O Engenheiro – João Cabral de Melo Neto
Em alguns aspectos é ainda o desdobramento de Pedra do Sono , mas o dado novo é a definição de uma perspectiva racional , do ideal de um projeto geométrico de construção de seus poemas. Este sentido de rigor marcará suas produções posteriores. O livro é dedicado a Drummond. E traz como epígrafe uma expressão do arquiteto Se Corbusier:”… machine à émouvoir…” (máquina de comover), que pode ser entendida como a proposta de uma poesia programada, construída para gerar emoção estética, bem como expressa a aproximação do poeta às artes plástica (Picasso, Miró, Mondrian, Juan Gris etc…) .
Identificam-se três constantes : a limpidez da linguagem, a preocupação com a disposição gráfica da estrofes: e a poesia sobre poesia (metalinguagem, metapoesia).
O engenheiro
À Antônio B, Baltar
A luz, o sol, o ar livre
envolvem o sonho do engenheiro
O engenheiro pensa sonha coisas claras:
superfícies, tênis, um copo de água,
O lápis, o esquadro, o papel;
o desenho, o projeto, o número;
o engenheiro pensa o mundo justo,
mundo que nenhum véu encobre…