figura 3.13 Detalhe do recorte de uma estrada na região dos Campos de Altitude mostrando que o solo é bem raso e bastante pedregoso.
Após as chuvas, as águas escoam rapidamente para as partes mais baixas deixando o solo (que já é bastante pedregoso, de fácil drenagem portanto) sempre seco. Neste ambiente seco, de solo bem drenado, combinado com os ventos fortes e constantes as plantas desenvolveram adaptações especiais. Uma dessas adaptações são tubérculos, conforme mostra a foto abaixo (Fig. 3.14).
Figura 3.14 Detalhe do recorte de uma estrada na região dos Campos de Altitude mostrando que algumas plantas desenvolveram adaptações especiais, como tubérculos que armazenam água, para habitarem esse tipo de ambiente com solos áridos.
As condições adversas proporcionaram o surgimento de muitas espécies endêmicas (exclusivas) nesse ecossistema, sobretudo de flora. É impressionante a beleza e variedade das flores encontradas, que possuem valor ornamental indescritível.
Figura 3.15 Pepalanto (Paepalanthus polianthus): destaca-se entre a vegetação rasteira dos Campos de Altitude.
Figura 3.16 Exemplo de flor que ocorre exclusivamente nos Campos de Altitude.
Figura 3.17 Outro exemplo da enorme variedade e beleza das flores de plantas que ocorrem exclusivamente nos Campos de Altitude.
Diversos tipos de líquens são encontrados sobre as rochas, além de bromélias, orquídeas e samambaias e muitas outras espécies de plantas. Observa-se que o principal mecanismo de dispersão das sementes das plantas rasteiras que ocorrem nos campos de altitude é o vento, que é sempre intenso e constante o ano inteiro.
Figura 3.18 Líquen (associação de dois organismos: fungo e alga, que vivem em simbiose) comum de ser observado nas rochas de granito nos Campos de Altitude.
Esse ecossistema é muito frágil. O solo é de fácil erosão. Ao se remover a vegetação rasteira surgem grandes voçorocas (fendas), expondo as rochas. Uma simples abertura de estrada dá início a um processo de erosão incontrolável.
Figura 3.19 Fragilidade dos Campos de Altitude – A remoção da vegetação dispara um processo de erosão incontrolável. A abertura de uma estrada causa grandes impactos, conforme pode ser visto nesta imagem. Foto tirada em 11/01/2006 – Alto Quiriri – Garuva, SC.
Ainda, hoje, estes campos naturais vêm sendo utilizados para criação de gado, cuja degradação causa um enorme prejuízo para a sociedade (destruição do patrimônio natural, das nascentes e rios que afetam a produção de água que abastecem grandes cidades).
Figura 3.20 Apesar do valor inestimável para a sociedade, os campos de altitudes vêm sendo usados para criação de gado, que causa grandes impactos. Foto tirada em 11/01/2006 –Alto Quiriri – Garuva, SC.
Outro gravíssimo problema são as queimadas criminosas para a substituição da vegetação nativa por pastagens e reflorestamento de pinus. As queimadas atingem até mesmo as áreas protegidas por proprietários particulares. Aliás, essas áreas protegidas são também afetadas pelas plantas invasoras como o próprio pinus que está se tornando um problema muito sério e sua remoção envolve custos elevados e nem sempre é simples, sobretudo em áreas de escarpas (área com alta declividade).
Figura 3.21 Invasão de pinus nos Campos de Altitude: sementes de reflorestamentos próximos são dispersadas pelos ventos e contaminam este frágil ecossistema. Alguns proprietários conscientes removem esta planta invasora, mas outros, nem tanto. Foto tirada em 11/01/2006 – Alto Quiriri – Garuva, SC.
Além de todos esses problemas há ainda a prática de mineração para exploração de caulim (utilizado na indústria de cerâmica), que causa danos irreversíveis. O caulim é lavado no próprio local de extração e os tanques de contenção freqüentemente se rompem contaminando os rios, exterminando com toda a fauna aquática.
Figura 3.22 Mineração nos Campos de Altitude para extração de caulim (material utilizado pela indústria na composição de cerâmicas), uma atividade de grande impacto neste frágil ecossistema. À esquerda da gigantesca cratera houve a utilização criminosa de herbicida (repare a vegetação morta). Foto tirada em 11/01/2006 – Alto Quiriri – Garuva, SC.
3.4 RESTINGA
A Restinga é um ecossistema da Mata Atlântica que ocorre na região litorânea. É o mais ameaçado, restando pouquíssimas áreas, por causa da exploração imobiliária para casas de veraneio. Apresenta a vegetação com três tipos gradativos de crescimento.
Junto à praia, em áreas sujeitas a ação direta dos ventos, marés, chuvas e ondas, existe um tipo de vegetação que se forma para proteger as dunas, chamada restinga de litoral. Na restinga de litoral poucas plantas conseguem se desenvolver, apenas vegetação rasteira, alguns capins e cipós que são adaptados ao sal e a areia lançada pelo vento.
Figura 3.23 Paisagem tipica da restinga próxima a praia. As plantas com flores amarelas são orquideas terrestres do gênero Epidendrum.
Figura 3.24 Planta rasteira típica da restinga. Local: Praia do Ervino – São Francisco do Sul (SC).
Caminhando em direção ao interior, é possível observar a vegetação arbustiva da restinga, com folhas também adaptadas aos fatores ambientais, com caules duros e retorcidos e raízes com grande poder de fixação no solo arenoso.
Figura 3.25 Butiá: palmeira de pequeno porte típica da restinga que fornece frutos para a fauna Local: Praia do Ervino – São Francisco do Sul (SC)
Figura 3.26 Detalhe do cacho com frutos maduros do butiá.
Subsequente a vegetação arbustiva, desenvolve-se a restinga de interior, também conhecida como floresta de Restinga. A restinga de interior é composta por vegetação mista, nela podem ser encontradas árvores, arbustos, trepadeiras, epífitas, samambaias e muitas bromélias, que se desenvolvem no chão, colonizando extensas áreas. O olandi (Callophillum brasiliensis) se destaca entre muitas espécies de árvores encontradas na floresta de Restinga.
Figura 3.27 Ambiente característico da floresta de Restinga de interior: sobre a espessa camada de folhas secas em decomposição cresce um grande número de bromélias, que colonizam grandes áreas.
Figura 3.28 Olandi (Callophillum brasiliensis): árvore de grande porte da floresta de Restinga de interior.
O relevo da restinga é plano, seus rios são lentos e tortuosos. Suas águas apresentam característica única, com coloração avermelhada e pH ácido, devido ao excesso de matéria orgânica morta. Em determinada época do ano, em conseqüência das chuvas mais intensas e
freqüentes, a restinga de interior fica inundada.
Figura 3.29 Ambiente característico da floresta de Restinga de interior. No período mais chuvoso do ano a Restinga fica parcialmente inundada. A água avermelhada é devido a
decomposição da matéria orgânica.
A fauna de restinga apresenta grande diversidade de espécies, desde microrganismos até mamíferos de grande porte. Pode-se destacar a presença de uma espécie de fungo luminescente, encontrado somente na floresta de Restinga. Anfíbios, como a perereca-de-capacete e o sapinho- de-restinga dependem exclusivamente deste hábitat para sobreviver.
Figura 3.30 Sapinho-da-restinga (Dendrophryniscus leucomystax): espécie que só existe na floresta de restinga de interior, ou seja, é endêmico da restinga. Seus girinos só se desenvolvem na água com o pH ácido da floresta de restinga..
Figura 3.31 Perereca-de-capacete (Aparasphenodon bokermanni): Espécie que só existe na floresta de restinga de interior, ou seja, é endêmica da restinga. Seus girinos só se desenvolvem na água com o pH ácido da floresta de Restinga. Sua desova ocorre no interior das câmaras formadas pela estrutura do enraizamento aéreo das árvores coberto com a espessa camada de folhas secas.
Figura 3.32 Câmara formada pela estrutura do enraizamento aéreo das árvores coberta com a espessa camada de folhas secas. No interior dessa câmara, quando inundada, ocorre a desova da perereca-de-capacete.
Devido à exploração imobiliária, agropecuária, agricultura, mineração (extração de areia para indústria de vidros e construção civil) e os reflorestamentos de pinus esse ecossistema vem sendo destruído a cada ano que passa, tornando-se um dos mais ameaçados.
Figura 3.33 Extração de areia em área de Restinga em Barra do Sul, SC (matéria prima para indústria de vidro recém instalada na região): danos ambientais irreparáveis ao ecossistema. Além da destruição das últimas áreas desse ameaçadíssimo ecossistema, esta atividade de mineração cria o grave problema das gigantescas crateras, que será deixado para as gerações futuras resolverem.
Figura 3.34 Exploração imobiliária com loteamentos ilegais – A principal pressão para aniquilar as últimas áreas de Restinga na região norte de Santa Catarina.
Figura 3.35 Loteamento criminoso, cujos proprietários estão tentando legalizar. Foi desmatada uma vasta área de restinga ainda intacta (primária) em Barra do Sul, SC. É um dos maiores desmatamentos deste ameaçadíssimo ecossistema dos últimos anos. Foto: 14/01/2006.
Figura 3.36 Detalhe do loteamento criminoso em Barra do Sul (SC). Figueira gigante abatida e queimada: milhares de formas de vida aniquiladas. Foto: 14/01/2006.
Figura 3.37 Detalhe do loteamento criminoso em Barra do Sul (SC) Foto: 14/01/2006.
Figura 3.38 Destruição da floresta de Restinga: loteamento irregular na praia do Ervino, em S.Francisco do Sul (SC).
Figura 3.39 Destruição da floresta de Restinga. Foto: out/2003.
Figura 3.40Destruição da Floresta de Restinga. Foto: out/2003.
Figura 3.41 Destruição da floresta de Restinga. Detalhe de um olandi (Callophillum brasiliensis) abatido. Foto: out/2003.
3.5 MANGUEZAIS
Ecossistema característico de regiões tropicais, constantemente exposto ao regime de marés, dominado por espécies típicas, que apresentam uma série de adaptações às condições existentes neste ambiente. O litoral norte de Santa Catarina, sobretudo a baía da Babitonga, em Joinville e Araquari, é rico em manguezais. Áreas com mangues também ocorrem na foz do rio Itapocu.
Figura 3.42 Manguezal no canal do Linguado, em São Francisco do Sul, SC, na divisa com Balneário Barra do Sul, SC.
Figura 3.43 Manguezal em Balneário Barra do Sul, SC.
A vegetação desse ecossistema protege a zona costeira das perturbações atmosféricas bem como, fixa a terra impedindo assim o processo de erosão. As raízes dos mangues funcionam como filtros na retenção de sedimentos.
Figura 3.44 Ambiente típico dos manguezais.
Figura 3.45 Ambiente típico dos manguezais: uma numerosa população de várias espécies de caranguejos vivem na lama dos manguezais. Os buracos na lama são tocas de caranguejos, onde eles se refugiam ao notarem a presença de predadores.
Figura 3.46 As árvores que ocorrem exclusivamente nos manguezais têm adaptações especiais como raízes áreas para sustentação das árvores nesse ambiente de lodo.
Figura 3.47 As raízes das árvores do mangue funcionam como filtro para retenção de sedimentos e crescem de baixo para cima, conforme pode ser visto nesta imagem (as pontas sobressaindo do lodo).
Os manguezais são conhecidos como berçários, porque existe uma série de organismos (peixes, crustáceos etc.) que se reproduzem nestes locais. Neles, os filhotes também são criados, como no caso de camarões, algumas espécies de peixes e aves. Entre as espécies de aves estão os colhereiros, os socós e os martins-pescadores.
Ao contrário das outras florestas, nos manguezais não há muita riqueza de espécies, porém são destacados pela grande abundância de populações que neles vivem.
Figura 3.48 Detalhe das folhas de uma das três espécies de árvores que ocorrem nos manguezais. Uma adaptação muito interessante pode ser observada sobre as folhas desta planta: a eliminação do excesso de sal através das folhas.
Figura 3.49 Detalhe da flor de outra espécie de árvore que ocorre nos manguezais.
Entre as espécies da fauna nativa que habitam os manguezais destacam-se:
Caranguejos – vivem em enormes populações nos fundos lodosos, são mais ativos durante a maré baixa;
Figura 3.50 O mangue é rico em diversidade de caranguejos e suas populações são numerosas. O exemplar desta foto é o aratu (Goniopsis cruentata)
Figura 3.51 Toca de uma espécie de caranguejo construída com uma elevação na entrada, possivelmente para retardar um pouco a inundação com a subida da maré.
Figura 3.52a Foto superior: espécie de caranguejo do mangue adaptado para viver nas árvores do manguezal.
Fitgura 3.52b Foto inferior: detalhe do caranguejo
Figura 3.53 Outra espécie de caranguejo que tem o mangue como hábitat.
Ostras, cracas e mexilhões – podem ser encontrados em troncos submersos, alimentam-se de partículas suspensas na água;
Figura 3.54 Ostras e mexilhões coletados nos mangues para venda às margens rodovia BR-280, em Araquari (SC). Uma atividade em franca decadência devido ao esgotamento dos recursos naturais, mas só deverá acabar quando a última ostra for coletada, o que não deverá demorar muito para acontecer. As áreas de mangues estão muito reduzidas e degradadas pela poluição e esta coleta acelera seu extermínio.
Camarões e peixes – penetram nos manguezais também durante a maré alta e na fase jovem dependem muito das fontes alimentares que ali são encontradas;
Figura 3.55 Produto de uma noite de pesca de um dos pescadores artesanais de Barra do Sul (SC). A abundância de peixes depende da saúde dos manguezais, que funcionam como verdadeiros berçários para inúmeras espécies. A forte decadência da pesca está associada também à degradação e destruição dos manguezais.
Aves comedoras de peixes e invertebrados marinhos – costumam alimentar-se durante a maré baixa, quando os fundos lodosos ficam expostos;
Mamíferos – podem ser citados o mão-pelada e o quati que se alimentam de caranguejos e a lontra que é uma hábil pescadora.
Figura 3.56 Mão-pelada (Procyon cancrivorus), freqüentador assíduo dos manguezais em busca de seu alimento predileto: caranguejos. Porém, ele vem sendo vítima de muita crueldade em algumas comunidades de pescadores tradicionais que estão aniquilando os caranguejos dos mangues. Estes coletores de caranguejos temem a competição com o mão-pelada e colocam iscas envenenadas para exterminá-los.
Figura 3.57 Crueldade no comércio dos caranguejos saqueados dos mangues. O bicho fica horas pendurado, exposto ao sol, sem entender porque esta punição tão severa, imposta pelo mais sádico predador do Planeta, até que a morte alivie seu sofrimento. Local BR-280, em Araquari (SC), no trecho que liga Joinville às praias do litoral norte de SC.
Os manguezais vêm sendo degradados diariamente pela ação e ocupação do homem, através do despejo de esgotos sanitários, industriais e agrícolas, bem como através da construção de rodovias e a exploração imobiliária.
Figura 3.58 Área de mangue ocupada irregularmente com moradias em Balneário Barra do Sul (SC). A legislação proíbe este tipo de ocupação. Foto: 14/01/2006.
Figura 3.59 Casa construída irregularmente em área de mangue em Araquari (SC), às margens do canal do Linguado e da BR-280. A lei proíbe construções neste local. A justiça federal já tem determinado a demolição de muitas destas construções e os criminosos tem sido punidos de acordo com a lei. Mas o dano já foi feito. Foto: 14/01/2006
Figura 3.60 Lançamento de esgoto residencial diretamente em área de mangue no canal do Linguado, em Balneário Barra do Sul (SC), na região central da cidade. Foto: 14/01/2006
Figura 3.61 Lançamento de esgoto residencial sem nenhum tratamento diretamente em área de mangue no canal do Linguado, em Balneário Barra do Sul (SC). Este esgoto contamina o berçário de muitas espécies de peixes do mar, ou seja, compromete toda a vida marinha e deixa as praias impróprias para o uso das pessoas. É grande o risco de contrair doenças graves quem se banha nas águas poluídas por esgotos. E, lamentavelmente, este não é o único caso: todo o esgoto da cidade é despejado sem nenhum tratamento no canal do Linguado, por isso a vida marinha vem sendo aniquilada na região. Foto: 14/01/2006
4 – INTERAÇÃO DOS ANIMAIS COM A FLORESTA
Durante milhões de anos as plantas e animais da Mata Atlântica desenvolveram uma estreita, bastante complexa, mas harmoniosa relação, que possibilitou a sobrevivência das espécies. Desta relação foram constituídos os ecossistemas, que se mantém em perfeito equilíbrio. No entanto, a intervenção humana nestes ecossistemas tem rompido este tênue equilíbrio. A simples coleta de frutos na floresta, como por exemplo a castanha-do-pará, provoca grandes desequilíbrios a longo prazo, conforme comprovado cientificamente, já que deixa os animais sem comida e estes desaparecendo não haverá mais a dispersão das castanheiras na floresta; a coleta de orquídeas por exemplo, pode exterminar, numa determinada região, algum inseto que específico para polinizar a flor de uma árvore da floresta, e sem polinização não haverá frutos o que provocará o extermínio desta espécie de árvore e morte de muitos animais que se alimentam de seus frutos. A atividade de apicultura em áreas preservadas, aparentemente inofensiva, pode provocar o desaparecimento de muitos insetos da nossa fauna, devido à competição por néctar e pólen com as abelhas africanizadas, introduzidas no Brasil.
Figura 4.1 Fruto da árvore cabo-de-rodo (Guatteria australis). Através da intervenção humana, a relação de interdependência que havia entre plantas e animais foi rompida, resultando no desequilíbrio dos ecossistemas.
Figura 4.2 Fruto da pindabuna (Duguetia lanceolata), árvore típica da Mata Atlântica, muito saboroso, apreciado por muitos animais.
Figura 4.3 Fruto da canela-burra. As sementes das muitas espécies de canelas (árvores muito cobiçadas por madeireiros) são semelhantes a esta. Geralmente, são dispersadas por aves, como os sabiás.
A interdependência das plantas e animais pode facilmente ser notada em muitos exemplos. A dispersão das sementes é uma delas. A árvore dá o fruto para alimentar o pássaro, por exemplo, e este, ao ingerir o fruto, dispersa a semente, para bem longe da árvore mãe, pois é importante que as sementes não germinem logo embaixo da árvore para não competir com ela própria.
Figura 4.4 Tucano-de-bico-verde (Ramphastos dicolorus): uma das aves responsáveis pela dispersão das sementes de palmito (Euterpe edulis).
Figura 4.5 Embaúba (Cecropia glazioui): árvore pioneira que também ocorre na floresta primária em áreas abertas (encostas, margens dos rios etc.). Seus frutos (ver figura abaixo) são muito apreciados por aves e mamíferos, dispersores de suas sementes.
Figura 4.6 O fruto da embaúba é apreciado por inúmeros animais da floresta. Suas sementes são dispersadas por mamíferos como o mão-pelada e o quati e por aves como as saíras, os sábias e os sanhaços.
Há espécies de plantas que não precisam de animais para dispersar suas sementes. Estas plantas desenvolveram outros mecanismos, como o vento. Mas a dispersão por animais ocorre para a maioria das espécies de plantas. Entre as árvores da Mata Atlântica, por exemplo, mais de 90% das espécies precisam de animais para dispersar suas sementes. Além disso, aquelas que têm suas sementes dispersadas pelo vento podem depender dos animais, insetos geralmente, para a polinização.
O cipó-mil-homens (Aristolochia triangularis; Família: Aristolochiaceae) é um exemplo de planta que tem suas sementes dispersadas pelo vento, mas depende de insetos para polinização.
Figura 4.7 Flor e cápsula de semente do Cipó-mil-homens (Aristolochia triangularis) que depende de insetos para polinização, enquanto as sementes são dispersadas pela ação do vento. A imagem acima mostra uma cápsula madura (seca) que ao se abrir libera as minúsculas sementes, muito leves para serem levadas pelo vento.
As orquídeas são outro exemplo de plantas cujas sementes são dispersadas pelo vento, mas a polinização é por insetos, para a qual as orquídeas desenvolvem estratégias altamente sofisticadas como os mais variados perfumes e armadilhas para forçar o inseto a transportar o pólen de uma flor para outra.
Figura 4.8 Orquídeas: suas sementes ao dispersadas pelo vento. Os botões das flores desta espécie de (micro) orquídea da Mata Atlântica da região norte de SC tem uma particularidade: ficam imersas num gel até as flores desabrocharem. É uma proteção contra o ataque de insetos, provavelmente. As sementes das orquídeas apresentam outra particularidade muito interessante: são minúsculas, muito leves (em forma de pó) e numerosas (cada cápsula contém milhares de sementes) para facilitar a dispersão e, assim, são desprovidas de reservas nutritivas (amido). Para germinarem, portanto, necessitam se associarem (simbiose) a um fungo (micorriza), que lhes provém as reservas nutritivas.
Algumas árvores da Mata Atlântica desenvolveram uma relação tão estreita com os animais que podem ter um inseto específico para realizar sua polinização, que pode ser uma espécie de abelha silvestre, por exemplo. Sua flor pode ser tão delicada que somente aquela espécie pode realizar o serviço. Então, quando o homem introduz abelhas africanizadas com o propósito de produzir mel, estas podem competir e exterminar com a abelha nativa ou estragar a flor (por causa do tamanho), provocando o declínio da população daquela espécie de árvore e seu conseqüente extermínio na região a longo prazo (que pode demorar séculos), rompendo com o equilíbrio de toda a floresta (ecossistema).
Figura 4.9 Abelhas silvestres visitando flor carregada de pólen
No caso da dispersão das sementes, há casos também de árvores que têm um animal específico ou preferencial, de modo que, como no caso da abelha nativa, citada acima, se um desaparecer, o mesmo acontece com o outro. Por isso a caça de animais silvestres, como a paca e a cotia, acarreta grandes desequilíbrios na floresta, já que estes animais são dispersores preferenciais de muitas espécies de árvores.
Figura 4.10 Fruto do bacupari, cuja semente é dispersada pela cotia, principalmente.
Figura 4.11 Cotia – Principal dispersor das sementes do bacupari, através da estocagem, ou seja, a cotia tem o hábito de esconder as sementes para comê-las em época de escassez. No entanto, acaba esquecendo ou ignorando algumas e, assim, planta o bacupari.
O serelepe é também um grande dispersor da semente (coquinhos) do coqueiro-jerivá e do ticum. Ele esconde parte das sementes, enterrando-as, para comê-las depois. No entanto, ele esquece algumas e assim possibilita que germinem.
Figura 4.12 Serelepe, o mais importante dispersor das sementes do coqueiro. Assim como no caso da cotia (veja foto acima), o serelepe esconde os coquinhos como reserva de comida para enfrentar períodos de escassez, mas acaba esquecendo alguns e, assim, dissemina os coqueiros pela floresta.
Figura 4.13 Fruto do ticum (Bactris lindmaniana). As sementes do ticum também são dispersadas pelo serelepe, ao escondê-las.
A DISPERSÃO (sementes) e a POLINIZAÇÃO são as dependências mais diretas que as plantas têm dos animais. Mas ocorrem outros tipos de dependências bem mais complexas, como as relações de presas-predadores (as aves controlando a população de insetos que atacam as plantas, como as lagartas, por exemplo), as relações de simbiose (um beneficiando o outro), como a relação da formiga e da embaúba.
A DISPERSÃO das sementes e a POLINIZAÇÃO das flores são as dependências mais diretas que as plantas têm dos animais.
5 – AÇÕES DO HOMEM CONTRA A MATA ATLÂNTICA
A mata virgem era caracterizada pela imensa diversidade biológica, pela presença de árvores altas e grossas e principalmente pelo equilíbrio entres as espécies. As ações do homem têm transformado estes ecossistemas antes intocados.
5.1 TIPOS DE FORMAÇÕES FLORESTAIS
Floresta Primária
A floresta primária é aquela caracterizada pela pouca interferência humana, com atividades do extrativismo do palmito e madeiras (corte seletivo de algumas espécies de árvores de grande valor comercial), por exemplo. Infelizmente, não temos mais florestas intocadas. Até nas regiões mais inacessíveis o homem deu um jeito de retirar alguma coisa. Certas espécies centenárias e raras na Mata Atlântica apresentam uma relação altamente complexa com animais (dispersores e polinizadores), plantas e microorganismos. Daí uma das razões da espécie ser rara, sendo totalmente desaconselhável seu abate para aproveitar a madeira.
Figura 5.1 Floresta primária (Ombrófila Densa) em Itaiópolis (SC), às margens do rio Itajaí do Norte (ou Hercílio).
Figura 5.2 Raiz tabular é uma das características de muitas espécies de árvores adultas (geralmente com mais de 100 anos) de uma floresta primária.
Figura 5.3 Mesmo as áreas com floresta primária não estão livres da ação do homem. São freqüentemente atacadas para o furto de palmito, como neste caso, na Serra Dona Francisca, em Joinville, onde os saqueadores foram pegos pela polícia ambiental. Esta foto gentilmente cedida pela Polícia Ambiental de Joinville.
A contínua e crescente devastação das florestas para agricultura, pastagens, reflorestamentos e implantação de loteamentos reduziram as florestas primárias a poucos e pequenos fragmentos de mata, cujas conseqüências para o próprio homem poderão ser catastróficas a médio e longo prazo (como secas severas, pois as florestas exercem forte influência sobre a quantidade e regularidade das chuvas).
Floresta Secundária
A floresta secundária é aquela que resulta de um processo de regeneração natural em áreas de floresta primária que foram totalmente desmatadas.
A grande maioria de remanescentes de Mata Atlântica existentes em todo país são de florestas secundárias, que se regeneraram de forma natural, pelo simples abandono.
No entanto, em certos locais, a invasão de taquarais, bambus (muitas vezes exóticos) e samambaias impedem a regeneração das florestas. O simples corte seletivo de árvores abre clareiras que favorecem o desenvolvimento dessas plantas que colonizam a área e começam a se alastrar e engolir lentamente toda a floresta. É o caso do taquaruçu, por exemplo, que vai sufocando as árvores centenárias em florestas primárias, aniquilando com a biodiversidade.
Figura 5.4 Espécie de bambu (taquarinha) que se desenvolve em áreas abertas e se alastra e sufoca até árvores adultas, formando verdadeiras “esculturas” e impedindo a regeneração da floresta. Foto da área do Centro Interpretativo da Mata Atlântica (CIMA), em Jaraguá do Sul (SC).
Esse ecossistema tem papel fundamental nos efeitos climáticos, mas em termos de biodiversidade, a floresta secundária tem 50% menos espécies que a floresta primária.
5.2 ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO DE UMA FLORESTA SECUNDÁRIA
As florestas secundárias são classificadas de acordo com os estágios de regeneração:
• Estágio inicial de regeneração:
Surge logo após o abandono de uma área degradada. Predominam espécies pioneiras, de crescimento rápido e de vida curta, além de capins e samambaias de chão.
As espécies encontradas no estágio inicial de regeneração estão adaptadas a sobreviver em um ambiente com solo pobre em nutrientes e de insolação direta. Quando adultas, criam um ambiente sombreado e fresco para o restabelecimento da floresta definitiva. É importante ter em mente que o plantio de árvores nativas é completamente desnecessário e desaconselhado em nossa região, haja vista o risco de introduzir variedade de uma mesma espécie de outra região (misturar populações de uma mesma espécie já selecionadas pela natureza durante milhões de anos). Plantar árvores é função da fauna e do vento. O mais importante é proteger as áreas remanescentes e a fauna.
Figura 5.5 Floresta secundária em estágio inicial de regeneração natural. Nesta foto é possível notar que em nossa região não há a necessidade do plantio de árvores para recuperar uma área degradada. Basta não interferir mais na área que a natureza se encarrega do resto. O local onde a floresta está regenerando era uma pastagem.
• Estágio médio de regeneração:
As espécies predominantes são, normalmente, pioneiras na fase adulta. No piso da floresta, uma pequena camada de serapilheira é encontrada, esta se decompõe, nutre o solo e favorece o desenvolvimento de espécies definitivas. Na nossa região a espécie de árvore de ocorrência predominante neste estágio é o jacatirão, que facilmente pode ser reconhecido pela sua floração bastante intensa, cujas flores apresentam uma variação de cores que vai do branco ao lilás. O jacatirão vive no máximo 20 anos. Crescimento rápido e vida curta são características das árvores pioneiras que deixam o ambiente propício para o início do desenvolvimento das árvores definitivas, com crescimento lento, mas vida muito longa, centenas de anos.
Figura 5.6 Jacatirão florescido – Quando nesta fase (adulta) é indicador de floresta secundária.
• Estágio avançado de regeneração:
Predominam as espécies definitivas, de crescimento lento e de vida longa. Neste estágio, as camadas da floresta são bem definidas.
Figura 5.7 Paisagem com florestas em estágio avançado de regeneração, às margens do rio Itajaí do Norte, em Itaiópolis (SC). As florestas que aparecem nesta imagem são todas secundárias. A área foi destruída na década de 50, ou antes disso. A forte regeneração natural recobriu os morros novamente, graças à fauna e as áreas remanescentes que não puderam ser destruídas pela dificuldade de acesso.
Desmatamentos e Contaminação Biológica: ameaças para a Mata Atlântica.
5.3 DESMATAMENTOS
O Brasil já se tornou o centro das atenções internacionais, de forma muito negativa, pois conquistou o título de campeão mundial em desmatamentos. A Mata Atlântica é um dos ecossistemas que vem sofrendo diariamente com esta destruição, sendo classificado pela UNESCO, órgão da ONU, como o ecossistema mais ameaçado do planeta.
A cultura de fumo, os reflorestamentos, a exploração madeireira, as queimadas, a especulação imobiliária e a pecuária contribuem enormemente com o desmatamento das florestas.
A destruição da Mata Atlântica é permitida, com o pretexto de ampliar as áreas de cultivo e a exploração econômica, porém, esta destruição em nada diminui a fome e a miséria em nosso país.
5.4 CONTAMINAÇÃO BIOLÓGICA
O que é contaminação biológica? Espécies de flora e fauna trazidas pelo homem de outros países, que acabam dominando, competindo e eliminando espécies nativas.
A contaminação biológica é a segunda causa de perda de biodiversidade no mundo, depois da destruição e da degradação de habitat.
O pinus, o eucalipto, a taquarinha, o taquaruçu, a palmeira real, o lírio-do-brejo, o chuchu, a rã-touro-gigante, o caramujo-africano e o javali são apenas alguns exemplos de espécies que foram introduzidas na Mata Atlântica e que estão causando um grande desequilíbrio a esse ecossistema.
Figura 5.8 Contaminação biológica: reflorestamento de pinus de uma grande empresa da região plantada de forma ilegal no topo de um morro nos Campos de Altitude em Garuva, SC.
Figura 5.9 O chuchu tem destruído muitas áreas importantes de Mata Atlântica primária na Serra do Mar da região norte de Santa Catarina. Em muitos casos a dispersão é intencional (criminosa) por parte dos proprietários, que conhecem muito bem os efeitos devastadores sobre a floresta quando o chuchu se alastra e sufoca até árvores gigantes, centenárias, como nesta foto, que foi tirada na localidade Rio Mandioca, em São Bento do Sul, divisa com Corupá.
6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BRANCO, Samuel Murgel. A Serra do Mar e a Baixada. São Paulo: Editora Moderna, 1992
FUNDAÇÃO O BOTICÁRIO DE PROTEÇÃO À NATUREZA. Como Defender a Ecologia. São Paulo: Nova Cultural, 1998.
NEIMAN, Zysman. Era Verde? Ecossistemas Brasileiros Ameaçados. São Paulo: Atual, 1989.
HÖFLING, Elizabeth. Floresta Atlântica. Disponível em: http://www.mre.gov.br
MANTOVANI, Waldir. Restinga. Disponível em: http://www.mre.gov.br
CAVALCANTI, Klester. Mata Atlântica – Nem tudo está perdido. Disponível em: http://www2.uol.com.br/caminhosdaterra
TONHASCA JR., Athayde. Os serviços ecológicos da Mata Atlântica. Ciência Hoje, vol. 35 . nº 205 – Junho 2004 Disponível em: http://www2.uol.com.br/cienciahoje/ch/ch205/opinião.htm
NOTA SOBRE AS FOTOS
Com propósitos educativos (que não envolvam comercialização) as imagens podem ser usadas livremente, sem a necessidade de solicitar autorização, mas deve ser mencionada sempre a autoria das fotos da seguinte forma: Germano Woehl Jr. – Instituto Rã-bugio
Todas as fotos de anfíbios e animais invertebrados foram tiradas na natureza, no hábitat das espécies. Algumas fotos das aves e mamíferos foram tiradas em cativeiro (zoológico), conforme é mencionada na legenda de cada uma.
Quase a totalidade das imagens está em filme negativo ou cromo, de onde foram digitalizadas. Scanner utilizado: CANON, modelo CanoScan FS 2710, 2700 dpi em 35 mm – 10 Mega pixels e densidade de cor (density range) 3.2. As cores das imagens podem apresentar ligeiras variações inerentes ao processo de digitalização e calibração do monitor do computador de cada usuário.