Nascemos com instintos, entre eles a fome, que servirá como base para a elaboração do apetite. O acúmulo de experiências, gratificantes ou não, ao longo do desenvolvimento da criança, modulará sua conduta alimentar na dupla vertente nutrição/prazer.
Como em outros campos da aprendizagem a criança construirá sua conduta alimentar através de condicionamentos clássicos, condicionamentos operantes ou de gratificação e hábitos. Nesse processo, é fundamental a compreensão dos responsáveis pela criança (pais, avós, tios, babás, professores), de que o alimento, além da função primordial de nutrir, deverá cumprir outra não menos importante, a de proporcionar prazer.
A escolha inicial pelo aleitamento materno tem mostrado ser esse o melhor caminho, por uma série de fatores: melhor crescimento e desenvolvimento da criança; sensação de saciedade frente a novos sabores que podem se modificar a cada mamada; prevenção da obesidade; a sucção da aréola e mamilo facilita o desenvolvimento oral levando a melhor oclusão dentária futura, assim como contribui para o desenvolvimento correto da fala; supre adequadamente às necessidades de ácidos graxos essenciais que desempenham papel relevante no desenvolvimento visual e cognitivo. Na introdução dos alimentos complementares é importante o consumo de frutas, legumes, verduras, carnes e derivados do leite para garantir um adequado crescimento e desenvolvimento.
Alguns erros dependem de falsos conceitos alimentares, como os alimentos considerados “porcarias”, que na verdade não o são, desde que adequadamente preparados. Como exemplo teríamos a pizza, pastel, coxinha de galinha, risoles, pastel de banana , cachorro quente, entre outros. Esses alimentos fazem parte da realidade do dia a dia e muitas vezes constituem parte do cardápio do adulto. Erro muito comum é considerar o alimento como um prêmio ou punição. A sobremesa é um exemplo clássico, com o doce sendo usado como chantagem para obrigar a criança a comer o quanto e o que determinamos como necessário para sua nutrição. Também erramos quando consideramos somente os aspectos nutricionais em detrimento dos prazerosos. Muitas vezes, esquecemos de avaliar outros aspectos nutricionais, dando importância somente ao ganho de peso. Vale a pena ressaltar os erros dependentes de condutas médicas e sociais, muitas vezes mais influenciadas pela moda ou publicidade do que por argumentos científicos (rigidez no horário, na quantidade, na introdução precoce de alimentos sólidos, na permanência prolongada de alimentos líquidos ou pastosos, escassa variação, concentração ou temperatura inadequada , etc). Quando esquecemos a importante relação da alimentação com o prazer, a apresentação do alimento à criança é relegada a segundo plano, ocorrendo a persistência das famosas sopas por longos anos, onde se pode esconder todo tipo de vegetais. Sabe-se que a “estética”, o “marketing” do alimento é fundamental. Quem não se rende a uma bela torta, um prato bem montado ou salada colorida? Assim como o aroma e o paladar, a apresentação do alimento produz efeitos organolépticos, despertando todo o cortejo de estímulos sensoriais e afetivos, importantes para o correto desenvolvimento da criança.
A preocupação exagerada com a “limpeza” na mesa, também pode ser prejudicial. Quando não deixamos a criança manipular os alimentos, impedimos que adquira novas experiências. A criança só aprende a se alimentar se utilizar todos os estímulos sensoriais possíveis, incluindo o tato e é um grave erro limitar sua atividade nesse sentido.
Deve-se lembrar também, que a criança tem o direito de possuir preferências alimentares, não gostando do sabor de alguns alimentos. Muitas vezes, na expectativa de que a alimentação de nossos filhos seja extremamente saudável, esquecemos do seu direito a livre escolha, que deveria ser exercido sob o controle discreto dos responsáveis. Outro comportamento comum é o de “forçar” hábitos alimentares saudáveis, que os próprios pais ou responsáveis não possuem. Muitos adultos não gostam de verduras, legumes, saladas e frutas, porém querem que suas crianças os apreciem. Sem o exemplo dos responsáveis, é muito difícil a criança aceitar a imposição de condutas “saudáveis” com relação à alimentação.
Fatores positivos:
Estimular a amamentação
Estimular a sensação da fome
Autoregulação. Livre eleição
Participar das refeições junto com os pais.
Introdução correta de novos alimentos
Ambiente agradável. Estética (pratos bem arrumados)
Participação na compra dos alimentos
Participação na elaboração
Escolha do cardápio
Conduta não restriva à mesa
Respeitar preferências e aversões aos alimentos manifestados pela criança
Respeitar o apetite em qualidade e quantidade de alimentos
Eliminação de condicionamentos negativos
Fatores Negativos
Rejeição ao leite materno
Valorização da alimentação/nutrição em detrimento da alimentação prazer
Obsessão por ganho de peso
Não respeitar auto-regulação (refém do relógio)
Preparação e apresentação incorreta
Introdução incorreta de novos alimentos
Escassa variedade de alimentos
Não participação da criança em sua alimentação
Restrição de manipulação e movimentos
Falta de autonomia na alimentação por si mesmo
Chantages e rituais na comida