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quinta-feira, novembro 21, 2024

O Príncipe

Autoria: Renato Dias Ribeiro

O PRÍNCIPE
Os Estados podem ser republicas ou principados, que foram herdados pelo sangue, ou foram adquiridos recentemente. Os principados hereditários encontram mais facilidade, por já serem vistos como de família nobre e sendo assim tendo direito ao poder que lhe compete.Também os principados podem ser novos, esses principados novos ou são totalmente novos ou são conquistas de outros Estados liderados por príncipes hereditários, estes são chamados principados mistos, já os principados novos encontrarão maior dificuldade, pois precisa de apoio para poder ser manter no lugar que conquistou.
O príncipe, conseguindo com que se tornem inimigos, todos aqueles que foram incomodados e ofendidos com sua conquista do território, ganhará forças, e diminuirá o risco de perder sua posição, da mesma forma se conseguir reconquistar regiões rebeladas, estas dificilmente lhe serão tomadas.
Maquiavel fala que províncias conquistadas por povos de iguais costumes e língua são mais facilmente mantidas, apenas não devem ser alterados estes costumes, suas leis e seus impostos. Já para os novos “governantes” das províncias de diferentes costumes e língua, será mais difícil mantê-las. O príncipe deverá, primeiramente, habitar a província, dominar as desordens rapidamente e instalar colônias em um ou dois pontos do território.
Uma estratégia usada é de ser defensor dos menos fortes, para que assim também aconteça o enfraquecimento dos poderosos, mas é claro não fazer com alguém fraco venha a ser muito forte. Deve-se ter cuidado para que nenhum forasteiro e estrangeiro de poder penetre na província.
Quando se deseja conservar os principados que, antes de serem ocupados, viviam com suas próprias leis, existem três caminhos a serem seguidos: arruiná-los – e este é o caminho mais seguro, habitá-los pessoalmente ou criar o governo aos poucos e deixá-los com suas próprias leis. Já os principados que anteriormente possuíam um outro príncipe como governante são mais facilmente conservados.
Aqueles principados que foram conquistados com as armas e fortunas dos outros, geralmente não são mantidos, pois existe uma corrupção do exército, e uma sociedade que não possui um alicerce, ou seja, não é fortalecida. Estes governantes estão submetidos à vontade de quem lhe concedeu o Estado, ou seja, o príncipe não tem poder algum, quem realmente comanda o Estado é o dono da fortuna.
Os que chegaram ao principado por meio de crimes, geralmente pagam por seus crimes não sendo celebrados por homens ilustres, e não são considerados homens de virtude. Também Maquiavel afirma que as crueldades podem ser mal ou bem usadas. Os crimes de extrema necessidade são considerados bem usados e são justificáveis e aceitáveis se após este, faz-se apenas o bem. Mas quando isso não ocorre e os príncipes continuam fazendo o mal, este possui falta de princípios e escrúpulos. As ofensas ao povo devem ser feitas de uma só vez, e o bem deve ser feito aos poucos, para que todos possam apreciá-lo.
Quando um cidadão privado torna-se príncipe de sua pátria, pode-se chamar seu governo de principado civil. O comandante deste deve ter, antes de tudo, uma grande e afortunada astúcia, e este deve fazer, em benefício do povo, e não dos poderosos; pois a ele sempre caberá governar o mesmo povo, mas vive bem sem os poderosos. Se o povo deste Estado for hostil, ele abandonará o príncipe. Os povos fiéis ao governante devem ser amados, e os que não são fiéis e não confiam no príncipe, devem ou serão empregados como conselheiros, ou considerados inimigos e temidos.
O povo, primeiramente, deve ser considerado amigo e não deve ser oprimido. Mas deve-se esperar que nas adversidades, os cidadãos fugirão. Porém quando um povo espera o mal e recebe o bem, é mais fiel do que um povo que apenas espera o bem.
Segundo Maquiavel, as forças dos principados devem ser medidas pelo exército, ou seja, pelas armas que este mantém. Os reinados que tem muita fortuna e muitos homens devem fazer um bom exército. Quando um príncipe dá boa condição de vida, alimento e trabalho aos cidadãos de seu país, é amado.
Os principados eclesiásticos são adquiridos por virtude ou fortuna, e são mantidos pela religião. Este se mantém fortes, e seus príncipes estarão sempre no poder. São só esses tipos de principados que não necessitam ser defendidos, não governam seus súditos. Esses principados são considerados seguros e felizes, e seus poderes apenas podem ser aumentados com armas e virtudes.
É necessário que um príncipe tenha bons fundamentos, caso contrário cairá em ruína. Para um principado ter poder e prestígio, deve haver boas armas; e as boas leis somente poderão existir se houver boas armas. As tropas mercenárias e auxiliares são inúteis, desunidas, ambiciosas e infiéis. Para que um principado possua uma boa tropa, o seu príncipe deverá acompanhar exercer as atribuições de capitão desta.
Já as tropas auxiliares são aquelas que se apresentam quando se chama um poderoso, para que, com seus exércitos, venha ajudar e defender. Se esta perde, o principado fica liquidado; se ganha, torna-se seu prisioneiro. O perigoso das tropas mercenárias é a covardia, e das auxiliares é o seu valor. Mas como já foi dito anteriormente, as armas dos outros são danosas e prejudiciais, e se não o forem, ainda sim serão motivos de vergonha e constrangimento. Se um principado não está fundamentado sobre suas próprias forças, ele se torna inseguro e instável.
O real e principal objetivo de um príncipe é cuidar da arte da guerra e de sua organização e disciplina; essa é a única arte que ao governante compete saber. É esta que faz com que homens virem príncipes; e os que não pensam primeiramente em guerra, certamente perde seu Estado. As tropas devem ser mantidas com pensamento em guerra, devem ser bem organizadas e treinadas; devem ser lidas histórias e nelas devem ser observadas os grandes homens, o modo que eles agiam, suas vitórias e derrotas. O exército também nunca deve ficar ocioso, mesmo em tempos de paz.
O príncipe deve aprender a não ser tão bom e piedoso. Também deve ser tão prudente capaz de fugir dos vícios que o fariam perder o poder.
Quanto à liberalidade, se é usada de uma forma que é conhecida de todos, acaba por prejudicar o príncipe, fazendo com ele seja desprezado e odiado. Aquele que vai com seu exército fazer saques e roubar fortunas alheias é benquisto por seu povo ; e o miserável é o correto. Este gasta pouco, não rouba seus súditos. E ser miserável é um dos defeitos que ajuda um príncipe a manter-se no poder.
É melhor ser amado que temido ou temido que amado? O autor da obra esclarece-nos esta questão afirmando que é melhor ser um príncipe temido, mas que dá ao seu povo paz e os mantém unidos e leais, já que é mais válido que apenas um indivíduo seja prejudicado do que toda uma comunidade, que pode ser prejudicada por um príncipe piedoso; já que o homem trai uma amizade e é bom quando lhe convém e sua natureza é ingrata, volúvel e temente do perigo. Porém, quando um homem teme, esse temido do castigo jamais o abandona, e o respeito não é perdido. O que também deve ser entendido é que ser temido não é o mesmo que ser odiado, porque este é prejudicial ao príncipe.
O príncipe deve proceder de forma equilibrada, com prudência e humanidade, mas que não tenha muita confiança e nem demasiada desconfiança nos homens. Também ele deverá saber se utilizar do seu lado bom e do seu lado mau, deve saber punir tanto com as leis, quanto com a violência. Deve sempre manter a postura de piedoso, fiel, humano, íntegro e especialmente religioso, mas tem que saber agir ao contrário em caso de necessidade; deve saber ser mau quando necessário.Para seu odiado pelo seu povo, o príncipe deverá se utilizar dos bens dos seus súditos, seduzir suas mulheres e desonrá-los. Se isso não ocorrer, o povo viverá feliz e satisfeito com seu governante.Para ser amado, ele deve ser grande em seus atos, corajoso, e suas ações deverão ser irrevogáveis.
O príncipe deverá preocupar-se em distrair e alegrar o seu povo, dando-lhes festas e espetáculos. Deve também dar oportunidade aos melhores de seu Estado e ter bons ministros. A confiança mútua entre príncipe e ministros é extremamente imprescindível para se ter um bom principado.
Também devem ser escolhidos como conselheiros do príncipe homens sábios, mas que apenas dêem conselhos quando abordados sobre a questão. Cabe ao príncipe escutá-los e sempre manter a prudência.
Sintetizando, o príncipe tem que sempre se manter atento em relação as armas, evitar a todo custo a inimizade do povo, e saber se defender dos grandes. Sabendo isto, seu principado não corre o risco de ser perdido.
Por fim, é sempre melhor a um líder ser impetuoso que cauteloso, sempre ter como virtude à coragem e a esperança de abraçar apenas causas justas.
COMENTÁRIOS SOBRE PARTES DA OBRA
“…as alterações nascem principalmente de uma dificuldade natural a todos os principados novos, que consiste no fato de os homens gostarem de mudar de senhor, acreditando com isso melhorar.” (pág 7)
Essa frase enquadra-se bem na política atual, onde nós pensamos que com cada mudança de presidente, governador ou prefeito, conseguiremos melhorar. Da mesma forma é uma dificuldade sofrida por um príncipe novo, pois este será criticado, e tentativas de lhe tirarem do poder não faltaram, mesmo não sendo a melhor solução a sua mudança, essa cultura como sabemos prevalece até hoje, onde é difícil a reeleição de um político, e nota-se que quando esta se dá, seria muito mais difícil tirá-lo do poder devido à cultura de longa data que estabeleceu. (um exemplo claro é o nosso atual Presidente da República, sendo que este agora, dificilmente sairia do poder se pudesse concorrer a presidência novamente).
“Aqueles que, somente pela fortuna, de cidadãos particulares se tornam príncipes fazem-no com pouco esforço, mas com muito esforço se mantêm. E não encontram dificuldade no caminho porque passam voando por ele: mas todas as dificuldades surgem quando chegam ao destino.” (pág. 27)
Para se manter a posição ocupada, não basta apenas sorte, mas sim competência para tal, se foi fácil chegar até lá, não tão simples pode ser de se manter. Quando se esta num lugar alto, com certeza outros gostariam e querem estar no seu lugar, e caso você não tenha competência para manter o lugar conquistado, mais cedo do que se pensa perderá o trono. Um exemplo, na área da Administração é um funcionário que assumiu o cargo de gerente por conhecer as rotinas da empresa, se ele não for capaz o suficiente para tal função, logo, outro mais qualificado lhe tirará do lugar, ao menos que o primeiro tenha meios de se manter.
“…deve um príncipe viver com seus súditos de forma que nenhum incidente, mau ou bom, faça variar seu comportamento: porque, vindo às vicissitudes em tempos adversos, não terás tempo para o mal, e o bem que fizeres não te será creditado, porque julgarão que o fizeste forçado…” (pág. 41)
Se o príncipe, mudar seu comportamento sendo agressivo em alguns momentos por algum motivo qualquer que o seja, e crueldades começar a fazer por não se agradar de alguma coisa, pode este, futuramente, em situação desfavorável, fazer alguma obra, para se fazer parecer bom, mas então lhe dirão que só fez aquilo, pois necessitava, porque no resto do tempo, sempre foi mal, e agora por necessidade, muda seu comportamento, despertando a desconfiança do povo. Não cabe só aos príncipes esta observação, mas a todos nós, que não devemos fazer alguma coisa a alguém apenas por interesse, se no resto do tempo, não mexemos uma “palha” sequer, com certeza, verão nosso interesse, e não será considerado por ninguém.
“… aquele que não detecta no nascedouro os males de um principado não é verdadeiramente sábio.” (pág. 67)
É muito mais difícil corrigir do que prevenir, da mesma forma acontece conosco todo dia, se não prevenimos, ou seja se não antecipamos os males que irão nos afligir, dificilmente estes são contornados sem problemas. Em uma empresa é fácil notar isso, por exemplo se uma empresa não notar que as vendas em fevereiro irão cair, e tiver grande quantidade de estoque, perderão dinheiro com isso, cabe ao administrador anteceder os males e corta-los antes que causem algum dano.
“…deves parecer clemente, fiel, humano, integro, religioso – e sê-lo, mas com a condição de estares com o ânimo disposto a, quando necessário, não o seres de modo que possas e saibas como tornar-te o contrário.” (pág. 83)
O governante segundo maquiavel deve ter essas cinco qualidades, mas da mesma forma, saber, usar de maneira que lhe seja proveitosas, deve-se usar da astúcia, de quando e como é a melhor forma de demonstrar qualidades ou não demonstra-las, pois caso precise deve-se ser firme e as vezes até cruel. Cabem aos governantes, dirigentes, diretores, usar de bom senso onde possam demonstrar essas qualidades, mesmo não a tendo elas, mas que saibam usar ao seu favor.
“Nada torna um príncipe tão estimado quanto realizar grandes empreendimentos e dar de si raros exemplos” (pág. 105)
Como pode um príncipe cobrar dos súditos algo que ele não faz? Como pode exigir um Presidente, honestidade do seu povo, se ele não é honesto? Como pode um administrador pedir empenho dos seus funcionários, se este não o faz? A melhor maneira para cobrar algo e ser reconhecido por isso é dar o exemplo, é fazer aquilo que os outros não esperam, é surpreender para encantar e conseguir um lugar alto no coração dos súditos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Príncipe, de Nicolau Maquiavel, retrata, os vários tipos de principados, e de como, se governa um estado. Diversos exemplos são citados, desde a igreja, até a hereditariedade de governo. O que mais chama atenção é que mesmo sendo um livro muito antigo, se enquadra perfeitamente no cenário atual.
Para um político, é de grande valor o ensinamento que o livro passa, são vários conceitos que apesar de antigos, servem de referência até os dias de hoje, um exemplo disso é quando o autor fala de que o povo gosta de mudar de príncipe, pensando assim que com isso a sua condição de governo vai melhorar colocando outra autoridade, ou outro dirigente. Isso acontece muito nos dias de hoje, e nem sempre é o melhor a se fazer. O livro nos mostra como lidar com situações de confronto contra inimigos, ou seja de como proteger um governo, prevendo quais serão os perigos e de como supera-los.
A maneira de se governar seja ela qual for, deve seguir conceitos básicos apresentados no livro, as estratégias que são abordadas são inúmeras, realidades de como é vivida a política atualmente são vistas a cada folha, principalmente quando se fala em que um príncipe que é ajudado por outras pessoas a tomar um estado, ficará devendo para esses uma divida, não podendo assim voltar-se a eles, na política atual a troca de favores é nos mostra bem como isso ocorre, de como para se eleger, é necessário ficar devendo favores a vários outros políticos e empresários, comprometendo assim a honestidade e o domínio sobre o “reinado”.
Quando se fala em armamento, e da importância de ter exércitos fortes, pensa-se logo em guerra, em conflitos, nesse ponto o livro traz um ponto negativo, sendo dessa forma uma maneira citada de manter um governo. Apesar disso, e apesar dos séculos que separam a obra de hoje, recentemente pode se notar alguns indícios desse conceito de armamento, como exemplo podemos citar a guerra fria, onde a busca e a disputa, por tecnologias e armamentos representando força e poder moviam as maiores potencias do mundo. Nos dias atuais isso ainda se vê muito, armas biológicas e nucleares se espalham pelos cantos da terra, com o objetivo de seus governantes terem uma forma de se protegerem e amedrontarem outros que possam querer contra eles lutar, ou tomar a posse do seu estado.
Podemos dizer que o governo para ser bem sucedido, quer seja uma monarquia ou república, deve objetivar a segurança das propriedades e da vida, sendo esses os desejos mais universais da natureza humana. Os desejos e as paixões seriam os mesmos em todas as cidades e em todos os povos. Quem observa os fatos do passado pode prever o futuro em qualquer república e usar os métodos aplicados desde a Antigüidade ou, na ausência deles, imaginar novos, de acordo com a semelhança entre as circunstâncias entre o passado e o presente.

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