O EMPREGO DOS PRONOMES EU E MIM
O emprego dos pronomes eu e mim. Apesar de simples, ainda pega a moçada pelo pé.Veja o exemplo:
a. Depois da reunião, fiquei na sala. O professor deixou um texto para eu ler.
b. Depois da reunião, fiquei na sala. O professor deixou um texto para mim ler.
A grande vilã é a preposição para. Ela adora armar ciladas. Nós, desatentos, entramos na dela como patinhos recém-saídos da casca do ovo. Depois, na hora de conferir o gabarito, a ficha cai. Adeus, preciosos pontinhos! O remédio? Nada melhor que a prevenção. No caso, refrescar a memória.
— Mim ou eu?, provocava o professor brincalhão.
E completava:
— Lembrem-se: mim não faz nem acontece.
A explicação não deixava dúvidas:
— O pronome mim tem fobia ao isolamento. Anda sempre – sempre mesmo – acompanhado de preposição. Pouco seletivo, aceita qualquer uma de braços abertos e coração em festa:
Dirigiu-se a mim. Jurou inocência ante mim e os demais amigos.
Paulo depôs contra mim.Revelou o segredo só para mim.
Confirmou tudo perante mim. Não há nada entre mim e o diretor.
O eu joga em outro time. Pertence à equipe dos autosuficientes. Todo-poderoso, escolheu para si a função de sujeito. Para não deixar dúvida, registrou a posse em cartório.Veja exemplos: O diretor deixará o relatório para eu redigir (quem redige? Eu, sujeito). Pediu para eu responder à carta (quem responde? Eu, sujeito).Deixou os filhos para eu cuidar (quem cuida? Eu, sujeito).
Viu? Diante da preposição para, abra os olhos e afine os ouvidos. Ela introduz uma oração reduzida de infinitivo? Se a resposta for sim, o pronome vem seguido de verbo (no infinitivo, claro). É o caso da questão do simulado: O professor deixou um texto para eu ler.
PARECE, MAS NÃO É
Há uma construção pra lá de ardilosa. Parece viciada, mas não é. Ela lança mão de recurso legítimo da língua — mudar de lugar na oração. Os pouco atentos imaginam que se trata do tal mim que faz e acontece. Falso. Veja a construção da armadilha:
Ler é fácil para mim.
Para mim ler é fácil.
Viu? Os períodos estão certinhos da silva. Mas muitos, numa primeira leitura, poderão considerar o mim sujeito. Como evitar a confusão? A vírgula ajuda: Para mim, ler é fácil.
É isso. Aplica-se à língua a regra aplicada à mulher de César. A primeira-dama dos romanos não só tinha de ser honesta. Tinha de parecer honesta. A língua não só tem de ser correta. Tem de parecer correta.
OLHA A MOTO, GENTE
Ninguém segura. As motos invadiram as cidades. Brasília já tem 100 mil. E o número cresce dia a dia. Com a invasão de Hondas, Suzukis e Yamahas,
uma dúvida pintou na cabeça dos brasilienses. Motociclista, motoqueiro e motobói são sinônimos?
O dicionário diz que não. Motociclista é a pessoa que dirige moto por esporte ou lazer. É o caso, também, de motoqueiro. Motobói joga em outro time. Trata-se da criatura que usa a moto para serviços pagos de entregas rápidas — de pizza, documentos, remédios. O feminino? É motogirl.
ACONTECEU
O ministro Carlos Minc dava entrevista à Globo News. De colete e tudo, soltou esta: “O Greenpeace tem participado com nós na proteção do meio ambiente”. Com nós? Deu otite. Dora Marta,Rio
Com nós só se emprega na companhia de palavras reforçadoras. É o caso de próprios, mesmos, todos: Os livros ficarão com nós todos. As crianças saíram com nós dois ontem à noite.Queremos estar de bem com nós próprios.
Sem o reforço, como na frase de Sua Excelência, usa-se o conosco: O Greenpeace tem participado conosco na proteção do meio ambiente.Os livros ficarão conosco. As crianças saíram conosco.Querem estar de bem conosco.