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segunda-feira, dezembro 2, 2024

O DESENVOLVIMENTO DO REALISMO NA EUROPA E NO BRASIL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
CAMPUS DE SANTARÉM
FACULDADE DE LETRAS

O Desenvolvimento do Realismo na Europa e no Brasil

Introdução

Essa pesquisa tem como objetivo mostrar como ocorreu o desenvolvimento do realismo na Europa e, principalmente no Brasil. Além de enfatizar suas características e definir o pensamento ideológico que motivava os escritores para o realismo, busca ainda retratar quais foram os principais autores que sofreram influências realistas no Brasil e qual era a relação literária com o contexto social vivido na época do apogeu realista.

1. Origem

O Realismo é um movimento artístico que surgiu na França em 1857, quando Gustave Flaubert publica sua obra Madame Bovary, em que sua personagem principal busca um amor romântico, perfeito, mas a dura realidade, sem emoções, não permite realizar suas pretensões e ela acaba por se suicidar, a partir daí, o realismo se estende a numerosos países europeus. Esta corrente aparece no momento em que ocorrem as primeiras lutas sociais, sendo também objeto de ação contra o capitalismo progressivamente mais dominador.
O realismo se inicia em Portugal com a Questão Coimbra, polemica literária entre Antero de Quental, Teófilo Braga e os jovens literatos que surgiam na década de 1860, e os representantes da geração anterior, entre os quais se destaca Castilho. No Brasil, considera-se o inicio do realismo em 1881, ano da publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.

2. Características

A característica principal deste movimento foi a descrição, por abordar de temas sociais e um tratamento objetivo da realidade do ser humano. Possuía um forte caráter ideológico, marcado por uma linguagem política e de denúncia dos problemas sociais como, por exemplo, miséria, pobreza, exploração, corrupção, adultério, entre outros. Com uma linguagem clara, os artistas e escritores realistas iam diretamente ao foco da questão, reagindo, desta forma, ao subjetivismo do romantismo.
Com a revolução industrial cria-se a uma burguesia, ou seja uma sociedade rica que buscava freqüentar lugares que satisfizessem seus gostos. Foi então que iniciou uma imensa valorização do lucro, do dinheiro, enfim dos bens materiais e houve um afastamento dos valores religiosos.
Das influências intelectuais que mais ajudaram no sucesso do Realismo denota-se a reação contra as excentricidades românticas e contra as suas falsas idealizações da paixão amorosa, bem como um crescente respeito pelo fato empiricamente averiguado, pelas ciências exatas e experimentais e pelo progresso técnico. À passagem do Romantismo para o Realismo, corresponde uma mudança do belo e ideal para o real e objetivo.

3. Correntes Filosóficas ligadas ao realismo

Naturalismo

Com o realismo deu-se inicio há varias correntes filosóficas ligadas a esse tema. Uma delas foi o naturalismo, onde a objetividade está presente, porém sem o conteúdo ideológico. Foi chamado de literatura experimental e teve como obra mais importante Germinal, de Emilio Zola.
No Brasil, a obra prima do naturalismo foi O Cortiço, de Aluisio de Azevedo.

Características

• Aplicação da ciência na literatura;
• Personagens que servem como protótipos das teorias cientificas;
• Aplicação de tecnologias como plano de fundo da narrativa;
• Descrição da sociedade de forma mais cientifica;
• Valorização da ciência, da experimentação.

Parnasianismo

O Parnasianismo surgiu na França opondo-se à prosa, já que foi um movimento essencialmente poético. Teve influência da doutrina “arte pela arte” apresentada por Théophile Gautier, poeta e crítico literário francês, ainda no período do Romantismo.
A teoria da “arte pela arte” ressalta o belo e o refinamento através da autonomia da arte alheia à realidade. O nome da escola vem do termo grego “Parnassus”, o qual indica o lugar mitológico onde as musas moravam.
No Brasil, o parnasianismo está representado por Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira.

Características

• Arte pela arte: sem influências da realidade nas formas ou conteúdos;
• Objetividade: em oposição ao sentimentalismo exacerbado;
• Culto da forma: ao contrário do descuido formal dos românticos;
• Impessoalidade: negação ao sentimentalismo romântico;
• Racionalismo: surge a poesia de meditação, filosófica;
• Visão carnal do amor: em oposição à visão espiritual dos românticos;
• Vênus é citada como modelo de mulher.

4. Teses Filosóficas

Segundo Salvatore D’nofre, com o fim da Revolução Industrial, o avanço das ciências naturais e da tecnologia, sentencia uma imensa resistência contra os sistemas abstratos, típicos da fase romântica.
Salvatore afirma:
“O progresso da humanidade, do ponto de vista intelectual e cientifico, levou a crença de que o homem pudesse resolver todos os problemas existenciais e sociais pelo descobrimento das causas biopsiquicas (raça), dos condicionamentos ambientais (meio) e das determinações temporais (momento histórico)”.
Para Salvatore D’nofre, a frustração advinda com os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, através da fracassada Revolução Francesa e pelos sangrentos episódios de 1848, ocasionaram duras criticas à burguesia francesa, que fixava-se no egoísmo e no individualismo. Em efeito a essa realidade surge um novo culto à sociedade, a “Sociolatria”, que objetivava o progresso da coletividade.
Salvatore relata também que o complexo cultural da segunda metade do século XIX é denominado de materialismo, nas variadas formas. Positivismo, Determinismo, Evolucionismo, Liberalismo Sociologismo, entre outras. Destacarei algumas:
• Positivismo: O pai da filosofia positivista foi o pensador Frances Augusto Comte (1798-1857). Para ele, as coisas para serem verdadeiras precisam ser experimentadas.
• Determinismo: O homem é produto da raça, do meio.
• Evolucionismo, de Charles Darwin: Na cadeia alimentar sobrevive os mais fortes.
• Biologismo de Lamarck: Na cadeia alimentar tudo se transforma.
• Teoria do Social, de Spencer: A sociedade se organiza através da necessidade que cada uma tem.

5. Objetivos Ideológicos

Compromisso com a verdade: Retrata o que é, não o que gostaríamos que fosse. Repudia, portanto, o fantástico, o extraordinário, o sobrenatural.
Interpretação da vida: O artista não documenta apenas a realidade, mas procura compreendê-la, descobrir o sentido das ações e dos temperamentos humanos.
Contemporaneidade: Qualquer motivo de conflito do homem com o seu ambiente pode ser assunto artístico.
Descrição de Caracteres: Seguindo a opinião de Aristóteles de que a fábula é mais importante do que os personagens.

6. Principais Defensores

Em Portugal: Emerge a figura grandiosa de Eça de Queiroz (1845-1900), o maior escritor português da escola realista. Suas obras de destaque são: O crime do padre Amaro, em que retrata a lasciva e insensibilidade do clero de sua época; O primo Basílio, onde ataca o falso moralismo da sociedade burguesa e Os Maias.
No Brasil: Podemos citar Julio Ribeiro com a obra A Carne; O Cortiço, de Aluisio Azevedo; Bom Crioulo, de Adolfo Caminha; Dona Guidinha do Poço, de Manuel de Oliveira Paiva; O Missionário, de Inglês de Sousa; Luiza – Homem, de Domingos Olimpio; O Ateneu, de Raul Pompéia.
Mas o maior escritor da época do realismo é, sem duvida Machado de Assis (1839-1908), gloria da literatura brasileira e figura de projeção internacional pelo caráter universalizante de sua ficção. Suas principais obras são: Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó e Memorial de Aires.

7. Relação Literária com o Contexto Histórico da Época

Cria-se um contexto acentuadamente cientificista onde ganham espaço a experimentação, a observação, a pesquisa, a busca objetiva da verdade, enfim, uma atitude racional diante da vida. Os tumultos sociais, resultantes do conflito incipiente entre capital e trabalho, exigem do artista uma participação consciente no mundo.
Já não há mais lugar para a fantasia, o sentimentalismo, o subjetivismo. Veremos mais especificamente este novo conceito de literatura e a sua influência no mundo. Considerando Literatura como um documento de época, já que ela contém marcas do meio e do momento em que foi produzido, só se pode entender a maneira de ser da Literatura Realista a partir de um estudo introdutório do contexto em que ela predominou, onde reinam o materialismo e o cientificismo.
Na Ciência: A grande novidade decorrente do pensamento materialista, nessa época, é, sem dúvida, o surgimento das Ciências Naturais, no campo da Física e da Química, o acontecimento mais importante é a generalização do princípio da transformação da energia, descoberta em que se baseia a Ciência atual, pois possibilita a concepção einsteiniana da equivalência entre matéria e energia. Outra preocupação relevante é o desenvolvimento das pesquisas sobre o átomo e a molécula (Gay-Lussac e Avogrado), as buscas no campo da calorimetria, termodinâmica, telefonia, astronomia, eletromagnetismo, etc. São dessa época: o estudo da força elétrica e da quantidade de eletricidade (Coulomb), a construção da primeira pilha (Volta), a análise das relações entre campo magnético e corrente elétrica (Ampère) e a invenção do telefone (Graham-Bell).
Na Biologia/Genética, que até séculos anteriores haviam permanecido limitadas pelas concepções espiritualistas e sobrenaturais dos antigos, tornam-se imortais os nomes de: – Darwin, que em sua obra “A Origem das Espécies” funda o evolucionismo, doutrina científica que afirma a seleção natural e defende a concepção do aprimoramento progressivo das espécies de seres vivos (dos que conseguiram se adaptar ao meio e, por conseguinte, passar pelo processo de seleção natural), em especial a espécie humana (analisada como um animal como outro qualquer). – Lamark, que formula as leis da seleção natural, da qual é famosa a lei do uso e desuso de órgãos ou partes da constituição física (biológica) de um animal, responsável pela permanência ou não das espécies de seres vivos nessa evolução.
A intensificação do uso do microscópio, bem como a maior precisão metodológica com que passa a serem observados os seres vivos, também resulta em incrementos dos conhecimentos científicos: – Luis Pasteur, bacteriologista, prova que as bactérias provocam doenças e descobre a vacina anti-rábica; – Claude Bernard cria a fisiologia experimental (exames de laboratório); – Padre Gregório Mendell descobre os princípios da hereditariedade (o que possibilitou os atuais testes de DNA). Tudo isso contribui para um incalculável avanço também na Medicina, em que se descobrem as relações entre higiene e saúde: o que ainda não pode ser curado pode ser prevenido.
Na Psicologia, Skinner desenvolve uma terapia de cunho materialista: o behaviorismo, baseado em comportamentos externos tido como “anormais” nos indivíduos. Tais comportamentos são considerados reflexos do que ocorre no interior desses indivíduos.

8. Conclusão

Tendo em vista os fatores expostos nessa pesquisa sobre o Realismo europeu e brasileiro, concluo que foi de muita relevância a entrada desse pensamento mais voltado para o cotidiano da sociedade como forma de mostrar a verdadeira realidade do homem em meio à sociedade.
Toda essa argumentação deixa vivo a conexão entre a história e a literatura, sem que sejam descuidadas as especificidades dos referentes discursos. Voltando as idéias expostas, vemos que a experiência de fazer uma nova história da literatura brasileira aparece delimitada pela imagem de nação.

9. Referências:

COUTINHO, Afrânio. A Literatura no Brasil. Rio de Janeiro: Editora José Olímpio, 1986.
D’ONOFRIO, Salvatore. Literatura Ocidental. Ática, 1990.
LOPES, Harry Vieira. GONÇALVES, Jeosafá Fernandez. SILVA, Gonçalves da. MURRIE, Zuleika de Felice. Língua Portuguesa. São Paulo: Editora do Brasil, 2004.
Site Fonte: http://www.casaruibarbosa.gov.br/
http://www.suapesquisa.com/realismo/
http://www.mundosites.net/literatura/realismo.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Realismo

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